Essa informação é do UOL de 06 de novembro de 2002. Parece que o capital privado brasileiro só tem garganta.
DA SUCURSAL DO RIO
A agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou na segunda à noite a nota da Globopar e da TV Globo Ltda., do grupo Globo, de CC para D. A classificação D é a última na escala da agência e significa que a empresa está inadimplente. A Globopar não comentou a decisão.
De acordo com as informações distribuídas pela S&P, o rebaixamento da nota ocorreu porque a Globopar deixou de pagar uma parcela de juros de US$ 3 milhões vencida no dia 1º deste mês. A TV Globo foi rebaixada por ser garantidora de parte da dívida.
A agência informou que, apesar de o não-pagamento de juros ter legalmente um prazo de cinco dias (vence hoje) para ser considerado inadimplência, as notas das duas empresas foram rebaixadas porque não é esperado (pela agência) que o compromisso seja pago no período de carência.
Uma vez confirmado o não-pagamento, a S&P informou que ficará caracterizada uma situação de "inadimplência geral".
As classificações das duas empresas do grupo Globo, e mais a da Net Serviços de Comunicação, controlada pela Globopar, tinham sido rebaixadas no dia 29 de outubro para CC com observação negativa. Isso ocorreu após a Globopar anunciar que faria uma "reestruturação" de suas dívidas financeiras pelo prazo de 90 dias.
A suspensão de pagamentos decorreu do agravamento das dificuldades financeiras da empresa, que congrega a maioria das participações acionárias da família Marinho (estão fora da Globopar a TV Globo, a Infoglobo, que administra os jornais do grupo, e o Sistema Globo de Rádio). Segundo a empresa, esse agravamento decorreu da crise cambial.
Segundo a S&P, a Globopar deve US$ 1,2 bilhão e é garantidora de outros US$ 410 milhões devidos por suas subsidiárias.
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
quarta-feira, abril 30, 2014
Tempestade em copo d'água
Os arautos do caos não param de profetizar sobre a tempestade perfeita que estaria prestes a desabar sobre o Brasil. Os números, porém, dizem outra coisa
Cláudio Puty (*)
Carta Maior
Os arautos do caos – a oposição neoliberal e conservadora – não param de profetizar sobre a “tempestade perfeita” que estaria prestes a desabar sobre a economia brasileira. Dia e noite, eles nos bombardeiam, pela mídia, com previsões catastrofistas. Dizem que a inflação está à espreita, que as expectativas de crescimento econômico são pífias, que o desemprego está aumentando, as contas públicas estourando e a dívida crescendo.
Quem lê tanta notícia negativa tem razão para se assustar. Mas, quando se olha de perto os números reais da economia, percebe-se facilmente que estamos diante de uma situação totalmente diversa, com estabilidade, crescimento e queda do desemprego, mesmo dentro de um quadro de crise internacional persistente.
De onde se conclui que a questão fundamental é de natureza política, não econômica. O fato é que os conservadores buscam interditar o debate sobre a política econômica, classificando como “populista” qualquer desvio da ortodoxia econômica.
Vamos, então, aos números. De acordo com apresentação feita em abril passado pelo Presidente do Banco Central do Brasil ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social verifica-se uma tendência de estabilidade nos principais indicadores econômicos da economia brasileira.
Desde a crise financeira, o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, tem sido constante. Se considerarmos 100 o índice de dezembro de 2007, ele apresenta uma curva ascendente desde 2009, atingindo 117,7 no 4º trimestre de 2013. É mais ou menos a mesma curva da Coreia do Sul. Para se ter uma ideia, o México, que também ostenta um PIB crescente, atingiu o índice 110,2, os EUA, 106,3. Já na a área do Euro o índice é de 97,9.
Em relação ao desemprego, podemos verificar um verdadeiro mergulho, do pico de cerca de 13% em 2003 para 5% no final do ano passado. Segundo os parâmetros internacionais, esse índice configura praticamente uma situação de pleno emprego.
Já as reservas internacionais estão estabilizadas no patamar de US$ 378 bilhões desde 2012, enquanto que a dívida externa líquida ficou em US$ 92,7 negativos no mesmo período, ou seja, somos credores externos líquidos. Quanto aos investimentos estrangeiros diretos, desde 2011 eles estão na faixa dos US$ 66 bilhões ao ano. Podemos supor, sem medo de errar, que se o capital externo tivesse a mesma percepção que alguns setores do empresariado brasileiro, não se arriscaria a continuar investindo no Brasil.
No que diz respeito à política fiscal, a redução da dívida líquida do setor público prossegue com sua longa trajetória de queda, de 39% em 2010 para cerca de 33% do PIB em 2013. Esse resultado vem sendo obtido em razão de um superávit primário acima da média dos países do G-20 (Grupo dos 20). Enquanto em 2013 o Brasil atingiu um superávit primário de 1,9% do PIB, outros países do grupo tiveram déficit, como Japão (-8,8); Reino Unido (-4,7%); EUA (-3,6%); França (-2,0%) e México (-1,2%). Entre os que tiveram superávit primário, a Itália atingiu 2% e a Alemanha, 1,7%.
E a inflação? Longe de estar fora de controle, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) mostra que, do pico de quase 17% em dezembro de 2002, esse índice caiu consideravelmente e vem se mantendo estável, apesar de toda pressão, inclusive internacional, em torno de 6%. É sempre bom lembrar que Lula recebeu de FHC uma inflação de mais de 12% ao ano. É de se imaginar o tamanho escarcéu que a oposição, os neoliberais e a direita fariam se, nos governos Lula e Dilma, o IPCA chegasse perto de tal patamar.
A imagem do caos econômico ventilada pela oposição conservadora não é a tempestade perfeita, mas uma tempestade em copo d’água – na verdade, é uma tentativa de constranger o governo federal a abandonar os mecanismos de política econômica voltados ao desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo, voltando a subordinar as ações do Estado às necessidades do capital financeiro, principalmente especulativo.
(*) Deputado federal (PT-PA), vice-líder do governo no Congresso Nacional.
Cláudio Puty (*)
Carta Maior
Os arautos do caos – a oposição neoliberal e conservadora – não param de profetizar sobre a “tempestade perfeita” que estaria prestes a desabar sobre a economia brasileira. Dia e noite, eles nos bombardeiam, pela mídia, com previsões catastrofistas. Dizem que a inflação está à espreita, que as expectativas de crescimento econômico são pífias, que o desemprego está aumentando, as contas públicas estourando e a dívida crescendo.
Quem lê tanta notícia negativa tem razão para se assustar. Mas, quando se olha de perto os números reais da economia, percebe-se facilmente que estamos diante de uma situação totalmente diversa, com estabilidade, crescimento e queda do desemprego, mesmo dentro de um quadro de crise internacional persistente.
De onde se conclui que a questão fundamental é de natureza política, não econômica. O fato é que os conservadores buscam interditar o debate sobre a política econômica, classificando como “populista” qualquer desvio da ortodoxia econômica.
Vamos, então, aos números. De acordo com apresentação feita em abril passado pelo Presidente do Banco Central do Brasil ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social verifica-se uma tendência de estabilidade nos principais indicadores econômicos da economia brasileira.
Desde a crise financeira, o crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo, tem sido constante. Se considerarmos 100 o índice de dezembro de 2007, ele apresenta uma curva ascendente desde 2009, atingindo 117,7 no 4º trimestre de 2013. É mais ou menos a mesma curva da Coreia do Sul. Para se ter uma ideia, o México, que também ostenta um PIB crescente, atingiu o índice 110,2, os EUA, 106,3. Já na a área do Euro o índice é de 97,9.
Em relação ao desemprego, podemos verificar um verdadeiro mergulho, do pico de cerca de 13% em 2003 para 5% no final do ano passado. Segundo os parâmetros internacionais, esse índice configura praticamente uma situação de pleno emprego.
Já as reservas internacionais estão estabilizadas no patamar de US$ 378 bilhões desde 2012, enquanto que a dívida externa líquida ficou em US$ 92,7 negativos no mesmo período, ou seja, somos credores externos líquidos. Quanto aos investimentos estrangeiros diretos, desde 2011 eles estão na faixa dos US$ 66 bilhões ao ano. Podemos supor, sem medo de errar, que se o capital externo tivesse a mesma percepção que alguns setores do empresariado brasileiro, não se arriscaria a continuar investindo no Brasil.
No que diz respeito à política fiscal, a redução da dívida líquida do setor público prossegue com sua longa trajetória de queda, de 39% em 2010 para cerca de 33% do PIB em 2013. Esse resultado vem sendo obtido em razão de um superávit primário acima da média dos países do G-20 (Grupo dos 20). Enquanto em 2013 o Brasil atingiu um superávit primário de 1,9% do PIB, outros países do grupo tiveram déficit, como Japão (-8,8); Reino Unido (-4,7%); EUA (-3,6%); França (-2,0%) e México (-1,2%). Entre os que tiveram superávit primário, a Itália atingiu 2% e a Alemanha, 1,7%.
E a inflação? Longe de estar fora de controle, a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA) mostra que, do pico de quase 17% em dezembro de 2002, esse índice caiu consideravelmente e vem se mantendo estável, apesar de toda pressão, inclusive internacional, em torno de 6%. É sempre bom lembrar que Lula recebeu de FHC uma inflação de mais de 12% ao ano. É de se imaginar o tamanho escarcéu que a oposição, os neoliberais e a direita fariam se, nos governos Lula e Dilma, o IPCA chegasse perto de tal patamar.
A imagem do caos econômico ventilada pela oposição conservadora não é a tempestade perfeita, mas uma tempestade em copo d’água – na verdade, é uma tentativa de constranger o governo federal a abandonar os mecanismos de política econômica voltados ao desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo, voltando a subordinar as ações do Estado às necessidades do capital financeiro, principalmente especulativo.
(*) Deputado federal (PT-PA), vice-líder do governo no Congresso Nacional.
1º de Maio: a encruzilhada brasileira
Ainda há tempo de esclarecer à sociedade o verdadeiro divisor de águas desta eleição. Essa é a atualidade do 1º de Maio de 2014.
por: Saul Leblon
Carta Maior
O jogral do Brasil aos cacos esforça-se por convencer a sociedade de que seus pés tateiam o precipício no qual o PT transformou tudo aquilo que um dia já foi uma economia de fundamentos sólidos, um país de vida aprazível.
Narra-se o Brasil abanando leques para os donos da casa-grande.
Dá-se a isso o nome de jornalismo; o resto é ideologia.
A sofreguidão prestativa mistura problemas reais e imaginários em uma escalada arfante destinada a validar nas pesquisas da semana seguinte a crispação denuncista emitida no período anterior.
Vive-se uma circularidade. Soa quase como um bate bola entre amigos.
Esse churrasco de compadres, que se repete com regularidade conveniente, incorporou ao rachão o ambiente carimbado das bolsas de valores.
O jornalismo isento grita fogo; em rodízio disciplinado, institutos de pesquisa perguntam ao eleitor ‘se já sentiu o cheiro de queimado’; as bolsas correm e precificam o rescaldo dando ares de consenso ao incêndio antipetista.
Analistas –todos isentos, ideológicos são os blogueiros que entrevistaram Lula-- cuidam de emprestar à pantomima uma seriedade imiscível com a manipulação cotidiana que jorra de todo o processo.
Não se pode negar alguma eficácia ao jogo corrosivo que tem a seu favor os flancos que a transição de ciclo mundial impõe à economia e ao governo brasileiros.
Enquanto for capaz de manter o debate do desenvolvimento sob a neblina dessa isenção, o conservadorismo terá o mando do campo.
Mas só o terá enquanto durar a omissão do PT e do governo.
Se estes resolverem –enquanto ainda há tempo-- esclarecer à sociedade o custo efetivo das soluções propugnadas pela ortodoxia , o jogo pode mudar.
Trata-se de repor o verdadeiro divisor de águas desta eleição.
O conservadorismo insiste que se trata de um embate entre o precipício petista e a estabilidade que só os candidatos dos livres mercados podem restaurar.
Em primeiro lugar, há que se arejar a moldura.
O Brasil faz parte do mundo. O jogo aqui é o mesmo em curso em outras praças do capitalismo internacional.
A escolha, de fato, consiste em reordenar a economia com o escalpo dos assalariados, como prescreve a restauração neoliberal em curso; ou repactuar o futuro construindo uma democracia social, que sincronize ganhos de produtividade, crescimento e redistribuição da riqueza.
Essa é a encruzilhada do 1º de Maio de 2014.
Aqui e em todas as latitudes do planeta.
É ela também que repõe os termos da luta entre capital e trabalho, entre Estado social e estado mínimo, entre Aécios, Campos & Marinas --tanto faz-- e o campo progressista nas eleições brasileiras de outubro próximo.
Talvez seja o pressentimento dessas massas de forças em conflito que explica por que 72% dos eleitores consideram o governo Dilma entre ótimo, bom e regular (segundo a última CNT), apesar do bombardeio diuturno dos isentos rapazes da mídia.
O governo e o PT precisam ajudar essa intuição com a força do esclarecimento político para que a sociedade tenha a certeza de que existe uma escolha a ser feita .
E que ela pode fazer a diferença entre o Brasil que somos e o que gostaríamos de ser.
O conservadorismo prefere entregar o timão da travessia à mão invisível dos livres mercados.
A escolha predefine o vencedor do embate com base nas regras que lhes são intrínsecas, a saber: desregulação de direitos trabalhistas, choque de juros, arrocho fiscal, liberdade irrestrita aos capitais e privatizações.
A repactuação democrática do desenvolvimento, ao contrário, traz o embate para o delicado campo da negociação política; inclui prazos, sacrifícios e metas a serem pactuados em sintonia com ganhos de produtividade e crescimento que deem coerência macroeconômica ao processo.
Trata-se de promover uma mudança na correlação de forças pós-crise de 2008. E de fazer da campanha de outubro o seu cenário.
A opção conservadora é mais simples e direta.
Desde a estrutura do Estado, aos ventos internacionais, passando pela prontidão plutocrática, até aos aparelhos ideológicos da sociedade, com a prestimosa turma do jornalismo isento à frente, tudo está em linha para deflagrá-la.
O que atrapalha o cortejo é presença contraditória do PT na direção do país desde 2003.
Com as consequências sabidas.
A principal delas sendo a emergência de um novo protagonista representado pela ascensão de 53% dos brasileiros, que, sozinhos, formam hoje o 16º maior mercado popular do mundo.
O que fizeram os governantes das economias desenvolvidas desde os anos 90 — com os aplausos obsequiosos do dispositivo midiático local — foi lubrificar uma espiral inversa.
Essa à qual o conservadorismo pretende alinhar o país, se vencer em outubro.
Tome-se o caso mais ameno dos EUA, para não insistir no funeral econômico promovido na Europa pela rendição socialista, para júbilo da extrema direita.
Nos EUA, ao contrário, há uma recuperação nos indicadores de mercado.
Mas ela não impede que o prestígio de Obama derreta aos olhos da sociedade, que hoje lhe atribui taxa de aprovação equivalente a de Bush nos piores momentos.
Por quê?
Porque a propalada retomada não inclui o resgate dos mais pobres, nem a reincorporação da classe média no comboio dos vencedores.
O grande séquito dos ‘ loosers ‘ norte-americanos não foi obra do improviso.
Desde os anos 70, com as reformas neoliberais, a participação do trabalho na renda mundial declina.
Recente debate promovido pela rádio Brasil Atual mostrou, por exemplo, que 2/3 das nações integrantes da ONU promoveram cortes em direitos trabalhistas nas últimas décadas.
Os EUA foram o palco de uma das decepações mais drásticas.
Hoje, a parcela da renda destinada aos trabalhadores norte-americanos está no nível mais baixo desde 1950.
Os lucros das grandes corporações, em contrapartida, consomem a maior fatia do bolo já registrada desde 1920.
Esse arrocho estrutural --associado a distorções cambiais—explica em boa parte a brutal diferença de custo entre fabricar manufaturados no Brasil e nos EUA.
Em 2004, segundo dados publicados pelo Valor Econômico, o custo da indústria brasileira era 3% menor que o da norte-americana; hoje é 23% maior.
O fato de Obama não ter conseguido até agora reajustar um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre as escolhas de futuro embutidas nessa diferença de competitividade.
Se por um lado ela inclui opções indesejadas, por outro é evidente que a construção de uma democracia social no Brasil exige respaldar seu custo em contrapartidas de produtividade, sem as quais a artificialidade do processo desembocará em uma espiral salários/preços de consequências sabidas.
Restaurar o modelo neoliberal, em contrapartida, como quer o conservadorismo, é repetir o percurso que desembocou justamente no colapso de 2008, e hoje catapulta a extrema direita na Grécia, França, Inglaterra (leia a análise de Marcelo Justo; nesta pág).
Não apenas isso.
Foi sobre uma base de renda e trabalho esfacelados pela transferências de empregos às ‘oficinas asiáticas’, que se instalou a desordem neoliberal.
A asfixia desse arranjo capitalista só não explodiu antes de 2008, graças à válvula de escape do endividamento maciço de governos e famílias, que atingiu patamares insustentáveis na bolha imobiliária norte-americana, espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929.
Quando as subprimes gritaram — ‘o rei está nu’, todo o edifício de uma ciranda financeira ancorada no crédito sem poupança (porque sem empregos, sem renda e sem receita fiscal compatível) veio abaixo.
A tentativa atual de ‘limpar o rescaldo’ resgatando apenas seus gargalos financeiros --salvando os bancos e arrochando ainda mais os assalariados e os pobres — é mais uma forma de perpetuar a essência da crise do que de enfrentar as suas causas.
É nessa roleta russa que o conservadorismo quer engatar o futuro do Brasil.
O jogo, portanto, é pesado.
Controlar as finanças desreguladas é um pedaço do caminho para controlar a redistribuição do excedente econômico, ferozmente concentrado nas últimas décadas, na base do morde e assopra – -arrocho de um lado, crédito do outro.
Preservar o modelo, adicionando-lhe a contração do crédito, como se tenta agora, desemboca nas manifestações mórbidas de totalitarismo em curso na Europa.
A produtividade imprescindível à renovação dessa engrenagem requer a construção de um outro percurso. Distinto da compressão dos holerites, do emprego e dos direitos sociais preconizado pelos jornalistas isentos.
A pactuação política de um novo ciclo de expansão da economia certamente é um caminho mais longo que o ajuste instantâneo oferecido pelo ferramental ortodoxo.
Mas o Brasil ainda preserva em seu metabolismo uma estrutura de organização social e sindical que pode e deve ser rejuvenescida com essa finalidade.
Dispõe, ademais de um bloco progressista que mudou, para melhor, a face da sociedade em mais de uma década à frente do Estado.
As eleições de 2014 configuram uma derradeira oportunidade para as duas pontas renovarem seu estoque de força e consentimento na repactuação dessa heresia histórica.
Ou seja, construir um Estado social em uma nação em desenvolvimento.
A alternativa, repita-se, é arrocho.
por: Saul Leblon
Carta Maior
O jogral do Brasil aos cacos esforça-se por convencer a sociedade de que seus pés tateiam o precipício no qual o PT transformou tudo aquilo que um dia já foi uma economia de fundamentos sólidos, um país de vida aprazível.
Narra-se o Brasil abanando leques para os donos da casa-grande.
Dá-se a isso o nome de jornalismo; o resto é ideologia.
A sofreguidão prestativa mistura problemas reais e imaginários em uma escalada arfante destinada a validar nas pesquisas da semana seguinte a crispação denuncista emitida no período anterior.
Vive-se uma circularidade. Soa quase como um bate bola entre amigos.
Esse churrasco de compadres, que se repete com regularidade conveniente, incorporou ao rachão o ambiente carimbado das bolsas de valores.
O jornalismo isento grita fogo; em rodízio disciplinado, institutos de pesquisa perguntam ao eleitor ‘se já sentiu o cheiro de queimado’; as bolsas correm e precificam o rescaldo dando ares de consenso ao incêndio antipetista.
