Por Cláudio Puty
"Já nos anos de Lula e Dilma no Palácio do Planalto, os índices inflacionários foram, em média, bem menores do que tinham sido no último período do governo FHC, no que se refere ao regime de metas da inflação".
Em sua monumental obra, a propaganda política, o escritor francês Jean-Marie Domenach afirma que a característica da propaganda moderna, inclusive a política, consiste em impressionar em vez de convencer e em sugerir algo ao público em vez de informá-lo. É o que acontece com as recentes declarações de líderes da oposição sobre uma suposta perda de controle do governo sobre a economia, o que estaria levando o Brasil a um “apocalipse inflacionário”. Jogam com impressões, não com a realidade.
Ora, uma análise dos números mostra que as coisas não são bem assim. Se nós observarmos o tempo de vigência do Sistema de Metas para a Inflação, veremos que o centro da meta não foi alcan-çado em 11 dos 14 anos. No governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, a meta era, em 1999, de 8%, caindo em 2000 para 6% e, depois, para 4%. Quando a meta foi de 8%, a inflação chegou a 8,94%; quando a meta foi de 6%, a inflação atingiu 5,97%. Em 2001, a meta foi estabelecida em 4% ao ano, mas a inflação começou a galopar, chegando à taxa de 7,67%. No último ano do reinado do tucanato, enquanto a meta descia para 3,5% a inflação batia em 12,53%.
Para combater essa ameaça, o PSDB lançou mão da única arma disponível – melhor seria dizer, preferível – do receituário monetarista do Consenso de Washington: a alta da taxa de juros para inibir o consumo. Assim, para uma inflação de mais de 12%, tivemos uma taxa Selic cavalar, de 45% ao ano! Quando Fernando Henrique Cardoso entregou a faixa presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, a Selic já tinha baixado, mas ainda estava em espantosos 25% ao ano.
Já nos anos de Lula e Dilma no Palácio do Planalto, os índices inflacionários foram, em média, bem menores do que tinham sido no último período do governo FHC, no que se refere ao regime de metas da inflação. Apesar da torcida contrária da oposição, os governos do PT conseguiram manter a inflação dentro das bandas de tolerância do Sistema de Metas, chegando a taxas de 7,60%, 5,69%, 3,14%. Em dois anos do governo Dilma, mesmo em meio à persistência da crise internacional, a taxa permaneceu em torno de 6%; no ano passado, ela foi de 5,84%.
O mais significativo é que esses números foram atingidos com a mudança da política monetária anterior. O PT não fez o combate à inflação apelando para juros altos, recessão e desemprego, como os tucanos. Ao contrário: as taxas de juros, que chegaram a níveis estratosféricos no governo FHC, baixaram pela primeira vez nos últimos dez anos e hoje se encontram num patamar civilizado – embora ainda alto –, de 7,25% ao ano. E o desemprego, esse flagelo social que chegou a atingir 15% da População Economicamente Ativa (PEA) no final do governo FHC, hoje está em 6,7%, o menor das últimas décadas, configurando, na prática, uma situação de pleno emprego – algo que o país não vivia há muito tempo.
A visão míope do monetarismo neoliberal dos tucanos, portanto, vê no aumento dos juros a arma mais efetiva contra a inflação – já veremos por quê. Os governos do PT, ao contrário, procuram múltiplos instrumentos de combate à ameaça inflacionária: além dos eventuais ajustes na taxa Selic, passaram a ser adotadas medidas macroprudenciais, com o controle dos canais de crédito; foram reduzidos os custos de produção, com a desoneração da folha de pagamento de diversos setores econômicos; e se aumentou a oferta de produtos agrícolas, cujos preços incidem fortemente sobre a inflação. Sobre isso, é bom lembrar que, para este ano, o IBGE está prevendo uma safra de grãos 13,1% maior do que a safra de 2012.
A grande diferença entre os governos do PT e do PSDB é o hiato que separa governos de esquerda e de direita: nós vemos o controle da inflação como um fator importante para a estabilização da economia, mas não conduzimos a política monetária com um único objetivo, o de transferir renda para os detentores de títulos públicos e para os rentistas. Nós, ao contrário, temos compromisso com o país, com a produção, a defesa da indústria, o aumento da geração de empregos e a distribuição de renda.
Cláudio Puty é deputado federal (PT-PA), vice-líder do governo no Congresso, é economista, com mestrado e doutorado no Japão e nos Estados Unidos.
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
terça-feira, fevereiro 26, 2013
ALMG: Audiência Pública vai debater relação CBMM/CODEMIG/NIÓBIO Deputado Rogério Correia pede audiência pública para debater a renovação sem licitação, por 30 anos, do contrato para exploração do Nióbio pela CBMM
Do Novo Jornal
http://www.novojornal.com/politica/noticia/almg-audiencia-publica-vai-debater-relacao-cbmm-codemig-niobio-07-02-2013.html
A Comissão de Minas e Energia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais deverá, em sua primeira reunião deste ano, decidir sobre o pedido de audiência pública, formulado pelo deputado Rogério Correia (PT), para debater a prorrogação, sem licitação pela CODEMIG, por mais 30 anos, do contrato de arrendamento com a CBMM para exploração da mais valiosa lavra mineral do País e a mais estratégica do planeta.
A renovação ocorreu em 2003 logo após a posse do então governador, hoje senador Aécio Neves. Para se ter ideia do que significou, em matéria de ganho, a renovação para Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que tem como atividade exclusiva a exploração da mina de Nióbio de Araxá, sem a mina, cessa sua atividade.
Depois da renovação, a empresa vendeu 15% de suas ações por 2 bilhões de dólares, ou seja, levando em conta apenas o valor de suas ações, a empresa valeria hoje 28 bilhões de dólares , valor superior ao que o Estado de Minas Gerais arrecada através de todos os impostos e taxas em um ano.
Esta operação já havia causado desconfiança principalmente nas forças nacionalistas que acompanhavam de perto a movimentação, porque meses depois a CBMM venderia 15% de seu capital a um fundo Coreano, que representa investidores não identificáveis.
“A CBMM tem o capital dividido entre o "Grupo Moreira Sales" e a "Molybdenium Corporation - Molycorp", subsidiária da "Union Oil", por seu turno, empresa do grupo "Occidental Petroleum - Oxxi", muito embora seja fácil deduzir a prevalência do grupo alienígena, pelo histórico do banqueiro Walther Moreira Sales, tradicional "homem de palha" de capitalistas estrangeiros, inclusive de Nelson Aldridge Rockefeller, que tanto se intrometeu na política do Brasil”, afirmou à reportagem do Novojornal o Contra-Almirante Reformado Roberto Gama e Silva.
Acrescentando: “Circula por aí versão segundo a qual só as jazidas de nióbio dos "Seis Lagos" valem em torno de 1 trilhão de dólares. Necessário esclarecer que por sua localização e facilidade de exploração a jazida de Araxá vale muito mais que a “Seis Lagos”.
O Ministério Público mineiro já investigava a renovação sem licitação do arrendamento celebrado pela CODEMIG, porém, fatos recentes noticiados por Novojornal, através da matéria “CBMM vende à estatal japonesa poder de veto sobre o Nióbio”, comprovam também a prática de crime contra a soberania nacional. Trata-se da venda de mais 15% das ações da CBMM, dando poder de veto a uma empresa estatal japonesa.
Novojornal noticiou ainda que tais vendas ocorreram em função do quadro beligerante entre Aécio Neves e Oswaldo Borges da Costa, presidente da CODEMIG, dando início à divisão do que avaliam ser uma fortuna incalculável conseguida e a conseguir através da diferença entre a venda subfaturada e o valor real no exterior do Nióbo.
O Nióbio, riqueza que poderia significar a redenção da economia mineira e nacional, foi entregue, através de operação bilionária e ilegal, a empresa estatal japonesa, Japan Oil, Gas and Metals National Corporation, em parceria com um fundo de investimento que representa os interesses da China.
Este é o final de um ruidoso conflito instalado no centro do Poder de Minas Gerais que vem sendo, nos últimos dois anos, de maneira omissa e silenciosa, testemunhado pelo governador Antônio Anastásia.
Desde 2003 o então governador e atual senador Aécio Neves entregou a condução das principais decisões e atividades econômicas do Estado de Minas a Oswaldo Borges da Costa, que assumiu a função estratégica de presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (CODEMIG), criando um governo paralelo.
Por trás deste cenário artificial operou um esquema de corrupção, que contou com a cumplicidade até mesmo da Procuradoria Geral de Justiça, que impedia a atuação do Ministério Público Estadual, à imprensa mineira jamais foi permitido tocar neste assunto.
Na audiência pública está previsto o comparecimento dos maiores especialistas do setor principalmente os ligados as Forças Armadas que veem promovendo gestões para federalizar, a exemplo da Petrobras, a exploração de Nióbio. Relatórios confidenciais da Abim e da área de inteligência do Exército demonstram como operou o esquema criminoso de subfaturamento montado pela CODEMIG/ CBMM, através da Cia de Pirocloro de Araxá.
A assessoria de imprensa da CBMM, da CODEMIG, do senador Aécio Neves e do Governo de Minas Gerais foram procuradas e não quiseram comentar o assunto.
A “gastança” pública dez anos depois
João Sicsú - Carta Capital
Em 2009, o PSDB soltou uma nota em que afirmava: “o Palácio do Planalto promove uma gastança…”. Em qualquer dicionário, gastança significa excesso de gastos, desperdício. A afirmação feita na nota somente tem utilidade midiática, mas não é útil para a produção de análises e discussões sérias em torno da temática das finanças públicas brasileiras.
A dívida pública deixada para o presidente Lula era superior a 60% do PIB. O déficit público nominal era de 4,4% do PIB. Esses são os números referentes a dezembro de 2002, o último mês de Fernando Henrique Cardoso na presidência.
De forma ideal, a administração das contas públicas deve sempre buscar a redução de dívidas e déficits. Deve-se buscar contas públicas mais sólidas. A motivação para a busca desta solidez não está no campo da moral, da ética, da religião ou do saber popular que diz “não se deve gastar mais do que se ganha”.
A motivação está no aprendizado da Economia. Aprendemos que o orçamento é um instrumento de combate ao desaquecimento econômico, ao desemprego e à falta de infraestrutura. Contudo, o orçamento somente poderá ser utilizado para cumprir estas funções se houver capacidade de gasto. E, para tanto, é necessário solidez e robustez orçamentárias.
A ideia é simples: folgas orçamentárias devem ser alcançadas para que possam ser utilizadas quando a economia estiver prestes a provocar problemas sociais, tais como o desemprego e a redução de bem-estar. Portanto, a solidez das contas públicas não é um fim em si mesma, mas sim um meio para a manutenção do crescimento econômico, do pleno emprego e do bem-estar.
A contabilidade fiscal feita pela equipe econômica do governo do presidente Lula mostrou como essas ideias podem ser postas em prática. Houve melhora substancial das contas públicas que resultaram da boa administração durante o processo de aceleração das taxas de crescimento. O presidente Lula entregou à presidenta Dilma uma dívida que representava 39,2% do PIB. Ao final de 2012, a dívida foi reduzida ainda mais: 35,1% do PIB. O presidente Lula entregou para a sucessora um orçamento com déficit de 2,5% do PIB. Ao final de 2012, este número foi mantido.
Foi essa administração fiscal exitosa que deu ao presidente Lula autoridade política e solidez orçamentária para enfrentar a crise de 2009, evitando que tivéssemos uma profunda recessão e uma elevação drástica do desemprego. No ano de 2009, a relação dívida/PIB aumentou para 42,1% e o déficit público nominal foi elevado de 2% para 3,3% do PIB. Em compensação, naquele ano de crise, foram criados mais de 1,7 milhão de empregos formais e o desemprego subiu apenas de 7,9%, em 2008, para 8,1%, em 2009.
Em paralelo à consolidação fiscal, os governos dos presidentes Lula e Dilma promoveram ampliação dos gastos na área social. A área social engloba: educação, previdência, seguro desemprego, saúde, assistência social etc. O investimento social per capita cresceu 32% em termos reais entre 1995 e 2002. De 2003 a 2010, cresceu mais que 70%. Cabe ser destacado que mesmo diante da fase mais aguda da crise financeira internacional de 2008-9 os investimentos sociais não foram contidos – a partir de 2009, houve inclusive uma injeção adicional de recursos nessa área.
Os números não são refutáveis. São estatísticas oficiais organizadas por milhares de técnicos competentes. O Estado brasileiro está consolidado em termos de responsabilidade com a geração de estatísticas. No Brasil, não há maquiagem ou ocultação de dados. Portanto, temos elementos para fazer análises consistentes das finanças públicas que dispensam a utilização de termos midiáticos jogados ao ar: gastança! Nos últimos dez anos não houve gastança, houve organização fiscal. Houve também aumento significativo de gastos na área social. Essa é a radiográfica precisa dos números.
Em 2009, o PSDB soltou uma nota em que afirmava: “o Palácio do Planalto promove uma gastança…”. Em qualquer dicionário, gastança significa excesso de gastos, desperdício. A afirmação feita na nota somente tem utilidade midiática, mas não é útil para a produção de análises e discussões sérias em torno da temática das finanças públicas brasileiras.
A dívida pública deixada para o presidente Lula era superior a 60% do PIB. O déficit público nominal era de 4,4% do PIB. Esses são os números referentes a dezembro de 2002, o último mês de Fernando Henrique Cardoso na presidência.
De forma ideal, a administração das contas públicas deve sempre buscar a redução de dívidas e déficits. Deve-se buscar contas públicas mais sólidas. A motivação para a busca desta solidez não está no campo da moral, da ética, da religião ou do saber popular que diz “não se deve gastar mais do que se ganha”.
A motivação está no aprendizado da Economia. Aprendemos que o orçamento é um instrumento de combate ao desaquecimento econômico, ao desemprego e à falta de infraestrutura. Contudo, o orçamento somente poderá ser utilizado para cumprir estas funções se houver capacidade de gasto. E, para tanto, é necessário solidez e robustez orçamentárias.
A ideia é simples: folgas orçamentárias devem ser alcançadas para que possam ser utilizadas quando a economia estiver prestes a provocar problemas sociais, tais como o desemprego e a redução de bem-estar. Portanto, a solidez das contas públicas não é um fim em si mesma, mas sim um meio para a manutenção do crescimento econômico, do pleno emprego e do bem-estar.
A contabilidade fiscal feita pela equipe econômica do governo do presidente Lula mostrou como essas ideias podem ser postas em prática. Houve melhora substancial das contas públicas que resultaram da boa administração durante o processo de aceleração das taxas de crescimento. O presidente Lula entregou à presidenta Dilma uma dívida que representava 39,2% do PIB. Ao final de 2012, a dívida foi reduzida ainda mais: 35,1% do PIB. O presidente Lula entregou para a sucessora um orçamento com déficit de 2,5% do PIB. Ao final de 2012, este número foi mantido.
