O futuro depois do novo PIB
É quase uma unanimidade que, depois da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006, pela nova metodologia de cálculo, aumentaram as perspectivas de uma expansão da economia, em 2007, acima dos 3,5% registrados na maioria esmagadora das projeções anteriores e mesmo além dos 4% já estimados por muitos, incluído entre eles o Banco Central.
Na série antiga, o PIB de 2006 havia evoluído 2,9% em relação ao de 2005. Na série nova, mais próxima da realidade, o avanço da economia em 2006 sobre o ano anterior alcançou 3,7%, ficando acima das expectativas mais otimistas, que previam uma revisão do crescimento para, no máximo, 3,5%.
O cálculo do PIB, como o da inflação, é um esforço de aproximação da realidade – não é a realidade. Além disso, como toda contabilidade, a do PIB retrata o movimento das transações de caráter econômico realizadas em dado espaço geográfico em determinado período de tempo. É, em resumo, um retrato do passado. Daí porque mudanças no cálculo do PIB já realizado não afetam a vida de ninguém, além do que foi ela foi por ventura afetada no período mensurado.
Se é uma visão do passado que não altera o presente, um novo e mais sofisticado método de cálculo do PIB, que amplie o número de eventos observados e capte seu impacto nas interrelações das cadeias produtivas, pode ajudar a decifrar melhor o futuro. Analisado sob este ângulo, o novo PIB de 2006 dá indicações de que o PIB de 2007 e o dos anos seguintes podem ser mais robustos do que os até aqui estimados.
O esforço para garantir, por exemplo, um superávit fiscal capaz de estabilizar e reduzir a relação dívida pública/PIB ficou menos pesado. Se for mantida a meta de economizar R$ 91 bilhões em 2007 – o volume de recursos que equivalia, no cálculo antigo, a 4,25% do PIB – o superávit primário poderá se limitar a 3,8% do novo PIB. O déficit nominal, que inclui, além das despesas e receitas primárias, as despesas com juros da dívida pública, também recuou, com o novo PIB, de 3,3% do PIB para 3%. Com isso, a tarefa de reduzi-lo a zero até 2010 ficou mais fácil.
Com um PIB mais alto, outros grandes entraves a um aumento dos investimentos foram, como que “por encanto”, sensivelmente aliviados. Se antes do novo cálculo, a dívida pública líquida equivalia a 50% do PIB, agora caiu para 44% do PIB. E a carga tributária, antes acima de 38% do PIB, recuou para pouco mais de 35%. Reduzi-los aos níveis desejados de 35% do PIB, no caso da relação dívida/PIB, e menos de 30% do PIB, no caso da carga tributária, para deslanchar um maior crescimento, ficou menos complicado.
Aliviada a pressão fiscal, também é de se esperar que reduza a resistência do Banco Central a uma aceleração dos cortes nas taxas de juros. Na verdade, há razões para acreditar que o novo cálculo do PIB fez desabrochar a compreensão de que o famoso produto potencial na economia brasileira – aquele que trava a mente e as ações da diretoria do Banco Central – tenha aumentado para além dos convencionais 3,5% ao ano.
Todos esses novos fatores se combinam para indicar que a própria taxa de investimento, que recuou para pouco mais de 16% do PIB com o novo cálculo do PIB, tem tudo para voltar a crescer e chegar, relativamente rápido, aos 25% do PIB que assegurariam uma base para uma expansão econômica anual de pelo menos 5%.
Num ambiente em que se registra aquecimento no setor da construção civil e no de bens de capital, base da formação de capital fixo, a economia poderá avançar mais consistentemente daqui até o fim da década, mesmo sem grandes reformas. Com o novo PIB também ficou mais fácil ser mais otimista quanto ao futuro.
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