Analistas –todos isentos, ideológicos são os blogueiros que entrevistaram Lula-- cuidam de emprestar à pantomima uma seriedade imiscível com a manipulação cotidiana que jorra de todo o processo.
Não se pode negar alguma eficácia ao jogo corrosivo que tem a seu favor os flancos que a transição de ciclo mundial impõe à economia e ao governo brasileiros.
Enquanto for capaz de manter o debate do desenvolvimento sob a neblina dessa isenção, o conservadorismo terá o mando do campo.
Mas só o terá enquanto durar a omissão do PT e do governo.
Se estes resolverem –enquanto ainda há tempo-- esclarecer à sociedade o custo efetivo das soluções propugnadas pela ortodoxia , o jogo pode mudar.
Trata-se de repor o verdadeiro divisor de águas desta eleição.
O conservadorismo insiste que se trata de um embate entre o precipício petista e a estabilidade que só os candidatos dos livres mercados podem restaurar.
Em primeiro lugar, há que se arejar a moldura.
O Brasil faz parte do mundo. O jogo aqui é o mesmo em curso em outras praças do capitalismo internacional.
A escolha, de fato, consiste em reordenar a economia com o escalpo dos assalariados, como prescreve a restauração neoliberal em curso; ou repactuar o futuro construindo uma democracia social, que sincronize ganhos de produtividade, crescimento e redistribuição da riqueza.
Essa é a encruzilhada do 1º de Maio de 2014.
Aqui e em todas as latitudes do planeta.
É ela também que repõe os termos da luta entre capital e trabalho, entre Estado social e estado mínimo, entre Aécios, Campos & Marinas --tanto faz-- e o campo progressista nas eleições brasileiras de outubro próximo.
Talvez seja o pressentimento dessas massas de forças em conflito que explica por que 72% dos eleitores consideram o governo Dilma entre ótimo, bom e regular (segundo a última CNT), apesar do bombardeio diuturno dos isentos rapazes da mídia.
O governo e o PT precisam ajudar essa intuição com a força do esclarecimento político para que a sociedade tenha a certeza de que existe uma escolha a ser feita .
E que ela pode fazer a diferença entre o Brasil que somos e o que gostaríamos de ser.
O conservadorismo prefere entregar o timão da travessia à mão invisível dos livres mercados.
A escolha predefine o vencedor do embate com base nas regras que lhes são intrínsecas, a saber: desregulação de direitos trabalhistas, choque de juros, arrocho fiscal, liberdade irrestrita aos capitais e privatizações.
A repactuação democrática do desenvolvimento, ao contrário, traz o embate para o delicado campo da negociação política; inclui prazos, sacrifícios e metas a serem pactuados em sintonia com ganhos de produtividade e crescimento que deem coerência macroeconômica ao processo.
Trata-se de promover uma mudança na correlação de forças pós-crise de 2008. E de fazer da campanha de outubro o seu cenário.
A opção conservadora é mais simples e direta.
Desde a estrutura do Estado, aos ventos internacionais, passando pela prontidão plutocrática, até aos aparelhos ideológicos da sociedade, com a prestimosa turma do jornalismo isento à frente, tudo está em linha para deflagrá-la.
O que atrapalha o cortejo é presença contraditória do PT na direção do país desde 2003.
Com as consequências sabidas.
A principal delas sendo a emergência de um novo protagonista representado pela ascensão de 53% dos brasileiros, que, sozinhos, formam hoje o 16º maior mercado popular do mundo.
O que fizeram os governantes das economias desenvolvidas desde os anos 90 — com os aplausos obsequiosos do dispositivo midiático local — foi lubrificar uma espiral inversa.
Essa à qual o conservadorismo pretende alinhar o país, se vencer em outubro.
Tome-se o caso mais ameno dos EUA, para não insistir no funeral econômico promovido na Europa pela rendição socialista, para júbilo da extrema direita.
Nos EUA, ao contrário, há uma recuperação nos indicadores de mercado.
Mas ela não impede que o prestígio de Obama derreta aos olhos da sociedade, que hoje lhe atribui taxa de aprovação equivalente a de Bush nos piores momentos.
Por quê?
Porque a propalada retomada não inclui o resgate dos mais pobres, nem a reincorporação da classe média no comboio dos vencedores.
O grande séquito dos ‘ loosers ‘ norte-americanos não foi obra do improviso.
Desde os anos 70, com as reformas neoliberais, a participação do trabalho na renda mundial declina.
Recente debate promovido pela rádio Brasil Atual mostrou, por exemplo, que 2/3 das nações integrantes da ONU promoveram cortes em direitos trabalhistas nas últimas décadas.
Os EUA foram o palco de uma das decepações mais drásticas.
Hoje, a parcela da renda destinada aos trabalhadores norte-americanos está no nível mais baixo desde 1950.
Os lucros das grandes corporações, em contrapartida, consomem a maior fatia do bolo já registrada desde 1920.
Esse arrocho estrutural --associado a distorções cambiais—explica em boa parte a brutal diferença de custo entre fabricar manufaturados no Brasil e nos EUA.
Em 2004, segundo dados publicados pelo Valor Econômico, o custo da indústria brasileira era 3% menor que o da norte-americana; hoje é 23% maior.
O fato de Obama não ter conseguido até agora reajustar um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre as escolhas de futuro embutidas nessa diferença de competitividade.
Se por um lado ela inclui opções indesejadas, por outro é evidente que a construção de uma democracia social no Brasil exige respaldar seu custo em contrapartidas de produtividade, sem as quais a artificialidade do processo desembocará em uma espiral salários/preços de consequências sabidas.
Restaurar o modelo neoliberal, em contrapartida, como quer o conservadorismo, é repetir o percurso que desembocou justamente no colapso de 2008, e hoje catapulta a extrema direita na Grécia, França, Inglaterra (leia a análise de Marcelo Justo; nesta pág).
Não apenas isso.
Foi sobre uma base de renda e trabalho esfacelados pela transferências de empregos às ‘oficinas asiáticas’, que se instalou a desordem neoliberal.
A asfixia desse arranjo capitalista só não explodiu antes de 2008, graças à válvula de escape do endividamento maciço de governos e famílias, que atingiu patamares insustentáveis na bolha imobiliária norte-americana, espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929.
Quando as subprimes gritaram — ‘o rei está nu’, todo o edifício de uma ciranda financeira ancorada no crédito sem poupança (porque sem empregos, sem renda e sem receita fiscal compatível) veio abaixo.
A tentativa atual de ‘limpar o rescaldo’ resgatando apenas seus gargalos financeiros --salvando os bancos e arrochando ainda mais os assalariados e os pobres — é mais uma forma de perpetuar a essência da crise do que de enfrentar as suas causas.
É nessa roleta russa que o conservadorismo quer engatar o futuro do Brasil.
O jogo, portanto, é pesado.
Controlar as finanças desreguladas é um pedaço do caminho para controlar a redistribuição do excedente econômico, ferozmente concentrado nas últimas décadas, na base do morde e assopra – -arrocho de um lado, crédito do outro.
Preservar o modelo, adicionando-lhe a contração do crédito, como se tenta agora, desemboca nas manifestações mórbidas de totalitarismo em curso na Europa.
A produtividade imprescindível à renovação dessa engrenagem requer a construção de um outro percurso. Distinto da compressão dos holerites, do emprego e dos direitos sociais preconizado pelos jornalistas isentos.
A pactuação política de um novo ciclo de expansão da economia certamente é um caminho mais longo que o ajuste instantâneo oferecido pelo ferramental ortodoxo.
Mas o Brasil ainda preserva em seu metabolismo uma estrutura de organização social e sindical que pode e deve ser rejuvenescida com essa finalidade.
Dispõe, ademais de um bloco progressista que mudou, para melhor, a face da sociedade em mais de uma década à frente do Estado.
As eleições de 2014 configuram uma derradeira oportunidade para as duas pontas renovarem seu estoque de força e consentimento na repactuação dessa heresia histórica.
Ou seja, construir um Estado social em uma nação em desenvolvimento.
A alternativa, repita-se, é arrocho.
Crise está próxima do fim e Brasil poderá crescer até 4% em dois anos, diz Mantega
Ministro destaca pontos fortes do País, como criação de empregos durante a crise e permanência entre 5 países que mais recebem investimentos estrangeiros diretos
O crescimento econômico neste ano deve ser de 2,3%; mas, a partir de 2015, o País voltará a crescer mais, chegando a 4% em 2016. Isso porque a crise financeira internacional, que começou em 2008, está no seu final, afirmou nesta terça-feira (29) o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“Isso é um processo lento porque os países, principalmente os avançados - onde foi o epicentro da crise -, têm vários problemas para resolver. É por isso que nossas projeções para os próximos anos ainda são moderadas”, disse ele.
Elo destacou que, ao contrário de outros países, o Brasil conseguiu reduzir a taxa de desemprego de sua população mesmo com crise externa. “Isso é fator de dinamismo da economia”, ressaltou. As declarações foram feitas na abertura do seminário “Brasil Novo – Discussões para a Construção de uma Agenda Positiva no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados.
Guido Mantega lembrou que “2013 foi um ano difícil para todos os países, que cresceram menos”, mas que as perspectivas de retomada do crescimento do Brasil são “boas”. O governo projeta um crescimento de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, passando para 3% do PIB em 2015, e 4% em 2016 e 2017. “Se houver recuperação mais rápida, ainda poderemos ter desempenho melhor do que o proposto”, antecipou.
Mas lembrou que, no período da crise, o Brasil cresceu 17,7%, enquanto outros países não cresceram nada ou cresceram muito pouco. Ele considerou como ganho permanente, e mais importante, a geração de mais de 20 milhões de empregos desde 2003. Para este ano, é esperada a criação de 1 milhão de empregos.
Outro dado que reforça a solidez do País, de acordo Mantega, é o fato de o Brasil estar sempre entre os cinco países que mais recebem investimentos estrangeiros diretos. Como desafios para o futuro, o ministro da Fazenda afirmou que é preciso investir em infraestrutura e inovação.
Alianças futuras
Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges Lemos, ressaltou que, nos próximos meses, o Brasil, por meio do Mercosul, deverá fazer uma oferta de acordo comercial com a União Europeia. Segundo ele, o governo também quer incrementar a integração produtiva com os países da América do Sul e da África.
"O ideal para o Brasil seria que, a partir de 2016, nós estivéssemos já cursando uma zona de livre comércio com toda a América do Sul e iniciar um processo definitivo de acordo comercial com o México que vá além do acordo de complementaridade econômica atual, que é apenas no setor automotivo."
Fonte: Portal Brasil com informações da Agência Câmara e do Ministério da Fazenda
O crescimento econômico neste ano deve ser de 2,3%; mas, a partir de 2015, o País voltará a crescer mais, chegando a 4% em 2016. Isso porque a crise financeira internacional, que começou em 2008, está no seu final, afirmou nesta terça-feira (29) o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
“Isso é um processo lento porque os países, principalmente os avançados - onde foi o epicentro da crise -, têm vários problemas para resolver. É por isso que nossas projeções para os próximos anos ainda são moderadas”, disse ele.
Elo destacou que, ao contrário de outros países, o Brasil conseguiu reduzir a taxa de desemprego de sua população mesmo com crise externa. “Isso é fator de dinamismo da economia”, ressaltou. As declarações foram feitas na abertura do seminário “Brasil Novo – Discussões para a Construção de uma Agenda Positiva no Congresso Nacional, na Câmara dos Deputados.
Guido Mantega lembrou que “2013 foi um ano difícil para todos os países, que cresceram menos”, mas que as perspectivas de retomada do crescimento do Brasil são “boas”. O governo projeta um crescimento de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, passando para 3% do PIB em 2015, e 4% em 2016 e 2017. “Se houver recuperação mais rápida, ainda poderemos ter desempenho melhor do que o proposto”, antecipou.
Mas lembrou que, no período da crise, o Brasil cresceu 17,7%, enquanto outros países não cresceram nada ou cresceram muito pouco. Ele considerou como ganho permanente, e mais importante, a geração de mais de 20 milhões de empregos desde 2003. Para este ano, é esperada a criação de 1 milhão de empregos.
Outro dado que reforça a solidez do País, de acordo Mantega, é o fato de o Brasil estar sempre entre os cinco países que mais recebem investimentos estrangeiros diretos. Como desafios para o futuro, o ministro da Fazenda afirmou que é preciso investir em infraestrutura e inovação.
Alianças futuras
Já o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges Lemos, ressaltou que, nos próximos meses, o Brasil, por meio do Mercosul, deverá fazer uma oferta de acordo comercial com a União Europeia. Segundo ele, o governo também quer incrementar a integração produtiva com os países da América do Sul e da África.
"O ideal para o Brasil seria que, a partir de 2016, nós estivéssemos já cursando uma zona de livre comércio com toda a América do Sul e iniciar um processo definitivo de acordo comercial com o México que vá além do acordo de complementaridade econômica atual, que é apenas no setor automotivo."
Fonte: Portal Brasil com informações da Agência Câmara e do Ministério da Fazenda
terça-feira, abril 29, 2014
segunda-feira, abril 28, 2014
Kremlin sugere criação de agência de rating dos Brics
Aleksêi Lossan, Gazeta Russa
Autoridades alegam que principais agências de classificação de risco continuam sob a influência dos EUA. Além de governo chinês ter manifestado interesse pelo projeto, outras agências e consórcios internacionais estão sendo avaliados para cooperação na nova agência.
O governo russo irá apresentar aos seus parceiros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a criação de uma agência única de rating para competir com as tradicionais Standart & Poor’s, Moody e Fitch. “Todos os países dos Brics têm instituições nacionais de rating, mas queremos criar uma estrutura de reconhecimento mútuo”, disse à Gazeta Russa Konstantin Korischenko, membro da Academia Russa de Economia.
De acordo com o jornal “RBC Daily”, a nova agência poderá ser criada com base na cooperação entre a russa RusRating e a chinesa Dagong Global, que já realizaram negociações em Pequim durante um encontro dos Brics nos anos anteriores. Acredita-se que a agência americana Egan-Jones Ratings também poderá cooperar na empreitada.
O que o Brics tem a ensinar
Enquanto a área de influência da Dagong Global é basicamente nacional, com esporádicos casos de ratings sobre outros países, a americana Egan-Jones Ratings expõe classificações de dívidas, incluindo títulos cambiários e empréstimos bancários. Ambas as agências são conhecidas de longa data por trabalhar com emissores corporativos e Estados, dedicando-se aos chamados “mercados de créditos quentes”, como a China e Estados Unidos.
O projeto a ser criado já tem nome – Universal Credit Rating Group. “A Universal Credit Rating Group irá classificar as empresas russas e suas avaliações poderão ser reconhecidas pelas agências estrangeiras, como as ‘três grandes’ americanas”, diz Vadim Vedernikov, vice-diretor do departamento de Pesquisa e Gestão de Riscos da companhia de investimento UFS.
Outra alternativa é cooperar com a agência Arc Ratings – um consórcio internacional formado por instituições de Portugal, Índia, África do Sul, Malásia e Brasil. “A cooperação entre as agências russas e a Arc Ratings pode ser um fator positivo, pois permitirá uma avaliação objetiva e independente sobre as empresas russas, bem como servirá de avaliação suplementar àquelas da Universal Credit Rating Group”, afirma Vedernikov.
As agências japonesa Credit Rating Agency e a canadense Dominion Bond Rating Service também despontam como potenciais parceiros. “Essas interações com agências estrangeiras independentes poderão melhorar a percepção de emitentes russos aos olhos dos investidores estrangeiros”, garante o analista da UFS.
Impacto global
Recentemente, a Standart & Poor’s rebaixou o rating da Rússia sobre os passivos em moeda estrangeira de BBB para BBB-, com perspectiva negativa. “A grande saída de capital da Rússia no primeiro trimestre de 2014 elevou o risco de uma significativa deterioração no financiamento externo”, justificou a agência norte-americana.
BRICS BRICS
A saída de capitais, que no primeiro trimestre de 2014 totalizou US$ 50,6 bilhões, pode não ser menor durante o segundo semestre do ano. Além disso, é provável que o custo dos empréstimos aumente para a Rússia e para as empresas do país atuando em mercados estrangeiros. Por isso, o rebaixamento da S&P pode ter um impacto sério sobre a economia russa.
“As agências estrangeiras analisam os riscos crescentes de investir na economia russa, mas elas podem exagerar um pouco. O cenário mundial nesse segmento está formado quase por um monopólio. Assim, o desenvolvimento de alternativas irão trazer benefícios não somente para a Rússia, mas para o mundo em geral”, afirma o analista da holding Finam, Anton Soroko.
Autoridades alegam que principais agências de classificação de risco continuam sob a influência dos EUA. Além de governo chinês ter manifestado interesse pelo projeto, outras agências e consórcios internacionais estão sendo avaliados para cooperação na nova agência.
O governo russo irá apresentar aos seus parceiros do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a criação de uma agência única de rating para competir com as tradicionais Standart & Poor’s, Moody e Fitch. “Todos os países dos Brics têm instituições nacionais de rating, mas queremos criar uma estrutura de reconhecimento mútuo”, disse à Gazeta Russa Konstantin Korischenko, membro da Academia Russa de Economia.
De acordo com o jornal “RBC Daily”, a nova agência poderá ser criada com base na cooperação entre a russa RusRating e a chinesa Dagong Global, que já realizaram negociações em Pequim durante um encontro dos Brics nos anos anteriores. Acredita-se que a agência americana Egan-Jones Ratings também poderá cooperar na empreitada.
O que o Brics tem a ensinar
Enquanto a área de influência da Dagong Global é basicamente nacional, com esporádicos casos de ratings sobre outros países, a americana Egan-Jones Ratings expõe classificações de dívidas, incluindo títulos cambiários e empréstimos bancários. Ambas as agências são conhecidas de longa data por trabalhar com emissores corporativos e Estados, dedicando-se aos chamados “mercados de créditos quentes”, como a China e Estados Unidos.
O projeto a ser criado já tem nome – Universal Credit Rating Group. “A Universal Credit Rating Group irá classificar as empresas russas e suas avaliações poderão ser reconhecidas pelas agências estrangeiras, como as ‘três grandes’ americanas”, diz Vadim Vedernikov, vice-diretor do departamento de Pesquisa e Gestão de Riscos da companhia de investimento UFS.
Outra alternativa é cooperar com a agência Arc Ratings – um consórcio internacional formado por instituições de Portugal, Índia, África do Sul, Malásia e Brasil. “A cooperação entre as agências russas e a Arc Ratings pode ser um fator positivo, pois permitirá uma avaliação objetiva e independente sobre as empresas russas, bem como servirá de avaliação suplementar àquelas da Universal Credit Rating Group”, afirma Vedernikov.
As agências japonesa Credit Rating Agency e a canadense Dominion Bond Rating Service também despontam como potenciais parceiros. “Essas interações com agências estrangeiras independentes poderão melhorar a percepção de emitentes russos aos olhos dos investidores estrangeiros”, garante o analista da UFS.
Impacto global
Recentemente, a Standart & Poor’s rebaixou o rating da Rússia sobre os passivos em moeda estrangeira de BBB para BBB-, com perspectiva negativa. “A grande saída de capital da Rússia no primeiro trimestre de 2014 elevou o risco de uma significativa deterioração no financiamento externo”, justificou a agência norte-americana.
BRICS BRICS
A saída de capitais, que no primeiro trimestre de 2014 totalizou US$ 50,6 bilhões, pode não ser menor durante o segundo semestre do ano. Além disso, é provável que o custo dos empréstimos aumente para a Rússia e para as empresas do país atuando em mercados estrangeiros. Por isso, o rebaixamento da S&P pode ter um impacto sério sobre a economia russa.
“As agências estrangeiras analisam os riscos crescentes de investir na economia russa, mas elas podem exagerar um pouco. O cenário mundial nesse segmento está formado quase por um monopólio. Assim, o desenvolvimento de alternativas irão trazer benefícios não somente para a Rússia, mas para o mundo em geral”, afirma o analista da holding Finam, Anton Soroko.
