sábado, maio 15, 2010

A sub-elite brasileira: entreguismo e vassalagem

Evaristo Almeida

O Brasil nunca teve uma elite no sentido stricto sensu. Elite é a parcela da população que detém o poder político, econômico e ideológico e tem um projeto de nação. Como os japoneses que construíram um país a partir da Dinastia Meiji, os estadunidenses, que protegeram seus mercados para se desenvolverem, os coreanos que investiram pesado em educação.

No país, esse projeto só apareceu em épocas muito restritas, como as compreendidas entre os anos 1930 e 1964e assim mesmo incompleto. No passado, por força da colonização, sempre se atrelou os destinos do Brasil e do povo brasileiro à potência imperial dominante. Após a independência nosso país se uniu automaticamente á Inglaterra onde ficou até o século XX, substituindo esse país pelos Estados Unidos.

Perdemos por falta de um projeto de nação uma grande oportunidade histórica, com a independência do país. Deveríamos ter abolido a escravidão, universalizado a educação, implantado universidades e indústrias para que o país se modernizasse. Ao invés disso o império manteve o acordo com os latifundiários. que viviam do trabalho escravo, houve poucos avanços na industrialização e na educação.

Com a abolição da escravatura, de novo outra chance de desenvolvimento foi perdida, com a não incorporação da população negra ao país. Preferiram importar mão-de-obra européia. O Brasil deveria ter feito uma reforma agrária para que os negros tivessem terra, ter universalizado a educação e ter incentivado a industrialização, que já estava incipiente.

No período entre as décadas de 1930 e 1964, enfim o país implanta um projeto de nação. Indústrias são criadas, leis trabalhistas, universidades e uma consciência de nação. Mas não investimos pesado na educação e na luta contra a desigualdade social.

O golpe de 1964 barra essa força desenvolvimentista do país. As reformas de base, preconizadas no governo João Goulart, que previa reforma agrária e universalizar a educação, entre outras, poderia ter transformado o Brasil nesse período em desenvolvido. Foi o que fez a Coréia, implantado a reforma de base deles lá e se desenvolvendo. Aqui, por força dos Estados Unidos, condutor do golpe, aliados a civis reacionários e militares golpistas, impediram que o país se desenvolvesse.

Os militares então no poder, no período 1964 a 1985 implantaram um modelo de desenvolvimento subalterno. Não investiram maciçamente em educação. Não distribuíram terra e principalmente aumentaram a enorme desigualdade social no período.

Com a redemocratização e o pacto por cima, o Brasil, com a crise da dívida externa, por força do rearranjo feito pelos Estados Unidos, triplicando a sua taxa de juros, o país ficou à deriva. Todo nosso esforço foi para pagar a dívida externa. O Estado brasileiro ficou numa posição passiva perante o mundo e com uma inflação galopante.

Nesse período, por incrível que pareça houve grande avanço social, por força da criação do Partido dos Trabalhadores, da Central Única dos Trabalhadores, da Teologia da Libertação da Igreja Católica, com as Comissões Eclesiais de Base - CEB’s, Comissão Pastoral da Terá – CPT e Comissão Indigenista Missionária – CIMI. Também houve criação de outras centrais sindicais, o renascimento do Partido Comunista do Brasil – PC do B, o Partido Democrático Trabalhista - PDT, O Movimento dos Trabalhadores sem Terra - MST, o Movimento dos sem Teto, entre outras organizações sociais que conseguiram pautar as necessidades da população e lutar pelos seus direitos.

No período da redemocratização não emergiu nenhum projeto de nação. A inflação galopante destruía a renda do povo brasileiro. O projeto de nação ficou distante no governo Collor e foi destruído no período dos tucanos de 1995 a 2002.

Nesse período houve a entrega do patrimônio público aos interesses estrangeiros, fim de qualquer estratégia nacional de desenvolvimento social e econômico. O projeto era de fora para dentro. A política econômica foi pautada pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional.

O Brasil ficou do jeito que os Estados Unidos e os países desenvolvidos sempre sonharam. De quatro. Quebramos três vezes, desemprego e violência urbana aumentaram de forma exponencial. Abrimos mão de sermos nação e todas as nossas iniciativas vinham prontas de fora para dentro.


Foi nessa época que emergiu a sub-elite brasileira. Ela sempre existiu, mas com os PSDB eles puderam colocar em prática todos os seus programas. O conceito de sub-elite nesse artigo é o de parcela minúscula da população que detém o poder político, econômico e social, mas é vassala dos interesses estrangeiros no Brasil e não tem nenhum compromisso com esse país. Esse grupo não tem um projeto de desenvolvimento social e econômico. Ele se pauta pelo pensamento dominante das elites estadunidense, européia e japonesa.

