O BC É A NOSSA GUANTÁNAMO
(Ou porque a mídia não abre o bico)
Paulo Henrique Amorim
Máximas e Mínimas 258
. Desde que a revista Carta Capital revelou na sexta-feira passada que o presidente do Banco Central e dois diretores mantiveram três reuniões secretas com 80 economistas de instituições financeiras; e que nessas reuniões os presentes saíram com informações sobre a estratégia futura do BC para a taxa de juros e a política cambial...
. Desde essa espantosa revelação, que, numa democracia não-mitigada como a nossa, dava em cadeia...
. Desde então, houve um “silêncio ensurdecedor”, como diz o Mino Carta em seu blog (clique aqui para “ouvir” a indignação do Mino) na mídia conservadora.
. Essa mídia, que finge que é objetiva e joga num lado só do campo – no campo conservador, e num campo inclinado, de jeito a jogar o Presidente Lula na ribanceira...
. A mídia “isenta” não deu uma mísera linha sobre essa reunião para “entregar o ouro”.
. (É bem verdade que o Presidente Lula e o Ministro Mantega também não disseram uma palavra...)
. Por que será que a mídia conservadora não abriu o bico?
. Vou tentar uma explicação.
. A mídia conservadora se nutre dos princípios que formam a cartilha neoliberal, que, aqui, se instalou durante o Governo de FHC, o Farol de Alexandria, aquele que lançava luzes sobre a Antiguidade.
. O neoliberalismo, como doutrina, nasceu na Universidade Católica (do Chile), os “Chicago Boys”, do Governo Pinochet, e chegou ao poder de forma irremediavelmente hegemônica com os Governos Thatcher na Inglaterra e Reagan, nos Estados Unidos.
. Os neoliberais tem uma relação muito tênue com a democracia – afinal, houve neoliberais no Chile de Pinochet e há na ditadura (tão invejada...) da China.
. Os neoliberais gostam de democracia quando ganham a eleição.
. Mas, gostam mesmo é de viver num ninho próprio de instituições – oficiais e acadêmicas – que pregam a solvência do sistema financeiro, a integridade da moeda, as regras amigáveis aos bons negócios, e o monetarismo como política de Estado.
. Este conjunto de “leis” é a base de um Estado à parte, longe e acima daquele outro Estado em que há outras leis, as que os outros cidadãos têm que seguir.
. Essencial nesse Estado dos neoliberais são as instituições não democráticas, não transparentes, como FMI, o Banco Mundial e os BANCOS CENTRAIS.
. Os bancos centrais mandam inapelavelmente, seus membros não são eleitos, e quem os desobedece será punido pelo “mercado”.
. Os bancos centrais são o território não democrático de uma democracia – são uma espécie de Guantánamo da democracia americana.
. A base de Guantánamo é americana, fica em Cuba, mas, lá, os americanos torturam quem quiser e fica por isso mesmo.
. O Banco Central é a Oban das finanças – ali dentro ninguém entra.
. Quem manda é o coronel Ustra e estamos conversados.
. E é por isso que a mídia conservadora fica calada.
. Na democracia dos neoliberais, uma Guantánamo faz bem à saúde das instituições e “o ambiente dos negócios” se torna mais acolhedor.
Em tempo – Sobre o caráter não democrático dos neoliberais e as instituições não-democráticas de um estado neoliberal recomendo a leitura de “A Brief History of Neoliberalism”, de David Harvey, da Oxford University Press.
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