Rodrigo Vianna: Se insistir nos “almoços” com a velha mídia, o PT pode virar a sobremesa
Padilha e o “diálogo” com a imprensa: até onde vão as ilusões petistas?
publicada sábado, 26/04/2014 às 19:33 e atualizada sábado, 26/04/2014 às 19:33
por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador, sugestão de Robson Moreno
O PT deveria ter aprendido – com Lula – que esses almoços com representantes da velha mídia não servem pra nada. O então candidato petista foi à sede da “Folha”, em 2002. Lá pelas tantas, o herdeiro do jornal, Otavinho Frias, fez uma insinuação de que Lula não estaria preparado para ser presidente porque não sabia falar inglês. Lula levantou-se e foi embora. O velho Frias (que emprestava carros para torturadores durante a ditadura, mas não era tolo a ponto de confrontar um futuro presidente) saiu andando atrás do candidato, tentando se desculpar pela arrogância do filho.
Lula jamais se vingou dos Frias. Olhou pra frente. Errou? Teve a chance, também, de enterrar a Globo – endividada em 2003. Não avançou nisso. Aliás, presidente eleito, foi para a bancada do “JN” ao lado de Bonner. Alguém imaginaria Brizola, eleito, na bancada do “JN”? Alguns dirão: por isso que Brizola jamais foi presidente. Talvez, tenham razão…
Mas o PT seguiu apanhando e confraternizando-se com a velha mídia. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga em 2011. E disse que a questão da Comunicação no Brasil se resolvia com controle remoto.
Haddad, eleito depois de uma campanha em que meios digitais tiveram papel decisivo na capital paulista, mandou dizer pouco antes da posse que Comunicação era um assunto em que não cabia debate sobre políticas públicas. Pôs no cargo de Secretário um jornalista que imagina resolver todos problemas com telefonemas para as redações da “Folha” e “Estadão”. Haddad chegou a dizer que esperava uma “normalização” das relações com a mídia. Foi cozido e fritado por ela.
Padilha começou sua campanha a governador de São Paulo com caravanas pelo interior – transmitidas pela internet. Boa novidade. Mas também adotou a “tática” (!) dos almoços em jornais, pensando em criar (quem sabe) um clima de camaradagem com personagens do quilate dos Mesquita e dos Frias. Recentemente, ouvi de um alto dirigente do PT (foi conversa em off, não posso por isso revelar detalhes) que o partido não abre mão de “dialogar com todos os setores da imprensa” na campanha para o governo de São Paulo.
Sei… Gostaria de saber o que esse petista graúdo acha do “diálogo” estabelecido entre os jornais e Padilha na última semana. Diálogo bastante interessante.
O ex-ministro foi submetido a uma operação de guerra. A tentativa é de abatê-lo em pleno vôo, antes mesmo da campanha começar. Os aliados midiáticos dos tucanos perceberam a fragilidade de Alckmin num momento em que São Paulo está na iminência de ficar sem água por falta de planejamento dos governos do PSDB. No dia em que Padilha iria pra TV falar da seca, os jornais vieram com o ataque coordenado contra o petista.
As manchetes seriam a sobremesa do almoço recente de Padilha com representantes da família Mesquita?
A “Folha”, em sua edição digital, dava grande destaque neste sábado (26/04) para uma certa “opinião de leitor”, que afirmava: “Descoberta da PF é um tiro mortal na candidatura de Padilha”. Vejam, não se trata de análise. Não há informação. É a opinião de um leitor qualquer – que gera manchete no alto da home. Logo abaixo, outra manchete em que PT “nega que possa trocar de candidato”.
Qual diálogo possível? Pra que almoçar ou conversar com essa gente?
O PT segue a legitimar o inimigo. Sim, é disso que se trata. Jornais como “Folha”/”Estadão”/”O Globo” e revistas como a “Veja” são inimigos. São parte do aparato inimigo. Mas, dia sim, dia não, lá estão corajosos ministros petistas a ocupar páginas amarelas, e a se fartar com espaços concedidos pelo inimigo.
Qual nome dar a isso? Oportunismo? Cegueira? Pragmatismo?
Essa prática serve apenas para legitimar aqueles que são hoje a principal ferramenta do campo adversário. Não há meio termo. Ou não deveria haver. Não há ilusão. Ou não deveria haver.
Padilha reagiu até bem na coletiva da última sexta-feira. Mas o PT segue iludido (ou a palavra seria “rendido”) à lógica do “diálogo” com Globos, Folhas e Vejas.
Na verdade, trata-se – talvez – de um sintoma mais grave de rendição…
O partido tem uma base imensa de militantes, setores organizados e movimentos sociais dispostos a um combate aberto. Mas a direção segue na trajetória idêntica à do PS francês ou do PSOE espanhol. É caminho certo para o desastre.
Lula, com a entrevista aos blogueiros, deu a senha de que há outro caminho. Mas a direção petista (com parcas exceções) parece amortecida, rendida.
O que pode salvar o projeto petista e lulista – que apesar de suas limitações (até porque o PT governa em coalizão, e sempre em minoria no Congresso) significou avanços significativos para o país – são essas bases imensas e dispostas ao combate. Gente que nem é filiada ao PT muitas vezes. Mas sabe de que lado está. Essa gente pode pressionar uma direção que parece cada vez menos disposta ao combate.
Andre Vargas, meus caros, foi secretário de Comunicação do PT. Vejam que tipo de prioridade a direção petista dava ao tema. Vargas tentou enganar os incautos com aquele gesto provocativo à frente de Joaquim Barbosa: punho cerrado. Provocação tola, posto que sem correspondência com ações concretas de enfrentamento. Só enganou quem não conhecia os bastidores em que essa geração de “profissionais” petistas se criou.
O social-doleirismo de Vargas é parte desse mesmo quadro de rendição em que se inscrevem as tentativas de “dialogar” com a velha mídia brasileira.
A eleição de 2014 é uma guerra em que não se pode ter ilusões. O outro lado não quer diálogo. Há uma chance (pequena?) de o PT derrotar os tucanos em Minas e São Paulo, e ainda manter o governo federal com Dilma. Por isso, a guerra é tão feia.
Se adotar a tática do “diálogo” com a mídia e os piores inimigos, o PT – em vez de um passo à frente, com vitórias em Estados importantes – pode colher uma derrota definitiva. Os números a apontar liderança folgada de Dilma podem trazer ilusão de uma eleição fácil. Não! Até porque se trava no Brasil apenas parte da guerra – muito maior – pelo futuro do ciclo de governos progressistas na América do Sul.
A velha mídia é sócia dos tucanos num projeto político conservador. O PT – apesar de suas fragilidades e inconsistências crescentes – é a ferramenta disponível para os que lutam por barrar a direita e por aprofundar as reformas sociais no Brasil.
A guerra será aberta e total. Sem ilusões. Sem “diálogo”. Se insistir nos “almoços”, o PT pode virar a sobremesa. Com as cabeças de Dilma/Lula/Padilha/Dirceu e de toda a esquerda servidas na bandeja, e expostas nas manchetes dos jornais e telejornais inimigos nos dias e meses seguintes à eleição.
publicada sábado, 26/04/2014 às 19:33 e atualizada sábado, 26/04/2014 às 19:33
por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador, sugestão de Robson Moreno
O PT deveria ter aprendido – com Lula – que esses almoços com representantes da velha mídia não servem pra nada. O então candidato petista foi à sede da “Folha”, em 2002. Lá pelas tantas, o herdeiro do jornal, Otavinho Frias, fez uma insinuação de que Lula não estaria preparado para ser presidente porque não sabia falar inglês. Lula levantou-se e foi embora. O velho Frias (que emprestava carros para torturadores durante a ditadura, mas não era tolo a ponto de confrontar um futuro presidente) saiu andando atrás do candidato, tentando se desculpar pela arrogância do filho.
Lula jamais se vingou dos Frias. Olhou pra frente. Errou? Teve a chance, também, de enterrar a Globo – endividada em 2003. Não avançou nisso. Aliás, presidente eleito, foi para a bancada do “JN” ao lado de Bonner. Alguém imaginaria Brizola, eleito, na bancada do “JN”? Alguns dirão: por isso que Brizola jamais foi presidente. Talvez, tenham razão…
Mas o PT seguiu apanhando e confraternizando-se com a velha mídia. Dilma foi fazer omelete com Ana Maria Braga em 2011. E disse que a questão da Comunicação no Brasil se resolvia com controle remoto.
Haddad, eleito depois de uma campanha em que meios digitais tiveram papel decisivo na capital paulista, mandou dizer pouco antes da posse que Comunicação era um assunto em que não cabia debate sobre políticas públicas. Pôs no cargo de Secretário um jornalista que imagina resolver todos problemas com telefonemas para as redações da “Folha” e “Estadão”. Haddad chegou a dizer que esperava uma “normalização” das relações com a mídia. Foi cozido e fritado por ela.
Padilha começou sua campanha a governador de São Paulo com caravanas pelo interior – transmitidas pela internet. Boa novidade. Mas também adotou a “tática” (!) dos almoços em jornais, pensando em criar (quem sabe) um clima de camaradagem com personagens do quilate dos Mesquita e dos Frias. Recentemente, ouvi de um alto dirigente do PT (foi conversa em off, não posso por isso revelar detalhes) que o partido não abre mão de “dialogar com todos os setores da imprensa” na campanha para o governo de São Paulo.
Sei… Gostaria de saber o que esse petista graúdo acha do “diálogo” estabelecido entre os jornais e Padilha na última semana. Diálogo bastante interessante.
O ex-ministro foi submetido a uma operação de guerra. A tentativa é de abatê-lo em pleno vôo, antes mesmo da campanha começar. Os aliados midiáticos dos tucanos perceberam a fragilidade de Alckmin num momento em que São Paulo está na iminência de ficar sem água por falta de planejamento dos governos do PSDB. No dia em que Padilha iria pra TV falar da seca, os jornais vieram com o ataque coordenado contra o petista.
As manchetes seriam a sobremesa do almoço recente de Padilha com representantes da família Mesquita?
A “Folha”, em sua edição digital, dava grande destaque neste sábado (26/04) para uma certa “opinião de leitor”, que afirmava: “Descoberta da PF é um tiro mortal na candidatura de Padilha”. Vejam, não se trata de análise. Não há informação. É a opinião de um leitor qualquer – que gera manchete no alto da home. Logo abaixo, outra manchete em que PT “nega que possa trocar de candidato”.
Qual diálogo possível? Pra que almoçar ou conversar com essa gente?
O PT segue a legitimar o inimigo. Sim, é disso que se trata. Jornais como “Folha”/”Estadão”/”O Globo” e revistas como a “Veja” são inimigos. São parte do aparato inimigo. Mas, dia sim, dia não, lá estão corajosos ministros petistas a ocupar páginas amarelas, e a se fartar com espaços concedidos pelo inimigo.
Qual nome dar a isso? Oportunismo? Cegueira? Pragmatismo?
Essa prática serve apenas para legitimar aqueles que são hoje a principal ferramenta do campo adversário. Não há meio termo. Ou não deveria haver. Não há ilusão. Ou não deveria haver.
Padilha reagiu até bem na coletiva da última sexta-feira. Mas o PT segue iludido (ou a palavra seria “rendido”) à lógica do “diálogo” com Globos, Folhas e Vejas.
Na verdade, trata-se – talvez – de um sintoma mais grave de rendição…
O partido tem uma base imensa de militantes, setores organizados e movimentos sociais dispostos a um combate aberto. Mas a direção segue na trajetória idêntica à do PS francês ou do PSOE espanhol. É caminho certo para o desastre.
Lula, com a entrevista aos blogueiros, deu a senha de que há outro caminho. Mas a direção petista (com parcas exceções) parece amortecida, rendida.
O que pode salvar o projeto petista e lulista – que apesar de suas limitações (até porque o PT governa em coalizão, e sempre em minoria no Congresso) significou avanços significativos para o país – são essas bases imensas e dispostas ao combate. Gente que nem é filiada ao PT muitas vezes. Mas sabe de que lado está. Essa gente pode pressionar uma direção que parece cada vez menos disposta ao combate.
Andre Vargas, meus caros, foi secretário de Comunicação do PT. Vejam que tipo de prioridade a direção petista dava ao tema. Vargas tentou enganar os incautos com aquele gesto provocativo à frente de Joaquim Barbosa: punho cerrado. Provocação tola, posto que sem correspondência com ações concretas de enfrentamento. Só enganou quem não conhecia os bastidores em que essa geração de “profissionais” petistas se criou.
O social-doleirismo de Vargas é parte desse mesmo quadro de rendição em que se inscrevem as tentativas de “dialogar” com a velha mídia brasileira.
A eleição de 2014 é uma guerra em que não se pode ter ilusões. O outro lado não quer diálogo. Há uma chance (pequena?) de o PT derrotar os tucanos em Minas e São Paulo, e ainda manter o governo federal com Dilma. Por isso, a guerra é tão feia.
Se adotar a tática do “diálogo” com a mídia e os piores inimigos, o PT – em vez de um passo à frente, com vitórias em Estados importantes – pode colher uma derrota definitiva. Os números a apontar liderança folgada de Dilma podem trazer ilusão de uma eleição fácil. Não! Até porque se trava no Brasil apenas parte da guerra – muito maior – pelo futuro do ciclo de governos progressistas na América do Sul.
A velha mídia é sócia dos tucanos num projeto político conservador. O PT – apesar de suas fragilidades e inconsistências crescentes – é a ferramenta disponível para os que lutam por barrar a direita e por aprofundar as reformas sociais no Brasil.
A guerra será aberta e total. Sem ilusões. Sem “diálogo”. Se insistir nos “almoços”, o PT pode virar a sobremesa. Com as cabeças de Dilma/Lula/Padilha/Dirceu e de toda a esquerda servidas na bandeja, e expostas nas manchetes dos jornais e telejornais inimigos nos dias e meses seguintes à eleição.
LEBLON: PT TEM QUE IR PRA CIMA !
O complexo de viralata do PT é o maior inimigo da Dilma.
O Conversa Afiada reproduz editorial do Saul Leblon, extraído da Carta Maior:
DEMOCRACIA SOCIAL X OLIGARQUIA ARGENTÁRIA
A prostração política e ideológica nas fileiras progressistas é talvez o mais grave desafio à reeleição da Presidenta Dilma. O PT topa virar esse jogo?
por Saul Leblon
O jogo de 2014: democracia social X oligarquia argentária. O PT topa?
A prostração política e ideológica nas fileiras progressistas é talvez o mais grave desafio à reeleição da Presidenta Dilma.
Sem superá-lo — ao menos mitigá-lo– fica difícil esperar da sociedade a compreensão mais que nunca necessária sobre o que está em jogo em outubro de 2014.
A dissipação que reduz tudo a uma grande noite dos gatos pardos é a lenha na fornalha do conservadorismo. A isso se dedica em tempo integral a emissão conservadora.
Para reagir é preciso desassombro na identificação dos problemas.
O primeiro passo é admitir os erros de avaliação estratégica na origem do desalento.
Não se trata do varejo das perdas e danos intrínsecos a um governo de coalizão, determinado pela correlação de forças existente na sociedade e no cenário internacional.
Esse ônus sempre existiu, desde que o PT optou por ser uma força eleitoralmente competitiva.
O partido, todavia, tinha –e tem— a obrigação histórica de manter viva a tensão política e ideológica decorrente das suas escolhas.
O conflito entre o respeito ao jogo institucional e o compromisso com a construção de uma democracia social no país tornou-se endógeno ao PT.
Lula personifica essa contradição que manteve viva, transparente, em seus dois governos.
A superlativa presença do seu discurso na cena política era a evidencia mais crua de uma tentativa de negociar e repactuar , diariamente quase, o equilíbrio entre os dois polos.
O que se fez nos últimos anos, em certa medida, foi a tentativa de hibernar essa tensão insolúvel nos marcos da democracia representativa brasileira.
Em vez de expressá-la, adotou-se a aposta economicista , ancorada na suposta repetição de um desempenho de indicadores convencionais semelhantes ao do ciclo Lula.
A premissa mostrou-se incompatível com a transição de ciclo em curso no capitalismo mundial, refletida internamente na anemia do investimento , da exportação, da receita fiscal e da renda.
O conjunto trouxe o conflito redistributivo –despolitizado pelo governo– para o campo desgastante do terrorismo inflacionário, a ser combatido com juros siderais, segundo o mantra argentário.
Expectativas expansionistas imaterializáveis fizeram o resto, contratando frustrações que o conservadorismo agora se esmera em hipertrofiar, salgando o preço da luta eleitoral.
Hoje parece claro que a superação da ênfase no consumo (correta durante a crise), rumo a um novo ciclo de investimento, deveria ter sido precedida da obsessiva construção de linhas de passagem para impulsionar um salto da passividade política ao discernimento engajado nas escolhas do desenvolvimento.
Não foi feito.
A evidência mais crua dessa omissão, que deu ao conservadorismo a hegemonia narrativa do processo, foi o fato de o PT, seus principais líderes e dirigentes, ademais de o governo, terem subestimado a importância de uma regulamentação da mídia para, ao menos, criar um contraponto de pluralidade ao monólogo plutocrático.
O conjunto obriga agora o campo progressista a disputar a narrativa econômica nos termos insolúveis impostos pela emissão conservadora, a saber: descontrole inflacionário versus juros argentários.
Mais que isso.
A avalanche ofuscou o discernimento ideológico dos quadros progressistas mais avançados, rebaixando a sua percepção sobre a verdadeira natureza do embate histórico em curso no país.
O nome do jogo não é inflação versus arrocho, mas democracia social negociada versus anomia conservadora.
Ou alguém acredita que um governo Aécio Neves –ou Campos/Marina, tanto faz, teria outro lubrificante para sua receita ortodoxa que não um vergalhão de desemprego e esmagamento do poder aquisitivo do mercado de massa criado nos últimos anos?
Por força dessa omissão, o saldo desses 12 anos de conflito – objetivamente favorável à sociedade brasileira como o demonstram as estatísticas sociais– vem sendo pulverizado entre as pás de um moinho satânico.
Interesses rentistas insaciáveis , uma coalizão conservadora desprovida de proposta defensável em palanque e uma guerra aberta midiática unem-se na determinação de sepultar, de uma vez por todas, o último obstáculo eleitoral à hegemonia absoluta dos mercados no país: o PT.
O tempo e o terreno perdidos nesse rally têm uma chance de ser parcialmente recuperados na campanha eleitoral de 2014.
Desde que se dê a ela a destinação correta que não poder ser confundida com a mera formalidade publicitária.
Trata-se de um momento condensado da luta política.
Assim entendido pode corrigir o passado com a pactuação de um futuro distinto do mero compromisso com a inércia do presente.
O divisor de águas consiste em devolver ao programa de 2014 uma dimensão crucial do desenvolvimento esmaecida nos últimos anos: a sua determinação política.
Não se pode mais atribuir à economia aquilo que compete à correlação de forças decidir.
É preciso trazer para o embate eleitoral a verdade nua e crua temida pelo conservadorismo: a repactuação negociada de um novo ciclo de investimento com a distribuição da riqueza é indissociável de um avanço da democracia.
O resto é arrocho.
E há requisitos incontornáveis para que não seja arrocho.
O principal deles é equilibrar a presença do grande capital na mídia e no sistema político.
A regulação da estrutura de comunicação audiovisual e a reforma do sistema político, subtraindo de ambos a supremacia do dinheiro sobre a pluralidade, constitui o grande requisito à retomada do investimento, do crescimento e da reordenação do futuro.
Nada disso é estranho à história do PT e à trajetória do campo progressista brasileiro.
Essa aderência –repita-se, com as contradições e conflitos que lhe são intrínsecos— precisa retomar o espaço nobre no discurso e na prática petista.
Ignorar a centralidade da democracia na campanha de 2014 pode transformá-la num gigantesco buraco negro da esperança progressista.
A democracia, como diz o historiador e ensaísta italiano Luciano Canfora, em entrevista recente no El País, não consiste no governo da maioria simplesmente por dar à contagem dos votos a sua representação política.
Ela o será na medida em que exista um Estado social diante do qual quem não detém a riqueza na sociedade, ainda assim, tem peso efetivo na vida política e instrumentos para exercê-lo.
