segunda-feira, janeiro 31, 2011

O Egito como estado “dos outros”: EUA, Israel e um punhado de novos ricos





Egypt’s Class Conflict

Posted on 01/30/2011

por Juan Cole, em seu blog

Na manhã de domingo havia sinais de que os militares egípcios estavam assumindo algumas funções de segurança. Soldados começaram a prender suspeitos de vandalismo, cerca de 450 deles.

O desaparecimento da polícia das ruas havia levado à ameaça de saques generalizados, o que agora está sendo enfrentado pelas forças militares regulares. Outros métodos de controle ficaram claros. O governo fechou o escritório da Al Jazeera no Cairo e tirou a licença para que os jornalistas da emissora trabalhassem lá, de acordo com mensagens no twitter. (A Al Jazeera não tinha sido capaz de transmitir diretamente do Cairo mesmo antes da decisão). O canal, baseado no Catar, é visto pelo presidente Hosni Mubarak como agente a serviço de enfraquecê-lo.

Por que o estado egípcio perdeu sua legitimidade? Max Weber distinguia entre poder e autoridade. O poder flui das armas e o estado egípcio tem uma grande quantidade delas. Mas Weber definia autoridade como a probabilidade de uma ordem ser obedecida. Líderes que tem autoridade não precisam atirar nas pessoas. O regime de Mubarak já atirou em mais de 100 pessoas nos últimos dias e feriu muitas outras.

Literalmente, centenas de milhares de pessoas ignoraram as ordens de Mubarak para observar o toque de recolher noturno. Ele perdeu sua autoridade.

A autoridade é baseda em legitimidade. Líderes são seguidos quando as pessoas concordam que eles tem alguma base legítima para sua autoridade e poder. Em países democráticos, a legitimidade vem das urnas.

No Egito, entre 1957-1970, a autoridade derivou do papel de liderança que os militares e as forças de segurança tiveram ao livrar o país da hegemonia ocidental. Aquele conflito incluiu enfrentar o Reino Unico para ganhar controle do canal de Suez (originalmente contruído pelo governo egípcio e aberto em 1869, mas comprado por quase nada pelos britânicos em 1875, quando as práticas bancárias ocidentais levaram o governo egípcio endividado à beira da bancarrota).

Também envolveu enfrentar as tentativas agressivas de Israel de ocupar a península do Sinai para representar interesses israelenses no canal de Suez. O líder revolucionário árabe Gamal Abdel Nasser (que morreu em 1970) conduziu uma grande reforma agrária, dividindo as gigantescas fazendas de estilo centro-americano e criando uma classe média rural. Leonard Binder argumentou que no fim dos anos 60 aquela classe média era a coluna do regime. O estado sob Abdel Nasser promoveu a industrialização e também criou uma classe urbana de empresários que se beneficiaram das construções encomendadas pelo governo.

A partir de 1970, Anwar El Sadat levou o Egito por uma nova direção, abrindo a economia e abertamente se aliando à classe empresarial multimilionária do ramo da construção. Esta estava em busca de investimentos europeus e americanos. Cansado das guerras sem resultado entre árabes e israelenses, o público egípcio deu apoio ao plano de paz de 1978 com Israel, que acabou com o ciclo de guerras com aquele país e abriu espaço para construir a indústria de turismo egípcia e o investimento ocidental nela, assim como ajuda financeira americana e europeia. O Egito se moveu para a direita.

Mas enquanto as políticas socialistas de Nasser levaram à duplicação dos salários reais no Egito entre 1960-1970, de 1970 a 2000 não houve desenvolvimento no país. Parte do problema foi demográfico. Se a população cresce 3% ao ano e a economia cresce 3% ao ano, o aumento per capita é zero. Desde cerca de 1850, o Egito e outros países do Oriente Médio tem tido um (misterioso) boom populacional.

As crescentes populações tornaram as cidades inchadas, já que tipicamente elas oferecem salários maiores que na zona rural, mesmo na economia informal (por exemplo, vendendo caixas de fósforo). Quase metade da população agora vive nas cidades e muitas vilas hoje se tornaram subúrbios das vastas metrópoles.

E assim a classe média rural, embora ainda importante, não serve mais como principal base de apoio ao regime. Um governo bem sucedido teria de ter um grande número de pessoas nas cidades ao seu lado. Mas lá, as políticas neoliberais exigidas pelos Estados Unidos de Hosni Mubarak desde 1981 não ajudaram. As cidades egípcias sofrem de alto índice de desemprego e de inflação relativamente alta. O setor urbano viu nascerem alguns multibilionários, mas muitos trabalhadores ficaram para trás. O enorme número de formados em escolas secundárias e universidades produzidos pelo sistema não encontra empregos à altura de sua educação e muitos nem conseguem emprego. O Egito urbano tem ricos e pobres, mas uma pequena classe média. O estado tenta cuidadosamente controlar os sindicatos, que quase nunca agem de forma independente.

O estado, assim, é visto como um estado para poucos. Sua velha base de classe média rural estava em declínio com a mudança dos jovens para as cidades. O estado está fazendo pouco para as classes trabalhadora e média urbanas. Uma classe de negócios ostentadora emergiu, altamente dependente de contratos e da boa vontade do governo — e se encontra nos hotéis de luxo de turismo. Mas as massas de formados na escola secundária e na universidade foram reduzidas a dirigir táxis e vender tapetes (quando conseguem esses bicos) e não se beneficiaram das taxas de crescimento no papel da última década.

O regime militar do Egito inicialmente ganhou legitimidade popular em parte por enfrentar a França, o Reino Unido e Israel entre 1956-57 (com a ajuda de Ike Eisenhower). Depois dos acordos de Camp David o Egito ficou de fora das grandes disputas do Oriente Médio e fez o que é visto como uma paz em separado. A cooperação do Egito com o bloqueio israelense de Gaza e sua aliança tácita com os Estados Unidos e Israel enfureceram politicamente os mais jovens, que já estavam economicamente frustrados.

A ajuda do Cairo aos Estados Unidos, por baixo do pano, com [a invasão do] Iraque e com a tortura de suspeitos de pertencer à Al Qaeda, é bem conhecida. Muito pouco desgosta tanto os egípcios quanto a guerra do Iraque e a tortura. O estado egípcio foi de ter uma ampla base nos anos 50 e 60 para ser capturado por uma pequena elite. Foi de um símbolo de luta por dignidade e independência diante do domínio britânico para ser visto como um cãozinho de estimação do Ocidente.

O fracasso do regime em se conectar com as crescentes classes urbanas (média e de trabalhadores) e sua incapacidade em dar emprego aos formados em universidades criaram as condições para os eventos da semana passada. Trabalhadores educados precisam de um estado legal para regular suas atividades econômicas e o governo arbitrário de Mubarak é visto como um atraso por eles. Embora a economia tenha crescido entre 5 e 6% na última década, o ímpeto governamental que houve para esse desenvolvimento permaneceu escondido — ao contrário da reforma agrária dos anos 50 e 60. Além disso, a renda ganha com o aumento do comércio foi para uma pequena classe de investidores. Por exemplo, desde 1991 o governo vendeu 150 das 314 empresas estatais, mas o benefício das vendas foi para um pequeno punhado de pessoas.

