terça-feira, outubro 13, 2015

Teoria da conspiração ? : O que está em jogo por trás do golpe no Brasil

Evaristo Almeida*

Desde o início do governo Lula em 2003, a subelite brasileira, que defende os interesses de outros países, vem tentando tomar o poder. Primeiro tentaram com o chamado processo do mensalão, que muito adequadamente foi apelidado de mentirão.

Nesse processo várias irregularidades jurídicas foram cometidas para atingir os objetivos da direita brasileira, como condenações sem provas como reconheceu uma ministra do Supremo Tribunal Federal, réus sem direito a fórum privilegiado que foram julgados diretamente pelo STF, o que não ocorreu com o mensalão tucano que foi desmembrado; usaram a chamada teoria do domínio de fato, cuja aplicabilidade nesse caso foi criticada pelo próprio Claus Roxin, o criador da tese.

E o pior, o objetivo era acabar com o governo e não com a corrupção, pois o mensalão do PSDB, mesmo sendo mais antigo, até o momento não foi julgado e provavelmente nunca será.

Ainda assim, com todas essas armações, a subelite brasileira continuou perdendo as eleições, mesmo tendo a grande imprensa como aliada, difundindo mentiras e principalmente o ódio contra o governo e o PT. Diariamente a classe média brasileira recebe uma dose de veneno dos três grandes jornais brasileiros e semanalmente, através das três grandes revistas semanais.

Isso fomentou em membros dessa classe um ódio visceral contra o PT, chegando a ser patológico. Agressões contra petistas passaram a ser constantes nas ruas, restaurantes e locais públicos em geral. Recentemente, uma pessoa vinda do litoral paulista esteve em risco, junto com a família, porque ainda tem o adesivo da campanha de 2014 aderida no carro.

Dois carrões, esses SUVs, fecharam-no e quase provocaram uma batida só por causa disso, além das agressões verbais que foram muitas.

Com a perda da eleição em 2010, a subelite brasileira, através dos seus partidos, dos meios de comunicação e estamentos do Estado brasileiro, começaram a unificar o pensamento e as ações. A imprensa praticamente reproduz as mesmas matérias, provavelmente construídas pelas mesmas pessoas que usam processos semióticos para induzir um conjunto de conceitos ideológicos, de interesse dessa classe social, que vão sendo assimilados pela população.

A partir de 2011, várias ações foram sendo feitas para que a oposição ao governo federal ganhasse as eleições de 2014. Estavam certos que venceriam essas eleições.

Para isso além do que já vinham fazendo, trouxeram a tona a operação lava jato e as acusações contra a Petrobras.
Esses dois movimentos, mas o ataque cerrado da grande imprensa brasileira garantiria a vitória da oposição.

Nessa operação entram em cena dois fatos importantes, um é a espionagem da agência estadunidense NSA, que teve acesso a informações do governo federal e da Petrobras, divulgado pelo Wikileaks, fato que fez com que a presidenta cancelasse sua viagem aos Estados Unidos.

O outro é a chegada em 2013 da embaixadora dos Estados Unidos Liliana Ayalde, que chefiava a embaixada paraguaia, antes do golpe contra Fernando Lugo.

Várias matérias publicadas referendaram os indícios do envolvimento da embaixadora no golpe daquele país, inclusive o Whikileaks, https://wikileaks.org/plusd/cables/09ASUNCION675_a.html, pela EBC, http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2013/02/paraguai-os-eua-e-o-impeachment e também na Carta Maior http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-Golpe-de-Estado-no-Paraguai-e-a-America-do-Sul%0D%0A/6/25446.

O motivo econômico para o golpe de estado

O petróleo é o principal motivo para um golpe no Brasil, advindo de que os Estados Unidos estão perdendo o controle no Oriente Médio, com a ação russa na Síria.

O petróleo para os Estados Unidos tem dois pontos principais, o principal deles é a garantia do fornecimento para o maior consumidor mundial, junto com a China. O segundo é o petrodólar, acordo que faz com a transação na compra e venda de petróleo seja efetuada em dólar. Isso garante ao emissor dessa moeda um cheque especial, podendo se endividar eternamente pagando com a impressão do dólar. Como o resto do mundo demanda essa moeda, não traz efeitos inflacionários.

Quem se insurgiu contra essa prática como o Iraque e a Líbia foram invadidos e o país destruído.

Para sorte e azar do Brasil, descobrimos a principal província petrolífera do século XXI, chamada de pré-sal que pode ter 300 bilhões de barris de óleo de excelente qualidade.