Esse sub-grupo foi implantado em toda a América Latina, com Menen na Argentina, Fujimori no Peru, Carlos Salinas de Gortari no México, Pinochet no Chile,entre outros de menor expressão. Foi mais destrutivo do que as ditaduras implantadas pelos Estados Unidos no continente.

A grande imprensa brasileira foi o grande divulgador das ideias desse sub-grupo, visto que ela conjura ideologicamente e financeiramente com ele. Jornais como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, a revista Veja, as Organizações Globo, que agrega o jornal O Globo, a Rede Globo e a CBN, martelaram dia e noite que era preciso reduzir o Estado Brasileiro, privatizar, reduzir o salário do funcionalismo público, destruir a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Jogaram o Brasil numa das maiores crises sociais e econômicas, prometendo paraíso. É só consultar as publicações no período. A academia também foi afetada, com a implantação do pensamento neoliberal, que dava suporte intelectual à sub-elite brasileira.

Não houve nenhum projeto educacional, que melhorasse a qualidade da educação brasileira, quebraram a educação superior pública e a auto-estima dos brasileiros. As políticas implantadas foram trágicas, mas mesmo assim não fizeram mea culpa, pelo contrário continuam defendendo esse modelo.

Com o governo Lula houve a recuperação da nação. O Brasil cresceu, distribuiu renda, recuperou o respeito internacional e está construindo um projeto de nação, com desenvolvimento social e econômico. Todos os indicadores melhoraram, mais de vinte milhões de brasileiros deixaram a pobreza e trinta milhões entraram na classe média. Universidades públicas foram criadas. As empresas públicas nunca estiveram tão sólidas. Não só pagamos o FMI, como emprestamos para essa organização multilateral. Pagamos o Clube de Paris e o país avança para acumulara US$ 300 bilhões de divisas externas. O brasileiro hoje tem confiança no futuro. É um projeto biófilo, pois preserva a vida.

É óbvio que a sub-elite brasileira, por não possuir um projeto de nação e nenhum compromisso com o povo brasileiro, não está contente. Assim como a nação imperial que desaprova qualquer projeto soberano de país.

Querem o retorno da vassalagem do período do Fernando Henrique Cardoso. O projeto deles é representado por José Serra e agrega as forças mais reacionárias desse país, junto com os barões da grande imprensa.

Querem a volta do não-projeto de nação. Da passividade do povo brasileiro. É o projeto necrófilo, pois gera violência, desesperança e morte. O Estado de São Paulo é o exemplo acabado dele. Depois de 16 anos de governos tucanos e de Serra, o Estado está como um paquiderme inerte. A educação piorou, a violência aumenta a cada dia, não há projeto de desenvolvimento regional. E a imprensa finge que ele é o maior estadista que existe. Há a fábula do rei que está nu. O povo brasileiro precisa enxergar que criaram um simulacro de Serra. É só comparar a sua passagem pelo Ministério do Planejamento no governo FHC, da Saúde, prefeito e governador de São Paulo. É pura mediocridade.

O Brasil já perdeu várias chances de ser um país desenvolvido social e economicamente, com a Inconfidência Mineira, a Abolição, a Proclamação da República e o projeto implantado a partir dos anos 1930 e cerceado com o golpe de estado de 1964.

Temos uma nova oportunidade nesse ano de 2010. O povo brasileiro escolherá se quer um país soberano, ativo internacionalmente, com riqueza para todos os brasileiros, no projeto representado pelas forças progressistas, liderado pelo Partido dos Trabalhadores.

Ou se seremos uma colônia, nossas riquezas exploradas pelas transnacionais em detrimento dos brasileiros, aumento da miséria, violência, da passividade internacional. As forças que representam esse atraso são as mesmas que ajudaram a dar o golpe em 1964. A grande imprensa, interesses estrangeiros e partidos conservadores que representam a sub-elite brasileira. A mesma que vive dos juros fartos pagos pelo Estado, mas se diz amante do “estado mínimo”.

Não há meio termo. As esperanças nesse país foram construídas pelas forças populares e destruídas por essas que querem o passado e representam interesses exógenos. Aconteceu isso na cidade de São Paulo. O governo da Marta construiu a esperança e Serra destruiu os projetos emancipadores e hoje a cidade não tem luz própria.

O projeto que o Brasil está construindo é para o povo brasileiro ser a elite desse país e não para uma minoria, que quer por os grilhões novamente na nossa gente.

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