Foi essa administração fiscal exitosa que deu ao presidente Lula autoridade política e solidez orçamentária para enfrentar a crise de 2009, evitando que tivéssemos uma profunda recessão e uma elevação drástica do desemprego. No ano de 2009, a relação dívida/PIB aumentou para 42,1% e o déficit público nominal foi elevado de 2% para 3,3% do PIB. Em compensação, naquele ano de crise, foram criados mais de 1,7 milhão de empregos formais e o desemprego subiu apenas de 7,9%, em 2008, para 8,1%, em 2009.
Em paralelo à consolidação fiscal, os governos dos presidentes Lula e Dilma promoveram ampliação dos gastos na área social. A área social engloba: educação, previdência, seguro desemprego, saúde, assistência social etc. O investimento social per capita cresceu 32% em termos reais entre 1995 e 2002. De 2003 a 2010, cresceu mais que 70%. Cabe ser destacado que mesmo diante da fase mais aguda da crise financeira internacional de 2008-9 os investimentos sociais não foram contidos – a partir de 2009, houve inclusive uma injeção adicional de recursos nessa área.
Os números não são refutáveis. São estatísticas oficiais organizadas por milhares de técnicos competentes. O Estado brasileiro está consolidado em termos de responsabilidade com a geração de estatísticas. No Brasil, não há maquiagem ou ocultação de dados. Portanto, temos elementos para fazer análises consistentes das finanças públicas que dispensam a utilização de termos midiáticos jogados ao ar: gastança! Nos últimos dez anos não houve gastança, houve organização fiscal. Houve também aumento significativo de gastos na área social. Essa é a radiográfica precisa dos números.
sábado, fevereiro 23, 2013
A arte dos economistas de antecipar tendências
Luiz Gonzaga Belluzzo - Carta Capital
Resolvi juntar algumas linhas que escrevi a respeito dos economistas, suas teorias, convicções e previsões. No estouro da crise financeira, as maledicências sobre economistas, suas teorias, crenças e previsões corriam soltas, à velocidade da peste nos centros financeiros do mundo. Mas, passado o susto, os que fracassaram em suas antecipações já sobem o tom de suas arrogâncias e voltam a trovejar sua cambaleante sabedoria.
A reputação dos economistas e o prestígio de sua arte de antecipar tendências variam na mesma direção dos ciclos do velho, resistente, mas talvez nem tão surpreendente capitalismo. Quando os negócios vão bem, as previsões mais otimistas são ultrapassadas por resultados formidáveis. É a festança dos consultores: o noticiário da mídia não consegue oferecer espaço suficiente para os profetas e oráculos da prosperidade eterna. Na era da informação a coisa é ainda pior: em tempo real, os meios eletrônicos regurgitam uma fauna variada de palpiteiros e adivinhões. Todos ou ao menos a maioria tratam de insuflar a bolha de otimismo.
Quando desabou a tormenta, as certezas dos analistas mais certeiros entraram em colapso. Em pleno estado de oclusão mental diante da derrocada dos preços dos ativos e da violenta contração do crédito, um gênio da finança global proclamava na televisão: “Os investidores são racionais, mas estão em pânico”. Imaginei que antes da emboscada do subprime e de outros créditos alavancados, os investidores racionais estivessem apenas no exercício de sua peculiar racionalidade.
O pânico dos mercados induziu à pane na razão. O ineditismo dos acontecimentos abalroou seus modelos e fez naufragar suas previsões. Desconcertados, os sábios de ontem embarcam em hipóteses exóticas e peregrinas, como as que atribuem responsabilidade aos devedores Ninja (No income, no job, no asset), gente irresponsável que não deveria aceitar os empréstimos gentilmente oferecidos por bancos generosos. Ainda na quarta-feira 13, o republicano da Flórida, Marco Rubio, descarregou a culpa da crise no governo e nos políticos que estimularam os créditos predatórios.
Em sua crueldade, as maledicências maltratam a labuta persistente dos economistas acadêmicos, sempre dedicados à construção de teorias e modelos sofisticados (lembro que sofisticado vem de sophoi, cognato de sofista) que em vez de explicar como funcionam as engrenagens do capitalismo, cuidam zelosamente de falsificar seu modo de funcionamento.
O economista Willem Buiter desancou a revolução novo-clássica das expectativas racionais, associada aos nomes de Robert Lucas e Thomas Sargent, entre outros. A teoria econômica, diz ele, “tornou-se autorreferencial… impulsionada por uma lógica interna e por quebra-cabeças estéticos, em vez de motivada pelo desejo de compreender como a economia funciona… Assim, os economistas profissionais estavam despreparados quando a crise eclodiu”.
Nos idos de 2009 relatei aos leitores de CartaCapital uma proeza de Robert Lucas que exibe em suas prateleiras acadêmicas o Prêmio Nobel. Em setembro de 2007, Lucas publicou no Wall Street Journal o artigo “Hipotecas e Política Monetária” (“Mortgage and Monetary Policy”). Àquela altura do campeonato, o preço das residências despencava com grande estrondo. Até mesmo os mais fanáticos crentes na eficiência dos mercados estariam incomodados com o barulho, para não falar da pulga que percorria insistemente a parte posterior de suas respeitáveis orelhas. Suspeito que Lucas tenha baixa sensibilidade nesta região do corpo humano. Mas ele não é apenas um crente, é um sacerdote.
Escreveu no Journal: “Sou cético a respeito do argumento que sustenta haver risco de contaminação de todo o mercado de hipotecas pelos problemas surgidos na faixa subprime. Tampouco acredito que a construção residencial possa ser paralisada e que a economia vá deslizar para uma recessão. Cada passo nessa cadeia de argumentação é questionável e nada foi quantificado. Se aprendemos alguma coisa da experiência dos últimos 20 anos é que há muita estabilidade embutida na economia real”.
As recomendações e análises dos economistas (inclusive as minhas), mesmo quando prestadas em boa fé, estão eivadas de valorações e pressupostos não revelados, para não falar de ostentações de rigor e cientificidade incompatíveis com a natureza do objeto investigado. Esse incidente, o desacordo entre o método de investigação e a natureza do objeto investigado, é quase sempre ignorado pelos praticantes da Ciência Triste. Isso não lança necessariamente dúvida sobre a honestidade intelectual dos economistas, mas os obriga a explicitar as “visões” (como dizia Schumpeter) que antecedem e fundamentam suas análises. Essas cautelas tornam-se ainda mais imperiosas quando as sabedorias dos interesses subjugam os interesses pelo conhecimento.
COMENTÁRIO E & P
E os cursos de economia da FGV-RJ, da PUC-RJ e de uma parte da USP foram montados sobre as premissas de Robert Lucas. Vários dos professores que lecionam nessas universidades fizeram doutorado nos Estados Unidos, onde foram adestrados nessa nova teologia. Ao invés de cientistas viraram sacerdotes. Os comentaristas econômicos que trabalham para a velha mídia, foram convertidos e viraram palpiteiros econômicos, pois não há nenhuma racionalidade no dizem ou escrevem. São papagaios de piratas e um vive repetindo o outro, como se tivessem passado por uma lavagem cerebral.Foram as mudanças ocorridas na América Latina que desmascaram eles todos. Os governos neoliberais foram varridos do mapa e a política econômica pode voltar a racionalidade. Os governos fantoches como Efeagácê, Menen, Fujimori entre tantos outros fracassaram porque as premissas das políticas econômicas que implantaram não eram frutos da ciência e sim da ideologia do Partido Republicano dos Estados Unidos e dos conservadores da Inglaterra. O povo padeceu sob esses governos, mas o PSDB permanece defendendo o neoliberalismo, isso ficou evidente na fala de Aecio Neves. O modelo que os tucanos defendem é da dependência aos Estados Unidos e Europa que traz como consequência aumento do desemprego e queda da renda com consequente aumento da desigualdade social, do desespero e da violência. A economia não é uma ciência neutra. O resultado principal do neoliberalismo é deixar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
Após deslizamento, pista sentido SP da Imigrantes segue bloqueada
SP: deslizamento na Imigrantes atinge carros e mata mulher
A pista sentido São Paulo da rodovia dos Imigrantes segue totalmente bloqueada, entre os km 62 e 40, na manhã deste sábado, informou a Ecovias, concessionária que administra a estrada. No local, a queda de barreira matou uma mulher e atingiu 24 veículos na tarde de ontem.
Com o bloqueio, a concessionária pede que os motoristas evitem viajar para São Paulo nas primeiras horas desta manhã. De acordo com a Ecovias, os veículos envolvidos no incidente já foram retirados do local, mas funcionários da administradora trabalham na limpeza da estrada e não há estimativa de tempo para sua liberação. No sentido litoral, o trânsito é lento do km 35 ao km 43.
O sistema Anchieta-Imigrantes tem outros problemas nesta manhã. Na Anchieta, o fluxo está congestionado do Km 36 ao Km 40, em direção ao litoral. No sentido São Paulo, a lentidão vai do km 63 ao km 60 e na chegada à capital, entre o Km 13 e o km 10, devido ao excesso de veículos.
A Padre Manoel da Nóbrega, sentido Praia Grande, que também estava interditada por causa de queda de barreira no km 271, foi liberada por volta das 10h e o fluxo é considerado normal.
Na Cônego Domênico Rangoni, o fluxo está congestionado no sentido Cubatão, São Paulo, entre o Km 251 e Km 262. No sentido Guarujá, tráfego congestionado entre o Km 268 e Km 262.
De acordo com a Ecovias, em duas horas, choveu de 100 a 150 milímetros. A média de janeiro e fevereiro é de 25 a 30 milímetros de chuva por dia.
Terra
COMENTÁRIO SETORIAL
Essa rodovia cobra um dos pedágios mais caros do Brasil e do mundo. Esperava-se que houvesse monitoramento, por ela estar numa região serrana. Também quebra o discurso do governador Geraldo Alckmin do PSDB de que os pedágios são caros em São Paulo porque as rodovias são do primeiro mundo. Já havia tido na Anchieta no ano de 2011 o problema com a neblina que engavetou vários veículos, agora essa tragédia que causa uma vítima fatal. A Artesp, agência incumbida de fiscalizar as concessões, pelo visto só serve para defender as concessionárias e justificar os pedágios que onera a população paulista e toda a cadeia produtiva.
sexta-feira, fevereiro 22, 2013
Juros altos no Brasil: fim da irracionalidade?
Evaristo Almeida
Quando a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil resolveram baixar os juros, acompanhando o movimento do Banco Central que reduziu bastante a taxa básica, a velha mídia os atacou impiedosamente, dizendo que as instituições estariam sendo usadas politicamente, que iria aumentar a inadimplência com a conseqüentemente perda de valor dessas empresas e a volta da inflação. Os economistas de mercado, a maioria deles adestrados em universidades estadunidenses, foram amplamente ouvidos pela imprensa brasileira para atacar o governo. Até o presidente de um grande banco, disse não ser possível trabalhar num cenário de juros baixos.
Como diz o ditado, “o tempo é senhor da razão” e mostrou que a Presidenta Dilma Rousseff e a equipe econômica estavam certas. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por baixarem os juros em todas as linhas de crédito ganharam mercados dos bancos privados, que empossaram o crédito e não baixaram os juros na mesma proporção das instituições federais.
Os spreads bancários da CEF foram diminuídos em até 40%, levando ao crescimento dos financiamentos da Caixa Econômica Federal em 42% em 2012. Para 2013 estão previstos aumento de empréstimos em mais 35%.
Como conseqüência do aumento da carteira de crédito, o lucro aumentou 17%, com 6,1 bilhões apurados.
O Banco do Brasil aumentou a sua carteira de crédito em 24,9% em função da diminuição dos juros bancários e apurou um lucro de 12,2 bilhões em 2012.
Os bancos privados tiveram um crescimento modesto na carteira de crédito, de apenas 11,5% e esse resultado pode afetar os lucros dessas empresas em 2013, visto que trabalhamos com um cenário de juros baixos. Os economistas que trabalham nessas instituições, viciados em juros altos, levaram a tomada errada de decisão por parte da presidência dessas empresas.
Pelo visto os bancos privados no Brasil terão de se reinventar, pois se na década de 1980 eles foram moldados para faturarem com a inflação alta, nos anos 1990 e 2000 ganharam muito dinheiro com os maiores juros do mundo, os pagos no Brasil.
As instituições financeiras faturaram nas duas pontas, numa compravam títulos do governo federal, cujos juros chegaram a estratosféricos 45% ao ano em 1999 e na outra cobrando juros absurdos no cartão de crédito, cheque especial e em empréstimos. Na verdade ainda há muito espaço para queda de juros nessas linhas de crédito para o tomador final.
O governo federal abaixou os juros básicos para 7,25% ao ano, o que reduzirá o ganho das tesourarias dos bancos carregados em títulos públicos e a concorrência da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que derrubaram o custo para o tomador de todas as linhas de financiamento, obrigará que as instituições financeiras tenham de ter obrigatoriamente uma carteira maior de empréstimos, para poder manter o faturamento. Inclusive terão de financiar a infraestrutura do país e a carteira imobiliária deles também ganhará importância.
Os bancos privados que reagiram irracionalmente contra a queda dos juros, pautando a velha mídia que fez o característico terror midiático, com os “palpiteiros econômicos” aqueles que aparecem como comentaristas, mas que são pagos para defender os interesses dos banqueiros, terão que se adaptar aos novos tempos. Estão investindo agora na volta da inflação e para isso estão gritando a plenos pulmões que ela vai voltar apesar do cenário futuro dizer que não.
País nenhum do mundo se desenvolveu com um sistema bancário viciado em juros altos como o nosso. São como parasitas num corpo sadio tirando toda a sua força.
Na verdade os juros altos penalizam a população brasileira que perdem nos dois lados da moeda. Primeiro quando pagam impostos e esses recursos vão para pagar juros escorchantes para as famílias mais ricas do país, fazendo uma inversão na distribuição de renda, ao invés de se transformarem em serviços públicos de qualidade. E segundo, quando compra qualquer bem a prestação ou fazem um empréstimo bancário e pagam na parcela um preço maior por causa dos juros embutidos nela.
Com o ambiente de juros baixos sobra mais dinheiro para o governo investir mais na educação, transportes, saúde, segurança e combate a miséria, pois paga menos aos mais ricos e banqueiros e os serviços públicos melhoram.
E quando o povo for comprar um bem financiado ou fizer um empréstimo, as prestações serão menores e sobrará mais dinheiro para comprar outras coisas, favorecendo o consumo e a produção.
O que se tem é que usando a velha cantilena de combate a inflação uma pequena parcela da sociedade brasileira, composta principalmente pelas vinte mil famílias mais ricas do país, foi amplamente beneficiada com o recebimento dos juros mais altos do mundo pagos no Brasil. Era uma bolsa família as avessas, pois tirava dos pobres e via pagamento de juros ia para os ricos.
Isso aumentou a desigualdade social, prejudicou os investimentos públicos, reduziu o crescimento econômico, o nível de emprego e a renda.