A crise econômica mundial de 2008-2009 teve um efeito devastador para os egípcios que já viviam precariamente. Muitos dos mais pobres enfrentaram a fome. Depois, a queda nos preços e nas receitas do petróleo fizeram com que muitos dos trabalhadores egípcios em outros países perdessem sua reserva econômica. Eles não puderam mais fazer as remessas de dinheiro para casa e muitos tiveram de voltar de forma humilhante.

O estado nasserista, com todos os seus problemas, teve legitimidade porque era visto como um estado para a massa dos egípcios, tanto fora quanto dentro do país. O atual regime é visto no Egito como um estado para os outros — para os Estados Unidos, Israel, França e Reino Unido — e é um estado para poucos — os novos ricos neoliberais.

O islã não é levado em conta nesta análise por não ser uma variável independente. Os movimentos islâmicos tem servido para protestar contra a ausência do estado diante de suas responsabilidades e para oferecer serviços. Mas eles são um sintoma, não uma causa. É por isso que a nomeação por Mubarak de militares para ocupar os cargos de vice-presidente e de primeiro-ministro não são suficientes em si para enfrentar a crise. Eles, como homens do Sistema, não tem mais legitimidade que o presidente — talvez até menos.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/o-egito-como-estado-dos-outros-eua-israel-e-um-punhado-de-novos-ricos.html

Egito: uma revolução de verdade

Por Robert Fisk, do The Independent. Publicado no Outras Palavras com tradução do Coletivo Vila Vudu

Pode ser o fim. Com certeza é o começo do fim. Em todo o Egito, dezenas de milhares de árabes enfrentaram gás lacrimogêneo, canhões de água, granadas e tiroteio para exigir o fim da ditadura de Hosni Mubarak depois de mais de 30 anos.

Enquanto Cairo mergulha em nuvens de gás lacrimogêneo das milhares de granadas lançadas contra multidões compactas, era como se a ditadura de Mubarak realmente andasse rumo ao fim. Ninguém, dos que estávamos ontem nas ruas do Cairo, tínhamos nem ideia de por onde andaria Mubarak – que mais tarde apareceria na televisão, para demitir todos seus ministros. Nem encontrei alguém preocupado com Mubarak.

Eram dezenas de milhares, valentes, a maioria pacíficos, mas a violência chocante dos battagi – em árabe, a palavra significa literalmente “bandidos” – uniformizados sem uniforme das milícias de Mubarak, que espancaram, agrediram e feriram manifestantes, enquanto os guardas apenas assistiam e nada fizeram, foi uma desgraça. Esses homens, quase todos dependentes de drogas e ex-policiais, eram ontem a linha de frente do Estado egípcio. Os verdadeiros representantes de Hosni Mubarak.

Num certo momento, havia uma cortina de gás lacrimogêneo por cima das águas do Nilo, enquanto as milícias antitumultos e os manifestantes combatiam sobre as grandes pontes sobre o rio. Incrível. A multidão levantou-se e não mais aceitará a violência, a brutalidade, as prisões, como se essa fosse a parte que lhe coubesse na maior nação árabe do planeta. Os próprios policiais pareciam saber que estavam sendo derrotados. “E o que podemos fazer?” – perguntou-nos um dos guardas das milícias antitumulto. “Cumprimos ordens. Pensam que queremos isso? Esse país está despencando ladeira abaixo.” O governo impôs um toque de recolher noite passada. A multidão ajoelhou-se para rezar, à frente da polícia.

Como se descreve um dia que pode vir a ser página gigante da história do Egito? Os jornalistas devem abandonar as análises e apenas narrar o que aconteceu da manhã à noite, numa das cidades mais antigas do mundo. Então, aí está a história como a anotei, garatujada no meio da multidão que não se rendeu a milhares de policiais uniformizados da cabeça aos pés e e milicianos sem uniforme.

Começou na mesquita Istikama na Praça Giza: um sombrio conjunto de apartamentos de blocos de concreto, e uma fileira de policias especializados em controle de tumultos que se estendia até o Nilo. Todos sabíamos que Mohamed ElBaradei ali estaria para as orações do meio dia e, de início, parecia que não haveria muita gente. Os policiais fumavam. Se fosse o fim do reinado de Mubarak, aquele começo do fim pouco impressionava.

Mas então, logo que as últimas orações terminaram, uma multidão de fiéis apareceu na rua, andando em direção aos policiais. “Mubarak, Mubarak”, gritavam, “a Arábia Saudita o espera”. Foi quando os canhões de água foram virados na direção da multidão – a polícia estava organizada para atacar os manifestantes, mesmo não sendo atacada. A água atingiu a multidão e em seguida os canhões foram apontados diretamente contra ElBaradei, que retrocedeu, encharcado.

ElBaradei desembarcara de Viena poucas horas antes, e poucos egípcios creem que chegue a governar o Egito – diz que só veio para ajudar como negociador –, mas foi atacado com brutalidade, uma desgraça. O político egípcio mais conhecido e respeitado, Prêmio Nobel, trabalhou como principal inspetor da Agência Nuclear da ONU, ali, encharcado como gato de rua. Creio que, para Mubarak, ElBaradei não passaria de mais um criador de confusão, com sua “agenda oculta” – essa, precisamente, é a linguagem que o governo egípcio fala hoje.

Aí, começaram as granadas de gás lacrimogêneo. Alguns milhares delas, mas algo aconteceu, enquanto eu caminhava ao lado dos lança-granadas. Dos blocos de apartamentos e das ruas à volta, de todas as ruas e ruelas, centenas, depois de milhares de pessoas começaram a aparecer, todas andando em direção à Praça Tahrir. Era o movimento que a polícia queria impedir. Milhares de cidadãos em manifestação no coração da cidade do Cairo daria a impressão de que o governo já caíra. Já haviam cortado a internet – o que isolou o Egito, do resto do mundo – e todos os sinais de telefonia celular estavam mudos. Não fez diferença.

“Queremos o fim do regime”, gritavam as ruas. Talvez não tenha sido o mais memorável brado revolucionário, mas gritaram e gritaram e repetiram, até derrotar a chuva de granadas de gás lacrimogêneo. Vinham de todos os lados da cidade do Cairo, chegavam sem parar, jovens de classe média de Gazira, os pobres das favelas de Beaulak al-Daqrour, todos marchando pelas pontes sobre o Nilo, como um exército. Acho que sim, são um exército.

A chuva de granadas de gás continuava sobre eles. Tossiam e esfregavam os olhos e continuavam andando. Muitos cobriram a cabeça e a boca com casacos e camisetas, passando em fila pela frente de uma loja de sucos, onde o dono esguichava limonada diretamente na boca dos passantes. Suco de limão – antídoto contra os efeitos do gás lacrimogêneo – escorria pela calçada e descia pelo esgoto.

Foi no Cairo, claro, mas protestos idênticos aconteceram por todo o Egito, como em Suez, onde já há 13 egípcios mortos.

As manifestações não começaram só nas mesquitas, mas também nas igrejas coptas. “Sou cristão, mas antes sou egípcio” – disse-me um homem, Mina. “Quero que Mubarak se vá!” E foi quando apareceram os primeiros bataggi sem uniforme, abrindo caminho até a frente das fileiras da polícia uniformizada, para atacar os manifestantes. Estavam armados com cassetetes de metal – onde conseguiram? – e barras de ferro, e poderão ser julgados e condenados por agressão grave e assassinato, se o regime de Mubarak cair. São pervertidos. Vi um homem chicotear um jovem pelas costas, com um longo cabo amarelo. O rapaz gritou de dor. Por toda a cidade, os policiais uniformizados andam em pelotões, o sol refletindo no visor dos capacetes. A multidão já deveria ter sido intimidada, àquela altura, mas a polícia parecia feia, como pássaros encapuzados. E os manifestantes alcançaram a calçada da margem leste do Nilo.

