Evaristo Almeida
Quando a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil resolveram baixar os juros, acompanhando o movimento do Banco Central que reduziu bastante a taxa básica, a velha mídia os atacou impiedosamente, dizendo que as instituições estariam sendo usadas politicamente, que iria aumentar a inadimplência com a conseqüentemente perda de valor dessas empresas e a volta da inflação. Os economistas de mercado, a maioria deles adestrados em universidades estadunidenses, foram amplamente ouvidos pela imprensa brasileira para atacar o governo. Até o presidente de um grande banco, disse não ser possível trabalhar num cenário de juros baixos.
Como diz o ditado, “o tempo é senhor da razão” e mostrou que a Presidenta Dilma Rousseff e a equipe econômica estavam certas. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por baixarem os juros em todas as linhas de crédito ganharam mercados dos bancos privados, que empossaram o crédito e não baixaram os juros na mesma proporção das instituições federais.
Os spreads bancários da CEF foram diminuídos em até 40%, levando ao crescimento dos financiamentos da Caixa Econômica Federal em 42% em 2012. Para 2013 estão previstos aumento de empréstimos em mais 35%.
Como conseqüência do aumento da carteira de crédito, o lucro aumentou 17%, com 6,1 bilhões apurados.
O Banco do Brasil aumentou a sua carteira de crédito em 24,9% em função da diminuição dos juros bancários e apurou um lucro de 12,2 bilhões em 2012.
Os bancos privados tiveram um crescimento modesto na carteira de crédito, de apenas 11,5% e esse resultado pode afetar os lucros dessas empresas em 2013, visto que trabalhamos com um cenário de juros baixos. Os economistas que trabalham nessas instituições, viciados em juros altos, levaram a tomada errada de decisão por parte da presidência dessas empresas.
Pelo visto os bancos privados no Brasil terão de se reinventar, pois se na década de 1980 eles foram moldados para faturarem com a inflação alta, nos anos 1990 e 2000 ganharam muito dinheiro com os maiores juros do mundo, os pagos no Brasil.
As instituições financeiras faturaram nas duas pontas, numa compravam títulos do governo federal, cujos juros chegaram a estratosféricos 45% ao ano em 1999 e na outra cobrando juros absurdos no cartão de crédito, cheque especial e em empréstimos. Na verdade ainda há muito espaço para queda de juros nessas linhas de crédito para o tomador final.
O governo federal abaixou os juros básicos para 7,25% ao ano, o que reduzirá o ganho das tesourarias dos bancos carregados em títulos públicos e a concorrência da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, que derrubaram o custo para o tomador de todas as linhas de financiamento, obrigará que as instituições financeiras tenham de ter obrigatoriamente uma carteira maior de empréstimos, para poder manter o faturamento. Inclusive terão de financiar a infraestrutura do país e a carteira imobiliária deles também ganhará importância.
Os bancos privados que reagiram irracionalmente contra a queda dos juros, pautando a velha mídia que fez o característico terror midiático, com os “palpiteiros econômicos” aqueles que aparecem como comentaristas, mas que são pagos para defender os interesses dos banqueiros, terão que se adaptar aos novos tempos. Estão investindo agora na volta da inflação e para isso estão gritando a plenos pulmões que ela vai voltar apesar do cenário futuro dizer que não.
País nenhum do mundo se desenvolveu com um sistema bancário viciado em juros altos como o nosso. São como parasitas num corpo sadio tirando toda a sua força.
Na verdade os juros altos penalizam a população brasileira que perdem nos dois lados da moeda. Primeiro quando pagam impostos e esses recursos vão para pagar juros escorchantes para as famílias mais ricas do país, fazendo uma inversão na distribuição de renda, ao invés de se transformarem em serviços públicos de qualidade. E segundo, quando compra qualquer bem a prestação ou fazem um empréstimo bancário e pagam na parcela um preço maior por causa dos juros embutidos nela.
Com o ambiente de juros baixos sobra mais dinheiro para o governo investir mais na educação, transportes, saúde, segurança e combate a miséria, pois paga menos aos mais ricos e banqueiros e os serviços públicos melhoram.
E quando o povo for comprar um bem financiado ou fizer um empréstimo, as prestações serão menores e sobrará mais dinheiro para comprar outras coisas, favorecendo o consumo e a produção.
O que se tem é que usando a velha cantilena de combate a inflação uma pequena parcela da sociedade brasileira, composta principalmente pelas vinte mil famílias mais ricas do país, foi amplamente beneficiada com o recebimento dos juros mais altos do mundo pagos no Brasil. Era uma bolsa família as avessas, pois tirava dos pobres e via pagamento de juros ia para os ricos.
Isso aumentou a desigualdade social, prejudicou os investimentos públicos, reduziu o crescimento econômico, o nível de emprego e a renda.
Manter os juros num patamar civilizado é essencial para o desenvolvimento social e econômico do Brasil e isso é possível como mostra a nossa experiência recente.
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