Manter os juros num patamar civilizado é essencial para o desenvolvimento social e econômico do Brasil e isso é possível como mostra a nossa experiência recente.
Quando a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil resolveram baixar os juros, acompanhando o movimento do Banco Central que reduziu bastante a taxa básica, a velha mídia os atacou impiedosamente, dizendo que as instituições estariam sendo usadas politicamente, que iria aumentar a inadimplência com a conseqüentemente perda de valor dessas empresas e a volta da inflação. Os economistas de mercado, a maioria deles adestrados em universidades estadunidenses, foram amplamente ouvidos pela imprensa brasileira para atacar o governo. Até o presidente de um grande banco, disse não ser possível trabalhar num cenário de juros baixos.
Como diz o ditado, “o tempo é senhor da razão” e mostrou que a Presidenta Dilma Rousseff e a equipe econômica estavam certas. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por baixarem os juros em todas as linhas de crédito ganharam mercados dos bancos privados, que empossaram o crédito e não baixaram os juros na mesma proporção das instituições federais.
Os spreads bancários da CEF foram diminuídos em até 40%, levando ao crescimento dos financiamentos da Caixa Econômica Federal em 42% em 2012. Para 2013 estão previstos aumento de empréstimos em mais 35%.
Como conseqüência do aumento da carteira de crédito, o lucro aumentou 17%, com 6,1 bilhões apurados.
O Banco do Brasil aumentou a sua carteira de crédito em 24,9% em função da diminuição dos juros bancários e apurou um lucro de 12,2 bilhões em 2012.
Os bancos privados tiveram um crescimento modesto na carteira de crédito, de apenas 11,5% e esse resultado pode afetar os lucros dessas empresas em 2013, visto que trabalhamos com um cenário de juros baixos. Os economistas que trabalham nessas instituições, viciados em juros altos, levaram a tomada errada de decisão por parte da presidência dessas empresas.
Pelo visto os bancos privados no Brasil terão de se reinventar, pois se na década de 1980 eles foram moldados para faturarem com a inflação alta, nos anos 1990 e 2000 ganharam muito dinheiro com os maiores juros do mundo, os pagos no Brasil.
As instituições financeiras faturaram nas duas pontas, numa compravam títulos do governo federal, cujos juros chegaram a estratosféricos 45% ao ano em 1999 e na outra cobrando juros absurdos no cartão de crédito, cheque especial e em empréstimos. Na verdade ainda há muito espaço para queda de juros nessas linhas de crédito para o tomador final.
O governo federal abaixou os juros básicos para 7,25% ao ano, o que reduzirá o ganho das tesourarias dos bancos carregados em títulos públicos e a concorrência da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que derrubaram o custo para o tomador de todas as linhas de financiamento, obrigará que as instituições financeiras tenham de ter obrigatoriamente uma carteira maior de empréstimos, para poder manter o faturamento. Inclusive terão de financiar a infraestrutura do país e a carteira imobiliária deles também ganhará importância.
Os bancos privados que reagiram irracionalmente contra a queda dos juros, pautando a velha mídia que fez o característico terror midiático, com os “palpiteiros econômicos” aqueles que aparecem como comentaristas, mas que são pagos para defender os interesses dos banqueiros, terão que se adaptar aos novos tempos. Estão investindo agora na volta da inflação e para isso estão gritando a plenos pulmões que ela vai voltar apesar do cenário futuro dizer que não.
País nenhum do mundo se desenvolveu com um sistema bancário viciado em juros altos como o nosso. São como parasitas num corpo sadio tirando toda a sua força.
Na verdade os juros altos penalizam a população brasileira que perdem nos dois lados da moeda. Primeiro quando pagam impostos e esses recursos vão para pagar juros escorchantes para as famílias mais ricas do país, fazendo uma inversão na distribuição de renda, ao invés de se transformarem em serviços públicos de qualidade. E segundo, quando compra qualquer bem a prestação ou fazem um empréstimo bancário e pagam na parcela um preço maior por causa dos juros embutidos nela.
Com o ambiente de juros baixos sobra mais dinheiro para o governo investir mais na educação, transportes, saúde, segurança e combate a miséria, pois paga menos aos mais ricos e banqueiros e os serviços públicos melhoram.
E quando o povo for comprar um bem financiado ou fizer um empréstimo, as prestações serão menores e sobrará mais dinheiro para comprar outras coisas, favorecendo o consumo e a produção.
O que se tem é que usando a velha cantilena de combate a inflação uma pequena parcela da sociedade brasileira, composta principalmente pelas vinte mil famílias mais ricas do país, foi amplamente beneficiada com o recebimento dos juros mais altos do mundo pagos no Brasil. Era uma bolsa família as avessas, pois tirava dos pobres e via pagamento de juros ia para os ricos.
Isso aumentou a desigualdade social, prejudicou os investimentos públicos, reduziu o crescimento econômico, o nível de emprego e a renda.
Manter os juros num patamar civilizado é essencial para o desenvolvimento social e econômico do Brasil e isso é possível como mostra a nossa experiência recente.
AMARAL: O PROGRAMA NUCLEAR E O FUTURO DO BRASIL Programa nuclear é estratégico e decide hoje o futuro do país.
Saiu na Carta Capital coluna de Roberto Amaral:
O PROGRAMA NUCLEAR E O FUTURO DO BRASIL
O Brasil, considerando apenas a área até aqui prospectada, é o sexto país em reservas de urânio em todo o mundo. Esta reserva é suficiente para manter em funcionamento as atuais usinas Angra I e Angra II, e a futura Angra III e mais 4 novas usinas de 1000 Mw cada, por cerca de 100 anos. Não é para ser desconsiderado, portanto.
Mas possuir reservas minerais não é tudo, embora o Brasil esteja se descuidando de suas terras raras. Para ser utilizado, e para ter valor comercial, o urânio precisa ser transformado industrialmente em combustível nuclear, processo que compreende algumas etapas, entre elas o enriquecimento, com enorme valor agregado, inumeráveis fases de tratamento e o acesso a segredos tecnológicos guardados a cinco chaves pelos países que dominam essa tecnologia.
É o que se descreve a seguir.
Inicialmente, o minério bruto é processado de maneira a extrair a maior quantidade possível do urânio nele contido. Isso gera um material sólido chamado yellow cake, ou concentrado de urânio. Antes do enriquecimento propriamente dito, o yellow cake puro deve ser transformado em gás. Nas usinas de enriquecimento esse gás é processado para aumentar a proporção de Urânio 235, o urânio físsil, responsável, quando fissionado, pela geração de energia no gás. Em seguida ele é reconvertido para a fase sólida, constituindo-se num pó, que é compactado em pastilhas (pellets) e acondicionado em varetas que compõem o chamado elemento combustível.
Precisamos de urânio enriquecido para alimentar Angra I e II e Angra III, e, se o país tiver juízo, as demais usinas projetadas, projetadas, projetadas e de execução adiada. Qual o procedimento atual? Produzimos o yellow cake e o remetemos para processadores no exterior para transformação em gás enriquecido, retornando ao país para ser reconvertido, produzidas as pastilhas e acondicionadas nos elementos combustíveis.
Hoje, após anos de investimentos em pesquisa e equipamentos, e enfrentando a sabotagem das grandes potências nucleares, EUA à frente, como sempre, já dominamos a tecnologia para enriquecimento isotópico do urânio, desenvolvida pela Marinha (CTMSP) em colaboração com o IPEN, e brevemente estaremos produzindo nosso combustível, na fábrica da INB. A tecnologia não é pioneira, mas nossas centrífugas, principal equipamento da planta, apresentam importantes conquistas que as tornam mais eficientes que as atualmente em uso em todo o mundo. E motivo de cobiça.
O domínio dessa tecnologia decorre de decisões políticas cruciais de vários governos e da persistência de pesquisadores e militares devotados. Dele tanto resulta o acúmulo de pesquisas, como determina igualmente novos avanços científicos e tecnológicos, os quais estarão refletidos em novas conquistas; além da conclusão do ciclo nuclear, disporemos de maior segurança no fornecimento do combustível, economia de custos e de divisas e, de futuro, a possibilidade de fornecermos urânio enriquecido para clientes no exterior. O ganho econômico pode ser medido pela diferença de preço, no mercado internacional, entre o minério bruto e o elemento combustível.
Uma vez mais se coloca para o país optar entre permanecer como mero fornecedor de matéria-prima in natura, ou transformar-se em exportador de conhecimento, rejeitar como destino a condição dependente, optando pela emancipação nacional como base de seu futuro. E não há futuro nem independência se renunciarmos ao desenvolvimento científico e tecnológico. Não se veja nessa política a revisão do velho projeto do Brasil-potência, nem eivos de um militarismo arcaico. Trata-se, simplesmente, de optar entre independência e dependência e caminhar no sentido contrário das políticas do neoliberalismo.
Nossa tecnologia, voltada para os usos pacíficos da energia nuclear, nada tem a ver com a produção de bombas, que requer urânio enriquecido a mais de 90% em seu isótopo 235, enquanto a planta de enriquecimento isotópico da INB em Rezende foi projetada para a produção de enriquecimento até 5%, destinando-se, portanto, exclusivamente, para uso na fabricação de elementos combustíveis dos reatores de potência do sistema Angra e em alguns tipos de reatores para propulsão naval, como do nosso futuro submarino.
Portanto, nosso país nada tem que esconder. E jamais escondeu. Precisa apenas decidir se deseja mesmo (pois precisa) dominar o conhecimento científico e tecnológico pondo-o a serviço de seu desenvolvimento e de sua soberania.
Além de haver aderido, em 1997, ao Tratado de não-proliferação de Armas Nucleares (TNP), unilateralmente, ou seja, sem negociar, isto é, sem cobrar contrapartidas, como, por exemplo, transferência de tecnologia, ou, a redução dos estoques das potências nucleares e guerreiras (EUA à frente), o Brasil é o único país do mundo a determinar, em sua Constituição (art.21, XXIII, a) que “toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos” e, igualmente, é o único país do mundo que permite inspeções em suas instalações militares. E o único submetido a inspeções de duas agências internacionais, a Agência Internacional de Energia Atômica-AIEA, e a ABACC, Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares- ABACC.
O país recebe anualmente cerca de 50 inspeções anunciadas e seis inspeções não anunciadas, isto é de surpresa, sem programação prévia, em suas instalações nucleares.
Quando foi levantado o pleito da AIEA com vistas à assinatura de um novo Acordo de Salvaguardas, a posição brasileira foi a de assegurar, às Agências, a aplicação de um controle efetivo do material nuclear utilizado, ao mesmo tempo que defendíamos outras questões como desarmamento e, principalmente, nosso acesso às conquistas tecnológicas, além de igualdade de condições entre os signatários.
É querer muito? Não. O diferencial é que esses devem ser os termos de discussão de um país preocupado em preservar seus interesses, para continuar soberano.
É oportuno lembrar que o programa nuclear brasileiro não se reduz à produção de combustível. São notáveis suas aplicações na área médica, seja com vistas a diagnóstico, seja com vistas à terapia (radioterapia e braquiterapia; biotecnologia, irradiação de materiais biológicos); no meio ambiente, na indústria, na agricultura e irradiação de alimentos, nas indústrias do petróleo e do papel e na siderurgia, no beneficiamento de gemas, esterilização de materiais e no melhoramento genético e controle de pragas, nas áreas de materiais, processos físicos, químicos e tecnologia de suporte.
E, por fim, é fundamental o aproveitamento do urânio para a geração de energia elétrica, como fonte complementar às hidrelétricas e em substituição às fontes fósseis (petróleo e carvão), caras e poluentes. Até porque as hidrelétricas, independentemente das delimitações impostas pelo regime das chuvas (acabamos de viver ameaças de ‘apagões’), enfrentam crescentes restrições ambientais as quais, por exemplo, estão determinando hidrelétricas a fio-d’água, isto é, sem reservatórios, donde a necessidade de o Estado investir em alternativas.
Trata-se, portanto, o nuclear, de programa estratégico, que decide hoje o futuro do país.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Dinheiro da CIA para FHC
Sebastião Nery
“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”.
Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969″ era fevereiro de 69.
***
FUNDAÇÃO FORD
Há menos de 60 dias daquele fevereiro de 69, em 13 de dezembro de 68 a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares. Era muito dinheiro, naquela época, com o dólar supervalorizado.
***
AGENTE DA CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar “aulas” e fazer “conferências” em universidades norte-americanas e européias.
Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
***
QUEM PAGOU
Em 2008, chegou às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem “pagava a conta” era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
“Consistente e fascinante” (“The Washington Post”). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (“Spectator”). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (“The Times”).
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MILHÕES DE DÓLARES
1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockefeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).
2 – “O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).
3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).
***
FHC FACINHO
4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).
5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).
6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.
http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=29078
LULA/DILMA 10 VS O FHC/CERRA. O MENTIRÔMETRO
Do Conversa Afiada
Caros amigos,
a Folha fez no dia 20/02 uma reportagem tendenciosa sobre a cartilha feita pelo PT, em função do aniversário de 10 anos no poder. Fiz uma cartilha rebatendo os principais argumentos dessa reportagem tendenciosa, utilizando os dados do site do FMI e do IBGE. Esta cartilha esta em anexo.
Abraço,
João Gabriel Lemos
Clique na imagem para poder visualizá-la
Comentário E & P
Se o Folhômetro (mentirômetro) for aplicado à própria Folha de São Paulo, não caberia no jornal, pois o folhetim só publica mentiras. O jornaleco não tem nenhum compromisso com a verdade e a maioria dos jornalistas que trabalham nessa empresa alugam o corpo do pescoço para cima.É uma vergonha, não há liberdade de expressão no jornal, e só contratam jornalistas com a ideologia demotucana. Eles seguem a mesma pauta. Os Frias censuram a Falha, são autoritários, assim como a ditadura que apoiaram. Tenho a impressão de que algum tucano é o verdadeiro dono da Folha, ficando os Frias apenas como laranjas. É incompreensível para mim um capitalista jogar o capital de uma empresa de comunicação, que é a verdade, na lata do lixo. Ou é louco ou é apenas o representante de alguém nessa empresa.
quarta-feira, fevereiro 20, 2013
VIANA: LULA/DILMA 10 VS 0 FHC/CERRA
Pronunciamento em 19 de fevereiro de 2013
JORGE VIANA (PT-AC) – “Eu queria agora, senhor presidente, no tempo que me resta, dizer que amanhã (20 de fevereiro), em São Paulo – espero estar presente –, vamos celebrar os 10 anos de governo democrático e popular no Brasil. Governo que começou com o presidente Lula e que segue com a presidenta Dilma. São 10 anos de um governo que mudou o Brasil.
Parece que os colegas, inclusive o nobre colega Aécio Neves [PSDB-SP], segundo informações, fará um pronunciamento falando dos 13 pontos negativos, é o que tenho lido na imprensa, desse período de governo do PT. Óbvio, é parte do debate, e essas observações e críticas são bem vindas.
Mas logo o PSDB?