Ainda que ziguezagueante e contraditório quem guarda coerência com essa agenda no Brasil é o campo progressista liderado pelo PT. Mas não raro empurrado por outros partidos e movimentos sociais, ademais de arguido pela crítica de intelectuais que se colocam à esquerda nesse espectro político.
A essência do conflito com o qual o PT fundiu o seu destino consiste –para emprestar mais uma vez as lições de Canfora– em entender a democracia como um experimento político que, sem expropriar radicalmente a riqueza, assume como imperativo coloca-la a serviço da finalidade social do desenvolvimento.
Até onde essa contradição poderá evoluir nos marcos de um sistema produtor de mercadoria não é um problema meramente teórico, mas de prática política.
É também, em essência, a grande esfinge que habita a alma do PT.
Mas que ainda não o devorou.
Ao contrário.
Os últimos 12 anos deram ao partido e a seus militantes um conjunto objetivo de conquistas a defender contra a regressividade intrínseca ao projeto conservador para o Brasil.
Mas revelaram, também, desafios incontornáveis a encarar.
O principal deles é a rebelião rentista que insiste em subordinar a democracia aos seus desígnios, amputando sua capacidade de dar à riqueza uma finalidade social.
O economista Thomas Piketty, professor da Escola de economia de Paris, autor do elogiado ‘O capital no século XXI’ (leia a série de resenhas sobre o livro nesta pág), demonstra como a regressividade patrimonialista, inerente à hegemonia financeira em nosso tempo, está promovendo uma mutação na sociedade capitalista.
Ela conduz a uma desigualdade extremada, que aprofunda e perpetua as diferenças de berço, caminhando exatamente no sentido de destruir o papel social da democracia, pelo qual lutam as forças progressistas de todo o mundo. Sendo o PT uma de suas expressões relevantes.
Piketty mediu a regressão em marcha calibrada pela supremacia financeira nas últimas décadas.
Nos EUA e na Inglaterra, por exemplo, antes da Primeira Guerra Mundial, o 1% mais rico detinha 20% da renda nacional. Por volta de 1950, essa proporção cairia a menos da metade. De 1980 para cá a parcela reservada ao 1% disparou de novo.
Nos Estados Unidos ela já retornou ao ponto em que estava um século atrás.
É como se o ciclo neoliberal tivesse varrido do mapa histórico, de fato, a revolução russa e a construção do Estado do Bem Estar Social dela decorrente.
Daí para configurar aquilo que Piketty denomina como a consolidação de uma desigualdade de castas hereditárias, basta acrescentar o declínio de bandeiras republicanas como a taxação da herança e dos lucros superlativos do rentismo.
As conquistas sociais e o crescimento do emprego no Brasil nos últimos anos, na contramão da restauração neoliberal pós-crise, não excluem o país do risco de se tornar também uma correia de transmissão da perversidade hereditária –quase biológica.
A causa apontada por Piketty nas economias ricas está presente no capitalismo brasileiro.
Ganhos sempre superiores ao crescimento médio da economia, deslocam para o capital a juros –o rentismo– fatias progressivamente mais gordas da riqueza social.
A dilatação da desigualdade daí decorrente, não sendo corrigida por políticas públicas de taxação de lucros e herança, semeia os alicerces de uma sociedade oligárquica ordenada pela posse original do patrimônio, transmitido de pai para filho.
Uma rápida comparação entre a série histórica do PIB e a evolução da taxa de juro no país (fontes: IBGE, FGV, Ministério da Fazenda e BC) mostra que no período entre 1995 e 2012, ou seja, por 17 anos, a taxa de juro real praticada no Brasil só ficou abaixo da variação do produto uma única vez, em 2010 (6,2% e 7,5%, respectivamente).
No segundo governo FHC, para um crescimento médio do PIB da ordem de 2%, a taxa de juro real ficou em 18,5%.
No segundo governo Lula, para um PIB médio de 4,5% a taxa de juro real foi da ordem de 11,7%.
Nos três primeiros anos de Dilma (2010-2013), o PIB médio foi da ordem de 2%.
A taxa de juro real foi caiu para 3,3%.
O estreitamento progressivo da diferença explica uma fatia expressiva do jogral do Brasil aos cacos recitado incansavelmente pela colunismo isento, a serviço do dinheiro grosso.
A rebelião contra a ‘Dilma intervencionista’, nesse sentido, é a rebelião da república rentista e de seus porta-vozes de orelhada ou holerite contra a redução real da Selic.
Ademais de corroer as pontes que levam a uma convergência da riqueza, o interdito preserva um confortável bunker de rentabilidade líquida para o capital a juro, imiscível com as urgências de investimento do país.
O conjunto remete à esfinge que povoa a alma do PT : o dinheiro não pode determinar o limite da democracia que, ao contrário, deve subordina-lo aos interesses da sociedade.
A palavra de ordem do conservadorismo em 2014 é deixar ao mercado o escrutínio desse conflito.
A campanha progressista, ao contrário, deve repactuar com o eleitor as linhas de passagem –que incluem sacrifícios, prazos e avanços, mas que deem à democracia a hegemonia do processo.
Foi abraçado a essa bandeira que o PT nasceu e se tornou a principal força política do país.
Deve agora reafirmar ao eleitor a sua capacidade de aprofundar esse compromisso na direção do país por mais quatro anos.
Em última instância, significa fazer do embate entre democracia social versus oligarquia argentária o grande duelo da eleição de 2014. E do futuro brasileiro.
O PT topa?
Gérard Dumenil: A contradição que pode desafiar o neoliberalismo
por Luiz Carlos Azenha
Como os leitores do Viomundo, muito bem informados, já sabem — os da Folha, O Globo e Estadão vão levar algumas semanas para descobrir — os economistas franceses estão em evidência.
Nos Estados Unidos, o livro Capital no Século Vinte e Um, de Thomas Piketty (ainda não traduzido para o português) é um fenômeno de vendas. Na Amazon, esgotou. Só existe em versão digital. O autor fala a auditórios abarrotados. É detonado pelos neoliberais.
Comecei a ler, mas ainda não terminei. Baseio-me em resenhas. Piketty pesquisou estatísticas de um grupo de países do capitalismo central dos últimos três séculos. Concluiu que a produção de desigualdade não é um fenômeno do neoliberalismo, mas inerente ao sistema capitalista. A única forma de enfrentá-la, hoje, seria criar um imposto global sobre o capital. Ou isso, ou a barbárie.
Pode se inferir, a partir do conteúdo do livro, que o capitalismo de “livre mercado” é incompatível com a democracia liberal, motivo pelo qual o livro bombou nos Estados Unidos.
Um articulista do New York Times escreveu: Capitalismo vs. democracia.
Na segunda-feira, desde Nova York, publicaremos artigo de Heloisa Villela a respeito do livro que promete ser best seller mundial.
Aqui no Brasil, os franceses Gérard Dumenil e Dominique Lévy estão lançando, pela Boitempo, A Crise do Neoliberalismo.
Gérard fará uma série de palestras sobre o livro.
Conversei hoje cedo, por telefone, com o autor.
O livro descreve o neoliberalismo como uma reação dos capitalistas aos ganhos obtidos pelas chamadas classes populares no pós-guerra, especialmente através do New Deal do presidente Franklin Delano Roosevelt, nos Estados Unidos.
Começando nos anos 70 e 80, no Reino Unido e nos Estados Unidos, através dos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, os capitalistas estabeleceram aliança com a chamada classe gerencial de empresas públicas e privadas, tendo como objetivo reconquistar os lucros e o poder.
Houve transformação radical no gerenciamento de empresas, além da globalização e da financeirização.
Os capitalistas ganharam de forma espetacular.
O laboratório neoliberal havia sido o Chile de Pinochet. Na globalização, diria eu, Azenha, a Dina — polícia política do ditador chileno — foi substituída pelo discurso único da mídia corporativa. Saiu o pau-de-arara do Fleury, entrou o poder coercitivo dos irmãos Marinho, a cadeira-de-dragão verbal do Sardenberg-Miriam Leitão-William Waack.
Na crise de 2008, segundo Gérard Dumenil, os feiticeiros do capitalismo “perderam o controle de sua própria mágica”.
Resultado de desequilíbrios internos nos Estados Unidos: a dívida altíssima dos domicílios e o gigantesco déficit comercial de Washington.
Seis anos depois, a crise permanece.
O autor francês prevê que ela será de longa duração.
Nisso, coincide com seu colega Thomas Piketty, que tem falado em décadas de crescimento pífio das economias dos Estados Unidos e Europa. Em outras palavras, acreditam que o mundo capitalista vai se arrastar correndo o risco sempre iminente de explosão social.
Gérard diz que o fracasso no enfrentamento da crise se deve ao fato de que não mudaram as bases do neoliberalismo.
Continua nos Estados Unidos a lógica da distribuição de dividendos, da exportação de capital e da recompra de ações por empresas com o objetivo de sustentar o valor dos papéis nas bolsas.
É como se a crise de 2008, afinal, não tivesse acontecido!
Sobre o futuro, ele contempla tanto saídas à esquerda quanto à direita — com o espectro da extrema-direita rondando no horizonte.
Porém, Gérard Dumenil aponta uma contradição central que pode ameçar a aliança entre capitalistas e a classe gerencial que trabalha em nome deles: a perda de poder relativo de Washington em relação a outros países.
Para manter a hegemonia norte-americana, a classe gerencial sabe que é preciso cobrar impostos que os capitalistas evitam recorrendo aos paraísos fiscais — refúgios é uma definição melhor.
Cobrar impostos, por exemplo, para sustentar as forças armadas. Para cuidar da infraestrutura. Para não perder da China.
Para o economista francês, este descolamento entre os capitalistas norte-americanos e os interesses políticos/estratégicos/econômicos/diplomáticos dos Estados Unidos pode ser um fator definidor do futuro.
Na classe gerencial, aliás, já tem gente pregando o fim dos refúgios fiscais, sem os quais o lucro dos capitalistas não sobrevive!
Um rearranjo na aliança que comanda o neoliberalismo poderia provocar mudanças significativas no futuro.
Um relatório recente da Oxfam concluiu que as 85 pessoas mais ricas do mundo controlam riqueza equivalente à dos 50% mais pobres.
Será possível sustentar isso a longo prazo?
Como os leitores do Viomundo, muito bem informados, já sabem — os da Folha, O Globo e Estadão vão levar algumas semanas para descobrir — os economistas franceses estão em evidência.
Nos Estados Unidos, o livro Capital no Século Vinte e Um, de Thomas Piketty (ainda não traduzido para o português) é um fenômeno de vendas. Na Amazon, esgotou. Só existe em versão digital. O autor fala a auditórios abarrotados. É detonado pelos neoliberais.
Comecei a ler, mas ainda não terminei. Baseio-me em resenhas. Piketty pesquisou estatísticas de um grupo de países do capitalismo central dos últimos três séculos. Concluiu que a produção de desigualdade não é um fenômeno do neoliberalismo, mas inerente ao sistema capitalista. A única forma de enfrentá-la, hoje, seria criar um imposto global sobre o capital. Ou isso, ou a barbárie.
Pode se inferir, a partir do conteúdo do livro, que o capitalismo de “livre mercado” é incompatível com a democracia liberal, motivo pelo qual o livro bombou nos Estados Unidos.
Um articulista do New York Times escreveu: Capitalismo vs. democracia.
Na segunda-feira, desde Nova York, publicaremos artigo de Heloisa Villela a respeito do livro que promete ser best seller mundial.
Aqui no Brasil, os franceses Gérard Dumenil e Dominique Lévy estão lançando, pela Boitempo, A Crise do Neoliberalismo.
Gérard fará uma série de palestras sobre o livro.
Conversei hoje cedo, por telefone, com o autor.
O livro descreve o neoliberalismo como uma reação dos capitalistas aos ganhos obtidos pelas chamadas classes populares no pós-guerra, especialmente através do New Deal do presidente Franklin Delano Roosevelt, nos Estados Unidos.
Começando nos anos 70 e 80, no Reino Unido e nos Estados Unidos, através dos governos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, os capitalistas estabeleceram aliança com a chamada classe gerencial de empresas públicas e privadas, tendo como objetivo reconquistar os lucros e o poder.
Houve transformação radical no gerenciamento de empresas, além da globalização e da financeirização.
Os capitalistas ganharam de forma espetacular.
O laboratório neoliberal havia sido o Chile de Pinochet. Na globalização, diria eu, Azenha, a Dina — polícia política do ditador chileno — foi substituída pelo discurso único da mídia corporativa. Saiu o pau-de-arara do Fleury, entrou o poder coercitivo dos irmãos Marinho, a cadeira-de-dragão verbal do Sardenberg-Miriam Leitão-William Waack.
Na crise de 2008, segundo Gérard Dumenil, os feiticeiros do capitalismo “perderam o controle de sua própria mágica”.
Resultado de desequilíbrios internos nos Estados Unidos: a dívida altíssima dos domicílios e o gigantesco déficit comercial de Washington.
Seis anos depois, a crise permanece.
O autor francês prevê que ela será de longa duração.
Nisso, coincide com seu colega Thomas Piketty, que tem falado em décadas de crescimento pífio das economias dos Estados Unidos e Europa. Em outras palavras, acreditam que o mundo capitalista vai se arrastar correndo o risco sempre iminente de explosão social.
Gérard diz que o fracasso no enfrentamento da crise se deve ao fato de que não mudaram as bases do neoliberalismo.
Continua nos Estados Unidos a lógica da distribuição de dividendos, da exportação de capital e da recompra de ações por empresas com o objetivo de sustentar o valor dos papéis nas bolsas.
É como se a crise de 2008, afinal, não tivesse acontecido!
Sobre o futuro, ele contempla tanto saídas à esquerda quanto à direita — com o espectro da extrema-direita rondando no horizonte.
Porém, Gérard Dumenil aponta uma contradição central que pode ameçar a aliança entre capitalistas e a classe gerencial que trabalha em nome deles: a perda de poder relativo de Washington em relação a outros países.
Para manter a hegemonia norte-americana, a classe gerencial sabe que é preciso cobrar impostos que os capitalistas evitam recorrendo aos paraísos fiscais — refúgios é uma definição melhor.
Cobrar impostos, por exemplo, para sustentar as forças armadas. Para cuidar da infraestrutura. Para não perder da China.
Para o economista francês, este descolamento entre os capitalistas norte-americanos e os interesses políticos/estratégicos/econômicos/diplomáticos dos Estados Unidos pode ser um fator definidor do futuro.
Na classe gerencial, aliás, já tem gente pregando o fim dos refúgios fiscais, sem os quais o lucro dos capitalistas não sobrevive!
Um rearranjo na aliança que comanda o neoliberalismo poderia provocar mudanças significativas no futuro.
Um relatório recente da Oxfam concluiu que as 85 pessoas mais ricas do mundo controlam riqueza equivalente à dos 50% mais pobres.
Será possível sustentar isso a longo prazo?
Marcelo Zero: O gosto amargo das tortilhas made in USA
Viomundo
Brave New México
por Marcelo Zero
Tornou-se moda falar em cadeias produtivas globais. Mais especificamente, tornou-se moda afirmar que o Brasil está “isolado” e “fora das cadeias produtivas globais”. A nova onda, agora, é dizer que o Brasil precisa urgentemente firmar acordos de livre comércio com a União Europeia, EUA, Japão, etc., de modo a romper com o seu “isolamento” e participar mais das tais “cadeias produtivas globais”.
Mas essa onda não é realmente nova. Apenas tem novo nome. Nas décadas de 1980 e 1990, quando o paradigma neoliberal estava em seu auge, falava-se a todo momento em “globalização”. Era a palavrinha mágica que explicava tudo. Uma espécie de “abracadabra” econômico que permitiria a solução de todos os nossos problemas. Dizia-se que o Brasil precisava romper com o seu “desenvolvimentismo autárquico” e que o país necessitava “ingressar na globalização”. Jurava-se que, caso não o fizéssemos, ficaríamos para trás, e perderíamos o “trem da história”.
Nunca se falou tanto em globalização e jamais a história andou tanto de trem. A pressão política e ideológica tornou-se praticamente insustentável. Muitos países em desenvolvimento renderam-se às promessas e às ameaças desse brave new world econômico. Chutaram a escada das políticas desenvolvimentistas e intervencionistas, da qual falava o economista coreano Ha-Joon Chang, e subiram no badalado “trem da história” só com a passagem de ida.
Um desses, talvez o mais afoito, foi o México. Com efeito, não se achando perto o suficiente dos EUA e longe o bastante de Deus, o México decidiu aderir ao NAFTA, tratado de livre comércio da América do Norte, em 1992. Frise-se que não se tratava apenas de um acordo de livre comércio estrito senso, mas de um tratado que protegia os “direitos dos investidores”, contra perdas ocasionadas por políticas públicas, e a propriedade intelectual das grandes companhias norte-americanas, contra cópias e pirataria, entre otras cositas más.
Porém, não ficou apenas nisso. O México firmou outros 32 acordos de livre comércio, inclusive com a União Europeia e o Japão. Trata-se do país que mais assinou acordos de livre comércio no mundo. Nenhuma outra nação se esforçou tanto para “ingressar na globalização” e “participar das cadeias produtivas globais”. Nenhum outro país comprou tantos assentos no “trem da história”.
Se o livre-cambismo estivesse correto, o México provavelmente seria hoje um país com uma economia extremamente dinâmica e diversificada, um triunfo absoluto da globalização e do livre comércio. Pelo menos, era o que os mexicanos esperavam.
Efetivamente, eles tinham a expectativa de integrar-se às cadeias produtivas globais, de crescer muito, de gerar tecnologia e empregos de qualidade, de superar seus problemas sociais. Sobretudo, esperavam deixar de exportar mão de obra para os EUA e passar a exportar produtos de bom valor agregado.
Pois bem, passadas duas décadas desse esforço integracionista, dessa adesão praticamente incondicional e panglossiana aos cânones do livre mercado, os resultados são, no mínimo, muito duvidosos.
Houve, é claro, um período inicial de euforia com os novos investimentos norte-americanos e com o grande aumento do seu comércio internacional, principalmente com a criação de empresas “maquiladoras” na fronteira com os EUA. As exportações cresceram rapidamente, tendo pulado de cerca US$ 60 bilhões, em 1994, para cerca de US$ 400 bilhões, em 2013.
No entanto, as importações cresceram a um ritmo ainda maior. Nos últimos 20 anos, o México apresentou superávit anual em sua balança comercial em apenas 3. O déficit acumulado do período 1994-2013 ascende a US$ 109 bilhões. Ademais, os inevitáveis efeitos negativos da integração tão assimétrica com a maior economia mundial e com outras economias de ponta se tornaram cada vez mais evidentes.
Estudo feito pelo Banco Mundial, em 2007, intitulado Lessons from NAFTA for Latin America and the Caribbean Countries: A Summary of Research Findings (lições do NAFTA para os países da América Latina e do Caribe: resumo das conclusões da pesquisa), já chamava a atenção que os efeitos da inserção internacional do México, ao longo do Nafta, foram significativamente regressivos.
Como soe acontecer nesses casos em que se abre a economia de forma súbita e sem os cuidados necessários, houve substancial esfacelamento da estrutura produtiva nacional. Obviamente, muitas empresas mexicanas não conseguiram sobreviver à concorrência da produção industrial dos EUA, muito mais moderna e eficiente.
Outras tantas foram compradas a baixos preços por grupos econômicos norte-americanos. Setores como os de plásticos, brinquedos e alimentos foram duramente atingidos. Até a dinâmica indústria têxtil mexicana passou a orbitar a cadeia produtiva dos EUA.
Na área agrícola, o NAFTA gerou insegurança alimentar. A agricultura mexicana mais moderna e irrigada conseguiu sobreviver, mas a agricultura familiar, que produzia boa parte dos alimentos para consumo interno, foi muito afetada.
O México, que era exportador de grãos, no período pré-Nafta, passou a importá-los dos EUA em sua quase de totalidade. Tal processo de destruição das culturas agrícolas familiares se deu inclusive no que tange ao milho, base da alimentação e culinária mexicanas.