Alguns turistas foram colhidos de surpresa no meio do espetáculo – vi três senhoras de meia idade, numa das pontes do Nilo (os hotéis, claro, não informaram os hóspedes sobre o que estava acontecendo –, mas a polícia decidiu que fecharia a extremidade leste do viaduto. Dividiram-se outra vez, para deixar passar as milícias não uniformizadas, e esses brutamontes atacaram a primeira fileira dos manifestantes. E foi quando choveu a maior quantidade de granadas de gás, centenas de granadas, em vários pontos, contra a multidão que andava sem parar por todas as grandes vias, em direção cidade. Os olhos ardem, e tosse-se horrivelmente, até perder o fôlego. Alguns homens vomitavam nas soleiras das portas fechadas das lojas.

O fogo começou, ao que se sabe, noite passada, na sede do NDP, Partido Democrático Nacional, partido de Mubarak. O governo impôs um toque de recolher, e há relatos de tropas na cidade, sinal grave de que a polícia pode ter perdido o controle dos acontecimentos. Nos abrigamos no velho Café Riche, perto da Praça Telaat Harb, restaurante e bar minúsculo, com garçons vestidos de azul; e ali, tomando café, estava o grande escritor egípcio Ibrahim Abdul Meguid, bem ali à nossa frente. Foi como dar de cara com Tolstoi, almoçando em plena revolução russa. “Mubarak está sem reação!” – festejou ele. “É como se nada estivesse acontecendo. Mas vai, agora vai. O povo fará acontecer!” Sentamos, ainda tossindo e chorando por causa do gás. Foi desses instantes memoráveis, que acontecem mais em filmes que na vida real.

E havia um velho na calçada, cobrindo os olhos com a mão. Coronel da reserva Weaam Salim do exército do Egito, que saiu para a rua com todas as suas medalhas da guerra de 1967 contra Israel – que o Egito perdeu – e da guerra de 1973 que, para o coronel, o Egito venceu. “Estou deixando o piquete dos soldados veteranos” – disse-me ele. “Vou-me juntar aos manifestantes”. E o exército? Não se viram soldados do exército durante todo o dia. Os coronéis e brigadeiros mantêm-se em silêncio. Estarão à espera da lei marcial de Mubarak?

As multidões não obedeceram ao toque de recolher. Em Suez, caminhões da polícia foram incendiados. Bem à frente do meu hotel, tentaram jogar no rio Nilo um caminhão da Polícia. Não consegui voltar à parte ocidental do Cairo pelas pontes. As granadas de gás ainda empesteiam as margens do Nilo. Mas um policial ficou com pena de nós – emoção absolutamente inexistente, devo dizer, ontem, entre os policiais – e nos guiou até a margem do rio. E ali estava uma velha lancha egípcia a motor, de levar turistas, com flores plásticas e proprietário disponível. Voltamos em grande estilo, bebendo Pepsi. Cruzamos com uma lancha amarela, super rápida, da qual dois homens faziam sinais de vitória para a multidão sobre as pontes. Uma jovem, sentada na parte de trás da lancha, carregava uma imensa bandeira: a bandeira do Egito.

OBS: Enquanto isso boa parte da imprensa brasileira, inclusive o Jornal da Globo, chama o Mubarack de presidente! Eles agem a serviço dos Estados Unidos e como o Egito é vital para sustentar as pretensões estadunidenses no Oriente Médio, mesmo sendo um regime corrupto e ditatorial, sempre foi tratado pela imprensa ocidental como uma democracia. Quem define o que é democracia ou ditadura é o Departamento de Estados dos Estados Unidos, que pauta a imprensa ocidental, inclusive a brasileira, verdadeira vassala dessa ordem mundial.
E & P

Lula e sua herança




No poder o ex-operário realizou a maior ruptura nos últimos 80 anos da República. Por Wanderley Guilherme dos Santos

