O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
quinta-feira, outubro 20, 2011
cegos que não querem ver
Do Tijolaço
No dia 22 de setembro, a vidente Miriam Leitão proclamava no BomDia, Brasil:
“Com o dólar em alta e mais pressão sobre os preços, a inflação deve subir mais. O gráfico abaixo fala por si: a moeda americana subiu 17% em 14 dias; ontem, mais de 4%. Em julho, estava em R$ 1,50; e agora, em R$ 1,86.
Ontem, bancos e consultorias começaram a enviar para seus clientes uma revisão total das previsões de inflação. Acham que, se continuar nesse nível, a inflação realmente estoura a meta este ano e está comprometida para 2012.”
Várias vezes a gente tem alertado aqui que, em lugar de análise econômica, temos em boa parte dos comentaristas econômicos algo que mais bem seria traduzido como terrorismo inflacionário.
Hoje saíram dois índices, de instituições respeitáveis: o IGP -2º decêndio, da Fundação Getúlio Vargas, e o IPCA-15 do IBGE. Os dois saem no meio do mês, mas refletem a variação de preços num período de 30 dias. Portanto, começaram a ser apurados justamente na época em que a D. Miriam previa que a inflação deveria “subir mais”.
Montei um gráfico do IGP-M duplo: mês a mês e acumulado em 12 meses, para que se tenha uma ideia mais precisa do que ocorre.
Fica evidente que há uma dupla incorreção no que diz a D. Miriam.
A primeira é a de que a inflação já não subia, embora estivesse – e está – acima do desejável. Dizer que que ela subia é como dizer que sobe um elevador cujo visor vai mostrando sucessivamente: 11, 10, 9….
A segunda, a de que iria “subir mais” por conta da alta do dólar. Já se disse aqui que só um tolo faz análise econômica com variações de curto prazo, desconhecendo tendências de maior escala. O mercado financeiro, que pode ser ganancioso – e o é, por definição – mas que não é tolo, jamais previu uma alta duradoura do dólar, e basta para isso consultar os boletins Focus, do Banco Central, que estão publicados na internet.
Mais de um vez se demonstrou aqui que o grosso da repercussão do dólar nos preços internos estava casado com o preço internacional das commodities e que este vinha numa trajetória de queda. Não há uma pessoa minimamente informada em economia que não o saiba e isso é demonstrável de uma maneira meridianamente clara e simples: se há uma desaceleração da economia mundial, a demanda por elas cai e o preço, idem. Não é mecânico, é verdade, mas é a linha de tendência.
E se, o que pode ou não acontecer (dependendo de décimos de centésimos nos índices de inflação de outubro, novembro e dezembro) o teto da meta inflacionária (6,5%) for ultrapassado, será por 0,01ou 0,02%. Irrelevante economicamente, óbvio.
Tudo seria uma simples manifestação de ignorância, que é um direito humano inegável a qualquer pessoa, se não fosse algo repetido ad nauseam nas redes de TV, rádio e num grande jornal como O Globo. Seu alcance torna este tipo de previsão catastrofista uma verdadeira ameaça, que impressiona muita gente e provoca milhares de pequenas decisões econômicas equivocadas, em geral de empreendedores modestos, que não contam com outros canais de informação e avaliação da economia.
E tudo isso é feito com tamanha arrogância e pretensão que chega a ser ridículo produzir erros deste tamanho e ainda terminar o texto dizendo: “O Banco Central não está atento a isso.”
Que a D. Miriam odeie este Governo, direito dela. Que a D. Miriam torça por inflação, direito dela. Que defenda a permanência de juros altos, que sangram o Tesouro em mais de R$ 250 bilhões por ano, direito dela.
Mas se trata os profissionais do Banco Central como energúmenos e irresponsáveis, incapazes de ver os dados reais da economia e se guiarem apenas por desejos políticos, deve também, ao ver suas previsões catastróficas darem com os burros n´água, conformar-se em ser julgada da mesma forma.
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