Ficou oito anos no governo! Também há números. Seria muito interessante vermos aqui um debate sobre os oito anos do PSDB e os oito anos do Lula. Por que não? O PSDB nunca quis esse debate. Aliás, nunca quis debater nem o governo do presidente Fernando Henrique. Alguns do PSDB esconderam o presidente Fernando Henrique, que é uma grande liderança do país, uma pessoa que merece todo o respeito.
Estou curioso para ver que números, que dados o senador Aécio trará para a tribuna do Senado Federal. Tenho carinho e admiração pessoal pelo senador Aécio, mas certamente ele terá que fazer muitos malabarismos para contrapor-se, como membro do PSDB, aos dez anos de governo do PT.
Malabarismos porque os números falam por si sós. Eu sei que, depois de dez anos, foi uma oportunidade dada pelo povo brasileiro para governarmos o país.
O presidente Lula, quando assumiu, estava maduro, preparado. Era e é o brasileiro que mais conhece o Brasil. Tinha andado por este país. Tinha montado um programa de governo para todas as áreas. Tinha visitado o mundo inteiro, falado com líderes de toda a parte do mundo, aprendido, autodidata que é.
Assumiu o governo numa situação crítica.
Vou ler alguns números, caro senador [Paulo] Paim [PT-RS].
Vou ler alguns números, caro senador presidente Sérgio Souza [PMDB-PR]:
O PIB brasileiro de 2002, quando o PT chegou ao governo, quando Lula assumiu, era de US$ 500 bilhões.
E o PIB brasileiro de 2012 – contabilidade fechada, caro senador Paim –, de US$2,6 trilhões!
Isso é trabalhar pelo Brasil. Isso é mudar o Brasil.
Vou repetir, pode que quem esteja me ouvindo pela Rádio Senado ou assistindo ao meu pronunciamento pela TV Senado não compreenda: o PIB brasileiro, antes de o PT chegar ao governo, era de 500 bilhões de dólares, depois de oito anos do governo do PSDB. E, agora, no ano passado, fechou em 2,6 trilhões de dólares!
Alguém pode dizer: “Ah, mas esse é um número abstrato, não atingiu os brasileiros!” Vamos ao PIB per capita, dividir o PIB por cada brasileiro. Em 2002, o referido PIB era de US$ 2,8 mil, senador Paim. Em 2012, depois de 10 anos de governo do PT, US$ 13.300!
Isso não é mudança?
Ambos foram multiplicados por cinco em dez anos, graças à dedicação de um governo que cometeu falhas, que falhou em vários aspectos, mas que avançou e hoje é parte da história de mudanças do nosso país.
O Brasil, com o governo dos presidentes Lula e Dilma, atraiu a atenção do mundo inteiro. É um dos poucos governos do mundo que conseguiu conciliar crescimento econômico com distribuição de renda.
Eu queria me referir agora, na véspera da comemoração: hoje, a presidenta Dilma lançou um programa – mais um programa –, um programa de erradicação da miséria, cuja primeira etapa ela já havia feito, agora faz a etapa final. Para o nosso governo, quem vive com menos de R$ 70 por mês, senador Sérgio Souza, está abaixo da linha da pobreza, está na miséria, e considera-se pobre quem ganha de R$ 70 a R$ 140 por mês.
A presidenta Dilma entende que há 700 mil famílias que ainda precisam sair da linha da extrema pobreza, e hoje adotou medidas. Foram medidas emocionantes.
Um discurso do governador [de Sergipe, Marcelo] Déda, colega, companheiro nosso, emocionante, cheio de substância.
Hoje, vi aqui o próprio senador Cristovam [Buarque, do PDT-DF] falando que a presidenta Dilma teve o mérito de escolher o título “País rico é país sem pobreza”.
E foi dito lá que nunca se viu slogan de governo que leve em conta um conceito, uma definição como essa. E será feita a busca ativa, não são as pessoas que estão na miséria que vão se inscrever, são os governos, os parceiros estaduais e municipais.
Estava lá o governador [do Acre] Tião Viana, que tem um compromisso, que tem uma determinação, como médico, como ser humano, de erradicação da pobreza, da miséria também no nosso Acre, que também tem mudado junto com o Brasil. Estava lá o Tião, estabelecendo e repactuando seus compromissos de enfrentar a extrema pobreza em nosso país.
Os números são fortes: 22 milhões de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza, ganhando menos do que o necessário para viver dignamente. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, têm 50 milhões fora do sistema de saúde. O número de miseráveis nos Estados Unidos está aumentando. O número de pobres e extremamente pobres e miseráveis na Europa está aumentando. E o Brasil, hoje, o governo da presidenta Dilma, disse: “Nós estamos assumindo o compromisso, tomando a decisão política de erradicar a miséria em nosso País, a extrema pobreza”.
Vou seguir lendo alguns números e vou ficar curioso, porque acho que temos aí um bom debate daqueles que já governaram o país com aqueles que governam o país. Este é um debate que interessa ao Congresso e ao povo brasileiro: dar transparência ao país de hoje e ao país de ontem.
Índice de Crescimento da Atividade Econômica: 2002, 100%; agora, em 2011, 140%. São dados do Ministério da Fazenda e do Banco Central, senhor presidente.
Vamos pegar números, senador Paim!
Produção de automóveis: quando eles saíram do governo, o Brasil produzia 1,8 milhão de unidades de automóveis (um milhão e oitocentos mil automóveis por ano). Agora, [o país] produz 3,4 milhões de automóveis por ano. É o sexto maior produtor do mundo! Isso em 10 anos.
Vou passar mais…
Vamos falar de agricultura. São números! A produção agrícola era de 96 milhões de toneladas, em 2002, quando assumimos o governo. Agora, no ano passado, em 2011, foram 163 milhões de toneladas, sendo que o recorde será quebrado neste ano.
Alimentos. O Plano Safra recebia, senhor presidente, R$ 24 milhões – Vossa Excelência que defende tanto a produção de alimentos no País – em investimentos (Plano Safra, em 2002). Agora, em 2012, R$ 107 milhões em investimentos para a produção de alimentos no país.
Isso não é mudança?
Certamente, nossos opositores não vão trazer esses números. Mas posso andar um pouquinho mais: a taxa de investimento sobre o PIB era de 16% em 2002; agora é 20%.
Quero passar aqui, rapidamente, alguns números.
Investimento estrangeiro em nosso país, senador Paim, US$ 16 bilhões, em 2002, quando recebemos o país. Agora são US$ 66 bilhões por ano. A inflação: o IPC era de 12%; agora, 5.8%.
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Um pouco mais de tempo, senhor presidente.
O desemprego era compatível com o sofrimento da Europa de hoje e maior do que o dos Estados Unidos: 13% o desemprego quando assumimos o governo; agora temos 4,7%. É pleno emprego. Em boas regiões do país é pleno emprego.
Estou concluindo, senhor presidente, porque voltarei a este tema ainda mais à frente.
O salário mínimo, caro senador Paim – Vossa Excelência que é um lutador dia e noite neste país por mais respeito aos trabalhadores, por maior ganho para os aposentados, para quem acorda de madrugada, na labuta, que, em sua maioria, ganha um salário mínimo –: no governo deles, que nos criticam hoje, era de R$ 200. Em 2012, o salário mínimo era de R$ 622, um ganho real de 66%. O salário mínimo neste país não tinha ganho real, tinha perda real.
(Interrupção do som.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Concluo, senhor presidente, falando os números finais de pessoas, porque para falar de desenvolvimento no país tem-se que falar de rosto, de pessoas.
Em 2002, o Brasil tinha 26,7% de sua população, senador Aníbal [Diniz, do PT-AC], na Classe E, o povo na miséria. Quarenta e seis milhões de brasileiros viviam na miséria. Agora são 28 milhões, que fazem parte do Programa de Exclusão. São 12%. Saiu de 26% para 12%.
A classe C, a classe média, em 2002, correspondia a 37% da população – 67 milhões de brasileiros na classe C. Agora, 50% da população brasileira estão na classe média, com 95 milhões de brasileiros mudando de classe.
(Interrupção do som.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Então, queria dizer também que foi cobrado mais investimento em educação, em tecnologia.
Eis alguns números: matrículas no ensino profissional, saíram de 500 mil para 1 milhão de matrículas no ensino profissional no nosso país. Bolsa de mestrado e doutorado fora do Brasil: CNPq e Capes, eram 35 mil bolsas por ano. Agora são mais de 100 mil bolsas por ano.
Com a complacência do presidente, para concluir, gostaria de poder ouvir, mesmo que fosse por menos de 1 minuto, o senador Anibal. Título de doutorado, senador Anibal, em 2002: 6 mil brasileiros com título de doutorado. Em 2012, 13 mil brasileiros. Nós dobramos.
Esses são números de um governo que não concluiu o seu trabalho, estão em curso as mudanças.
Temos problemas sim, mas temos também o que celebrar nesses 10 anos. Por isso, com muita satisfação, vou a São Paulo amanhã agradecer ao presidente Lula pelos oito anos, agradecer à presidente Dilma pelos dois anos, celebrar com os governadores estaduais – no caso, com o Tião e outros – as conquistas. Mas renovar o nosso compromisso porque dá para fazermos ainda mais pelo nosso país, principalmente tendo em vista que muito já foi feito. Senador Anibal.
Anibal Diniz (PT-AC) – Senador Jorge Viana, quero fazer aqui um reconhecimento da qualidade deste pronunciamento porque ele dá uma resposta bem clara, bem eloquente do quanto os governos da presidenta Dilma e do presidente Lula foram e estão sendo melhores do que os oito anos do Fernando Henrique, por todos os aspectos que a gente possa analisar.
Então, a afirmação que a gente pode fazer, concluindo o conjunto de números apresentados por Vossa Excelência, é que o Brasil de Lula e o Brasil de Dilma são muito melhores do que o Brasil de Fernando Henrique Cardoso. Em que pese a oposição querer maquiar essa discussão, eu acho que Vossa Excelência está de parabéns por fazer a discussão no nível em que ela tem que acontecer, com números, com resultados. E esses números não deixam dúvida de que nós temos muito a comemorar pelos 10 anos de Partido dos Trabalhadores, partidos aliados, presidente Lula e presidenta Dilma à frente do nosso Brasil. Parabéns!
JORGE VIANA (PT-AC) – Eu agradeço o aparte de Vossa Excelência. Só queria, concluindo, dizer que é claro que nós seguimos com grandes desafios de infraestrutura aeroportuária, infraestrutura de energia, rodoviária. Nós temos muito que investir em ciência e tecnologia, em educação, em melhoria da área de segurança e de saúde. É óbvio! Mas nós temos que reconhecer que já demos muitos passos adiante.
Eu queria aqui, concluindo, porque, como eu falei, vou voltar a este tema, dizer que as críticas dos opositores são bem-vindas, mas eu gostaria muito que o senador Aécio viesse aqui amanhã e apresentasse um projeto da oposição, alternativo ao nosso, que tão bem foi executado pelo presidente Lula e segue sendo executado pela presidenta Dilma. Só isso.
O Brasil ficaria melhor se nós vivêssemos uma situação desta: um debate sobre alternativas de desenvolvimento para o país.
Se algum partido político tiver um projeto melhor que o nosso, de crescimento econômico do país, com inclusão social, de transformação do nosso país, é óbvio que esse debate nos interessa. Mas vir aqui, sem autoridade de quem já foi governo, só se for omitir o governo deles… Se for para omitir o governo deles, aí é óbvio que dá para fazer qualquer crítica.
É nesse sentido que, respeitosamente, eu me antecipo ao colega senador Aécio Neves dizendo que vou esperar para ver os 13 pontos negativos de cobrança que ele certamente trará – pelo menos é o que eu tenho lido na imprensa – e vamos aqui colocar a realidade, com números, com dados consistentes, estatísticos, oficiais, para que a gente possa fazer a devida comparação e, respeitando todos os que nos acompanham, a gente possa ter um debate sobre o país que queremos, o país que merecemos ter e o país que o povo brasileiro quer ter: um país com crescimento econômico, sem miséria, porque não existe país rico com a presença de uma população que viva na miséria.
País rico é país sem pobreza. Esse é o slogan que temos de repetir, porque ele nos ensina e nos faz assumir compromissos no combate à pobreza e à miséria extrema, como fez, hoje, de maneira nobre, a presidenta Dilma.
Muito obrigado, senhor presidente”.
JORGE VIANA (PT-AC) – “Eu queria agora, senhor presidente, no tempo que me resta, dizer que amanhã (20 de fevereiro), em São Paulo – espero estar presente –, vamos celebrar os 10 anos de governo democrático e popular no Brasil. Governo que começou com o presidente Lula e que segue com a presidenta Dilma. São 10 anos de um governo que mudou o Brasil.
Parece que os colegas, inclusive o nobre colega Aécio Neves [PSDB-SP], segundo informações, fará um pronunciamento falando dos 13 pontos negativos, é o que tenho lido na imprensa, desse período de governo do PT. Óbvio, é parte do debate, e essas observações e críticas são bem vindas.
Mas logo o PSDB?
Ficou oito anos no governo! Também há números. Seria muito interessante vermos aqui um debate sobre os oito anos do PSDB e os oito anos do Lula. Por que não? O PSDB nunca quis esse debate. Aliás, nunca quis debater nem o governo do presidente Fernando Henrique. Alguns do PSDB esconderam o presidente Fernando Henrique, que é uma grande liderança do país, uma pessoa que merece todo o respeito.
Estou curioso para ver que números, que dados o senador Aécio trará para a tribuna do Senado Federal. Tenho carinho e admiração pessoal pelo senador Aécio, mas certamente ele terá que fazer muitos malabarismos para contrapor-se, como membro do PSDB, aos dez anos de governo do PT.
Malabarismos porque os números falam por si sós. Eu sei que, depois de dez anos, foi uma oportunidade dada pelo povo brasileiro para governarmos o país.
O presidente Lula, quando assumiu, estava maduro, preparado. Era e é o brasileiro que mais conhece o Brasil. Tinha andado por este país. Tinha montado um programa de governo para todas as áreas. Tinha visitado o mundo inteiro, falado com líderes de toda a parte do mundo, aprendido, autodidata que é.
Assumiu o governo numa situação crítica.
Vou ler alguns números, caro senador [Paulo] Paim [PT-RS].
Vou ler alguns números, caro senador presidente Sérgio Souza [PMDB-PR]:
O PIB brasileiro de 2002, quando o PT chegou ao governo, quando Lula assumiu, era de US$ 500 bilhões.
E o PIB brasileiro de 2012 – contabilidade fechada, caro senador Paim –, de US$2,6 trilhões!
Isso é trabalhar pelo Brasil. Isso é mudar o Brasil.
Vou repetir, pode que quem esteja me ouvindo pela Rádio Senado ou assistindo ao meu pronunciamento pela TV Senado não compreenda: o PIB brasileiro, antes de o PT chegar ao governo, era de 500 bilhões de dólares, depois de oito anos do governo do PSDB. E, agora, no ano passado, fechou em 2,6 trilhões de dólares!