O balanço de Lula contraria os tradicionais compassos das transações correntes, balança comercial, taxas de câmbio e rubricas aparentadas. São números relevantes, sem dúvida, mas, tratados com interessada subserviência, servem como disfarces da realidade – ora apresentando como diferentes entidades semelhantes, ora pretendendo ser iguais a água e a vinho. Uma variação anual positiva de 6% do PIB, por exemplo, não quer dizer que o número total de pares de sapatos produzidos no ano foi 6% superior ao total produzido nos 12 meses anteriores, ou do total de geladeiras, aspirinas, preservativos e tudo mais. Alguns números reais corresponderiam a bem mais do que à porcentagem registrada, outros a bem menos, e ainda outros a exatos 6%, sem mencionar os números novidadeiros. Uns pelos outros é que desembocam nessa média. Trivial, mas fácil de esquecer e dócil a interpretações marotas.
O economista Fernando Augusto Mansor de Mattos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), calculou a taxa de variação do produto interno bruto brasileiro dividido pela população (PIB/per capita) nos últimos 60 anos, subdividindo o período por 14 mandatos presidenciais, acabados ou interrompidos, ditatoriais ou eleitos – de Getúlio Vargas/Café Filho a Lula I e II. Vista de longe,- parece que a história econômica do País reprisa sequências de picos e vales de crescimento, variando não mais do que o maior ou menor intervalo de tempo entre uma escalada e uma queda. Uma rotina, quase. E nada melhor que uma rotina para sugerir aos candidatos a cientistas da economia a existência de uma “lei da natureza”. Daí a se imaginar que abundância e escassez caem do céu e que todas as abundâncias se parecem não toma além de dois passos.
Mais um passo e alcançamos a tese rústica de que o governo Lula representou um prolongamento de governos anteriores, no que estes apresentaram de positivo, acrescido de bonançosos ventos internacionais. Virtude e acaso encarnados em sujeitos distintos, operando em tempos sucessivos, a tese excitaria o falecido Maquiavel. Pace Niccolò, a história não é bem essa.
O crescimento de 4,9%, em média, dos prometidos 50 anos em 5 do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek (1956-1960), único presidente progressista eleito a concluir mandato antes do golpe militar de 1964, e o melhor a partir de então entre os de inspiração liberal, em nada se parece aos 4,1% do Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, de Ernesto Geisel, cerca de 20 anos depois (1974-1978). Mais 30 anos passados, os modestos 3,5 de Lula II, em novo governo progressista legitimamente eleito, embora apontando ligeiro declive diante do pico JK, representaram a mais espetacular ruptura das últimas oito décadas da República. Mas a interpretação reduzida a números não ultrapassa o registro de que houve 0,8 ponto porcentual de diferença entre o PIB per capita de JK e o de Geisel, e que o de Lula ficou atrás de ambos (o modus faciendi democrático desaparece nos números). Em outras palavras, quem só vê porcentagens significantes não enxerga o conteúdo sendo significado, ignorando que, na economia, importante é o que está dentro dela, estúpido! – diriam os suecos.
Por exemplo: dentro da taxa média de crescimento do PIB/per capita de Lula II faltam números satisfatórios de aeroportos, rodovias, ferrovias e portos, justamente o que existe em abundância embutido nas taxas dos anos JK. Os “50 anos” recuperados “em 5” de Juscelino chegaram por via aérea ou recebidos em terminais rodoviários construídos às dezenas, acompanhando o ritmo de conclusão das estradas interestaduais planejadas pelos técnicos do então BNDE.- Nada a lembrar o irritante congestionamento atual de aeroportos e estradas, invadidos por passageiros de primeira ou segunda viagem e por motoristas calouros em fins de semana fora da cidade onde moram. Sem esquecer o crescente tempo de espera para desembarque das mercadorias importadas nos portos nacionais. Muitas das quais enviadas da China, com a qual – ninguém podia imaginar – praticamente não falávamos nos anos 50 do século XX. Enfim, os itens em atraso na composição do PIB de Lula I e II fizeram a glória do desfile do PIB estilo JK nos sorridentes anos dourados de meados do século passado. É bem verdade que nem todos sorriam, faltavam os dentes, mas isso fica para depois.
Segundo os conservadores, ou bem o Brasil crescia ou evitava a inflação. Escolha difícil, à falta de terceira opção, e JK, apoiado pelo País inteiro, escolheu crescer, enquanto outros, antes e depois dele, preferiram a estagnação. Perfilhou, inclusive, o desafio de transferir a capital da cidade do Rio de Janeiro para o Planalto Central. (Corre a lenda de que o escritor carioca, católico e engenheiro por formação Gustavo Corção – 1896-1978 –, autor do célebre romance Lições de Abismo, apostou contra a viabilidade civilizatória de Brasília, -assegurando que ela não teria condições de se comunicar nem telefonicamente com o resto do Brasil. Perdeu a aposta, é claro, e provavelmente teria apostado também contra a invenção do celular, jamais imaginando que tal artefato, se existisse, viesse a estar ao alcance de mais da metade da população brasileira em 2010 – cerca de 100 milhões de assinantes – quatro vezes superior ao número de celulares em circulação em 2003. Esta referência parentética destinou-se a ilustrar, com um item que de conspícuo transformou-se em básico, a rápida evolução recente do consumo em todas as rubricas típicas, como fogão, geladeira, televisão etc., consignadas pelos balanços usuais.)
Pois a tese da improbabilidade de crescimento econômico sem inflação era outro dos dogmas do período JK, adotado por todos os governos posteriores, o mesmo que se brandia à véspera do primeiro mandato de Lula. A ver as experiências históricas.
As entranhas do PIB juscelinista deram ganho de causa aos conservadores. As taxas de crescimento anual- da economia foram exuberantes: 1956 = 3,2; 1957 = 8,1; 1958 = 7,7; 1959 = 5,6; 1960 = 9,7. E não seria impróprio atribuir ao carry-over do período juscelinista parte da saborosa taxa de 10,3, em 1961, já no mandato de Jânio Quadros (Conjuntura Econômica, 1972, Separata: 25 Anos de Economia Brasileira, Estatísticas Básicas – FGV). Em contraposição, o índice de preços saiu de um patamar de aumento já elevado de 12,4%, em 1955, avançando a 24,4%, em 1956, e terminando o ano de 1959 com 39,5%, recorde desde o restabelecimento da democracia em 1945. Como de costume, o decreto 39.604-A, de 14 de julho de 1956, concedeu adicional de salário somente aos trabalhadores da indústria. Mais usual ainda, não houve reajuste salarial em 1957 ou em 1958 (Ibre/FGV, Índice de Preços Selecionados – Variações Anuais, 1946/1980).
A decomposição pelo avesso compromete um pouco o brilho do desempenho agregado dos indicadores econômicos de JK.
O oposto se dá com as taxas agregadas de aumento do PIB per capita de Lula I e II. Se mais modestas, elas revelam, contudo, a falsificação da tese hegemônica de que vigoroso crescimento econômico seria incompatível com taxas inflacionárias cadentes. Manutenção do poder de compra dos salários, então, segundo a ortodoxia republicana, nem pensar, sendo ademais delirante a hipótese de que, no Brasil, a economia suportaria aumentos reais na renda dos assalariados. Tentativas anteriores teriam conduzido o País ao limite da anarquia política e à desorganização das contas públicas (fortíssimos indícios, de acordo com as mesmas fontes midiáticas conservadoras e seus conselheiros, de planos sindicalistas revolucionários). Como se vê, não é tanto a história que se repete quanto à natureza e origem dos obstáculos que dificultam a sua progressão.
A avalanche de indicadores positivos durante o governo Lula soterrou o pessimismo.
A retomada do crescimento econômico veio acompanhada de inflação cadente e sob controle, acrescida de inédito aumento na massa de rendimento do trabalho. Em particular, o salário mínimo real dos empregos formais aumentou em 54%, entre 2002 e 2010, estendendo-se o número de trabalhadores com carteira assinada a mais de metade da população economicamente ocupada (Dieese: Política de Valorização do Salário Mínimo, in: Nota Técnica nº 86, São Paulo, 2010). Foram mais 15 milhões de brasileiros a obter empregos com direitos trabalhistas reconhecidos (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, novembro 2010). Naturalmente, também cresceu o número de assistidos pelo sistema da Previdência Social. A curva do desemprego, outro fantasma da excessiva prudência conservadora, apresentou uma evolução favorável, com taxas cadentes desde 2005 até o recorde favorável de 2010, quando a taxa de desocupação foi reduzida a 5,9% da população economicamente ativa.
Vale registrar que o desmonte das hipóteses econômicas sombrias se processou com crescente e pacífica participação nos assuntos públicos por parte de todos que o desejaram. Não houve qualquer repressão oficial a movimentos populares, opiniões ou manifestações políticas. Nenhum grupo social popular ou conservador teve cerceados ou amputados direitos de expressão pública. Ao contrário, entre 2003 e 2009, foram promovidas 59 conferências nacionais sobre os mais variados temas, com o envolvimento de mais de 4 milhões de pessoas, ademais da criação ou reorganização de 18 conselhos para tratamento de problemas históricos da população (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Caderno Destaques, novembro/dezembro de 2009, Brasília).
Ao contrário da anarquia prevista, a substituição de um sistema de valores e de práticas de perfil tradicionalmente elitista por uma orientação de governo comprometido com a promoção econômica, social e cultural da vasta maioria de trabalhadores brasileiros, em particular de suas camadas mais pobres, inaugurou um clima de temperatura política tolerante e cooperativa. São os extremos de dogmático espectro ideológico que, hoje, lastimam a redução na intensidade dos conflitos que, preveniam, seriam atiçados pelo governo Lula da Silva. O absoluto respeito por parte do Executivo às regras do jogo e às demais instituições do País – judiciárias, legislativas, estaduais – é um dos aspectos incluídos no reconhecimento que a população dispensou ao governo, em porcentagens acima até mesmo do apoio eleitoral que lhe deu.
A comoção que acompanhou a transmissão da faixa presidencial à presidenta eleita, Dilma Rousseff, bem como a despedida do presidente Lula da Silva, testemunha a extensão de seu sucesso, excepcional contradita às suspeitas que cercaram sua posse em janeiro de 2003.
Crescer economicamente, administrando a inflação com racionalidade, promovendo a criação de empregos e a valorização real da renda dos trabalhadores não é equação a ser resolvida em demonstrações doutorandas, mas pelo compromisso axiomático do governo com a justiça social e com o progresso material e soberano do País.
Para ser desigual alguém precisa existir. Parece óbvio, mas, em 2006, de acordo com projeções do IBGE, 12,6% da população não existia oficialmente. Em 2002, teriam sido 20,9%. Em Rondônia, o número de nascidos e não registrados no primeiro ano de vida alcança 40%, recorde nacional, e, no Amapá, 33% (Secretaria de Comunicação Social, Caderno Destaques, nov/dez 2009). No total, são pessoas que não dispõem ou dispunham de documento comprobatório de existência, nascimento, nome ou residência. Consequentemente, desassistidas de qualquer tipo de política pública ou direito civil. Para a maioria da população, o acesso a registros tais como certidão de nascimento, carteira de identidade, CPF e carteira de trabalho aparece- -como -fatos tão naturais quanto o nascer, crescer e trabalhar. Não obstante, foi necessário um governo popular se interessar por essa multidão oficialmente invisível e passar a despender recursos para trazê-la à luz do dia. Mutirões foram realizados e outros 1.225 previstos para 2010, particularmente na Amazônia Legal e no Nordeste, para execução do programa de Ampliação do Acesso à Documentação Civil Básica. O alvo é o contingente de brasileiros constituído de povos indígenas, quilombolas, ciganos, ribeirinhos, trabalhadores rurais, moradores de rua, catadores de recicláveis, crianças e idosos em abrigos, distribuídos em municípios de elevados índices de sub-registro.
É duvidoso que um item dessa natureza seja facilmente encontrável na decomposição de qualquer indicador agregado dos governos anteriores, próximos ou remotos. Mas eles fazem parte do povo de Lula, tanto quanto a vanguarda operária dos centros industriais das grandes cidades e a classe média recém-engordada por passageiros vindos das classes D e E.
Na vasta maioria dos casos, o acesso à documentação representa o ingresso em alguma ou várias formas reconhecidas de desigualdade. Nada mais fácil para um brasileiro do que se incorporar a um desequilíbrio social, de um lado ou de outro: gênero, cor, instrução, renda, idade, geografia de nascimento e até estética são portais escancarados à estratificação e discriminação. Entre outros, e crucial, é o portal da Justiça.