Hoje em dia, o milho utilizado no México é quase todo colhido nos EUA, que subsidia fortemente a sua produção. Em 2013, o México importou nada menos que US$ 2 bilhões de milho dos EUA.
As famosas tortilhas passaram a ter um gosto amargo. Cerca de 70% dos pequenos agricultores mexicanos não obtêm renda suficiente para as suas necessidades.
O pior, contudo, é que passados os impactos iniciais, não houve a geração de um novo ciclo de crescimento sustentado, como se esperava.
Em janeiro deste ano, Jorge G. Castañeda, que foi chanceler do México entre 2000 e 2003, publicou um artigo na Foreign Affairs, intitulado NAFTA´s Mixed Record , no qual enfatiza essa grande frustração dos mexicanos com o seu crescimento medíocre.
Conforme Castañeda, a renda per capita cresceu a uma taxa de apenas 1,2% ao ano, um número muito inferior ao de outros países da América Latina, como o Brasil, Colômbia, Peru e Uruguai.
Pode-se complementar essa informação com o fato de que, nos primeiros 10 anos deste século, o PIB per capita (PPP) do México cresceu apenas 12%, bem abaixo do que cresceu o do Brasil (28%).
Na realidade, o México só superou, nesse cômputo, a frágil Guatemala, o país que menos cresceu em toda a América Latina, com base nesse parâmetro específico.
Outro fator que não também cresceu foi a produtividade da economia mexicana, a qual permaneceu praticamente estacionária, tendo oscilado levemente em somente 1,7 %, ao longo desses 20 anos.
A geração de empregos também deixou muito a desejar. As famosas “maquiladoras” criaram somente 700 mil empregos em 20 anos, ou cerca de 35 mil ao ano, um número ridículo, quando se leva em consideração que, nesse período, ao redor de 1 milhão de mexicanos entraram todos os anos no mercado de trabalho.
Um resultado é que os salários dos mexicanos não aumentaram, em relação aos salários dos trabalhadores dos EUA. O outro resultado é que a emigração para os EUA não diminuiu. Ao contrário, foi duplicada, ao longo desse período.
Também os investimentos, passado o período inicial de euforia, frustraram as expectativas. Em 1994, o México recebia cerca de 2,5% do seu PIB em investimento diretos estrangeiros. Hoje, esse número é inferior a 2%, bem menos do que recebem o Brasil e outros países latino-americanos.
Na realidade, os investimentos que os mexicanos esperavam acabaram indo ironicamente para a China, uma economia bem mais intervencionista, que em nenhum momento chutou a escada de Ha-Joong Chang.
Castañeda conclui melancolicamente que o NAFTA não cumpriu com praticamente nenhuma de suas promessas econômicas. Mas Castañeda dá uma pista que explica a causa desses resultados tão frustrantes.
Cerca de 75% das exportações mexicanas são compostas por insumos importados. Ou seja, daqueles US$ 400 bilhões, cerca de US$ 300 bilhões são mera exportações de importados, o que explica a falta de geração de empregos no setor manufatureiro e o desestímulo a novos investimentos.
Mais importante ainda, essa produção manufatureira não tem impacto positivo na cadeia produtiva nacional do México. Não há, naquele país, um significativo impacto “para trás” na estrutura produtiva nacional, por parte dessas montadoras ou maquiladoras. Trata-se de uma espécie de enclave econômico, que gera pouco valor, poucos empregos, e nenhuma tecnologia.
Assim, o México participa das cadeias produtivas globais essencialmente como país montador e maquilador. O que significa dizer que a cadeia produtiva nacional do México não está de fato integrada às cadeias produtivas globais, mesmo com toda abertura econômica e com todas as concessões feitas aos investidores estrangeiros.
O México pegou o trem da história, mas acabou ficando na segunda classe.
Agora, no Brasil, que não chutou (ainda) a sua escada desenvolvimentista, tem gente que insiste na falácia do isolamento e na necessidade da adesão urgente às cadeias produtivas globais. Até mesmo candidatos à presidência já manifestaram a sua posição favorável a esse perigoso globalismo acrítico.
Paradoxalmente, a pressão para essa adesão urgente às cadeias produtivas globais vem da nossa indústria, em particular de alguns setores já mais integrados à economia mundial, como o da indústria automobilística, por exemplo.
Essa indústria, que se internacionalizou muito nos últimos anos e que já importa de modo significativo partes e componentes, quer reduzir seus custos, tornando-se cada vez menos indústria de fato e cada vez mais montadora e maquiladora.
Por conseguinte, por trás dessa conversa mole da participação nas cadeias produtivas globais esconde-se, muitas vezes, o desejo de se desfazer das cadeias produtivas nacionais, tal como foi feito no México.
Com isso, o Brasil corre o risco de se transformar num Brave New México, com todas as consequências assinaladas por Castañeda.
Será que servirão feijoada na segunda classe do trem da história?
Brave New México
por Marcelo Zero
Tornou-se moda falar em cadeias produtivas globais. Mais especificamente, tornou-se moda afirmar que o Brasil está “isolado” e “fora das cadeias produtivas globais”. A nova onda, agora, é dizer que o Brasil precisa urgentemente firmar acordos de livre comércio com a União Europeia, EUA, Japão, etc., de modo a romper com o seu “isolamento” e participar mais das tais “cadeias produtivas globais”.
Mas essa onda não é realmente nova. Apenas tem novo nome. Nas décadas de 1980 e 1990, quando o paradigma neoliberal estava em seu auge, falava-se a todo momento em “globalização”. Era a palavrinha mágica que explicava tudo. Uma espécie de “abracadabra” econômico que permitiria a solução de todos os nossos problemas. Dizia-se que o Brasil precisava romper com o seu “desenvolvimentismo autárquico” e que o país necessitava “ingressar na globalização”. Jurava-se que, caso não o fizéssemos, ficaríamos para trás, e perderíamos o “trem da história”.
Nunca se falou tanto em globalização e jamais a história andou tanto de trem. A pressão política e ideológica tornou-se praticamente insustentável. Muitos países em desenvolvimento renderam-se às promessas e às ameaças desse brave new world econômico. Chutaram a escada das políticas desenvolvimentistas e intervencionistas, da qual falava o economista coreano Ha-Joon Chang, e subiram no badalado “trem da história” só com a passagem de ida.
Um desses, talvez o mais afoito, foi o México. Com efeito, não se achando perto o suficiente dos EUA e longe o bastante de Deus, o México decidiu aderir ao NAFTA, tratado de livre comércio da América do Norte, em 1992. Frise-se que não se tratava apenas de um acordo de livre comércio estrito senso, mas de um tratado que protegia os “direitos dos investidores”, contra perdas ocasionadas por políticas públicas, e a propriedade intelectual das grandes companhias norte-americanas, contra cópias e pirataria, entre otras cositas más.
Porém, não ficou apenas nisso. O México firmou outros 32 acordos de livre comércio, inclusive com a União Europeia e o Japão. Trata-se do país que mais assinou acordos de livre comércio no mundo. Nenhuma outra nação se esforçou tanto para “ingressar na globalização” e “participar das cadeias produtivas globais”. Nenhum outro país comprou tantos assentos no “trem da história”.
Se o livre-cambismo estivesse correto, o México provavelmente seria hoje um país com uma economia extremamente dinâmica e diversificada, um triunfo absoluto da globalização e do livre comércio. Pelo menos, era o que os mexicanos esperavam.
Efetivamente, eles tinham a expectativa de integrar-se às cadeias produtivas globais, de crescer muito, de gerar tecnologia e empregos de qualidade, de superar seus problemas sociais. Sobretudo, esperavam deixar de exportar mão de obra para os EUA e passar a exportar produtos de bom valor agregado.
Pois bem, passadas duas décadas desse esforço integracionista, dessa adesão praticamente incondicional e panglossiana aos cânones do livre mercado, os resultados são, no mínimo, muito duvidosos.
Houve, é claro, um período inicial de euforia com os novos investimentos norte-americanos e com o grande aumento do seu comércio internacional, principalmente com a criação de empresas “maquiladoras” na fronteira com os EUA. As exportações cresceram rapidamente, tendo pulado de cerca US$ 60 bilhões, em 1994, para cerca de US$ 400 bilhões, em 2013.
No entanto, as importações cresceram a um ritmo ainda maior. Nos últimos 20 anos, o México apresentou superávit anual em sua balança comercial em apenas 3. O déficit acumulado do período 1994-2013 ascende a US$ 109 bilhões. Ademais, os inevitáveis efeitos negativos da integração tão assimétrica com a maior economia mundial e com outras economias de ponta se tornaram cada vez mais evidentes.
Estudo feito pelo Banco Mundial, em 2007, intitulado Lessons from NAFTA for Latin America and the Caribbean Countries: A Summary of Research Findings (lições do NAFTA para os países da América Latina e do Caribe: resumo das conclusões da pesquisa), já chamava a atenção que os efeitos da inserção internacional do México, ao longo do Nafta, foram significativamente regressivos.
Como soe acontecer nesses casos em que se abre a economia de forma súbita e sem os cuidados necessários, houve substancial esfacelamento da estrutura produtiva nacional. Obviamente, muitas empresas mexicanas não conseguiram sobreviver à concorrência da produção industrial dos EUA, muito mais moderna e eficiente.
Outras tantas foram compradas a baixos preços por grupos econômicos norte-americanos. Setores como os de plásticos, brinquedos e alimentos foram duramente atingidos. Até a dinâmica indústria têxtil mexicana passou a orbitar a cadeia produtiva dos EUA.
Na área agrícola, o NAFTA gerou insegurança alimentar. A agricultura mexicana mais moderna e irrigada conseguiu sobreviver, mas a agricultura familiar, que produzia boa parte dos alimentos para consumo interno, foi muito afetada.
O México, que era exportador de grãos, no período pré-Nafta, passou a importá-los dos EUA em sua quase de totalidade. Tal processo de destruição das culturas agrícolas familiares se deu inclusive no que tange ao milho, base da alimentação e culinária mexicanas.
Hoje em dia, o milho utilizado no México é quase todo colhido nos EUA, que subsidia fortemente a sua produção. Em 2013, o México importou nada menos que US$ 2 bilhões de milho dos EUA.
As famosas tortilhas passaram a ter um gosto amargo. Cerca de 70% dos pequenos agricultores mexicanos não obtêm renda suficiente para as suas necessidades.
O pior, contudo, é que passados os impactos iniciais, não houve a geração de um novo ciclo de crescimento sustentado, como se esperava.
Em janeiro deste ano, Jorge G. Castañeda, que foi chanceler do México entre 2000 e 2003, publicou um artigo na Foreign Affairs, intitulado NAFTA´s Mixed Record , no qual enfatiza essa grande frustração dos mexicanos com o seu crescimento medíocre.
Conforme Castañeda, a renda per capita cresceu a uma taxa de apenas 1,2% ao ano, um número muito inferior ao de outros países da América Latina, como o Brasil, Colômbia, Peru e Uruguai.
Pode-se complementar essa informação com o fato de que, nos primeiros 10 anos deste século, o PIB per capita (PPP) do México cresceu apenas 12%, bem abaixo do que cresceu o do Brasil (28%).
Na realidade, o México só superou, nesse cômputo, a frágil Guatemala, o país que menos cresceu em toda a América Latina, com base nesse parâmetro específico.
Outro fator que não também cresceu foi a produtividade da economia mexicana, a qual permaneceu praticamente estacionária, tendo oscilado levemente em somente 1,7 %, ao longo desses 20 anos.
A geração de empregos também deixou muito a desejar. As famosas “maquiladoras” criaram somente 700 mil empregos em 20 anos, ou cerca de 35 mil ao ano, um número ridículo, quando se leva em consideração que, nesse período, ao redor de 1 milhão de mexicanos entraram todos os anos no mercado de trabalho.
Um resultado é que os salários dos mexicanos não aumentaram, em relação aos salários dos trabalhadores dos EUA. O outro resultado é que a emigração para os EUA não diminuiu. Ao contrário, foi duplicada, ao longo desse período.
Também os investimentos, passado o período inicial de euforia, frustraram as expectativas. Em 1994, o México recebia cerca de 2,5% do seu PIB em investimento diretos estrangeiros. Hoje, esse número é inferior a 2%, bem menos do que recebem o Brasil e outros países latino-americanos.
Na realidade, os investimentos que os mexicanos esperavam acabaram indo ironicamente para a China, uma economia bem mais intervencionista, que em nenhum momento chutou a escada de Ha-Joong Chang.
Castañeda conclui melancolicamente que o NAFTA não cumpriu com praticamente nenhuma de suas promessas econômicas. Mas Castañeda dá uma pista que explica a causa desses resultados tão frustrantes.
Cerca de 75% das exportações mexicanas são compostas por insumos importados. Ou seja, daqueles US$ 400 bilhões, cerca de US$ 300 bilhões são mera exportações de importados, o que explica a falta de geração de empregos no setor manufatureiro e o desestímulo a novos investimentos.
Mais importante ainda, essa produção manufatureira não tem impacto positivo na cadeia produtiva nacional do México. Não há, naquele país, um significativo impacto “para trás” na estrutura produtiva nacional, por parte dessas montadoras ou maquiladoras. Trata-se de uma espécie de enclave econômico, que gera pouco valor, poucos empregos, e nenhuma tecnologia.
Assim, o México participa das cadeias produtivas globais essencialmente como país montador e maquilador. O que significa dizer que a cadeia produtiva nacional do México não está de fato integrada às cadeias produtivas globais, mesmo com toda abertura econômica e com todas as concessões feitas aos investidores estrangeiros.
O México pegou o trem da história, mas acabou ficando na segunda classe.
Agora, no Brasil, que não chutou (ainda) a sua escada desenvolvimentista, tem gente que insiste na falácia do isolamento e na necessidade da adesão urgente às cadeias produtivas globais. Até mesmo candidatos à presidência já manifestaram a sua posição favorável a esse perigoso globalismo acrítico.
Paradoxalmente, a pressão para essa adesão urgente às cadeias produtivas globais vem da nossa indústria, em particular de alguns setores já mais integrados à economia mundial, como o da indústria automobilística, por exemplo.
Essa indústria, que se internacionalizou muito nos últimos anos e que já importa de modo significativo partes e componentes, quer reduzir seus custos, tornando-se cada vez menos indústria de fato e cada vez mais montadora e maquiladora.
Por conseguinte, por trás dessa conversa mole da participação nas cadeias produtivas globais esconde-se, muitas vezes, o desejo de se desfazer das cadeias produtivas nacionais, tal como foi feito no México.
Com isso, o Brasil corre o risco de se transformar num Brave New México, com todas as consequências assinaladas por Castañeda.
Será que servirão feijoada na segunda classe do trem da história?
sexta-feira, abril 25, 2014
Reflexos da ditadura na educação impedem país de avançar
Em audiência na Câmara, especialistas pontuaram as heranças do período autoritário que impactam na má qualidade do ensino público e no acesso à educação.
Brasília - Os reflexos da ditadura civil militar sobre a educação foram tão nocivos e profundos que até hoje, 30 anos após o início da redemocratização, impedem o país de alavancar a qualidade e democratizar o acesso a este que deveria ser um direito fundamental de todo brasileiro. Em audiência pública promovida pela Comissão de Educação da Câmara, nesta quinta (24), especialistas foram unânimes em apontar as heranças do regime como principais responsáveis pela má qualidade da educação pública e pela vergonhosa falta de acesso a ela para os pelo menos 14 milhões de analfabetos, além de número maior ainda de analfabetos funcionais.
Presidente do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti lembrou que a ditadura pôs fim ao ambiente de otimismo pedagógico dos educadores brasileiros com o avanço da educação popular e emancipatória já nos primeiros dias após o golpe. Em 14 de abril de 1964, um dia antes do general Castelo Branco assumir o posto de ditador, foi extinto o Programa Nacional de Alfabetização, que vinha sendo implantado no país pelo educador Paulo Freire e seria inaugurado oficialmente em maio. Segundo ele, não foi nenhum rompante do regime. A decisão já havia sido tomada um ano antes, quando Castelo Branco ouvira Paulo Freire em um evento no interior paulista. “Vocês estão engordando cobras”, teria diagnosticado o futuro ditador.
Na sequência, vieram as reformas educacionais que arrasaram com o modelo de educação brasileira. O presidente do Instituto narrou que, em 10 de junho de 64, na primeira reunião com secretários de educação, Castelo disse textualmente: o objetivo do meu governo é estabelecer a ordem entre trabalhadores, estudantes e militar. E seu ministro Suplicy completou: estudante deve estudar, professor deve ensinar, e não fazer política. “Aí está o programa da ditadura: uma visão autoritária da educação e uma visão tecnicista que ainda permanece, suavizada, sem a ostentação e arrogância daquele período”, avaliou.
Gardotti ressaltou também a introdução do caráter mercantilista da educação, trazido dos Estados Unidos, que a transforma em negócio, ao invés de direito. “Havia uma lógica de privatizar”, denuncia. Ele criticou a reforma universitária, que promoveu a “departamentalização”, apontada como estratégia para fragmentar o conhecimento. E também a forma autoritária como eram impostos os diretores, selecionados não pelo desempenho acadêmico, mas pelo perfil gerencial. “A reforma universitária visava reformar para desmobilizar”, resumiu.
Sobraram críticas também à reforma do ensino básico, feita de modo a impedir o crescimento intelectual dos alunos. “A reforma da educação básica tem coisas hilárias, como dizer que todo mundo tem que se profissionalizar porque Jesus Cristo foi carpinteiro”, exemplificou. Segundo ele, em uma época que até o Banco Mundial preconizava que os trabalhadores tinham que ter uma formação generalista, a ditadura obrigou todas as escolas de ensino médio a introduzir a formação técnica compulsório, sem nenhum preparo para isso, e o resultado foi um fracasso.
Outro fracasso registrado foi o do Mobral, criado para alfabetizar jovens e adultos e extinto no governo Sarney. Em quase 20 anos, o programa, que prometia acabar com o analfabetismo em 10, conseguir reduzir a taxa apenas de 33% para 25%. “O Mobral alfabetizou muito pouco. E era muito mais fácil do que hoje, porque esses 8% residual que temos agora está no campo e em locais de difícil acesso”, analisou.
No inventário dos prejuízos causados pela ditadura à educação brasileira, ele incluiu também o desmantelamento dos vários movimentos sociais e populares, a eliminação da representação estudantil e a perda da capacidade dos educadores de influir nos rumos da educação. Para ele, é preciso mudar a concepção da educação. “Nós temos que formar professores a partir de uma outra ótica, de uma outra concepção de educação que respeite o saber das pessoas, que introduza o diálogo, o respeito, e vença aquilo que é o mais duro do que foi herdado da ditadura: a falta de democracia”, diagnosticou.
Como exemplo, ele citou o quanto ainda é difícil implantar um conselho de escola ou mesmo difícil discutir política na escola, o que considera salutar para o país.
“Estamos formando gerações sem discutir que país queremos”, afirmou. Gardotti lembrou que Paulo Freire já dizia que educar é politizar sim. “Não podemos formar estudantes na velha teoria do capital humano: estude, trabalhe e ganhe dinheiro. Paulo Freire respondeu claramente a esta teoria na época: a educação que não é emancipadora faz com que o oprimido queira se transformar em opressor”, concluiu.
O sociólogo e colunista da Carta Maior, Emir Sader, lembrou que o arrocho salarial foi tão importante para a sustentação da ditadura quanto a repressão sistemática, o que acabou comprometendo a qualidade dos serviços públicos, inclusive a educação. “O santo do chamado “milagre econômico” foi o arrocho salarial”, afirmou. Segundo ele, até então, a escola pública era um espaço de convivência entre a classe pobre e a classe média, um espaço de socialização. “A classe média, a partir daquele momento, passou a se bandear para escola particular, fazendo um esforço enorme, colocando no orçamento os gastos de escola e deixando a escola pública como um fenômeno social de pobre”, observou.