Alguém pode dizer: “Ah, mas esse é um número abstrato, não atingiu os brasileiros!” Vamos ao PIB per capita, dividir o PIB por cada brasileiro. Em 2002, o referido PIB era de US$ 2,8 mil, senador Paim. Em 2012, depois de 10 anos de governo do PT, US$ 13.300!
Isso não é mudança?
Ambos foram multiplicados por cinco em dez anos, graças à dedicação de um governo que cometeu falhas, que falhou em vários aspectos, mas que avançou e hoje é parte da história de mudanças do nosso país.
O Brasil, com o governo dos presidentes Lula e Dilma, atraiu a atenção do mundo inteiro. É um dos poucos governos do mundo que conseguiu conciliar crescimento econômico com distribuição de renda.
Eu queria me referir agora, na véspera da comemoração: hoje, a presidenta Dilma lançou um programa – mais um programa –, um programa de erradicação da miséria, cuja primeira etapa ela já havia feito, agora faz a etapa final. Para o nosso governo, quem vive com menos de R$ 70 por mês, senador Sérgio Souza, está abaixo da linha da pobreza, está na miséria, e considera-se pobre quem ganha de R$ 70 a R$ 140 por mês.
A presidenta Dilma entende que há 700 mil famílias que ainda precisam sair da linha da extrema pobreza, e hoje adotou medidas. Foram medidas emocionantes.
Um discurso do governador [de Sergipe, Marcelo] Déda, colega, companheiro nosso, emocionante, cheio de substância.
Hoje, vi aqui o próprio senador Cristovam [Buarque, do PDT-DF] falando que a presidenta Dilma teve o mérito de escolher o título “País rico é país sem pobreza”.
E foi dito lá que nunca se viu slogan de governo que leve em conta um conceito, uma definição como essa. E será feita a busca ativa, não são as pessoas que estão na miséria que vão se inscrever, são os governos, os parceiros estaduais e municipais.
Estava lá o governador [do Acre] Tião Viana, que tem um compromisso, que tem uma determinação, como médico, como ser humano, de erradicação da pobreza, da miséria também no nosso Acre, que também tem mudado junto com o Brasil. Estava lá o Tião, estabelecendo e repactuando seus compromissos de enfrentar a extrema pobreza em nosso país.
Os números são fortes: 22 milhões de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza, ganhando menos do que o necessário para viver dignamente. Os Estados Unidos, maior economia do mundo, têm 50 milhões fora do sistema de saúde. O número de miseráveis nos Estados Unidos está aumentando. O número de pobres e extremamente pobres e miseráveis na Europa está aumentando. E o Brasil, hoje, o governo da presidenta Dilma, disse: “Nós estamos assumindo o compromisso, tomando a decisão política de erradicar a miséria em nosso País, a extrema pobreza”.
Vou seguir lendo alguns números e vou ficar curioso, porque acho que temos aí um bom debate daqueles que já governaram o país com aqueles que governam o país. Este é um debate que interessa ao Congresso e ao povo brasileiro: dar transparência ao país de hoje e ao país de ontem.
Índice de Crescimento da Atividade Econômica: 2002, 100%; agora, em 2011, 140%. São dados do Ministério da Fazenda e do Banco Central, senhor presidente.
Vamos pegar números, senador Paim!
Produção de automóveis: quando eles saíram do governo, o Brasil produzia 1,8 milhão de unidades de automóveis (um milhão e oitocentos mil automóveis por ano). Agora, [o país] produz 3,4 milhões de automóveis por ano. É o sexto maior produtor do mundo! Isso em 10 anos.
Vou passar mais…
Vamos falar de agricultura. São números! A produção agrícola era de 96 milhões de toneladas, em 2002, quando assumimos o governo. Agora, no ano passado, em 2011, foram 163 milhões de toneladas, sendo que o recorde será quebrado neste ano.
Alimentos. O Plano Safra recebia, senhor presidente, R$ 24 milhões – Vossa Excelência que defende tanto a produção de alimentos no País – em investimentos (Plano Safra, em 2002). Agora, em 2012, R$ 107 milhões em investimentos para a produção de alimentos no país.
Isso não é mudança?
Certamente, nossos opositores não vão trazer esses números. Mas posso andar um pouquinho mais: a taxa de investimento sobre o PIB era de 16% em 2002; agora é 20%.
Quero passar aqui, rapidamente, alguns números.
Investimento estrangeiro em nosso país, senador Paim, US$ 16 bilhões, em 2002, quando recebemos o país. Agora são US$ 66 bilhões por ano. A inflação: o IPC era de 12%; agora, 5.8%.
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Um pouco mais de tempo, senhor presidente.
O desemprego era compatível com o sofrimento da Europa de hoje e maior do que o dos Estados Unidos: 13% o desemprego quando assumimos o governo; agora temos 4,7%. É pleno emprego. Em boas regiões do país é pleno emprego.
Estou concluindo, senhor presidente, porque voltarei a este tema ainda mais à frente.
O salário mínimo, caro senador Paim – Vossa Excelência que é um lutador dia e noite neste país por mais respeito aos trabalhadores, por maior ganho para os aposentados, para quem acorda de madrugada, na labuta, que, em sua maioria, ganha um salário mínimo –: no governo deles, que nos criticam hoje, era de R$ 200. Em 2012, o salário mínimo era de R$ 622, um ganho real de 66%. O salário mínimo neste país não tinha ganho real, tinha perda real.
(Interrupção do som.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Concluo, senhor presidente, falando os números finais de pessoas, porque para falar de desenvolvimento no país tem-se que falar de rosto, de pessoas.
Em 2002, o Brasil tinha 26,7% de sua população, senador Aníbal [Diniz, do PT-AC], na Classe E, o povo na miséria. Quarenta e seis milhões de brasileiros viviam na miséria. Agora são 28 milhões, que fazem parte do Programa de Exclusão. São 12%. Saiu de 26% para 12%.
A classe C, a classe média, em 2002, correspondia a 37% da população – 67 milhões de brasileiros na classe C. Agora, 50% da população brasileira estão na classe média, com 95 milhões de brasileiros mudando de classe.
(Interrupção do som.)
JORGE VIANA (PT-AC) – Então, queria dizer também que foi cobrado mais investimento em educação, em tecnologia.
Eis alguns números: matrículas no ensino profissional, saíram de 500 mil para 1 milhão de matrículas no ensino profissional no nosso país. Bolsa de mestrado e doutorado fora do Brasil: CNPq e Capes, eram 35 mil bolsas por ano. Agora são mais de 100 mil bolsas por ano.
Com a complacência do presidente, para concluir, gostaria de poder ouvir, mesmo que fosse por menos de 1 minuto, o senador Anibal. Título de doutorado, senador Anibal, em 2002: 6 mil brasileiros com título de doutorado. Em 2012, 13 mil brasileiros. Nós dobramos.
Esses são números de um governo que não concluiu o seu trabalho, estão em curso as mudanças.
Temos problemas sim, mas temos também o que celebrar nesses 10 anos. Por isso, com muita satisfação, vou a São Paulo amanhã agradecer ao presidente Lula pelos oito anos, agradecer à presidente Dilma pelos dois anos, celebrar com os governadores estaduais – no caso, com o Tião e outros – as conquistas. Mas renovar o nosso compromisso porque dá para fazermos ainda mais pelo nosso país, principalmente tendo em vista que muito já foi feito. Senador Anibal.
Anibal Diniz (PT-AC) – Senador Jorge Viana, quero fazer aqui um reconhecimento da qualidade deste pronunciamento porque ele dá uma resposta bem clara, bem eloquente do quanto os governos da presidenta Dilma e do presidente Lula foram e estão sendo melhores do que os oito anos do Fernando Henrique, por todos os aspectos que a gente possa analisar.
Então, a afirmação que a gente pode fazer, concluindo o conjunto de números apresentados por Vossa Excelência, é que o Brasil de Lula e o Brasil de Dilma são muito melhores do que o Brasil de Fernando Henrique Cardoso. Em que pese a oposição querer maquiar essa discussão, eu acho que Vossa Excelência está de parabéns por fazer a discussão no nível em que ela tem que acontecer, com números, com resultados. E esses números não deixam dúvida de que nós temos muito a comemorar pelos 10 anos de Partido dos Trabalhadores, partidos aliados, presidente Lula e presidenta Dilma à frente do nosso Brasil. Parabéns!
JORGE VIANA (PT-AC) – Eu agradeço o aparte de Vossa Excelência. Só queria, concluindo, dizer que é claro que nós seguimos com grandes desafios de infraestrutura aeroportuária, infraestrutura de energia, rodoviária. Nós temos muito que investir em ciência e tecnologia, em educação, em melhoria da área de segurança e de saúde. É óbvio! Mas nós temos que reconhecer que já demos muitos passos adiante.
Eu queria aqui, concluindo, porque, como eu falei, vou voltar a este tema, dizer que as críticas dos opositores são bem-vindas, mas eu gostaria muito que o senador Aécio viesse aqui amanhã e apresentasse um projeto da oposição, alternativo ao nosso, que tão bem foi executado pelo presidente Lula e segue sendo executado pela presidenta Dilma. Só isso.
O Brasil ficaria melhor se nós vivêssemos uma situação desta: um debate sobre alternativas de desenvolvimento para o país.
Se algum partido político tiver um projeto melhor que o nosso, de crescimento econômico do país, com inclusão social, de transformação do nosso país, é óbvio que esse debate nos interessa. Mas vir aqui, sem autoridade de quem já foi governo, só se for omitir o governo deles… Se for para omitir o governo deles, aí é óbvio que dá para fazer qualquer crítica.
É nesse sentido que, respeitosamente, eu me antecipo ao colega senador Aécio Neves dizendo que vou esperar para ver os 13 pontos negativos de cobrança que ele certamente trará – pelo menos é o que eu tenho lido na imprensa – e vamos aqui colocar a realidade, com números, com dados consistentes, estatísticos, oficiais, para que a gente possa fazer a devida comparação e, respeitando todos os que nos acompanham, a gente possa ter um debate sobre o país que queremos, o país que merecemos ter e o país que o povo brasileiro quer ter: um país com crescimento econômico, sem miséria, porque não existe país rico com a presença de uma população que viva na miséria.
País rico é país sem pobreza. Esse é o slogan que temos de repetir, porque ele nos ensina e nos faz assumir compromissos no combate à pobreza e à miséria extrema, como fez, hoje, de maneira nobre, a presidenta Dilma.
Muito obrigado, senhor presidente”.
terça-feira, fevereiro 19, 2013
Os 12 Mandamentos do Esquerdista Moderno
Do http://www.socialistamorena.com.br/os-12-mandamentos-do-esquerdista-moderno/
I – Não ter o dinheiro como norte
II – Respeitar o próximo como a ti mesmo (não precisa nem amar, respeitar tá de bom tamanho)
III – Não roubar o povo
IV – Ser pacifista (violência, só contra a tirania)
V – Amar a natureza
VI – Ser contra o latifúndio, os transgênicos e o uso abusivo de agrotóxicos
VII – Não perder a capacidade de se indignar
VIII – Acreditar e lutar por direitos iguais para todos, independentemente de raça, credo, origem, condição social ou orientação sexual
IX – Ser consciente da dívida histórica com índios e negros e apoiar políticas de ação afirmativa
X – Ser um defensor intransigente da liberdade: de pensamento, de expressão, de culto, de ir e vir, cognitiva
XI – Ser a favor do estado laico
XII – Jamais se esquecer (ou se envergonhar) do que sonhava aos 20 anos de idade
Historiador conecta desinteresse dos EUA pela América Latina a avanços da região
Por Martín Granovsk
O historiador Erick Langer, diretor do Centro de Estudos Latino-americanos da Universidade de Georgetown, em Washington, comenta vários temas da história continental, como o populismo, a ascensão e as crises do neoliberalismo, as conexões das terras baixas com os Andes e a influência da China e dos EUA.
“Me parece muito interessante que o continente tenha mudado tanto na última década e tenha podido aproveitar, do ponto de vista econômico, uma grande mudança mundial: a maior presença chinesa”, afirma Langer.
Como, na sua opinião, a América Latina se aproveitou do contato com a China?
A China é um rival dos Estados Unidos que requer matérias-primas da América Latina. Isso contribuiu para que a região enfrentasse a crise em melhores condições. Não sem perigos, claro.
Qual será o perigo?
Que a América Latina não intensifique o processo de elaboração de matérias-primas e siga exportando commodities. É um desafio para todos os governos da região, sem exceções. A vantagem é que a partir de 2000 a América Latina em geral, e a América do Sul em particular, se libertou da dependência do modelo neoliberal dos Estados Unidos.
Como esse modelo afetava a região?
Criou um desassossego das classes médias e baixas em termos de distribuição da riqueza. Essa expressão não estava, evidentemente, no Consenso de Washington.
O documento do consenso exortando à desregulação e a desregulamentar a economia é de 1989. Não ficou nada?
Na região? Praticamente nada. É um fator positivo para a região.
Ou seja, o crescimento chinês é um elemento positivo e a queda do Consenso de Washington é outro ponto bom.
E acrescento um fator de peso: os Estados Unidos estão muito preocupados com o Oriente Médio e efetivamente não prestaram muita atenção à América Latina.
Os acadêmicos e os dirigentes políticos discutem sempre se isso é bom ou ruim. Alguns defendem que para a América Latina a situação é melhor quando Washington menos se ocupa dela.
Bom, em matéria política há um tema prático a considerar. Vai soar quase redundante – quando Washington se ocupa menos, a ingerência é menor. A maioria das vezes que os Estados Unidos se voltaram para outros lugares que não América Latina, como na Primeira Guerra Mundial, a região foi favorecida. Não dou o exemplo da Segunda Guerra Mundial porque o fenômeno é muito mais complexo. Mas depois de muitas vezes o problema foi que os governos do continente não foram aliados dos Estados Unidos, mas dependentes de Washington. Não é a mesma coisa. Os Estados Unidos tinham o poder de se impor. De impor, inclusive, um modelo que já não funciona. Barack Obama se deu conta disso, embora seu principal tema não seja a América Latina. E antes dele, George Bush também não estava concentrado na América Latina.
Quer dizer que é bom para a região que não haja uma dedicação especial?
Mas eu investigo a América Latina! Você quer que fique desempregado?
Professor, você compartilha a visão que mostra, do ponto de vista político, várias Américas do Sul situadas em extremos opostos?
Me parece que não há uma divisão tão taxativa porque os processos são muito semelhantes. Tomemos de novo em consideração algumas realidades. Antes os chineses pensavam na América do Sul como Chile, porque os chilenos haviam sido muito efetivos em se vender na China. Quer dizer que, em última instância, não foram tão diferentes como acabaram sendo os outros, não é certo? Na atualidade, a América do Sul tem uma realidade estável. É uma realidade comum. Mas também, com suas diferenças, o protesto é um hábito comum. Há protestos antigovernamentais, para além dos conteúdos, na Argentina, no Chile e no México. E dá a sensação de que às vezes é difícil classificar cada coisa como de direita ou de esquerda.