A Justiça é dispendiosa para todas as pessoas e para os pobres em particular, além de cara, amedronta mais do que apazigua. Ainda agora- o IBGE- -publicou preciosa pesquisa sobre Características da Vitimização e do Acesso à Justiça no Brasil (IBGE, 2009), com números sobre violência contra pessoas e contra a propriedade, repetindo em certa medida investigação semelhante que realizara em 1988, há 22 anos, portanto. Entre as infaustas novidades encontram-se as que dizem respeito às vítimas preferenciais da violência por classe de renda e idade, por exemplo, e seus algozes. Com base em amostra nacional de 399.387 pessoas e 153.837 unidades domiciliares distribuídas por todas as unidades da Federação, os resultados revelam um quadro comparativo ainda desalentador. Mesmo em casa, não mais do que 78,6% das pessoas se sentem seguras, porcentagem que cai para alarmantes 52,8% da população quando estão na cidade, longe da casa e do bairro.
Há substancial variação regional nesses números, aparecendo a Região Norte como aquela em que a população se sente menos segura, seja em casa (71,6%), no bairro (59,8%) ou na cidade (48,2%). Segundo a pesquisa, os homens sentem-se mais seguros que as mulheres, sem diferença marcante entre brancos e pardos, nesse item sobre subjetividade, em qualquer dos locais investigados. Cerca de 8,7 milhões de pessoas, 5,4% da população residente de 10 anos de idade ou mais, foram vítimas de roubo e/ou furto no período de 27 de setembro de 2008 e 26 de setembro de 2009, com a maior incidência ocorrendo com pessoas- de 16 a 34 anos de idade. A violência física caminha na direção inversa à da renda, com a maioria agredida situando-se na faixa de um quarto do salário mínimo. Os autores da violência física foram desconhecidos, em 39% dos casos, pessoas conhecidas em 36,2%, cônjuge ou ex-cônjuge, 12,2%, parentes em 8,1% das agressões e 4,1% de autoria de policiais ou seguranças privadas. Entre as mulheres, 25,9% delas foram agredidas por cônjuge ou ex-cônjuge. Sujeitas a várias discriminações, as mulheres e a população não branca atestam vários dos desequilíbrios sociais praticados pela sociedade, não obstante a legislação penal existente.
Entre 1988 e 2009, a violência contra a população branca foi reduzida de 64,6% para 52%, enquanto a população preta ou parda, vitimada, aumentou de 34,9% para 47,1%. O mesmo fenômeno se deu na comparação por gênero: a porcentagem de homens roubados ou furtados decresceu de 58,3% para 53,1%, enquanto a das mulheres aumentou de 41,7% para 46,9%. As porcentagens relativas à violência física seguem o mesmo padrão: enquanto a população branca, em particular a masculina, obteve acréscimos de segurança, nos últimos 20 anos, a probabilidade de sofrer agressões corporais aumentou para a população feminina, preta e parda.
Embutido nesses números está o testemunho da extensão em que níveis de pobreza, por certo, mas igualmente da aspereza da cultura cívica somam-se para fabricar uma sociedade ainda predatória e discriminatória. Sua superação exige largo intervalo de tempo.
Do outro lado da ponta da prevenção, que claudica, encontra-se a oferta de proteção jurídica. A nova Lei Orgânica da Defensoria Pública, de outubro de 2009, ampliou e tornou efetiva a possibilidade de que cidadãos sem capacidade financeira para a contratação de advogados obtenham condições de trazer pleitos junto aos tribunais. Entre 2003 e 2008, o número de defensores públicos passou de 3.250 para 4.525, e o número de atendimentos jurídicos de 4,5 milhões para 9,6 milhões, um acréscimo de 113% (Fonte: Ministério da Justiça).
O Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, criado em 2003, embora não implantado ainda em todos os estados, já atendeu 1.375 crianças e adolescentes e 2.255 familiares. Diante da incessante fábrica de desigualdades, -discriminações e violência que é a sociedade brasileira, programas como o (PPCAAM), entre outros, e inovações institucionais como as Secretarias Especiais da Mulher e da Promoção da Igualdade Racial, que atuam sobretudo na reparação de transgressões, não deixarão de apresentar resultados mais substantivos no longo prazo.
Se a violência estrutural é difusa e resistente, a redução das carências iminentes da população pobre – atendimento à saúde e educação – depende fortemente da disposição e ação governamentais. O número de farmácias populares para atendimento ao povo de Lula cresceu 1.826%, entre 2004 e 2008, vendendo mensalmente medicamentos a preço de custo a 1 milhão de pessoas. Outro milhão de pessoas adquire medicamentos, por mês, com descontos de até 90%.
O programa Saúde da Família é conhecido, mas nem tanto o programa Brasil Sorridente, para o povo malcuidado, tópico embaraçoso para governos de elite. Em 2004, foram instalados cem Centros de Especialidades Odontológicas, aumentados para 771, em 2009. Com 18.650 equipes, atenderam 87 milhões de brasileiros, em 2009 (Ministério da Saúde, Boletim, novembro de 2009).
Programas para portadores de deficiência física, que alcançam 14% da população do País, incluíram a adequação de 10.489 escolas, entre 2007 e 2009, para atendimento especializado (Seesp/MEC). O ProUni, educacional, o Programa da Agricultura Familiar, produção de alimentos, e o Minha Casa Minha Vida, habitacional, somam-se aos referidos para orquestrar o que constitui o compasso essencial do balanço de Lula. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem papel destacado na composição do PIB dos últimos anos, com certeza, assim como as iniciativas nas áreas da grande agricultura e da exportação. A visibilidade do programa Bolsa Família e suas dezenas de milhões de famílias recuperadas à miséria a instala por gravidade no centro da atenção midiática.
Mas o pernóstico debate sobre atribuído assistencialismo do programa ofusca o princípio ordenador das prioridades do governo e o sentido histórico dos dois mandatos do presidente Lula da Silva. Crescimento econômico, inflação sob controle, expansão do emprego e redução das desigualdades sociais são metas compatíveis, sim, entre si e com a democracia, desde que o governante adote políticas em harmonia com a agenda preferencial do povo – isto é, do povo de Lula.