A sorte prevalecerá se conseguirmos o controle nacional sobre essas reservas, com a Petrobras sendo a única exploradora e mantido o regime de partilha, o Brasil poderá ser um país desenvolvido, com uma indústria offshore e com essa riqueza distribuída, o nosso povo terá um padrão de vida muito melhor.

O nosso risco ou azar, é que exceto a Noruega, país com grandes reservas petrolíferas, os demais foram alvos de todos os meios usados para que as reservas petrolíferas passassem para o controle estrangeiro.

Uma das pragas do Oriente Médio é justamente a riqueza abrigada no seu subsolo, com governos despóticos apoiados pelo Ocidente, invasão e guerra permanente.

E neste cenário da operação Lava Jato segue metódica, com informações privilegiadas e seletividade, junto com a grande imprensa, ajudou nos objetivos das petroleiras estrangeiras na desconstrução da Petrobras, apesar da empresa valer muitas vezes mais no mercado, estar mais rentável e ter aumentado as reservas de petróleo, tendo por base o ano de 2002.

Juntaram as empresas de engenharia nacional no chamado petrolão para martelar diuturnamente de que deveriam acabar com essas empresas, porque estavam metidas em corrupção. Agiram como se em outros países, ricos ou pobres a corrupção não existisse.

Passaram para a população a idéia de que a corrupção é um mal que afeta unicamente o povo brasileiro. Essa é a síntese desse processo todo.

Como se as empresas capitalistas não fossem em sua essência corruptas e se medidas saneadoras já não tivessem sido tomadas.

O escândalo do trensalão em São Paulo foi praticado por empresas francesa, japonesa, alemã e brasileira, que provocaram um rombo de pelo menos R$ 1 bilhão nos cofres públicos, segundo o Ministério Público.
A corrupção de militares alemães por uma grande empresa estadunidense na venda de caças na década de 1960 provocou um grande escândalo, mas nem por isso a empresa foi fechada. Esse fato está em https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_bribery_scandals,
O grande golpe de corrupção privado foi o de 2008, em que grandes empresas financeiras, da área de seguros e bancos provocaram a crise do subprime, que causou um prejuízo de US$ 780 bilhões aos contribuintes dos Estados Unidos, desemprego e crise econômica e ninguém foi preso, tema do documentário Inside Job em http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-trabalho-interno-dublado-online.html.

A grande mídia brasileira e estrangeira, junto com funcionários públicos, inclusive alguns que estudaram nos Estados Unidos, montaram um grande esquema para tirar o pré-sal do controle da Petrobras e num futuro próximo a empresa ser privatizada, sob o argumento de que empresa pública é essencialmente corrupta e a privada não, outra falácia.

Quem ganharia com tudo isso seriam as grandes empresas petrolíferas estadunidenses e européias.

E o Brasil veria de novo sua riqueza ir enriquecer outros povos, como aconteceu no ciclo da cana-de-açúcar e do ouro, que os europeus ganharam tudo e nós ficamos com a herança da escravidão e os buracos em Ouro Preto.

Além do petróleo e da Petrobras, os países que ganham com o golpe ainda ocupariam o espaço das empresas de engenharia nacionais e poderiam exportar bens, como navios e plataformas para a exploração do pré-sal no Brasil, o que atualmente não é possível.

Para tentar isso eles contam com apoio de senadores e deputados que apresentaram projetos leis para tentar tirar o pré-sal do povo brasileiro. Os projetos estão tramitando e o processo está em andamento.

A traição em 1789 por Joaquim Silvério dos Reis causou a morte de Tiradentes e o Brasil continuou como colônia, essa trama se for efetivada por esses parlamentares, condenará o Brasil a ser ad perpetum um país subdesenvolvido, causará pobreza, tirando a chance de uma vida melhor à milhões de brasileiros e o país voltará à condição do que já foi um dia, colônia.

É um crime de lesa pátria, que vai contra os interesses do nosso povo.

Os motivos geopolíticos para o golpe

Um novo mundo está em nascimento, mas o velho, baseado na unipolaridade dos Estados Unidos, recusa-se a acabar.

A maior porção de terra, a Eurásia, ou a hurt land, na qual fazem parte a Russia e a China, novos atores no cenário mundial, estão construindo laços comerciais, culturais e estratégicos que mudam o eixo estratégico do mundo.