Você dizia que falar de esquerda ou de direita não esgota uma análise. E a noção de populismo o satisfaz como conceito?
Também não é suficiente. É muito difícil definir o que é populismo. Dito agora é diferente de quando um pesquisador o aplicava nos anos 30 ou 40, uma época muito ligada ao começo das etapas de substituição das importações industriais. Hoje pode haver experiências de substituição, mas a base sempre é a busca de um tipo de relação com a economia mundial. O que se poderia resgatar, e há uma herança muito longa de Juan Manuel de Rosas em diante, é a importância que um chefe político que seja um personagem carismático pode ter. Isto faz com que a política se torne muito personalista. Assim teríamos uma característica populista. De todo modo, a chave é se esse fenômeno transpõem ou não os limites da democracia. Enquanto a oposição possa ganhar (se o faz ou não, é outra questão) está tudo bem. Não falo apenas da Argentina. Acontece em todos os países.
Os opositores têm a mesma característica em todas as partes?
Não. Mas há um elemento comum: a oposição está muito desorganizada em todos os países onde há líderes fortes.
Há líderes fortes porque não há oposição organizada ou há oposição desorganizada pela existência de lideranças fortes?
O populismo tem uma virtude e uma desvantagem: abarca muitas correntes políticas. E essas diferentes correntes se manifestam no líder. A oposição, ao contrário, não tem muitos interesses em comum e então as diversas correntes não se unem.
Que outroa momentoa da América Latina o senhor presenciou, além do retorno de Perón ao governo argentino em 1973?
Fui bolsista da Fullbright em 2000. Fernando de la Rúa era o presidente. Vi a queda, com o “corralito” e o drama social. E depois se deu a extraordinária recuperação econômica que vocês experimentaram. De todo modo, hoje me parece que se deve observar muito a velocidade relativamente menor de crescimento da economia chinesa e avaliar se a América Latina é capaz de saltar para outro modelo que no futuro não a faça depender da venda de matérias-primas. Não sei se você sabe, quando conversam em privado, muitos dirigentes chineses equiparam a América Latina à África.
Em que se baseiam?
Nas perspectivas de utilização econômica. Eles não entendem as enormes diferenças. A América Latina é outro mundo, diferente da África. Mas muitos dirigentes chineses pensam assim.
Por que concordou em criar uma Cátedra Argentina em Georgetown?
O embaixador Jorge Argüello veio e me propôs. Me pareceu bem. Pensamos em estabelecer um espaço acadêmico porque nos parecia que a Argentina é um país sumamente importante da América Latina. A Cátedra Argentina será uma forma construtiva de colocar a Argentina em evidência para que as pessoas de Washington se deem conta da complexidade do país. Para melhorar as relações é necessário melhorar a difusão e o conhecimento. O desconhecimento cria problemas. É um projeto de longo alcance. Essa Cátedra Argentina deve durar muitos anos e não depender da administração política de turno. Por isso necessitamos de recursos. O próprio embaixador me dizia que ele queria que seguisse em frente. O Brasil ganhou um grande espaço em Washington. É lógico. O Brasil está crescendo e tem importância mundial. Mas há países tão importantes como o Brasil e nosso objetivo é enfatizar também a Argentina.
E a quem se direciona esse novo núcleo de estudo?
Os estudantes, evidentemente, e toda a comunidade acadêmica. Mas, mais amplamente, o conjunto de latino-americanistas, de especialistas em América Latina, e funcionários e dirigentes. Que conheçam mais e prestem mais atenção – é importante para manter boas relações na América Latina e no Cone Sul em geral.
* A entrevista foi realizada em setembro de 2012. Trechos datados foram suprimidos. A tradução é do Cepat
FONTE: Carta Maior
segunda-feira, fevereiro 18, 2013
Fortalecido pelas urnas, Correa quer institucionalizar 'revolução' no Equador
Presidente quer fazer com que as mudanças propiciadas por seus seis anos de governo – e as que virão no próximo mandato – não possam ser revertidas pelas elites em caso de derrota
Do Brasil Atual
Por: Tadeu Breda, enviado especial ao Equador
Rafael Correa, reeleito com 56,7% dos votos válidos, fica no poder até 2017 (Foto: Gary/Reuters)
Quito – Acabar com a pobreza no Equador, sim. Gerar emprego e crescimento econômico, também. Explorar com racionalidade os recursos naturais do país, claro. Todas essas promessas fazem parte do plano de governo do presidente Rafael Correa, que ontem (17) foi reeleito com 56,7% dos votos válidos para liderar os equatorianos até 2017. Mas o que ele quer mesmo é garantir a sobrevivência de sua revolução cidadã para além de sua próxima – e última – gestão à frente do Palácio de Carondelet.
"O desafio é tornar irreversível a mudança nas relações de poder que estamos construindo", declarou em coletiva de imprensa logo depois que as pesquisas de boca-de-urna apontavam sua massacrante vitória eleitoral já no primeiro turno. "Essa é a chave para o desenvolvimento." Correa avalia que a América Latina só não se desenvolveu até agora por causa das elites que a dominavam – e, em parte, continuam dominando. "São elites excludentes que sempre manejaram nossos países em função de seus próprios interesses e dos interesses das grandes economias capitalistas", define.
Por isso é que o presidente quer institucionalizar sua revolução cidadã. Mas, para tanto, esbarra numa barreira parcialmente intransponível: a pequenez de seu país frente ao concerto das nações. Daí que aposte todas as suas fichas na integração regional: quer que todos os países latino-americanos que atravessam momentos parecidos – Venezuela, Argentina, Bolívia, Uruguai e até mesmo o Brasil – abracem a causa de uma vez por todas.
"Assim nunca mais os grupos de poder poderão reduzir, condenar e submeter as grandes maiorias em função de seus interesses particulares", aposta. "Se cada um de nossos países negociar individualmente com o grande capital transnacional não conseguiremos impor as regras. Unidos, sim." Eis a importância da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). "A integração não é apenas um sonho elaborado pelos nossos libertadores no século 19: agora transformou-se num desejo e numa necessidade para enfrentar essa globalização tão cruel e desumana que enxerga as pessoas como consumidores, não como cidadãos."
Rafael Correa acredita que um ótimo indicador para saber quem manda num país – se as elites ou o povo – é a assignação de recursos públicos. Antes de seu governo, lembra, os subsídios oferecidos pelo Estado equatoriano se dirigiam a grandes banqueiros e empresários. Em 1983 e 1999 o país assistiu às maiores ajudas já concedidas pelo Estado a particulares – no caso, instituições financeiras que naufragavam em crises. "E a imprensa nunca criticava o governo por isso."
Agora, diz, os recursos têm se dirigido prioritariamente às áreas sociais, como saúde e educação, além de grandes obras de infraestrutura. Aliás, escolas, hospitais e estradas são palavras que estão na boca do povo quando perguntado sobre as principais realizações do governo – e também sobre os motivos que levaram à vitória do presidente. "Se vemos pra onde está indo o dinheiro, fica claro que nesta revolução, neste país, quem manda são os cidadãos, e já não mais o capital."
Mais que garantir-lhe um novo mandato, o triunfo esmagador de Rafael Correa acabou por consolidar de uma vez por todas seu projeto para o país. São propostas que, segundo define o próprio presidente, têm como objetivo colocar a economia a serviço dos seres humanos – e não o contrário, como ocorria até sua primeira vitória, em 2006. "Seguiremos priorizando saldar a dívida social do Equador antes da dívida externa", aponta. "Tudo isso sem esquecer de uma palavra que muitas vezes é deixada de lado pela esquerda: eficiência. Queremos caminhar mais rápido com a diminuição da pobreza e da desigualdade social."
Para tanto, Rafael Correa, à diferença do que acusa a oposição, não abre mão dos investimentos estrangeiros. Só que o presidente equatoriano tem seu conceito próprio do termo, que difere em muito das ideias neoliberais propaladas pelos adversários. "Eles não medem o investimento estrangeiro como criação de ativos fixos, novas fábricas, máquinas, empregos; medem como fluxo de capital", compara. O presidente é bem claro em dizer que os investimentos devem ser apenas um meio para a obtenção do fim último da economia: brindar bem-estar à população.
Por isso, ao ver seu Equador considerado pela Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe (Cepal) como país que mais tem avançado na redução sustentável da pobreza, Correa afirma estar seguro de que vai pelo bom caminho. "Já temos investimento estrangeiro, sobretudo chinês. Se vier mais, melhor. São muito bem-vindos. Só não vamos trocar o fim pelos meios, ou seja, hipotecar o bem-estar dos equatorianos, como se fazia antes."
Durante a entrevista, Rafael Correa aproveitou para comentar suas relações com a oposição e com a imprensa, que não tem sido das melhores – e, no que depender do presidente, continuarão iguais. Ficou muito claro que os próximos quatro anos serão de enfrentamento com aqueles que prezam pela "desonestidade" na hora de criticar o governo. E não importa se são de direita ou esquerda. "Eu sempre privilegiei princípios a ideologias", decretou. "A todas as pessoas de mãos limpas, mente lúcida e coração aberto pela pátria, digo que existem muito mais coisas que nos unem do que coisas que nos separam."
Nesse sentido, estendeu uma mão de diálogo ao candidato que ficou em segundo lugar nas eleições de domingo, com 23,3% dos votos: o ex-banqueiro Guillermo Lasso, do recém-criado partido Creando Oportunidades (Creo). "Finalmente se consolidou no país uma direita ideológica. Isso é ótimo, porque agora podemos debater ideologicamente", comemorou, antes de reconhecer que existe gente decente na direita – assim como canalhas na esquerda. "Acredito que um erro que cometeu Lasso foi aliar-se com as oligarquias políticas. Mas venham conversar. Jamais as portas estiveram fechadas."
Já com os meios de comunicação comerciais... Do mesmo jeito que diferencia a oposição "decente" e "desonesta", o presidente acredita que existe no Equador uma imprensa "responsável" e outra "manipuladora". Com esta última, não pretende mudar um só milímetro de seu tratamento. "Vamos continuar batalhando para mostrar quem é que manda no país, exatamente como fizemos até agora", sustentou. "Queremos uma imprensa honesta, jamais com censura prévia, mas sim com responsabilidade ulterior. É o que sempre pedimos. Uma boa imprensa é fundamental para a democracia assim como uma má imprensa pode ser mortal para essa mesma democracia."
Isso significa que o governo deve empenhar-se ainda mais pela aprovação da Lei de Comunicação, que foi elaborada pela Assembleia Nacional na gestão passada – e que está há mais de seis meses na geladeira esperando maioria para ir a plenário. O pulso forte do presidente não é gratuito. Rafael Correa tem plena convicção de que tanto a oposição como a imprensa mais hostis a seu governo engoliram uma belíssima derrota nestas eleições. "Aceitamos essa vitória com imensa gratidão e muita humildade, mas também com muita firmeza", comenta. "Ou transformamos o Equador agora ou não o transformaremos nunca. É uma oportunidade histórica para o povo equatoriano – e não iremos desperdiçá-la."
Comissão da Verdade quer ouvir Fiesp e Consulado americano sobre relações com ditadura
Eliane Patricia Cruz, da Agência Brasil
A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo pretende pedir explicações à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e ao Consulado dos Estados Unidos sobre possíveis relações entre as duas instituições e os serviços de repressão na época da ditadura militar. Indícios dessa ligação foram encontrados pela comissão em documentos do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Entre os documentos, há seis livros datados dos anos 70 do século passado que registram entradas e saídas de funcionários e visitantes do extinto Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em São Paulo, um dos órgãos de repressão da ditadura militar.
Segundo a comissão, nesses livros, foram encontrados registros de entradas de Geraldo Resende de Matos, cujo cargo é identificado como “Fiesp”, e do cônsul dos Estados Unidos na época, Claris Rowney Halliwell. Embora tenham restado poucos livros de registro de entrada e saída de tais órgãos nesses anos, os seis documentos encontrados no Arquivo Público “são eloqüentes e falam por si”, disse Ivan Seixas, membro da Comissão Estadual da Verdade, em audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo.
De acordo com ele, todos os que passavam pelo Dops eram identificados e registrados nos livros que mostraram, por exemplo, diversas entradas do cônsul americano ao local. Uma delas, no dia 5 de abril de 1971, coincide com a data de captura de Devanir José de Carvalho, o comandante Henrique, integrante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), que, levado para o Dops, foi torturado e morreu dois dias depois. O livro indica a entrada do cônsul, mas não a saída, o que faz supor que ele possa ter permanecido muito tempo no local. “O que esse cidadão diplomático fazia dentro do Dops, onde pessoas estavam sendo torturadas? É impossível que ele não tenha ouvido as torturas”, questionou Seixas.
Para ele, o cônsul americano participou “de alguma forma”. “Até por omissão, porque todo mundo ouvia as torturas, e não era tortura de um minuto, mas de horas a fio. Foram três dias seguidos de tortura do Devanir José de Carvalho. Nesses três dias, todo mundo ouviu [os gritos], inclusive nas redondezas. E essa pessoa [o cônsul] estar lá dentro, naquele momento, virando noite, enquanto o torturado agonizava, no mínimo ele foi omisso. O governo americano deve uma satisfação”, acrescentou.
Ivan Seixas informou que tanto a Fiesp quanto o Consulado dos Estados Undios vão receber ofício pedindo explicações sobre esses registros. A comissão fará o pedido de explicações, que será levado à Assembleia Legislativa e encaminhado às duas instituições. “Será um questionamento para saber quem são essas pessoas e o que faziam lá”, explicou. Seixas ressaltou que a reunião de hoje não era um ato público, mas sim “uma audiência públicam que tem conseqüências”.
“Esses documentos são apenas o começo. Eles têm muita informação, não é só a parte que foi exposta: ainda vão aparecer mais coisas. Estamos perguntando o que aconteceu, quem eram essas pessoas e o que faziam lá, mas já dá para concluir muitas coisas”, destacou Seixas, lembrando que a comissão analisa muitos outros documentos e depoimentos.
No caso de Geraldo Resende de Matos, a comissão observou que ele esteve no local centenas de vezes. Só entre os anos de 1971 e 1974, de acordo com os livros do período que foram encontrados, Matos esteve no Dops 124 vezes.
Todo o material que foi encontrado está em análise. A comissão admite a possibilidade de que surjam mais nomes de pessoas e de entidades com possível ligação com órgãos associados à repressão.
Para o diretor do Departamento de Preservação e Acervo do Arquivo Público do Estado, Lauro Ávila Pereira, embora os livros de entrada e de saída do Dops possam ser considerados de pouca importância, por não serem documentos sobre presos políticos ou sobre a repressão, eles constitutem documentação que, se for bem trabalhada, poderá mostrar – e está demonstrando – o envolvimento de diversos segmentos da sociedade civil no processo repressivo. “É um material que ficou guardado, sem tratamento arquivístico, e agora foi digitalizado e está disponível na internet na página do Arquivo do Estado”, disse Pereira.