sábado, janeiro 29, 2011

A imprensa brasileira continua tratando Mubarack como presidente e não ditador. Aliados dos Estados Unidos têm tratamento VIP




Por que os Estados Unidos temem democracia no mundo árabepor Luiz Carlos Azenha


Vamos começar deixando de lado a ideia de que o que se passa no mundo árabe é uma revolução do twitter, do facebook, da Al Jazeera ou das mídias sociais.

O Vinicius Torres Freire acertou, na Folha. “De acordo com esses correspondentes, não seria possível haver Revolução Francesa, Russa, maio de 1968, Diretas-Já ou as revoluções que derrubaram as ditaduras comunistas, dado que na maioria dessas revoluções não havia nem telefones”, escreveu ele.

Voltarei ao tema.

Vinicius acerta de novo, mais adiante, quando toca no ponto central: os milhões de jovens desempregados e sem perspectivas de vida que vivem no mundo árabe.

Não tenho muita experiência de reportagens na região, a não ser por algumas semanas trabalhando no Iraque, na Jordânia e no Marrocos.

Em todos esses lugares testemunhei a frustração dos jovens árabes (na periferia de Casablanca, no Marrocos, fui a uma favela cercada de altos muros brancos, onde a pobreza era devastadora mesmo pelos padrões africanos).

Nunca me esqueço do desabafo de um jovem palestino, morador de Amã, na Jordânia, sobre o drama pessoal que enfrentava: a falta de condições para pagar o dote, casar e conseguir morar com a esposa em endereço próprio.

São esses dramas pessoais, multiplicados por milhões, que movem hoje o que se costuma chamar de “rua árabe”. Dramas que se desenrolam diante de governos autoritários, corruptos e completamente desligados da realidade das ruas.

Aí, sim, é preciso notar o impacto das tecnologias da informação, mas muito mais da telefonia celular e da TV via satélite do que propriamente das mídias sociais, muito embora as lanhouses fervilhem em quase todas as grandes cidades do mundo árabe.

Depois de um rápido processo de urbanização, a frustração dos jovens árabes agora se dá num cenário em que eles são expostos diariamente aos objetos de consumo e ao padrão de vida que “recebem” via satélite, especialmente nos intervalos das transmissões de futebol europeu (no norte da África há mais torcedores do Manchester United do que no Reino Unido, por exemplo).

Washington sustenta o governo egípcio à base de cerca de 5 bilhões de dólares anuais.

É muito pouco provável que o governo Obama vá além de declarações vazias a respeito do governo ditatorial de Hosni Mubarak, ou de “platitudes” em defesa da liberdade de expressão da população.

A reticência dos Estados Unidos — e de todos os governos ocidentais — em relação ao Egito tem relação com o fato de que qualquer democratização para valer dos países árabes aumentará o poder dos partidos islâmicos (a Irmandade Islâmica, por exemplo, no Egito).

Foi prometendo combater a corrupção e promovendo serviços sociais que o Hamas e o Hizbollah ganharam legitimidade respectivamente em Gaza e no Líbano.

Notem, nas próximas horas, como os governos ocidentais vão enfatizar a necessidade de “preservar a estabilidade” e a “segurança” dos governos árabes que estão na defensiva.

Democracia nos países árabes resultaria em governos menos submissos aos Estados Unidos, mais “antenados” com as ruas e, portanto, muito mais agressivos em defesa dos direitos e dos interesses dos palestinos — para não falar em defesa de seus próprios interesses.

Será muito curioso observar, nos próximos dias, a dança hipócrita dos que defendem apaixonadamente a democracia no Irã mas se esquecem de fazer o mesmo quando se trata do Egito. Inclusive no Brasil.

PS do Viomundo: Vamos ver se o governo Obama deixa de fornecer gás lacrimogêneo e outros equipamentos de “segurança” ao governo Mubarak, por exemplo.

Fonte: http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/por-que-os-estados-unidos-temem-democracia-no-mundo-arabe.html

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Mudanças no Oriente Médio, população de cansa de governos despóticos e corruptos apoiados pelo Ocidente


Enquanto os aliados observam...28/1/2011, Robert Fisk: The Independent, UKRobert Fisk: Egypt’s Day of reckoningTraduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Dia de orações ou dia de ira? Todo o Egito está à espera do sabbath muçulmano hoje – para nem falar dos assustados aliados do Egito –, enquanto o envelhecido presidente do país agarra-se ao poder depois de noites de violência que já fazem os EUA duvidar da estabilidade do regime de Mubarak.

Até agora, há cinco mortos e mais de 1.000 presos, a polícia bateu em mulheres e, pela primeira vez uma das sedes do Partido Nacional Democrático reinante foi incendiada. Aqui, os boatos são perigosos como granadas de gás lacrimogêneo. Um diário do Cairo publicou que um dos principais conselheiros do presidente Hosni Mubarak fugiu para Londres com 97 malas de dinheiro; outros falam de um presidente enfurecido, que grita com os comandantes da polícia, exigindo mais força na repressão das manifestações.

Mohamed El Baradei, líder da oposição, Prêmio Nobel e ex-funcionário da ONU, retornou ao Egito ontem à noite, mas ninguém acredita – exceto talvez os norte-americanos – que venha a converter-se em ímã que dê foco aos movimentos de protesto que se alastram por todo o país.

Já aparecem sinais de que muitos, cansados do governo corrupto e antidemocrático de Mubarak, tentam persuadir os policiais que patrulham as ruas do Cairo a unir-se a eles. “Irmãos! Irmãos! Quanto eles pagam a vocês?” um grupo de manifestantes pôs-se a gritar para os policiais no Cairo. Mas ninguém negocia coisa alguma – não há o que negociar, exceto a partida de Mubarak, e o governo egípcio nada diz e nada faz, mais ou menos exatamente como nos últimos trinta anos.


Repressão com canhões de água e gás lacrimogêneo

Há quem fale de revolução, mas não há ninguém para ocupar os lugares dos homens de Mubarak – jamais houve sequer um vice-presidente – e um jornalista egípcio disse-me ontem que conversou com amigos de Mubarak, preocupados com ele, presidente, isolado, solitário. Mubarak está com 82 anos e deu sinais de que se candidatará novamente à presidência – o que é ultraje para milhões de egípcios.

A dura verdade, porém, é que, exceto pela força policial brutal e um exército escandalosamente dócil – o qual, aliás, não apoia a indicação de Gamal, filho de Mubarak – o governo está impotente. Essa é revolução pelo Twitter e revolução pelo Facebook, e a tecnologia, já há muito, derrubou as regras da censura.