O sociólogo avalia que a ruptura causada foi tão significativa que a escola pública, até hoje, não recuperou seu vigor. “A democratização não significou a democratização do sistema educacional, não significou a recuperação da educação pública, da saúde pública. Isso está sendo feita a duras penas na última década, mas com uma herança acumulada brutal. Já tem reflexos no ensino universitário, mas não em toda a educação: a escola pública nós perdemos”, ressaltou.
Para ele, os investimentos em educação superior são importantes, mas é a reconquista da qualidade da educação primária e média que deve ser tema fundamental e urgente à democracia brasileira. “Estamos muito atrasados. Até a saúde pública, apesar do viés duríssimo da perda da CPMF, nós conseguimos melhorar agora com o programa Mais Médicos. Mas a educação, não. A estrutura de poder herdada da ditadura só se consolidou, inclusive a da educação privada”, observou Sader, lembrando que os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso aprofundaram ainda mais o processo de privatização deflagrado pelos militares.
Sadir Dal Rosso, professor da Universidade de Brasília (UnB), uma das mais afetadas pelo golpe civil militar, submetida a três intervenções, abordou o impacto da ditadura na universidade e na construção do pensamento brasileiro. Segundo ele, o controle das administrações universitárias, a demissão e expurgos de professores que não concordavam com o regime, os assassinatos de estudantes, o controle das organizações estudantis e a implantação de serviços de informação no meio acadêmico causaram prejuízos imensuráveis ao país, que ainda precisam ser investigados e punidos. “É necessário esclarecer a verdade e, neste sentido, é necessário rever a Lei da Anistia”, defendeu.
quinta-feira, abril 24, 2014
QUEM DÁ O GOLPE NO MILLENIUM
A Globo Overseas e seus intelectuais orgânicos estão todos lá …
Sensacional !
Do Tijolaço, do Fernado Brito, com a colaboração do Antonio Mello:
MILLENIUM: O MAPA DA MÍDIA
Meu bom amigo Antonio Mello, depois de um tempo de recarga de energia, reativa seu blog em grande estilo, com um precioso mapa das conexões do Instituto Millenium, núcleo de interferência da direita e do grande capital na mídia brasileira.
(Dentro do post há uma versão clicável, que se amplia.)
Por mais que a gente saiba das ramificações empresariais e midiáticas deste think tank conservador, impressiona o volume e a interconexão entre eles.
O mais curioso é que o Ibad do século 21, com todos os seus altares liberais ainda funciona, em parte, com dinheiro público, porque as doações que recebe para investir contra o Estado são dedutíveis do Imposto de Renda, à medida em que é classificada como Organização de Interesse Público.
Mas, claro, tudo ali é “limpinho”, exceto o Brasil, que é um traste. Nós é que somos os blogueiros “sujos”, financiados com verba pública, mesmo que dela não receba um centavo.
Mídia corporativa e Instituto Millenium, aliados dos EUA, usam 'indignados úteis' para transformar o Brasil numa nova Venezuela
Quando se fala em Lei de Meios; quando se faz o programa Mais Médicos trazendo médicos do exterior, em sua grande maioria de Cuba, para realizar trabalhos em áreas em que nossos médicos brasileiros se recusam a trabalhar; quando se participa ativamente do Mercosul e se toma atitudes independentes dos EUA, como a crítica severa - o verdadeiro pito - que a presidenta Dilma passou no presidente Obama, a respeito da espionagem estadunidense; quando o governo age desse modo, a mídia corporativa o acusa de estar "Venezuelando" o Brasil.
Mas quem está querendo transformar o Brasil numa Venezuela (não no que o chavismo e a revolução bolivariana trouxeram de positivo para aquele país - fim do analfabetismo, assistência médica, participação popular no governo, fim da subserviência aos EUA ), quem está querendo fazer a venezuelização do Brasil é a mídia corporativa, que estimula diariamente o preconceito - evidenciado na reação dos médicos brasileiros à importação de estrangeiros pelo programa Mais Médicos -, a ocupação dos antigos espaços nobres pelos emergentes, essa "gente diferenciada" que tomou de vez aeroportos, shoppings, restaurantes, antes frequentados apenas pelos que em geral têm como medida de suas vidas os EUA, e que hoje se ressentem da dificuldade de encontrar mão de obra barata, ou até em condições análogas à de escravidão...
A partir do Instituto Millenium, eles estão montando seus exércitos com pistoleiros, antigos e recém recrutados (não vou citar nomes, pois todos sabem quem são eles) para diariamente disparar contra o governo.
Basta visitar a página de comentários de qualquer um desses recrutas, soldados ou oficiais do porcalismo (palavra divulgada por este blog - sorry, o diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho...) vendidos para ver o efeito devastador que causam na cabeça daqueles que chamo, desde 2005, de "indignados úteis" (leia abaixo postagem de 2006 sobre eles), zumbis ressentidos, que se alimentam de ódio e recalque diante do empoderamento de milhões de brasileiros.
Abro parêntese: Também sobre esse tema dos indignados, leia esta postagem de 2008 "Nem Civita lê a Veja" em que o editor da revista e presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, defende o governo Lula e define assim os leitores de Veja:
Roberto Civita: “... Os leitores clamam, (...), querem que a sua revista se indigne. Eles querem. Os brasileiros, hoje, não posso falar de outras partes do planeta, mas os leitores de Veja querem a indignação de Veja. Eles ficam irritados conosco quando não nos indignamos. Estou tentando explicar, não justificar. Acho que Veja se encontra toda semana na difícil posição, de um lado, de saber que reportagem é reportagem e opinião é opinião, sendo que não tem editoriais além daquele da frente; e, de outro, sabendo que os leitores..."
Fecho parêntese.
Leia agora a postagem sobre os indignados úteis, de 2006:
O país dos 'indignados úteis'
"Lula e o mensalão, os males do Brasil são"
- Mantra dos Indignados úteis
Quando criei a expressão nunca imaginei que pessoas tão inteligentes, espertas, cultas e interessantes um dia parariam aqui neste blog. Mas, foi só eu fazer a postagem aqui abaixo sobre o divertido blog do Reinaldo Azevedo, para elas aparecerem. Como borboletas monarcas, chegaram aqui em panapaná. Sem cerimônia invadiram a área de comentários, mas, especialmente, entupiram minha modesta caixa postal com suas mensagens raivosas.
Muitos indignados por serem chamados de "indignados úteis" - embora a designação não atinja a todos. O "indignado útil" não é um indignado qualquer. Nem é - como eles parecem crer - todo aquele que critica o presidente e quer vê-lo longe do Palácio do Planalto, porque acha que Alckmin (ou outro candidato qualquer) será melhor para o país.
O "indignado útil" é uma categoria especial dentro da classe dos indignados. Guarda parentesco com o "inocente útil", usado como massa de manobra. Dois aspectos os diferenciam: primeiro, o "indignado útil" não tem nada de inocente; segundo, o "inocente útil" achava que agia para o bem do Brasil, já o "indignado útil" quer que o Brasil se dane, o que ele deseja é ferrar Lula e o PT - ou, no dizer honesto de seu porta-voz, "ver-se livre dessa raça pelos próximos 30 anos".
Se ainda não está claro, dou um exemplo de "indignado útil": Diogo Mainardi. Basta ler sua última coluna, onde ele declara que vai tapar o nariz e votar em Alckmin, mesmo achando que "Geraldo Alckmin é um mau candidato, tem um mau partido e, se eleito, será um mau presidente". O país que se dane, desde que Lula e o PT saiam do poder. Eis o "indignado útil".
Sensacional !
Do Tijolaço, do Fernado Brito, com a colaboração do Antonio Mello:
MILLENIUM: O MAPA DA MÍDIA
Meu bom amigo Antonio Mello, depois de um tempo de recarga de energia, reativa seu blog em grande estilo, com um precioso mapa das conexões do Instituto Millenium, núcleo de interferência da direita e do grande capital na mídia brasileira.
(Dentro do post há uma versão clicável, que se amplia.)
Por mais que a gente saiba das ramificações empresariais e midiáticas deste think tank conservador, impressiona o volume e a interconexão entre eles.
O mais curioso é que o Ibad do século 21, com todos os seus altares liberais ainda funciona, em parte, com dinheiro público, porque as doações que recebe para investir contra o Estado são dedutíveis do Imposto de Renda, à medida em que é classificada como Organização de Interesse Público.
Mas, claro, tudo ali é “limpinho”, exceto o Brasil, que é um traste. Nós é que somos os blogueiros “sujos”, financiados com verba pública, mesmo que dela não receba um centavo.
Mídia corporativa e Instituto Millenium, aliados dos EUA, usam 'indignados úteis' para transformar o Brasil numa nova Venezuela
Quando se fala em Lei de Meios; quando se faz o programa Mais Médicos trazendo médicos do exterior, em sua grande maioria de Cuba, para realizar trabalhos em áreas em que nossos médicos brasileiros se recusam a trabalhar; quando se participa ativamente do Mercosul e se toma atitudes independentes dos EUA, como a crítica severa - o verdadeiro pito - que a presidenta Dilma passou no presidente Obama, a respeito da espionagem estadunidense; quando o governo age desse modo, a mídia corporativa o acusa de estar "Venezuelando" o Brasil.
Mas quem está querendo transformar o Brasil numa Venezuela (não no que o chavismo e a revolução bolivariana trouxeram de positivo para aquele país - fim do analfabetismo, assistência médica, participação popular no governo, fim da subserviência aos EUA ), quem está querendo fazer a venezuelização do Brasil é a mídia corporativa, que estimula diariamente o preconceito - evidenciado na reação dos médicos brasileiros à importação de estrangeiros pelo programa Mais Médicos -, a ocupação dos antigos espaços nobres pelos emergentes, essa "gente diferenciada" que tomou de vez aeroportos, shoppings, restaurantes, antes frequentados apenas pelos que em geral têm como medida de suas vidas os EUA, e que hoje se ressentem da dificuldade de encontrar mão de obra barata, ou até em condições análogas à de escravidão...
A partir do Instituto Millenium, eles estão montando seus exércitos com pistoleiros, antigos e recém recrutados (não vou citar nomes, pois todos sabem quem são eles) para diariamente disparar contra o governo.
Basta visitar a página de comentários de qualquer um desses recrutas, soldados ou oficiais do porcalismo (palavra divulgada por este blog - sorry, o diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho...) vendidos para ver o efeito devastador que causam na cabeça daqueles que chamo, desde 2005, de "indignados úteis" (leia abaixo postagem de 2006 sobre eles), zumbis ressentidos, que se alimentam de ódio e recalque diante do empoderamento de milhões de brasileiros.
Abro parêntese: Também sobre esse tema dos indignados, leia esta postagem de 2008 "Nem Civita lê a Veja" em que o editor da revista e presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, defende o governo Lula e define assim os leitores de Veja:
Roberto Civita: “... Os leitores clamam, (...), querem que a sua revista se indigne. Eles querem. Os brasileiros, hoje, não posso falar de outras partes do planeta, mas os leitores de Veja querem a indignação de Veja. Eles ficam irritados conosco quando não nos indignamos. Estou tentando explicar, não justificar. Acho que Veja se encontra toda semana na difícil posição, de um lado, de saber que reportagem é reportagem e opinião é opinião, sendo que não tem editoriais além daquele da frente; e, de outro, sabendo que os leitores..."
Fecho parêntese.
Leia agora a postagem sobre os indignados úteis, de 2006:
O país dos 'indignados úteis'
"Lula e o mensalão, os males do Brasil são"
- Mantra dos Indignados úteis
Quando criei a expressão nunca imaginei que pessoas tão inteligentes, espertas, cultas e interessantes um dia parariam aqui neste blog. Mas, foi só eu fazer a postagem aqui abaixo sobre o divertido blog do Reinaldo Azevedo, para elas aparecerem. Como borboletas monarcas, chegaram aqui em panapaná. Sem cerimônia invadiram a área de comentários, mas, especialmente, entupiram minha modesta caixa postal com suas mensagens raivosas.
Muitos indignados por serem chamados de "indignados úteis" - embora a designação não atinja a todos. O "indignado útil" não é um indignado qualquer. Nem é - como eles parecem crer - todo aquele que critica o presidente e quer vê-lo longe do Palácio do Planalto, porque acha que Alckmin (ou outro candidato qualquer) será melhor para o país.
O "indignado útil" é uma categoria especial dentro da classe dos indignados. Guarda parentesco com o "inocente útil", usado como massa de manobra. Dois aspectos os diferenciam: primeiro, o "indignado útil" não tem nada de inocente; segundo, o "inocente útil" achava que agia para o bem do Brasil, já o "indignado útil" quer que o Brasil se dane, o que ele deseja é ferrar Lula e o PT - ou, no dizer honesto de seu porta-voz, "ver-se livre dessa raça pelos próximos 30 anos".
Se ainda não está claro, dou um exemplo de "indignado útil": Diogo Mainardi. Basta ler sua última coluna, onde ele declara que vai tapar o nariz e votar em Alckmin, mesmo achando que "Geraldo Alckmin é um mau candidato, tem um mau partido e, se eleito, será um mau presidente". O país que se dane, desde que Lula e o PT saiam do poder. Eis o "indignado útil".
A Doutrina Putin em 7 pontos
Entenda a posição da Rússia no xadrez geopolítico mundial e qual é a mensagem que Putin quer enviar ao Ocidente com a anexação da Crimeia
Nazanín Armanian
Carta Maior
Sun Tzu dizia: “É preciso ganhar a guerra antes de declará-la”. Que dados fizeram o Pentágono e a CIA pensarem que seu complô contra a Rússia – de instalar um regime antirrusso em Kiev e integrá-lo com a OTAN – ia prosperar? Se, apesar de contar com milhares de agentes e informantes militares, civis, públicos e ocultos naquele país, os EUA tiveram um fracasso de grande calibre e de consequências imprevisíveis, como então conseguiram elaborar sua tática em um país como o Irã, onde não há nem embaixada?
Os setores belicistas do governo dos EUA cometeram uma grave imprudência ao cruzar a linha vermelha com Moscou, passando de guerras periféricas (anteriormente na Coreia ou no Vietnã, atualmente na Síria) a provocar um enfrentamento direto com a Rússia. Agora, além de engolir a história da integração da Crimeia com a Rússia – em parte graças ao referendo e ao habilidoso uso do vox populi por parte do Kremilin – também tiveram que aceitar a proposta de Moscou de mudar a Constituição ucraniana para transformar o país em uma federação, em um Estado tampão não alinhado. Assim, impedir que se transformasse em outra base da OTAN em suas fronteiras. E talvez seja melhor que não ameacem com mais sanções econômicas se não querem que os russos tirem seu dinheiro do Chipre ou de Portugal e forcem Bruxelas a um novo resgate.
A metamorfose de Vladimir Putin
Existia, entre os principais dirigentes russos, a ideia de que “quanto mais dependemos do Ocidente, mais o Ocidente vai depender de nós”, que é o mais parecido com uma doutrina absurda de segurança de homens que, depois de trair os ideais de um mundo justo, estavam ansiosos por fazer um vazio na elite do capitalismo global.
Assim, deixaram que os EUA determinassem o rumo do país, até que “mudanças progressivas quantitativas gerassem mudanças qualitativas” e um dirigente chamado Vladímir Vladímirovich Putin sofreu este mesmo processo na própria pele e agora está mudando o rumo de seus país. Aqui há uma cronologia resumida de como aconteceu:
- 1997: A OTAN firma com Gorbatchev a Ata Fundacional, cujo eixo são “três nós”: que a OTAN não tem “nenhuma intenção, nenhum plano, e nenhuma razão” para levar grandes contingentes militares aos 12 países do antigo bloco socialista. A Aliança estava enganando os russos. Não tardará a romper sua promessa.
- 1998 e 1999: Putin, desde o governo de Yeltsin, reprime duramente a rebelião dos chechenos com a ideia de impedir a maior desintegração do país. Ambos os lados cometem crimes de guerra.
- Tendo sucedido a Yeltsin em 2000, Putin é tratado com mimos por um Ocidente que pretende desativar sua possível oposição às aventuras bélicas em curso, contar com seu consentimento para instalar bases militares na Ásia Central, implicá-lo na imoral guerra contra o Afeganistão e utilizar seu território para o trânsito dos combios (Rota Norte) – e tudo isso a troco de nada: concessões unilaterais.
- 2008: Putin vê como o Ocidente e a Arábia Saudita desestabilizam o Cáucaso. Volta a empregar a mão dura ante a brutalidade dos chefes chechenos.
- Putin e sua equipe já se dão conta de que a proximidade com o Ocidente não beneficiou a Rússia. O enfoque brzezinskiano da política externa de Obama, de menos Oriente Próximo e mais contenção da Rússia e da China, é claro e público. Putin recorre à ideia fracassada de Obama de formar um G2 com a China, e fortalece seus laços com o grande vizinho.
- Putin projeta uma imagem de força e segurança, e consolida seu poder pessoal. Sua postura anti-Estados Unidos neutralizará os militares “nostálgicos” que vinham exigindo uma política externa contundente em defesa dos interesses nacionais.
- Com o aumento do preço dos hidrocarbonetos, melhora a situação econômica da Rússia. A crise financeira do Ocidente faz com que os países afetados aumentem sua dependência em relação aos mercados e aos investimentos das potências emergentes – entre elas, a Rússia.
- Putin suspeita, assim como os chineses, de que as primaveras árabes sejam promovidas pelos EUA para redesenhar o novo mapa da região de acordo com seus atuais interesses e em detrimento da Rússia e da China.
- A Líbia é o nome do penúltimo golpe recebido dos EUA: a resolução do Conselho de Segurança propunha uma zona de exclusão aérea e não a troca do regime.
- Putin se opõe às ameaças de Washington contra o Irã e a Síria, e concede asilo a Snowden, tentando recuperar a autoridade moral que perdeu ao não se opor ao bombardeio na Líbia.
- A profunda decepção do Kremlin com seus “amigos ocidentais”, que na Ucrânia alcança tal ponto que acaba com seu pragmatismo e realismo defensivo para dar lugar ao realismo e à ofensiva, o que dá forma a sua doutrina.
Assim fica a Doutrina Putin:
- Considerar a instabilidade dos países vizinhos como uma ameaça para a segurança russa e ter o direito de estabilizá-los.
- Não confiar nos EUA e na União Europeia. Os trágicos fins de Saddam e Gadafi mostraram que nem uma sólida relação com o Ocidente é garantia de salvar sua pele.
- Elevar a autoridade da Rússia em nível internacional para que os EUA não voltem a considerá-la como “uma potência regional”. Com sua história e seu grande patrimônio energético e cultural já demonstraram – por exemplo, na crise síria –, ele é capaz de resgatar o próprio presidente dos EUA de sua autodenominada “linha vermelha”, evitando uma nova catástrofe bélica para o mundo.
- Resolver os conflitos internos e também com os vizinhos.
- Advertir o mundo de que jogar com a “nova” Rússia terá seus custos: uma das lições da Crimeia.
- Embaralhar, quando julgar necessário, a utilização do conceito de “intervenção humanitária e a Responsabilidade de Proteger (R2P)”, tal como seus homólogos ocidentais.
- Fortalecer as posições da Rússia na Eurásia, impedir a desintegração do país (Chechênia) e recuperar a influência perdida sobre os ex-membros da URSS e sobre os velhos aliados (Cuba, Vietnã).
Luta de classes ou nacionalismo
A burguesia russa que dirige o governo por meio do controle sobre a exploração dos recursos naturais do país mantém uma estreita (embora complexa) relação com a oligarquia internacional. Ainda com seus traços particulares, marcados pela história e pela cultura do país, não se pode descartar o uso do nacionalismo russo um tanto exacerbado para exportar a crise interna ou canalizar o descontentamento de setores mais desfavorecidos, por meio de um discurso populista
Segundo o Partido Comunista da Rússia (proibido por Yeltsin em 1991, legalizado em 1993, e hoje a segunda força política do país), a taxa de pobreza subiu a 12,2% em 2013, um ponto a mais do que no ano anterior (nos EUA, essa taxa é de 15% e na Espanha, de 21%). Tais cifras não devem menosprezar o grande trabalho dos russos por se levantarem do duro golpe da desintegração da URSS e das políticas de Yeltsin e companhia, que deixaram 33% da população (49 milhões de pessoas) em um nível escandaloso de pobreza.