No dia 1º de abril, o Arquivo Público vai lançar, na internet, a digitalização de mais de 850 mil documentos referentes à ditadura militar. “Há uma diversidade grande de documentos, todos eles do Dops de São Paulo. Há prontuários de presos políticos, dossiês temáticos, muitas fichas digitalizadas”, informou o diretor do Arquivo Público.
A Agência Brasil não conseguiu contatar na segunda-feira (18) o Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. Procurada, a Fiesp respondeu, em nota, que o nome de Geraldo Resende de Matos não consta de seus registros como membro da diretoria ou funcionário da entidade. “É importante lembrar que a atuação da Fiesp tem se pautado pela defesa da democracia e do Estado de Direito e pelo desenvolvimento do Brasil. Eventos do passado que contrariem esses princípios podem e devem ser apurados”, diz a nota.
Samuel Guimarães: Com o PT, política externa passou a focar interesses nacionais
Embaixador Samuel Guimarães (Foto: www.ptnacamara.org.br)
“A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados", afirma o embaixador.
A política externa brasileira sofreu uma guinada a partir do governo do PT. Desde 2003 o Brasil passou a implementar uma política altiva e soberana, com foco nos interesses nacionais, abandonando a postura subalterna aos interesses externos, em especial dos Estados Unidos, como ocorria no governo do PSDB (1995-2002). Essas mudanças foram abordadas pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty durante o governo Lula, em entrevista ao PT na Câmara. “A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados.”, disse. Ele falou também sobre temas como China, reação da oposição conservadora, “crise” capitalista etc. Veja um resumo da entrevista.
Oposição conservadora
Ao tomar posse, o presidente Lula afirmou que daria prioridade às relações do Brasil com os países da América do Sul, bem como daria ênfase também às relações com os países africanos.
A política externa anterior privilegiava as relações com os Estados Unidos de forma muito intensa e subalterna. O presidente FHC praticamente não visitou os países africanos.
No início do governo Lula os EUA prepararam a invasão do Iraque – uma invasão que procuravam justificar com documentos falsos, apresentados na tribuna da ONU pelo Secretário de Defesa norte-americano– e o Brasil se opôs a essa invasão, inclusive buscando se articular com França e Alemanha para que isso não ocorresse.
No caso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o governo anterior dizia, retoricamente, “vamos negociar e, no final, se não for bom, nós não aceitamos”. Isso não existe. Nas negociações internacionais, se você negocia é porque está chegando ao entendimento.
Outro exemplo foi a reunião dos países árabes com os países da América do Sul, que gerou uma irritação enorme na direita brasileira porque isso irritava o governo norte-americano.
E esses são apenas alguns poucos exemplos de ações contrárias à orientação da política externa anterior. A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados.
Relação com “fortes” e “fracos”
O centro da política externa brasileira é a América do Sul. Há uma enorme assimetria entre esses países – de território, de recursos naturais, de população e de capacidade produtiva – e isso torna muito delicadas as relações com os vizinhos. O presidente Lula sempre fez questão de dizer que o Brasil tinha relações de parceria com os países vizinhos, não de liderança. São relações caracterizadas pela generosidade, pelo reconhecimento de que o Brasil tem uma responsabilidade maior no processo de desenvolvimento da América do Sul, que nos interessa econômica e politicamente.
Durante todo o governo do presidente Lula houve grande reação dos partidos de direita, conservadores, reacionários, tradicionais, como se o Brasil devesse ter atitudes agressivas com os países vizinhos. No entanto, o que ocorreu foi justamente o contrário. Acertamos todas as questões relativas à Bolívia e a mesma coisa ocorreu com o Paraguai.
No governo Lula o Brasil decidiu realizar uma contribuição voluntária de 500 milhões de dólares ao Focem [Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul], que tem a ver com a redução das assimetrias, para a construção da linha de transmissão entre Itaipu e Assunção. Isso permitirá o desenvolvimento industrial do Paraguai e terá um impacto positivo para nós, mas foi criticado pela direita brasileira.
Outro indicador da mudança da política exterior é o fato de que os presidentes da América do Sul, quando eleitos, em vez de visitar os EUA , vêm visitar o Brasil. Isso não é à toa, significa o interesse nas relações políticas e econômicas com o Brasil, coisa que antes não ocorria.
Economia
A política externa do Brasil no governo do presidente Lula sofreu uma inflexão muito grande. Isso ocorreu nos mais diferentes campos de atuação do Brasil no exterior e se refletiu, por exemplo, na extraordinária ampliação do comércio com os países da América do Sul e, sobretudo, do Mercosul. E isso tem a ver com a produção industrial brasileira. As nossas exportações para esses países são, principalmente, de produtos industriais.
A ampliação e diversificação dessas relações comerciais, junto com o esforço para construir a infraestrutura dos países vizinhos, como a estrada bioceânica no Peru, a construção da linha de transmissão entre Itaipu e Assunção, o financiamento de gasodutos na Argentina, de estradas na Bolívia, tudo isso é importante e resulta em contratos com empresas brasileiras, o que significa empregos para as pessoas no Brasil.
Mercosul social
Pouco se fala disso, mas um trabalhador que trabalha em qualquer país do Mercosul pode acumular o tempo de serviço dele para fins de previdência social. E qualquer cidadão do Mercosul que venha morar fora do seu país de origem, após dois anos pode pedir a residência permanente. Com isso ele passa a ter todos os benefícios civis. Esses e outros são acordos importantes que beneficiam toda a população do Mercosul.
Defesa
O Conselho de Defesa Sul-Americano é um órgão muito importante no qual militares e civis dos países da América do Sul podem cooperar e aumentar o intercâmbio para treinamento de oficiais, e cria a possibilidade, no longo e médio prazo, de criarmos uma indústria de defesa dos países sul-americanos, para que as forças armadas desses países se abasteçam dentro da própria região. Isso, obviamente, contraria interesses muito fortes.
China X Brasil
Na China está se processando desde 1979 para cá um fenômeno extraordinário, com uma enorme migração de capital e de tecnologia proveniente dos países ocidentais. Isso transformou a estrutura da economia chinesa, que já havia, aliás, passado por transformações com governos anteriores, que criaram uma infraestrutura física, elevaram os níveis de educação da população e assim por diante.
Então esse processo – com taxas de crescimento em média de 10% ao ano – torna a China a segunda maior potência econômica, o principal país exportador e segundo maior importador do mundo. Isso tem um impacto grande nas economias americana, brasileira, na asiática e européia.
Esse novo pólo de crescimento capitalista tem uma característica: a China não tem os recursos naturais suficientes para este ritmo de crescimento. Mesmo com esse ritmo de crescimento médio de 10% ao ano, cerca de 900 milhões de chineses ainda estão fora da economia moderna. Então é um país que tem escassez de minérios e se torna um grande importador de todos os produtos necessários à indústria. Ao mesmo tempo, boa parte do seu território é desértico e montanhoso, o que gera uma concentração populacional muito grande na costa e na região leste. Além disso, eles têm problemas de água e de poluição, inclusive nos lençóis freáticos.
Em relação ao Brasil, são grandes importadores de minério de ferro e de soja, que vai, principalmente, para a alimentação do gado chinês, especialmente suíno. Então a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil em poucos anos, com superávit para nós. As exportações da China, vale destacar, não prejudicam apenas a indústria brasileira, mas também a dos Estados Unidos e a da Europa. Mas, ao mesmo tempo em que prejudicam a indústria, atraem capital para o setor primário, porque os investidores brasileiros e estrangeiros sabem que, se forem investir na indústria no Brasil, enfrentarão uma concorrência externa muito forte, principalmente da China, então a perspectiva de lucro é menor. Enquanto que, se forem investir na mineração ou na agricultura, sabem que têm, inclusive, o mercado chinês.
Também há o efeito no setor cambial, que também afeta o setor industrial, há o efeito de concentração de renda, por uma razão óbvia, pois tanto a mineração quanto a agricultura de exportação empregam pouca mão de obra, então esses enormes lucros que decorrem da exportação de produtos primários são altamente concentrados.
“Crise” capitalista
O sistema capitalista em geral não está em crise. O que está em crise são os centros tradicionais do capitalismo. A China é um sistema capitalista, assim como a Índia e o Brasil.
Os centros tradicionais sofrem com a competição e também porque os seus capitalistas foram investir na China, em vez de gerarem emprego nos Estados Unidos e na Europa, porque na China a margem de lucro é maior.
Do ponto de vista de uma empresa multinacional, é mais barato produzir na China – e depois exportar para os seus países de origem e para outros países.
E como também no Brasil a perspectiva de lucro é muito grande, isso tem atraído massas de investimento enormes e tem causado uma enorme penetração do capital estrangeiro, especialmente no setor de serviços, como na saúde, no comércio varejista, na educação e noutros, o que tem causado uma transformação na estrutura da propriedade da economia no Brasil.
PT na Câmara
“A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados", afirma o embaixador.
A política externa brasileira sofreu uma guinada a partir do governo do PT. Desde 2003 o Brasil passou a implementar uma política altiva e soberana, com foco nos interesses nacionais, abandonando a postura subalterna aos interesses externos, em especial dos Estados Unidos, como ocorria no governo do PSDB (1995-2002). Essas mudanças foram abordadas pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty durante o governo Lula, em entrevista ao PT na Câmara. “A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados.”, disse. Ele falou também sobre temas como China, reação da oposição conservadora, “crise” capitalista etc. Veja um resumo da entrevista.
Oposição conservadora
Ao tomar posse, o presidente Lula afirmou que daria prioridade às relações do Brasil com os países da América do Sul, bem como daria ênfase também às relações com os países africanos.
A política externa anterior privilegiava as relações com os Estados Unidos de forma muito intensa e subalterna. O presidente FHC praticamente não visitou os países africanos.
No início do governo Lula os EUA prepararam a invasão do Iraque – uma invasão que procuravam justificar com documentos falsos, apresentados na tribuna da ONU pelo Secretário de Defesa norte-americano– e o Brasil se opôs a essa invasão, inclusive buscando se articular com França e Alemanha para que isso não ocorresse.
No caso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o governo anterior dizia, retoricamente, “vamos negociar e, no final, se não for bom, nós não aceitamos”. Isso não existe. Nas negociações internacionais, se você negocia é porque está chegando ao entendimento.
Outro exemplo foi a reunião dos países árabes com os países da América do Sul, que gerou uma irritação enorme na direita brasileira porque isso irritava o governo norte-americano.
E esses são apenas alguns poucos exemplos de ações contrárias à orientação da política externa anterior. A reação da oposição conservadora, de direita, existe porque interesses poderosos estão sendo contrariados.
Relação com “fortes” e “fracos”
O centro da política externa brasileira é a América do Sul. Há uma enorme assimetria entre esses países – de território, de recursos naturais, de população e de capacidade produtiva – e isso torna muito delicadas as relações com os vizinhos. O presidente Lula sempre fez questão de dizer que o Brasil tinha relações de parceria com os países vizinhos, não de liderança. São relações caracterizadas pela generosidade, pelo reconhecimento de que o Brasil tem uma responsabilidade maior no processo de desenvolvimento da América do Sul, que nos interessa econômica e politicamente.
Durante todo o governo do presidente Lula houve grande reação dos partidos de direita, conservadores, reacionários, tradicionais, como se o Brasil devesse ter atitudes agressivas com os países vizinhos. No entanto, o que ocorreu foi justamente o contrário. Acertamos todas as questões relativas à Bolívia e a mesma coisa ocorreu com o Paraguai.
No governo Lula o Brasil decidiu realizar uma contribuição voluntária de 500 milhões de dólares ao Focem [Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul], que tem a ver com a redução das assimetrias, para a construção da linha de transmissão entre Itaipu e Assunção. Isso permitirá o desenvolvimento industrial do Paraguai e terá um impacto positivo para nós, mas foi criticado pela direita brasileira.
Outro indicador da mudança da política exterior é o fato de que os presidentes da América do Sul, quando eleitos, em vez de visitar os EUA , vêm visitar o Brasil. Isso não é à toa, significa o interesse nas relações políticas e econômicas com o Brasil, coisa que antes não ocorria.
Economia
A política externa do Brasil no governo do presidente Lula sofreu uma inflexão muito grande. Isso ocorreu nos mais diferentes campos de atuação do Brasil no exterior e se refletiu, por exemplo, na extraordinária ampliação do comércio com os países da América do Sul e, sobretudo, do Mercosul. E isso tem a ver com a produção industrial brasileira. As nossas exportações para esses países são, principalmente, de produtos industriais.
A ampliação e diversificação dessas relações comerciais, junto com o esforço para construir a infraestrutura dos países vizinhos, como a estrada bioceânica no Peru, a construção da linha de transmissão entre Itaipu e Assunção, o financiamento de gasodutos na Argentina, de estradas na Bolívia, tudo isso é importante e resulta em contratos com empresas brasileiras, o que significa empregos para as pessoas no Brasil.
Mercosul social
Pouco se fala disso, mas um trabalhador que trabalha em qualquer país do Mercosul pode acumular o tempo de serviço dele para fins de previdência social. E qualquer cidadão do Mercosul que venha morar fora do seu país de origem, após dois anos pode pedir a residência permanente. Com isso ele passa a ter todos os benefícios civis. Esses e outros são acordos importantes que beneficiam toda a população do Mercosul.
Defesa
O Conselho de Defesa Sul-Americano é um órgão muito importante no qual militares e civis dos países da América do Sul podem cooperar e aumentar o intercâmbio para treinamento de oficiais, e cria a possibilidade, no longo e médio prazo, de criarmos uma indústria de defesa dos países sul-americanos, para que as forças armadas desses países se abasteçam dentro da própria região. Isso, obviamente, contraria interesses muito fortes.
China X Brasil
Na China está se processando desde 1979 para cá um fenômeno extraordinário, com uma enorme migração de capital e de tecnologia proveniente dos países ocidentais. Isso transformou a estrutura da economia chinesa, que já havia, aliás, passado por transformações com governos anteriores, que criaram uma infraestrutura física, elevaram os níveis de educação da população e assim por diante.
Então esse processo – com taxas de crescimento em média de 10% ao ano – torna a China a segunda maior potência econômica, o principal país exportador e segundo maior importador do mundo. Isso tem um impacto grande nas economias americana, brasileira, na asiática e européia.
Esse novo pólo de crescimento capitalista tem uma característica: a China não tem os recursos naturais suficientes para este ritmo de crescimento. Mesmo com esse ritmo de crescimento médio de 10% ao ano, cerca de 900 milhões de chineses ainda estão fora da economia moderna. Então é um país que tem escassez de minérios e se torna um grande importador de todos os produtos necessários à indústria. Ao mesmo tempo, boa parte do seu território é desértico e montanhoso, o que gera uma concentração populacional muito grande na costa e na região leste. Além disso, eles têm problemas de água e de poluição, inclusive nos lençóis freáticos.