Os homens de Mubarak parecem ter perdido toda a noção de iniciativa. Os jornais do partido governista vêm carregados de falsas ilusões autoimpingidas, empurrando as vastas manifestações de rua para os rodapés, como se bastasse a diagramação para esvaziar as ruas – e como se, de tanto esconder os fatos, conseguissem convencer-se de que as manifestações não existiram.

Mas ninguém precisa dos jornais, para ver o que não deu certo. A sujeira das ruas e das favelas, os esgotos a céu aberto e a corrupção de todos os funcionários do estado, as prisões sobrecarregadas, as eleições risíveis, o vasto, esclerosado edifício do poder, tudo isso, afinal, arrastou ou egípcios para as ruas das cidades.

Amr Moussa, presidente da Liga Árabe, observou ponto interessante, na recente reunião de cúpula dos líderes árabes no resor tde Sharm el-Sheikh, no Egito. “A Tunísia não está longe de nós”, disse ele. “Os árabes estão quebrados”. Mas... será que estão? Um meu velho amigo contou-me história assustadora sobre um egípcio pobre, que lhe disse que não tinha interesse algum em arrancar os líderes corruptos das fortalezas superprotegidas onde vivem no deserto. “Hoje, pelo menos, sabemos onde eles moram” – disse o homem. O Egito tem hoje mais de 80 milhões de habitantes, 30% dos quais com menos de 20 anos. E perderam o medo.


30% da população é de jovens de menos de 30 anos. O desemprego é elevado

Nas manifestações, observa-se uma espécie de nacionalismo egípcio – mais do que algum islamismo. 25 de janeiro é Dia Nacional da Polícia – dia em que se homenageia a força policial que morreu em combate contra o exército britânico em Ishmaelia – e o governo não poupou discursos, para dizer à multidão que estariam traindo os próprios mártires. A multidão gritou “Não. Os policiais que morreram em Ishmaelia eram valentes, nada a ver com os policiais de hoje.”

Mas o governo não é completamente cego. Há uma espécie de inteligência na gradual liberação da imprensa e das televisões, nessa pseudodemocracia em cacos. Os egípcios ganharam uma lufada de ar fresco, o suficiente para respirarem, para que se acalmem e calem-se, e voltem à docilidade de sempre, nessa terra de pastores. Pastores e agricultores não fazem revoluções, mas quando são amontoados aos milhões nas grandes cidades, nas favelas, nas casas e nas universidades em ruínas, que lhes dão diplomas, mas não dão trabalho, alguma coisa pode ter acontecido.

“Os tunisianos ensinaram aos egípcios o que é poder orgulhar-se do que se faz” – disse-me ontem outro jornalista egípcio. “São inspiração para nós, mas o regime egípcio é mais esperto que o de Ben Ali na Tunísia. Lá foi preservada uma semente de oposição, ao não meterem na cadeia a Fraternidade Muçulmana, mas, ao mesmo tempo, dizerem aos EUA que o grande inimigo seria o Islã, e que Mubarak ali estava para proteger os EUA do “terror” – mensagem que os EUA sempre gostam de ouvir já há dez anos”.

Há vários indícios de que o poder no Cairo percebeu que algo estaria para acontecer. Ouvi de vários egípcios que dia 24 de janeiro já havia soldados arrancando cartazes de Gamal Mubarak dos muros das favelas – para evitar mais provocações. Mas o alto número de prisões, a violência policial – que espancou homens e mulheres pelas ruas – e o virtual colapso da Bolsa de Valores no Cairo mais sugerem pânico, que astúcia política.

Um dos problemas foi criado pelo próprio regime; foram sistematicamente afastados do poder todos que tivessem algum carisma, mandados para o interior, castrando politicamente qualquer possível oposição verdadeira, muitos, diretamente para a prisão. Hoje, EUA e União Europeia dizem ao regime que ouçam o povo – mas que povo? Onde estão as vozes de liderança?


A repressão é violenta

O levante no Egito não é – embora possa vir a converter-se em – levante islâmico, mas, além do grito em massa de milhões de egípcios que despertam de décadas de humilhação e fracassos, só se ouve nas manifestações o discurso de rotina da Fraternidade Muçulmana.

Quanto aos EUA, a única coisa que parecem capazes de oferecer a Mubarak é uma sugestão de reformas – conversa que os egípcios ouvem há muito tempo. Não é a primeira vez que a violência toma conta das ruas do Cairo, é claro. Em 1977, ouve manifestações imensas de gente que pedia comida – eu estava no Cairo, e vi multidões famintas, de mortos de fome –, mas o governo de Sadat conseguiu controlar a revolta mediante preços mais baixos e muitas prisões e tortura. Também houve motins nas forças policiais – um deles reprimido a ferro e fogo pelo próprio Mubarak. Mas, agora, está acontecendo algo de diferente.

Interessante de observar, não há nenhuma animosidade contra estrangeiros. Várias vezes aconteceu de a multidão proteger jornalistas e – apesar do vergonhoso apoio que os EUA garantem aos ditadores no Oriente Médio – nenhuma bandeira dos EUA foi queimada. Já se vê que há aí alguma novidade. Talvez a multidão que amadurece – e descobre que vive sob um governo que é, ao mesmo tempo, senil e imaturo.

Ontem à noite as autoridades egípcias cortaram todos os serviços de internet e de transmissão de texto por celulares, na tentativa de impedir que os manifestantes se organizassem através de redes sociais. A medida foi tomada no mesmo momento em que uma unidade policial de elite, de forças antiterrorismo, recebeu ordem para tomar posição em pontos estratégicos em toda a capital, preparando-se para o que se estima que sejam as maiores manifestações até agora, previstas para hoje.

Dentre os pontos estratégicos selecionados pelas forças antiterrorismo está a Praça Tahrir, cenário das maiores manifestações até agora. Facebook, Twitter, YouTube e outros sites de contato social tiveram papel vital nos protestos no Egito, exatamente como na Tunísia, para manter os manifestantes em contato e planejar a movimentação dos grupos.

Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/

Uma nova verdade raia sobre o mundo árabe

por Robert Fisk, The Independent, traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Os “documentos da Palestina” são tão demolidores quanto a Declaração de Balfour. A ‘Autoridade’ Palestina – e as aspas são indispensáveis – estava e está pronta a ceder o “direito de retorno” de talvez sete milhões de refugiados ao que hoje é Israel, em troca de um “estado” ao qual corresponderá apenas 10% (se tanto) do território do Mandato britânico na Palestina.

E, à medida que são revelados esses documentos terríveis, o povo egípcio começa a exigir o fim do regime do presidente Mubarak, e os libaneses indicam um primeiro-ministro que servirá ao Hezbollah. Poucas vezes o mundo árabe viu coisa semelhante.

Para começar pelos Documentos da Palestina, é evidente que os representantes do povo palestino estavam prontos para destruir qualquer esperança que os refugiados tivessem de algum dia voltar para casa.

Será – e é – ultraje para os palestinos saber que seus representantes lhes deram as costas. Não há modo pelo qual, à luz dos Documentos da Palestina, os palestinos ainda crerem que algum dia recuperarão direitos seus.