O índice de crescimento econômico caiu de 3,4% em 2012 para 1,6% em 2013.
Os comunistas, que acabam de ganhar a prefeitura de Novosibirsk, a terceira maior cidade do país, denunciam a doença holandesa da economia do país: a dependência da economia em relação às exportações do hidrocarboneto (70% do total em 2012) e que apenas um terço das receitas chegam às alçadas do governo. O resto está nas contas dos empresários nacionais e estrangeiros, e a essa cifra se devem acrescentar os 50-70 bilhões que são extraídos do país por conta da “fuga de capitais”.
O PC, que apoiou o direito da Crimeia à livre determinação, assim como a restauração voluntária da União Soviética, denuncia o abandono de 40 milhões de hectares produtivos, que fizeram desaparecer povos inteiros, e o fato de a agricultura representar apenas 4,4% do PIB. Na Rússia emergente e dos grandes magnatas, a expectativa de vida é de 70 anos, ocupando a posição 97 entre 180 países. As políticas sociais do governo continuam sendo insuficientes, ainda que o nível de vida tenha melhorado em relação à década de 90.
Mas a pressão sobre a Rússia a empurrará em direção a uma política externa agressiva e a uma ascensão da ultradireita na Rússia e na Europa.
Pode ser que o perfil de Putin seja apropriado para uma nação em ascensão e o de Obama, para uma em declínio, mas a única coisa certa é que estamos diante do fim da Nova Ordem Mundial de Bush e que a geopolítica tem uma natureza mutante. Só se pode falar de tendências.
* Nazanín Armanian é iraniana e residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. Licenciada em Ciências políticas. Ministra aulas nos cursos online da Universidade de Barcelona. Colunista do diário online publico.es.
Nazanín Armanian
Carta Maior
Sun Tzu dizia: “É preciso ganhar a guerra antes de declará-la”. Que dados fizeram o Pentágono e a CIA pensarem que seu complô contra a Rússia – de instalar um regime antirrusso em Kiev e integrá-lo com a OTAN – ia prosperar? Se, apesar de contar com milhares de agentes e informantes militares, civis, públicos e ocultos naquele país, os EUA tiveram um fracasso de grande calibre e de consequências imprevisíveis, como então conseguiram elaborar sua tática em um país como o Irã, onde não há nem embaixada?
Os setores belicistas do governo dos EUA cometeram uma grave imprudência ao cruzar a linha vermelha com Moscou, passando de guerras periféricas (anteriormente na Coreia ou no Vietnã, atualmente na Síria) a provocar um enfrentamento direto com a Rússia. Agora, além de engolir a história da integração da Crimeia com a Rússia – em parte graças ao referendo e ao habilidoso uso do vox populi por parte do Kremilin – também tiveram que aceitar a proposta de Moscou de mudar a Constituição ucraniana para transformar o país em uma federação, em um Estado tampão não alinhado. Assim, impedir que se transformasse em outra base da OTAN em suas fronteiras. E talvez seja melhor que não ameacem com mais sanções econômicas se não querem que os russos tirem seu dinheiro do Chipre ou de Portugal e forcem Bruxelas a um novo resgate.
A metamorfose de Vladimir Putin
Existia, entre os principais dirigentes russos, a ideia de que “quanto mais dependemos do Ocidente, mais o Ocidente vai depender de nós”, que é o mais parecido com uma doutrina absurda de segurança de homens que, depois de trair os ideais de um mundo justo, estavam ansiosos por fazer um vazio na elite do capitalismo global.
Assim, deixaram que os EUA determinassem o rumo do país, até que “mudanças progressivas quantitativas gerassem mudanças qualitativas” e um dirigente chamado Vladímir Vladímirovich Putin sofreu este mesmo processo na própria pele e agora está mudando o rumo de seus país. Aqui há uma cronologia resumida de como aconteceu:
- 1997: A OTAN firma com Gorbatchev a Ata Fundacional, cujo eixo são “três nós”: que a OTAN não tem “nenhuma intenção, nenhum plano, e nenhuma razão” para levar grandes contingentes militares aos 12 países do antigo bloco socialista. A Aliança estava enganando os russos. Não tardará a romper sua promessa.
- 1998 e 1999: Putin, desde o governo de Yeltsin, reprime duramente a rebelião dos chechenos com a ideia de impedir a maior desintegração do país. Ambos os lados cometem crimes de guerra.
- Tendo sucedido a Yeltsin em 2000, Putin é tratado com mimos por um Ocidente que pretende desativar sua possível oposição às aventuras bélicas em curso, contar com seu consentimento para instalar bases militares na Ásia Central, implicá-lo na imoral guerra contra o Afeganistão e utilizar seu território para o trânsito dos combios (Rota Norte) – e tudo isso a troco de nada: concessões unilaterais.
- 2008: Putin vê como o Ocidente e a Arábia Saudita desestabilizam o Cáucaso. Volta a empregar a mão dura ante a brutalidade dos chefes chechenos.
- Putin e sua equipe já se dão conta de que a proximidade com o Ocidente não beneficiou a Rússia. O enfoque brzezinskiano da política externa de Obama, de menos Oriente Próximo e mais contenção da Rússia e da China, é claro e público. Putin recorre à ideia fracassada de Obama de formar um G2 com a China, e fortalece seus laços com o grande vizinho.
- Putin projeta uma imagem de força e segurança, e consolida seu poder pessoal. Sua postura anti-Estados Unidos neutralizará os militares “nostálgicos” que vinham exigindo uma política externa contundente em defesa dos interesses nacionais.
- Com o aumento do preço dos hidrocarbonetos, melhora a situação econômica da Rússia. A crise financeira do Ocidente faz com que os países afetados aumentem sua dependência em relação aos mercados e aos investimentos das potências emergentes – entre elas, a Rússia.
- Putin suspeita, assim como os chineses, de que as primaveras árabes sejam promovidas pelos EUA para redesenhar o novo mapa da região de acordo com seus atuais interesses e em detrimento da Rússia e da China.
- A Líbia é o nome do penúltimo golpe recebido dos EUA: a resolução do Conselho de Segurança propunha uma zona de exclusão aérea e não a troca do regime.
- Putin se opõe às ameaças de Washington contra o Irã e a Síria, e concede asilo a Snowden, tentando recuperar a autoridade moral que perdeu ao não se opor ao bombardeio na Líbia.
- A profunda decepção do Kremlin com seus “amigos ocidentais”, que na Ucrânia alcança tal ponto que acaba com seu pragmatismo e realismo defensivo para dar lugar ao realismo e à ofensiva, o que dá forma a sua doutrina.
Assim fica a Doutrina Putin:
- Considerar a instabilidade dos países vizinhos como uma ameaça para a segurança russa e ter o direito de estabilizá-los.
- Não confiar nos EUA e na União Europeia. Os trágicos fins de Saddam e Gadafi mostraram que nem uma sólida relação com o Ocidente é garantia de salvar sua pele.
- Elevar a autoridade da Rússia em nível internacional para que os EUA não voltem a considerá-la como “uma potência regional”. Com sua história e seu grande patrimônio energético e cultural já demonstraram – por exemplo, na crise síria –, ele é capaz de resgatar o próprio presidente dos EUA de sua autodenominada “linha vermelha”, evitando uma nova catástrofe bélica para o mundo.
- Resolver os conflitos internos e também com os vizinhos.
- Advertir o mundo de que jogar com a “nova” Rússia terá seus custos: uma das lições da Crimeia.
- Embaralhar, quando julgar necessário, a utilização do conceito de “intervenção humanitária e a Responsabilidade de Proteger (R2P)”, tal como seus homólogos ocidentais.
- Fortalecer as posições da Rússia na Eurásia, impedir a desintegração do país (Chechênia) e recuperar a influência perdida sobre os ex-membros da URSS e sobre os velhos aliados (Cuba, Vietnã).
Luta de classes ou nacionalismo
A burguesia russa que dirige o governo por meio do controle sobre a exploração dos recursos naturais do país mantém uma estreita (embora complexa) relação com a oligarquia internacional. Ainda com seus traços particulares, marcados pela história e pela cultura do país, não se pode descartar o uso do nacionalismo russo um tanto exacerbado para exportar a crise interna ou canalizar o descontentamento de setores mais desfavorecidos, por meio de um discurso populista
Segundo o Partido Comunista da Rússia (proibido por Yeltsin em 1991, legalizado em 1993, e hoje a segunda força política do país), a taxa de pobreza subiu a 12,2% em 2013, um ponto a mais do que no ano anterior (nos EUA, essa taxa é de 15% e na Espanha, de 21%). Tais cifras não devem menosprezar o grande trabalho dos russos por se levantarem do duro golpe da desintegração da URSS e das políticas de Yeltsin e companhia, que deixaram 33% da população (49 milhões de pessoas) em um nível escandaloso de pobreza.
O índice de crescimento econômico caiu de 3,4% em 2012 para 1,6% em 2013.
Os comunistas, que acabam de ganhar a prefeitura de Novosibirsk, a terceira maior cidade do país, denunciam a doença holandesa da economia do país: a dependência da economia em relação às exportações do hidrocarboneto (70% do total em 2012) e que apenas um terço das receitas chegam às alçadas do governo. O resto está nas contas dos empresários nacionais e estrangeiros, e a essa cifra se devem acrescentar os 50-70 bilhões que são extraídos do país por conta da “fuga de capitais”.
O PC, que apoiou o direito da Crimeia à livre determinação, assim como a restauração voluntária da União Soviética, denuncia o abandono de 40 milhões de hectares produtivos, que fizeram desaparecer povos inteiros, e o fato de a agricultura representar apenas 4,4% do PIB. Na Rússia emergente e dos grandes magnatas, a expectativa de vida é de 70 anos, ocupando a posição 97 entre 180 países. As políticas sociais do governo continuam sendo insuficientes, ainda que o nível de vida tenha melhorado em relação à década de 90.
Mas a pressão sobre a Rússia a empurrará em direção a uma política externa agressiva e a uma ascensão da ultradireita na Rússia e na Europa.
Pode ser que o perfil de Putin seja apropriado para uma nação em ascensão e o de Obama, para uma em declínio, mas a única coisa certa é que estamos diante do fim da Nova Ordem Mundial de Bush e que a geopolítica tem uma natureza mutante. Só se pode falar de tendências.
* Nazanín Armanian é iraniana e residente em Barcelona desde 1983, data em que se exilou de seu país. Licenciada em Ciências políticas. Ministra aulas nos cursos online da Universidade de Barcelona. Colunista do diário online publico.es.
O capital está vencendo. Como a esquerda pode barrá-lo?
O MST deu um belo exemplo ao vincular a Reforma Agrária ao tema da produção de alimentos saudáveis para os cidadãos de todas as classes.
Tarso Genro
A lenta, mas firme desagregação da esquerda européia depois da quebra da URSS, está ancorada em fatores “objetivos”, tais como as mudanças no padrão de acumulação capitalista -“pós-industrial” como já analisavam alguns economistas há trinta anos - que atravessaram a sociedade de alto a baixo. Estas mudanças alteraram as expectativas políticas, o modo de vida, as demandas do mundo do trabalho e da constelação de prestadores de serviços, dos técnicos das atividades da inteligência do capital, dos sujeitos dos novos processos do trabalho e de amplos contingentes da juventude. Estes, originários de famílias das classes médias, que perderam o seus “status” social e o seu poder aquisitivo, adquiridos na era de ouro da social-democracia. A social-democracia não se renovou, nem o comunismo, para responder a estas transformações.
A desagregação, todavia, também está ancorada na ausência de respostas - fator “subjetivo” dominante -dos núcleos dirigentes da esquerda comunista e social-democrata. Esta falta de formulação superior pode, parcialmente, ser atribuída a uma ausência de “caráter” - pela “acomodação” teórica e doutrinária dos seus dirigentes - mas este não é, certamente, o fator preponderante: o vazio de respostas de esquerda à nova crise do capital tem outras determinações mais fortes. Mesmo aqueles que se jogaram para uma posição “movimentista” - mais, ou menos, corporativa - aparentemente radical (ou os que se propuseram a enfrentar o retrocesso com práticas de Governo ou com novas elaborações no âmbito acadêmico) não conseguiram - nos seus respectivos espaços de interferência - abrir novos caminhos que se tornassem hegemônicos.
A adesão da social-democracia francesa, italiana, espanhola e portuguesa – para exemplificar -aos remédios exigidos pela União Européia (leia-se Alemanha), põe por terra as esperanças que algum governo europeu, num futuro próximo, possa inspirar mesmo uma saída social-democrata novo tipo à crise atual. Tudo indica que a recuperação da Europa capitalista virá por um canal “social-liberal”, depois de um longo período de reestruturação das classes em disputa. Teremos perdas significativas para os trabalhadores do setor público e privado, para as micro, pequenas e médias empresas, que são responsáveis pela maior parte da oferta de empregos. A isso se agregará uma forte pressão sobre os imigrantes e a crescente redução dos gastos públicos, destinados à proteção social. Paralelamente a este desmantelamento tudo indica que crescerão as alternativas nacionalistas de direita, de corte autoritário e mesmo neo-fascistas, pois o vazio que gera desesperanças pode fazer renascer o irracionalismo das utopias da direita extrema.
Se isso é verdade, o nosso problema brasileiro é bem maior do que parece. A contra-tendência instituída no Brasil, que criou dez milhões de empregos no mesmo período em que foram destruídos mais de sessenta milhões de postos de trabalho em todo o mundo, está sob assédio. O nome deste assédio é a garantia do pagamento rigoroso - com juros elevados - da dívida pública, para que o sistema financeiro global do capital possa ter reservas destinadas a bancar as reformas e por em funcionamento um novo ciclo de crescimento das economias do núcleo orgânico do capitalismo global.
Cada uma das alternativas que sejam propostas para o próximo período, visando desenvolver o país, combatendo as suas desigualdades sociais e regionais - sejam elas de inspiração neo-keinesiana ou socialista - só poderão ter efetividade e capacidade de implementação política se mostrarem de maneira coerente como elas se comunicam, acordam ou confrontam, com este cenário global. Ou seja: como as alternativas poderão ser efetivas no território, numa situação de domínio integral do capital financeiro sobre os cenários econômicos e políticos do mundo.
O internacionalismo hoje é, conjunturalmente, mais democrático e social do que propriamente “proletário”, naquele sentido clássico que foi proposto pelo filósofo de Trévèrs. As conquistas democráticas e sociais das nações estão bem mais ameaçadas depois da crise que se iniciou com o “sub-prime”, pois os governos são vítimas de uma pressão brutal para reduzir, ainda mais, a sua autonomia política e assim integrar-se, pacificamente, nas contaminações globais da crise. Apresentar soluções internas, portanto, é também apresentar alianças de sustentação destas políticas no cenário internacional, para que as propostas não sejam voluntaristas ou demagógicas
Caso as formações políticas e os governos não consigam apresentar alternativas aceitas pelo senso comum, dificilmente terão apoio popular para governar. O seu fracasso - e o povo sabe disso - terá reflexo imediato como aniquilamento das conquistas de inclusão social, econômica e produtiva, que ocorreram no Brasil nos últimos dez anos. Este é, na verdade – nos dias que correm - o dilema, tanto demo-tucano e marino-campista, como do extremismo corporativista e movimentista: ambos deveriam responder qual é, nos quadros da democracia política, o efeito imediato na vida das famílias - especialmente das chamadas “novas classes médias” e dos trabalhadores - dos seus projetos concretos de Governo, demonstrando como é possível aplicá-los pela via democrática.
Os ataques à Petrobras, que vem sendo modulados, tanto pela direita neoliberal como pelas oposições anti-PT e anti-Lula - de corte direitista e esquerdista - talvez sejam a síntese mais representativa desta dificuldade. O ataque, turbinado pela grande mídia, dá espaço para estes grupos políticos não dizerem, de forma clara (se fossem eleitos), o que fariam com a economia e com as funções públicas do Estado, no próximo período. Unidos, esquerdismo e neoliberalismo, desta vez no ataque ao Estado - não somente ao Governo - ficam absolvidos de fazerem propostas para dizerem como o país deverá operar, gerando emprego e renda, ao mesmo tempo que se defende da tutela do capital financeiro e das pressões da dívida pública.
A desmoralização de um ativo público da dimensão da Petrobras, os ataques ao seu “aparelhismo” político, a crítica aos gastos públicos excessivos (programas sociais, na verdade), os ataques às políticas do BNDES - de forma combinada com um permanente processo de identificação da corrupção com o Estado e com os Partidos em geral - fecham um quadro completo do cerco ao país: liquidem com a Petrobras e teremos o Estado brasileiro pela metade; acabem com os gastos sociais e teremos uma crise social mais profunda do que a das jornadas de junho; restrinjam o BNDES e o crescimento – que já é pífio - se reduzirá ainda mais; desmoralizem os partidos e a política e a técnica neoliberal substituirá o contencioso democrático.
Como os militares estão aferrados às suas funções profissionais e constitucionais e não estão para aventuras, o golpismo pós-moderno vem se constituindo através da direita midiática. Esta, se bem sucedida no convencimento a que está devotada, encarregaria um novo Governo social-liberal da desmontagem do atual Estado Social “moderado”, obtido no Brasil num cenário mundial adverso.
Lido este cenário de refluxo da esquerda e de retomada dos valores do neoliberalismo selvagem, que devasta as conquistas da social-democracia européia, pode-se concluir que o debate verdadeiro no processo eleitoral em curso - momento mais importante da nossa democracia republicana concreta - é o seguinte: ou o projeto lulo-petista se renova, baseado no muito que já fez e conquista novos patamares de confiança popular; ou o refluxo direitista liberal, que assola a Europa, chegará em nosso país pela via eleitoral, legitimado por eleições democráticas.
A semeadura da insegurança, que precede as inflexões para direita, está em curso em todos os níveis e para responder a esta sensação manipulada - que vai da economia à segurança pública - é preciso dizer de maneira bem clara quais os próximos passos contra as desigualdades e contra perversão da política e das funções públicas do Estado. Chegamos a um momento de defesa política de um modelo novo combinado com a velha luta ideológica.
Recentemente o MST, no seu Congresso Nacional, deu uma demonstração de acuidade política e clareza programática. Fez a vinculação da questão agrária do país a um novo conceito de reforma: vinculou as demandas particulares dos deserdados da terra à produção de alimentos sadios para os cidadãos de todas as classes, numa verdadeira rebelião agroecológica, que faz a disputa no terreno da produção e da política. Particularmente ele se reporta àqueles que mais sofrem os efeitos “fast-foods”, turbinados por agrotóxicos e por malabarismos genéticos, cujos efeitos sobre a espécie humana ainda não são avaliáveis na sua plenitude.
Trata-se, na verdade, da superação de uma demanda particular de classe – uma reforma agrária baseada na mera redistribuição da propriedade - para um plano universal de interesse da totalidade do povo, sem a perda das suas raízes classistas. Belo exemplo que vem do povo para ser absorvido e renovar a cultura política da esquerda. O capital financeiro, no mundo, está vencendo, mas pode ser barrado pela imaginação criadora de uma esquerda que seja consciente da grandeza das suas tarefas nos momentos de refluxo. O MST deu um belo exemplo. A esquerda o seguirá?
Tarso Genro
A lenta, mas firme desagregação da esquerda européia depois da quebra da URSS, está ancorada em fatores “objetivos”, tais como as mudanças no padrão de acumulação capitalista -“pós-industrial” como já analisavam alguns economistas há trinta anos - que atravessaram a sociedade de alto a baixo. Estas mudanças alteraram as expectativas políticas, o modo de vida, as demandas do mundo do trabalho e da constelação de prestadores de serviços, dos técnicos das atividades da inteligência do capital, dos sujeitos dos novos processos do trabalho e de amplos contingentes da juventude. Estes, originários de famílias das classes médias, que perderam o seus “status” social e o seu poder aquisitivo, adquiridos na era de ouro da social-democracia. A social-democracia não se renovou, nem o comunismo, para responder a estas transformações.