Em relação ao Brasil, são grandes importadores de minério de ferro e de soja, que vai, principalmente, para a alimentação do gado chinês, especialmente suíno. Então a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil em poucos anos, com superávit para nós. As exportações da China, vale destacar, não prejudicam apenas a indústria brasileira, mas também a dos Estados Unidos e a da Europa. Mas, ao mesmo tempo em que prejudicam a indústria, atraem capital para o setor primário, porque os investidores brasileiros e estrangeiros sabem que, se forem investir na indústria no Brasil, enfrentarão uma concorrência externa muito forte, principalmente da China, então a perspectiva de lucro é menor. Enquanto que, se forem investir na mineração ou na agricultura, sabem que têm, inclusive, o mercado chinês.
Também há o efeito no setor cambial, que também afeta o setor industrial, há o efeito de concentração de renda, por uma razão óbvia, pois tanto a mineração quanto a agricultura de exportação empregam pouca mão de obra, então esses enormes lucros que decorrem da exportação de produtos primários são altamente concentrados.
“Crise” capitalista
O sistema capitalista em geral não está em crise. O que está em crise são os centros tradicionais do capitalismo. A China é um sistema capitalista, assim como a Índia e o Brasil.
Os centros tradicionais sofrem com a competição e também porque os seus capitalistas foram investir na China, em vez de gerarem emprego nos Estados Unidos e na Europa, porque na China a margem de lucro é maior.
Do ponto de vista de uma empresa multinacional, é mais barato produzir na China – e depois exportar para os seus países de origem e para outros países.
E como também no Brasil a perspectiva de lucro é muito grande, isso tem atraído massas de investimento enormes e tem causado uma enorme penetração do capital estrangeiro, especialmente no setor de serviços, como na saúde, no comércio varejista, na educação e noutros, o que tem causado uma transformação na estrutura da propriedade da economia no Brasil.
PT na Câmara
sábado, fevereiro 16, 2013
O documentário “A guerra que você não vê” publicado em 14 de fevereiro de 2013 às 8:43
sugerido pelo Jair de Souza, que legendou em português
A distribuição da renda dez anos depois
Da Carta Capital
João Sicsú
Após dez anos de governos do PT, pode-se detectar uma importante melhora no perfil da distribuição da renda no País. Não vivemos em nenhum paraíso. Muito longe disso. Mas, em contrapartida, a situação é muito melhor que a do final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Fonte: SCN/IBGE
O índice de Gini foi reduzido. Este índice mede a distribuição da renda e varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade e quanto mais próximo de zero, maior a igualdade. O Gini brasileiro caiu de 0,585, em 1995, para 0,501, em 2011. Contudo, este é um número que ainda está distante dos índices de países tais como França (0,308) ou Suécia (0,244).
No início dos anos 1960, o Brasil possuía um Gini inferior a 0,5. Entretanto, os governos militares (1964-1985) adotaram um modelo de crescimento econômico com concentração de renda. O Gini subiu. Em meados dos anos 1990, com a queda da inflação, o índice de Gini sofreu uma redução.
O índice de Gini é calculado com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE. Mais de 96% das rendas declaradas na Pnad correspondem às remunerações do trabalho e às transferências públicas. Sendo assim, a desigualdade medida pelo Gini/Pnad não é adequada para revelar a distribuição da renda entre trabalhadores, de um lado, e empresários, banqueiros, latifundiários, proprietários de imóveis alugados e proprietários de títulos públicos e privados, de outro. O índice de Gini não revela a participação das rendas do trabalho e do capital como proporção do Produto Interno Bruto (o PIB, que é o valor de todos os serviços e bens que são produzidos).
Além do Gini, é preciso analisar a distribuição funcional da renda: capital versus trabalho. O processo de desconcentração da renda que está em curso no Brasil vai além da redução do índice de Gini. Ocorre, principalmente, devido ao aumento da participação dos salários como proporção do PIB.
Fonte: IBGE
Houve uma trajetória de queda da razão salários/PIB de 1995 até 2003, quando caiu a um piso de 46,23% (incluindo as contribuições sociais dos trabalhadores e excluindo a remuneração de autônomos). A partir de então, houve uma inflexão na trajetória, que se tornou ascendente. O último dado divulgado pelo IBGE é de 2009. Neste ano, a participação dos salários alcançou 51,4% do PIB superando a melhor marca do período 1995-2003, que foi 49,16%.
São variadas as causas do movimento positivo de aumento da participação dos salários no PIB. O rendimento médio do trabalhador teve um aumento real significativo entre 2003 e 2012. Houve um vigoroso aumento real do salário mínimo nos últimos dez anos. E houve redução dos juros pagos pelo governo aos proprietários de títulos públicos e redução dos juros cobrados das famílias pelos bancos.
O índice de Gini/Pnad e a participação percentual das remunerações dos trabalhadores no PIB são medidas complementares. Ambas representam dimensões da desigualdade e do desenvolvimento socioeconômico do país. As duas medidas mostram que o desenvolvimento socioeconômico brasileiro está em trajetória benigna desde 2003-4. Elas mostram também que no período anterior (1995-2003) as rendas do trabalho perdiam espaço no PIB para as rendas do capital.
A recuperação do poder de compra dos salários foi o principal pilar da constituição de um imenso mercado de consumo de massas que foi constituído no Brasil nos últimos anos. Foi a formação desse mercado que possibilitou ao Brasil sair apenas com pequenos arranhões da crise de 2008-9. O desenvolvimento econômico e social brasileiro depende, portanto, do aprofundamento do processo distributivo em curso. Não existirá desenvolvimento sem desconcentração de renda.
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
A nova inquisição espanhola: agora, são os bancos que imolam “hereges”
Do http://www.socialistamorena.com.br
- Pedro, 68, e Julita, 67, moradores de Calvià, Mallorca. Tomaram uma overdose de soníferos no dia 12 de fevereiro.
- Homem de 55 anos, morador de Alicante. Se enforcou em sua casa no dia 13 de fevereiro.
- Francisco Bretón, 36 anos, morador de Córdoba. Se atirou de seu apartamento no quarto andar no dia 8 de fevereiro.
- Homem não-identificado, morador de Málaga. Ateou fogo ao próprio corpo em plena rua no dia 2 de janeiro.
- Victoria Mesa, 52 anos, moradora de Málaga. Se jogou do balcão de seu apartamento em 14 de dezembro de 2012.
- Amaya Egaña, 53 anos, moradora de Baracaldo, País Basco. Se jogou da janela do quarto andar de sua casa em 9 de novembro de 2012.
- José Miguel Domingo, 54 anos, morador de Granada. Enforcou-se em casa em 25 de outubro de 2012.
- Jovem não-identificado, se jogou de uma ponte nas ilhas Canárias em 23 de outubro de 2012.
Como nos registros da Inquisição catalogados por José Saramago em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, as imolações se sucedem. A diferença é que agora não é a igreja, mas os bancos a cobrar as vidas dos “hereges”, condenados por não pagarem as hipotecas de suas próprias casas. Diante da realidade de que serão jogados na rua, optam pelo suicídio. Aqui é possível ver uma lista com os suicídios que chegaram ao conhecimento público. Podem ser muitos mais, já que existe uma tradição no jornalismo de não noticiar suicídios.
Em um recente congresso de psiquiatria na Espanha, informa o jornal El Mundo, se especulou que podem estar acontecendo nada menos que nove suicídios por dia relacionados à crise econômica. A maioria deles causados pelos despejos que ocorrem no país desde que estourou a bolha imobiliária que provocou o endividamento de milhões de espanhóis. De acordo com Stop Desahucios, entidade que representa os que estão prestes a ser desalojados de suas moradias pelos bancos, sedentos por cobrar juros e dividendos de famílias arruinadas, já aconteceram no país mais de 400 mil despejos de 2007 para cá. Só no ano passado foram mais de 180 mil. Atualmente, são 517 despejos por dia. É desesperador.
A situação chegou a um ponto que o governo neoliberal do PP resolveu liberar seus parlamentares para aceitarem uma petição popular contra os despejos, que está sendo apreciada no Congresso espanhol desde a última terça-feira 14. Mais de um milhão de assinaturas foram recolhidas para apresentar a petição, que propõe a suspensão dos despejos, moratória universal, quitação da dívida com a entrega do imóvel e criação de um parque de moradias para aluguel social mais amplo que o oferecido pelo governo. Os políticos do PP só cederam no último momento, justamente ao vir à tona o suicídio do casal de Mallorca. Quantos mais precisarão morrer para pôr fim a essa santa inquisição da grana?
E eu fico me perguntando: o que farão com todas essas casas e apartamentos vazios? Imóveis fantasmas de um país na bancarrota.
Capitalismo busca um novo "papado"
Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:
Passados cinco anos de implosão da ordem neoliberal, o sistema capitalista está longe de dizer 'habemus papam'.
Entre a austeridade imposta à Europa e a liquidez contracíclica dos EUA, seus cardeais ora parecem hesitar, ora ganhar tempo.
Nesta 4ª feira (13), os dois lados da crise transatlântica convergiram para um meio fio que os elucida mais que todas as palavras e aparências.
A ideia é criar um grande 'nafta' europeu/norte-americano, 'equivalente à metade da produção mundial' (leia a reportagem de nosso correspondente em Londres, Marcelo Justo).
Labirínticos acordos de eliminação recíproca de tarifas e outras formas dissimuladas de protecionismo (legislações sanitárias, por exemplo) terão que ser vencidos para o desfecho da crise redundar nessa imensa 'pátria grande dos livres mercados'.
A bandeira motivacional é defender ambas as margens do avanço implacável da concorrência chinesa.
Do ponto de vista social significa algo do tipo: façamos com o emprego, a indústria, a agricultura e os serviços aquilo que a concorrência oriental faria de qualquer jeito.
O relevante nesse aceno do consistório conservador é o fato de dobrar a aposta na mesma lógica que jogou a humanidade na pior crise desde os anos 30.
O papel reservado a governos e Estados no processo é o de sempre. E estrito: desregular, desbastar, escalpelar direitos, abrir espaços, pavimentar as free ways para o livre fluxo dos capitais e negócios.
E seja o que Deus quiser.
O combustível da corrida é o apetite canibal dos capitais, aguçado pela dieta da crise. Fusões e aquisições pipocam diariamente nos quatro cantos do planeta. O canibalismo é induzido pelas inovações tecnológicas assadas em fogo alto nos laboratórios das corporações, que tem escala e capital para isso.
De novo: 'e seja o que Deus quiser'.
Externalidades como o custo adicional em pobreza e desigualdade, ademais da soberania dos povos, ficam a cargo do poder de ajuste e convencimento dos respectivos centuriões locais.
Aécios Neves estão, como sempre estiveram, disponíveis nas mais remotas latitudes.
Sua caixa de ressonância midiática, idem.
Há poucos dias a banca europeia fechou a conta de seu desempenho em 2012: 55 mil demissões.
A pátria sem fronteiras dos acionistas aplaudiu.
Ajustes e aplausos equivalentes ocorrem em todas as áreas e nos diferentes pontos cardeais do planeta, mediante a exibição de números equivalentes.
A república dos dividendos gostaria que algo parecido acontecesse com a Petrobrás no Brasil. Cortes; redução drástica de conteúdo nacional nas encomendas; bombeamento maciço de óleo para exportação; zero de novas refinarias. E por aí afora.
Um feérico exercício de musculatura está em marcha urbi et orbi.
Dele emergirá o novo papado. A nova ordem pós-crise.
Não a dos cardeais europeus da fé ortodoxa; nem a dos discursos bonitos do cardeal Obama.
Mas a das corporações globais embaladas em acirrada disputa pelo controle dos mercados no pós-crise.
O efeito em cadeia dessa recomposição de massa muscular é imaginável.
Contrapor-se à modelagem unilateral do futuro requer alguns ingredientes estratégicos.
Facilita muito dispor de um mercado interno de massa, assim como de uma base industrial capaz de competir por um naco do século 21. Articulações regionais , como a do Mercosul e a da Unasul, idem.
Mas nada acontecerá sem um imperativo de desassombro político insubstituível: restituir algum nível de comando do Estado sobre a economia e o mercado.
A extensão dessa ordenação pública depende da equação política de cada sociedade
É o que o Brasil de Dilma, a Argentina, de Cristina, a Venezuela de Chávez e Maduro, a Bolívia e o Uruguai tentam implementar, de acordo com o acumulo de forças interno caso a caso.
Não é fácil.
Estados egressos de décadas de desmonte neoliberal não foram suficientemente regenerados.
Mesmo por que não se trata simplesmente de reeditar o estatismo autoritário.
É preciso ir além.
E criar espaços de socialização do planejamento público, possibilidade concreta sinalizada pelas conferências setoriais, realizadas no governo Lula.
Na realidade concreta, porém, improvisa-se.
Da mão para a boca; na tentativa de manter a cabeça fora d'água. E resgatar alguma capacidade de comando sobre o destino econômico e social.
Avanços e hesitações compõem a norma nessa corrida.
Um episódio resume todos os demais.
O governo Dilma acaba de redefinir a margem de retorno dos projetos de infraestrutura oferecidos à iniciativa privada.
O capital privado tem caixa e interesse em investir e o país necessita, visceralmente, desse investimento complexo de longo prazo.
O governo Dilma reajustou a taxa de retorno original considerada baixa pelo mercado.
Não renunciou à prerrogativa de planejar o país e definir os projetos prioritários a serem implementadas, ademais de fixar o seu prazo, a qualidade e a taxa de retorno correspondente.
Mas cedeu um percentual maior na remuneração do investimento.
Poderia ter feito diferente?
Poderia, em tese.
Por exemplo, ter confiscado o caixa ocioso das empresas com uma brutal taxação sobre a aplicação financeira.
Em teoria.
Na prática, a equação política permitiu outra solução: previamente o espaço de fuga do capital ocioso foi comprimido cortando-se significativamente a taxa de juros que serviria de abrigo confortável e seguro à liquidez e ao curto prazo.
O saldo é quase o mesmo, a um custo futuro maior de tarifa pública; a fricção política, menor.
Ambas as escolhas refletem os ares do mundo.
Vive-se uma corrida contra o tempo.
O governo Dilma não escapa ao tique-taque implacável dos ponteiros.
Ou o país desencadeia um novo ciclo de investimentos pesado com algum grau de racionalidade pública - o maior possível; ou a lógica selvagem das grandes corporações acabará modelando o futuro brasileiro no pós-crise.
A esquizofrenia midiática que acusa Dilma ora de intervencionista, ora de privatizante 'à la FHC', abstrai as variáveis estratégicas em jogo. Omite as implicações sociais distintas entre um desfecho e outro.
Na verdade, o papado de sua preferência é conhecido.
Abortado por Lula na primeira tentativa, quem sabe o país não pega o segundo bonde da 'nova grande nafta', preconizada pelos EUA e a UE como saída para a crise?
É esse o jogo de forças do consistório em marcha.
Diante dele os países em desenvolvimento tem que articular a sua melhor resistência, no menor tempo possível.
Ou serão asfixiados pela fumaça que anunciar o 'habemus papam' do novo ciclo.
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