Construção de ferrovias de alta velocidade, de exploração de gás petróleo e formação de blocos, como o BRICS, estão avançando rapidamente, sob liderança desses países.

Os Estados Unidos, com a pax americana já não convencem ninguém e a Europa perdeu o protagonismo, principalmente com a crise econômica que está assolando países como Grécia, Espanha e Portugal, ameaçando a unidade da União Européia e do euro.

Enquanto isso, no continente latino americano vários países se reconstruíram das ditaduras implantadas pelos Estados Unidos com as subelites locais nas décadas de 1960 e 1970, e da derrocada do neoliberalismo, fundamentalismo econômico, sem base científica, que afundou o nosso continente em crises econômicas e sociais na década de 1990.

O Brasil é o país mais importante dessa porção de terra do mundo, sem nenhuma pretensão imperialista. E o nosso país tem garantido a democracia em vários países que sofreram processos de golpes de estado, como a Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, através de instituições como o Mercosul e a Unasul.

Mesmo com esses instrumentos não conseguimos barrar os golpes em Honduras e no Paraguai.

Outro fator importante são os acordos comerciais, como o Trans-Pacífico (TPP), o Trans-Atlântico (TPA) e o Tratado de Serviços (TISA).
Quem está puxando esses tratados são os Estados Unidos e os países europeus e representam a morte da democracia nos países que aderirem a eles, pois todos os direitos sociais, o parlamento e iniciativas governamentais seguirão ritos que beneficiam as grandes empresas transnacionais.

Então, um Brasil, sob controle da oposição, como escreveu Fernando Henrique Cardoso, aderiria a um tratado desses, em nome da modernidade. Ser colônia para ele é ser moderno.

E sairia dos BRICS, para tentar enfraquecer esse bloco, principalmente depois da criação do banco de desenvolvimento, que substituirá o Banco Mundial e do arranjo financeiro, que substituirá o FMI. É uma libertação do mundo do acordo de Bretton Woods.

É tudo o que os países centrais não querem, pois contam com a chantagem financeira feita através do BIRD e do FMI, que eles controlam para conseguirem o controle político e econômico de países que são obrigados a abrir mão da soberania para acessarem linhas de crédito oferecidas por esses organismos.

E a América Latina ficaria sem pai nem mãe, pois os golpistas estariam livres para derrubar regimes democráticos, pintados de ditaduras pela grande imprensa, como a Venezuela.

Essa é a essência o que está por trás desse golpe de estado que estão tentando implantar no Brasil.


Final

O Brasil passa por um momento crucial em que a democracia conquistada a duras penas, a ascensão social, direitos trabalhistas e civis, a soberania brasileira e o futuro do país estão em risco.

A oposição, que não conseguiu ganhar as quatro últimas eleições para a presidência, resolveu partir para o golpe de estado, junto com a grande imprensa brasileira e partes de instituições estatais.

Subjacente a tudo isso, de forma dissimulada, estão interesses estrangeiros no Brasil e na América Latina que querem de novo o protagonismo colonialista que sempre tiveram.

A cobiça do pré-sal por povos estrangeiros, a privatização da Petrobras e a abertura do mercado brasileiro para produtos de exploração offshore de petróleo, é parte da força que se esconde atrás desse processo.

A saída do Brasil dos BRICS, a entrada subalterna no TPP, TPA ou TISA, poriam fim a qualquer projeto de inserção soberana do país no mundo.
As democracias da América Latina também estariam em risco.

Assim como na batalha de Stalingrado, a nossa luta de hoje é entre a civilização ou a barbárie.

A oposição brasileira quer o retrocesso do país e além de representar os próprios interesses oligárquicos estão a serviço de interesses obscuros de outros povos.

Defender a democracia e o resultado da eleição de 2014 é garantir um futuro promissor para o nosso país.

Como escreveu Ricardo Semler, nunca se roubou tão pouco como agora, que pode ser lido em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/196552-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml.

Graças aos governos do PT, a corrupção que já foi de 5% do PIB, passou para 3,1% e seria de 0,8%. E vai continuar diminuindo.

Isso demonstra o quanto a roubalheira vem sendo combatida desde 2003, o que está assustando muita gente da subelite brasileira que se acostumou a usar o Estado brasileiro em benefício próprio e isso está acabando.

Estão usando a corrupção como falsa bandeira; não é para acabar com os maus feitos, mas para que eles continuem por mais 500 anos.

·Economista, Mestre em Economia Política – PUC-SP

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