A desagregação, todavia, também está ancorada na ausência de respostas - fator “subjetivo” dominante -dos núcleos dirigentes da esquerda comunista e social-democrata. Esta falta de formulação superior pode, parcialmente, ser atribuída a uma ausência de “caráter” - pela “acomodação” teórica e doutrinária dos seus dirigentes - mas este não é, certamente, o fator preponderante: o vazio de respostas de esquerda à nova crise do capital tem outras determinações mais fortes. Mesmo aqueles que se jogaram para uma posição “movimentista” - mais, ou menos, corporativa - aparentemente radical (ou os que se propuseram a enfrentar o retrocesso com práticas de Governo ou com novas elaborações no âmbito acadêmico) não conseguiram - nos seus respectivos espaços de interferência - abrir novos caminhos que se tornassem hegemônicos.
A adesão da social-democracia francesa, italiana, espanhola e portuguesa – para exemplificar -aos remédios exigidos pela União Européia (leia-se Alemanha), põe por terra as esperanças que algum governo europeu, num futuro próximo, possa inspirar mesmo uma saída social-democrata novo tipo à crise atual. Tudo indica que a recuperação da Europa capitalista virá por um canal “social-liberal”, depois de um longo período de reestruturação das classes em disputa. Teremos perdas significativas para os trabalhadores do setor público e privado, para as micro, pequenas e médias empresas, que são responsáveis pela maior parte da oferta de empregos. A isso se agregará uma forte pressão sobre os imigrantes e a crescente redução dos gastos públicos, destinados à proteção social. Paralelamente a este desmantelamento tudo indica que crescerão as alternativas nacionalistas de direita, de corte autoritário e mesmo neo-fascistas, pois o vazio que gera desesperanças pode fazer renascer o irracionalismo das utopias da direita extrema.
Se isso é verdade, o nosso problema brasileiro é bem maior do que parece. A contra-tendência instituída no Brasil, que criou dez milhões de empregos no mesmo período em que foram destruídos mais de sessenta milhões de postos de trabalho em todo o mundo, está sob assédio. O nome deste assédio é a garantia do pagamento rigoroso - com juros elevados - da dívida pública, para que o sistema financeiro global do capital possa ter reservas destinadas a bancar as reformas e por em funcionamento um novo ciclo de crescimento das economias do núcleo orgânico do capitalismo global.
Cada uma das alternativas que sejam propostas para o próximo período, visando desenvolver o país, combatendo as suas desigualdades sociais e regionais - sejam elas de inspiração neo-keinesiana ou socialista - só poderão ter efetividade e capacidade de implementação política se mostrarem de maneira coerente como elas se comunicam, acordam ou confrontam, com este cenário global. Ou seja: como as alternativas poderão ser efetivas no território, numa situação de domínio integral do capital financeiro sobre os cenários econômicos e políticos do mundo.
O internacionalismo hoje é, conjunturalmente, mais democrático e social do que propriamente “proletário”, naquele sentido clássico que foi proposto pelo filósofo de Trévèrs. As conquistas democráticas e sociais das nações estão bem mais ameaçadas depois da crise que se iniciou com o “sub-prime”, pois os governos são vítimas de uma pressão brutal para reduzir, ainda mais, a sua autonomia política e assim integrar-se, pacificamente, nas contaminações globais da crise. Apresentar soluções internas, portanto, é também apresentar alianças de sustentação destas políticas no cenário internacional, para que as propostas não sejam voluntaristas ou demagógicas
Caso as formações políticas e os governos não consigam apresentar alternativas aceitas pelo senso comum, dificilmente terão apoio popular para governar. O seu fracasso - e o povo sabe disso - terá reflexo imediato como aniquilamento das conquistas de inclusão social, econômica e produtiva, que ocorreram no Brasil nos últimos dez anos. Este é, na verdade – nos dias que correm - o dilema, tanto demo-tucano e marino-campista, como do extremismo corporativista e movimentista: ambos deveriam responder qual é, nos quadros da democracia política, o efeito imediato na vida das famílias - especialmente das chamadas “novas classes médias” e dos trabalhadores - dos seus projetos concretos de Governo, demonstrando como é possível aplicá-los pela via democrática.
Os ataques à Petrobras, que vem sendo modulados, tanto pela direita neoliberal como pelas oposições anti-PT e anti-Lula - de corte direitista e esquerdista - talvez sejam a síntese mais representativa desta dificuldade. O ataque, turbinado pela grande mídia, dá espaço para estes grupos políticos não dizerem, de forma clara (se fossem eleitos), o que fariam com a economia e com as funções públicas do Estado, no próximo período. Unidos, esquerdismo e neoliberalismo, desta vez no ataque ao Estado - não somente ao Governo - ficam absolvidos de fazerem propostas para dizerem como o país deverá operar, gerando emprego e renda, ao mesmo tempo que se defende da tutela do capital financeiro e das pressões da dívida pública.
A desmoralização de um ativo público da dimensão da Petrobras, os ataques ao seu “aparelhismo” político, a crítica aos gastos públicos excessivos (programas sociais, na verdade), os ataques às políticas do BNDES - de forma combinada com um permanente processo de identificação da corrupção com o Estado e com os Partidos em geral - fecham um quadro completo do cerco ao país: liquidem com a Petrobras e teremos o Estado brasileiro pela metade; acabem com os gastos sociais e teremos uma crise social mais profunda do que a das jornadas de junho; restrinjam o BNDES e o crescimento – que já é pífio - se reduzirá ainda mais; desmoralizem os partidos e a política e a técnica neoliberal substituirá o contencioso democrático.
Como os militares estão aferrados às suas funções profissionais e constitucionais e não estão para aventuras, o golpismo pós-moderno vem se constituindo através da direita midiática. Esta, se bem sucedida no convencimento a que está devotada, encarregaria um novo Governo social-liberal da desmontagem do atual Estado Social “moderado”, obtido no Brasil num cenário mundial adverso.
Lido este cenário de refluxo da esquerda e de retomada dos valores do neoliberalismo selvagem, que devasta as conquistas da social-democracia européia, pode-se concluir que o debate verdadeiro no processo eleitoral em curso - momento mais importante da nossa democracia republicana concreta - é o seguinte: ou o projeto lulo-petista se renova, baseado no muito que já fez e conquista novos patamares de confiança popular; ou o refluxo direitista liberal, que assola a Europa, chegará em nosso país pela via eleitoral, legitimado por eleições democráticas.
A semeadura da insegurança, que precede as inflexões para direita, está em curso em todos os níveis e para responder a esta sensação manipulada - que vai da economia à segurança pública - é preciso dizer de maneira bem clara quais os próximos passos contra as desigualdades e contra perversão da política e das funções públicas do Estado. Chegamos a um momento de defesa política de um modelo novo combinado com a velha luta ideológica.
Recentemente o MST, no seu Congresso Nacional, deu uma demonstração de acuidade política e clareza programática. Fez a vinculação da questão agrária do país a um novo conceito de reforma: vinculou as demandas particulares dos deserdados da terra à produção de alimentos sadios para os cidadãos de todas as classes, numa verdadeira rebelião agroecológica, que faz a disputa no terreno da produção e da política. Particularmente ele se reporta àqueles que mais sofrem os efeitos “fast-foods”, turbinados por agrotóxicos e por malabarismos genéticos, cujos efeitos sobre a espécie humana ainda não são avaliáveis na sua plenitude.
Trata-se, na verdade, da superação de uma demanda particular de classe – uma reforma agrária baseada na mera redistribuição da propriedade - para um plano universal de interesse da totalidade do povo, sem a perda das suas raízes classistas. Belo exemplo que vem do povo para ser absorvido e renovar a cultura política da esquerda. O capital financeiro, no mundo, está vencendo, mas pode ser barrado pela imaginação criadora de uma esquerda que seja consciente da grandeza das suas tarefas nos momentos de refluxo. O MST deu um belo exemplo. A esquerda o seguirá?
Corrupção corporativa dribla leis nos EUA e na Europa
Convenção Antissuborno da OCDE está em vigor desde 1999, mas não impede casos como o do recente escândalo envolvendo o metrô de São Paulo.
Marcel Gomes
Carta Maior
São Paulo – Apesar de possuírem legislações anticorrupção mais antigas do que as brasileiras, países ricos reunidos na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm sido criticados pelos recentes casos de corrupção corporativa.
O caso mais recente desvendado teve o sistema metroviário paulista como alvo e envolveu multinacionais como a alemã Siemens, a canadense Bombardier, a espanhola CAF, a francesa Alstom e a japonesa Mitsui. Prejuízo aos cofres públicos brasileiros estimados em R$ 580 milhões.
O esquema, denunciado pela Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em troca de imunidade, envolveria a formação de um cartel para superfaturar contratos de linhas de trens e metrô, incluindo pagamento de subornos a funcionários públicos do governo de São Paulo.
Todos aqueles países, porém, são signatários da Convenção Antissuborno da OCDE, estabelecida em 1999 e que visava extinguir a tradicional prática de subornar funcionários públicos em países em desenvolvimento.
A ONG Transparência Internacional, que monitora o problema em diversos países, critica as instituições públicas da França, sede da Alston, por fazer vista grossa a casos de violação da convenção. Desde 2010, a organização aponta que apenas 24 investigações foram abertas para apurar denúncias de corrupção conta empresas francesas no exterior.
“Cabe a empresas multinacionais manter a integridade de suas operações, e ao governo, impor essa conduta. No entanto, há uma preocupação quanto ao fato de os casos de suborno estão estarem sendo ativamente processados na França”, diz a Transparência Internacional.
Corrupção na América
A mesma ONG faz uma série de alertas em relação aos EUA. O primeiro diz respeito ao sistema financeiro, citando brechas para se lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas e a falta de transparência nos balanços – fato suscitado pela crise financeira de 2008.
“Embora os EUA tenham um arcabouço jurídico eficaz contra a lavagem de dinheiro, os especialistas estão preocupados com várias deficiências legislativas e regulamentares”, diz o parecer da Transparência Internacional.
Especial atenção também é dada pela ONG à legislação – ou à falta dela – sobre financiamento de campanhas eleitorais. Desde 2010, a Suprema Corte do país vem extinguindo limites de doações feitas por empresas e sindicatos.
Os limites haviam sido inseridos pelo Congresso norte-americano após o escândalo de Watergate, na década de 1970, como forma de elevar a credibilidade do sistema político após a renúncia do presidente Richard Nixon. Agora, o poder financeiro deve falar mais alto.
“A decisão da Suprema Corte permite o financiamento ilimitado a campanhas políticas sem a divulgação dos doadores. Como resultado, os indivíduos ricos, grupos de interesse e empresas podem aumentar a sua influência sobre o sistema político do país”, ressalta a organização.
Marcel Gomes
Carta Maior
São Paulo – Apesar de possuírem legislações anticorrupção mais antigas do que as brasileiras, países ricos reunidos na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) têm sido criticados pelos recentes casos de corrupção corporativa.
O caso mais recente desvendado teve o sistema metroviário paulista como alvo e envolveu multinacionais como a alemã Siemens, a canadense Bombardier, a espanhola CAF, a francesa Alstom e a japonesa Mitsui. Prejuízo aos cofres públicos brasileiros estimados em R$ 580 milhões.
O esquema, denunciado pela Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em troca de imunidade, envolveria a formação de um cartel para superfaturar contratos de linhas de trens e metrô, incluindo pagamento de subornos a funcionários públicos do governo de São Paulo.
Todos aqueles países, porém, são signatários da Convenção Antissuborno da OCDE, estabelecida em 1999 e que visava extinguir a tradicional prática de subornar funcionários públicos em países em desenvolvimento.
A ONG Transparência Internacional, que monitora o problema em diversos países, critica as instituições públicas da França, sede da Alston, por fazer vista grossa a casos de violação da convenção. Desde 2010, a organização aponta que apenas 24 investigações foram abertas para apurar denúncias de corrupção conta empresas francesas no exterior.
“Cabe a empresas multinacionais manter a integridade de suas operações, e ao governo, impor essa conduta. No entanto, há uma preocupação quanto ao fato de os casos de suborno estão estarem sendo ativamente processados na França”, diz a Transparência Internacional.
Corrupção na América
A mesma ONG faz uma série de alertas em relação aos EUA. O primeiro diz respeito ao sistema financeiro, citando brechas para se lavar dinheiro proveniente de atividades ilícitas e a falta de transparência nos balanços – fato suscitado pela crise financeira de 2008.
“Embora os EUA tenham um arcabouço jurídico eficaz contra a lavagem de dinheiro, os especialistas estão preocupados com várias deficiências legislativas e regulamentares”, diz o parecer da Transparência Internacional.
Especial atenção também é dada pela ONG à legislação – ou à falta dela – sobre financiamento de campanhas eleitorais. Desde 2010, a Suprema Corte do país vem extinguindo limites de doações feitas por empresas e sindicatos.
Os limites haviam sido inseridos pelo Congresso norte-americano após o escândalo de Watergate, na década de 1970, como forma de elevar a credibilidade do sistema político após a renúncia do presidente Richard Nixon. Agora, o poder financeiro deve falar mais alto.
“A decisão da Suprema Corte permite o financiamento ilimitado a campanhas políticas sem a divulgação dos doadores. Como resultado, os indivíduos ricos, grupos de interesse e empresas podem aumentar a sua influência sobre o sistema político do país”, ressalta a organização.
Delfim tinha esquema para tomar o governo, dizem documentos da ditadura militar
Do IG
Relatórios de órgãos de informação da época concluem que ex-ministro - homem forte do regime - teria alavancado esquema de corrupção para chegar ao Palácio do Planalto
Dois relatórios de órgãos de informação do regime militar encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília – um da Aeronáutica e outro do Exército –, aos quais o iG teve acesso, insinuam que o ex-ministro Delfim Netto, czar da economia da ditadura, teria alavancado um esquema de corrupção para pôr em prática um plano que o levaria ao governo de São Paulo em 1974 e, depois, ao Palácio do Planalto.
Os dois informes foram produzidos em períodos distintos. O primeiro, de maio de 1969, é uma espécie de alerta da comunidade de informação ao governo militar. Diz que o homem forte do regime, “movido por ambição pessoal desmedida”, fez pactos com grupos econômicos nacionais e internacionais com a intenção de chegar ao topo do poder.
“Seu objetivo imediato é enriquecimento pessoal. Seu objetivo mais remoto é o de sustentação financeira de um plano político que o conduziria ao governo do Estado de S. Paulo, na pior das hipóteses”, descreve o informe. Em seguida o autor sugere: ”Delfim Netto aspira à própria Presidência da República”.
Informado pelo iG sobre o conteúdo dos relatórios através de e-mail enviado a sua assessoria na quinta-feira, 17, Delfim não respondeu. Informes, como se sabe, são peças parciais e incompletas de espionagem e, sozinhos, não têm valor jurídico. No caso de Delfim, revelam que ele era bombardeado pelo fogo amigo dentro do próprio regime militar, num período encoberto pela censura imposta pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), do qual foi defensor e signatário.
O ex-ministro foi alvo constante de monitoramento. Em sua pasta no Arquivo Nacional, além de um suposto plano de sequestro pela esquerda armada, abortado entre o fim 1969 e início 1970 pelos próprios órgãos de informação, há fartura de referências citando supostos esquemas de corrupção. Em 1974, antes de assumir o governo, o ex-presidente Ernesto Geisel recusou a indicação de Delfim para o governo paulista, embora o pedido tenha partido de seu antecessor, o general Emílio Garrastazu Médici.
Em entrevista ao jornalista Roberto D’Avila, da Globonews, sobre os 50 anos do golpe, Delfim contou ter ouvido de Médici que Geisel argumentou que os militares temiam perder o poder com sua eventual ascensão à política. “Não quero porque ele, com a Avenida Paulista, vai tomar o governo”, teria dito Geisel a Médici, segundo Delfim.
Joia da coroa
O suposto esquema de corrupção é detalhado num relatório de 14 páginas difundido no governo pelo Centro de Informação do Exército (CIE), o informe número 721, de 21 de dezembro de 1971, com o título “Ministro Delfim Neto – Villar de Queiroz”. É uma referência ao ex-diplomata José Maria Villar de Queiroz, que foi embaixador, assessor do Ministério da Fazenda e encarregado de negociações externas. O informe diz que ele foi personagem “indispensável” e “figura mais importante do esquema Delfim, por se tratar de pessoa com importantes ligações na área internacional”. Procurado pelo iG através de um e-mail de contato fornecido pelo Ministério de Relações Exteriores, Villar de Queiroz não retornou.
O informante do CIE traça um perfil de Villar de Queiroz para insinuar que o diplomata, em nome do então ministro da Fazenda, atendia pedidos de Delfim e, ao mesmo tempo, representava os interesses de grupos internacionais fortes àquela época, como o Safra, Sammy Cohen, León, José Cândido Ferraz e Pacovitch. “Há, ainda, os grupos internacionais, de banqueiros e operadores em financiamentos na área do eurodólar”, escreve o informante.
Segundo o informe, Villar de Queiroz era o responsável pelas negociações internacionais (inclusive do reescalonamento da dívida) de todos os ministérios importantes ao longo dos sete anos (entre 1967 e 1974) em que Delfim reinou como o civil mais importante no regime militar.
A estratégia do então ministro, diz o relatório, era controlar integralmente as áreas de fazenda, finanças, comércio exterior e o que na época era considerada a joia da coroa, o Instituto Brasileiro do Café (IBC), a autarquia mais importante do governo no comércio internacional - responsável à época por exportações da ordem de US$ 1 bilhão por ano.
Primeiro-ministro
O informe diz ainda que para tocar os negócios internacionais Delfim montou o “grupo do Ministério da Fazenda”, que controlavam os mais importantes cargos públicos e comandavam empresas privadas com interesses no governo. Além do ex-embaixador, lista outros onze nomes.
Para manter o funcionamento da máquina e a boa imagem da política econômico-financeira de Delfim, o gabinete do ministro, através de um assessor de imprensa, mantinha, segundo o relatório, um esquema poderoso junto aos veículos de comunicação. (...) “Política que interessa, sobretudo, aos grupos internacionais (...) que atua no Brasil em termos de agiotagem oficializada”, escreve o agente.
A rede, segundo o informe, mexia em todas as peças sensíveis do governo e da iniciativa privada para garantir poderes a Delfim. “Não resta dúvida de que jamais houve um esquema tão poderoso no Ministério da Fazenda, esquema que reúne a corrupção e a subversão de esquerda; negócios internacionais, intrigas políticas na área do governo; sinecuras para os elementos do grupo; tratamento desigual para os que não se integram ou não cooperam; manipulação de imensas verbas do ministério; permuta de interesses em detrimento do governo”, escreve o informante.
O relatório conta que um ex-presidente do IBC Mário Penteado Faria e Silva foi derrubado do cargo porque resistiu aos “negocistas do café”, que queriam fechar transações na modalidade de “contratos especiais” com o governo.
O informante detalha um suposto caso de adulteração: um dos homens de Delfim, quando ocupou interinamente a presidência do IBC, teria usado um líquido especial - “um método primário” - para apagar os números de um contrato e, no lugar, colocado uma quantidade bem maior do produto, como supostamente queria o comprador, a extinta gigante americana de alimentos, General Foods. O ex-presidente da autarquia estava em Londres na ocasião e, ao retornar, foi substituído por insurgir-se contra os “contratos especiais”.
A conquista do IBC, segundo o relatório, teria multiplicado a influência de Delfim. “Ele representa, sem sombra de dúvida, a maior força dentro do governo, um verdadeiro primeiro-ministro sem as desvantagens da oficialização do cargo de premiê”.
O relatório descreve uma teia de conspiração política traçada por Delfim para livrar-se de adversários internos, até tornar-se o ministro mais poderoso do regime militar. A última meta, depois de assumir o controle sobre fazenda, finanças e negócios internacionais, seria conquistar o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), com o que conquistaria “poder total na área financeira”.
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