Já viram, em vídeo e por escrito, que jamais voltarão. Mas em todo o mundo árabe – o que não significa mundo muçulmano – há hoje uma compreensão da verdade que jamais por ali se viu antes.


Já não é possível, para o povo do mundo árabe, mentir uns aos outros. Acabou-se o tempo das mentiras. As palavras daqueles líderes – que desgraçadamente são também nossas palavras – esgotaram-se. E nós as levamos até esse fracasso. Nós mentimos a eles todas essas mentiras. E nunca mais conseguiremos recriá-las.

No Egito, nós britânicos amamos a democracia. Incentivamos a democracia no Egito – até que os egípcios decidiram que queriam por fim à monarquia. Então os metemos na prisão. Queríamos mais democracia. Sempre a mesma velha história. Assim como quisemos que os palestinos gozassem de democracia, desde que votassem ‘certo’, nos candidatos ‘certos’, quisemos que os egípcios apreciassem nossa vida democrática. Agora, no Líbano, parece que nossa democracia será substituída pela democracia libanesa. E não gostamos dela.

Queremos que os libaneses, é claro, apóiem o pessoal que nós apoiamos, os muçulmanos sunitas que apoiavam Rafiq Hariri, cujo assassinato – cremos, com razão – foi orquestrado pelos sírios. E agora enfrentamos, nas ruas de Beirute, queima de carros e violência contra o governo.

Mas… Em que direção estamos andando? Será, talvez, na direção de deixar que o mundo árabe escolha seus próprios líderes? Veremos talvez um novo mundo árabe não controlado pelo ocidente? Quando a Tunísia fez saber ao mundo que estava livre, Mrs. Hillary Clinton não abriu a boca. Foi o presidente do Irã, o doido, o primeiro a dizer que muito o alegrava ver a Tunísia liberta. Por quê?

No Egito, o futuro de Hosni Mubarak parece ainda mais perturbador. Bem pode acontecer de seu filho ser escolhido para sucedê-lo. Mas só há um califado no mundo muçulmano, e é a Síria. Os egípcios não querem o filho de Hosni. Não passa de empresário peso leve, que nada garante que consiga (sequer que tente), resgatar o Egito de sua própria corrupção.

O chefe da segurança de Hosni Mubarak, um certo Suleiman – hoje, muito doente – dificilmente poderá substituí-lo.

Por toda parte, em todo o Oriente Médio, estamos à espera de assistir à queda dos amigos dos EUA. No Egito, Mubarak deve estar decidindo para onde fugirá. No Líbano, os amigos dos EUA estão em colapso. É o fim do mundo dos Democratas no Oriente Médio árabe. Ninguém sabe o que acontecerá depois. Só a história, talvez, conheça as respostas.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

GEOPOLÍTICA - O grande jogo de Barack Obama





O grande jogo proposto pelo governo Obama, para o mundo pós-Iraque e pós-Afeganistão, aponta na mesma direção da década de 1970, só que com o sinal trocado. Agora se trata de uma proposta de aliança estratégica com a Rússia, que bloquearia a expansão chinesa na Ásia, mas que também envolverá algum tipo de apoio ou “convite” ao desenvolvimento do capitalismo russo, bloqueado pelo seu excessivo viés “primário-exportadora”. O projeto de Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode ser atropelado – entre outras coisas - pelas eleições presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, em 2012. O artigo é de José Luís Fiori.

José Luís Fiori

Nos últimos dois meses de 2010, o presidente Barack Obama tomou decisões e obteve vitórias internacionais que poderão mudar radicalmente a geopolítica mundial do século XXI. Graças à intervenção direta do presidente americano, a reunião da OTAN, em Lisboa, no mês de novembro, conseguiu aprovar um “Novo Conceito Estratégico” que define as diretrizes da organização para os próximos dez anos, com a previsão de retirada de suas tropas do Afeganistão, até 2014, e com decisão de instalar um novo sistema de defesa antimísseis da Europa e dos EUA, com a possível inclusão da Rússia e da Turquia, apesar da resistência do governo turco a cooperar com os países que estão obstaculizando sua entrada na UE.

Esta vitória parcial do governo Obama, se somou à aprovação pelo Congresso americano, em dezembro, do acordo bilateral de controle de armas atômicas, que havia assinado com o presidente Dmitry Medvedev, no mês de abril, e que foi ratificado pelo parlamento russo, poucos dias depois de sua aprovação pelo Senado dos EUA. Estas iniciativas enterram definitivamente o projeto Bush de instalação de um escudo balístico na fronteira ocidental da Rússia, e aprofundam as relações entre as duas maiores potências atômicas mundiais, desautorizando a mobilização anti-russa dos países da Europa Central, promovida e liderada atualmente, pela Polônia e pela Suécia.

Neste mesmo período, no Oriente Médio, o presidente Obama aumentou sua pressão contrária à instalação de novas colônias israelenses em território palestino, e diminuiu a intensidade retórica de sua disputa atômica com o Irã, sinalizando de forma discreta, a disposição para um novo tipo de acomodação regional. Como ficou visível, com o acordo político que permitiu a formação do novo governo iraquiano do premier Nuri al Maliki, com a intervenção do Irã e com o apoio dos EUA, apesar de que Maliki não fosse o candidato preferido dos norte-americanos. E provavelmente, a crise atual do governo libanês só terá uma solução pacífica e duradoura, se envolver, de novo, um ajuste de posições e interesses entre os EUA e o Irã, mesmo que ele seja informal e não declarado.

Estas vitórias e decisões do governo Obama, estão apontando para uma nova política internacional dos EUA, de aproximação com a Rússia, e de acomodação negociada das crises sobrepostas, do Oriente Médio e da Ásia Central. No caso da aproximação da Rússia, os EUA contam com o apoio da Alemanha, por cima das resistências e das divergências intermináveis da UE, e se ela tiver sucesso, deverá redesenhar o mapa geopolítico da Europa moderna. Dentro da nova aliança, a Rússia colaboraria com a estabilização da Ásia Central, e ocuparia um lugar de destaque em uma negociação silenciosa – que já está em curso – envolvendo o Irã e a Turquia, por cima das alianças tradicionais dos EUA, dentro da região, com vistas a construção de um novo equilíbrio de poder, no Oriente Médio. Em compensação, a Rússia teria o apoio norte-americano para retomar sua “zona de influencia”, e reconstruir sua hegemonia nos territórios perdidos, depois da Guerra Fria, sem as armas, e pelo caminho do mercado e das pressões diplomáticas, como já vem ocorrendo neste momento.

Esta nova estratégia é ousada e de alto risco, mas não é original. No auge do seu poder, logo depois da II Guerra Mundial, os EUA perderam o controle da Europa Central para a URSS, em seguida perderam o controle da China, para a revolução comunista de Mao Tse Tung, e foram obrigados à um armistício inglório, na Guerra da Coréia. Como conseqüência, os EUA tiveram que mudar sua estratégia do imediato pós-guerra, e transformaram a Alemanha e o Japão, nas peças econômicas centrais da aliança em que se sustentou a sua posição durante a Guerra Fria. Duas décadas depois, em plena época de ouro do “capitalismo keynesiano”, os EUA voltaram a ser derrotados no Vietnã, Laos e Cambodja, e perderam o controle militar do sudeste asiático. E de novo mudaram sua política internacional, construindo uma aliança estratégica com a China, que dividiu o mundo socialista, fragilizou a URSS, e redesenhou a geopolítica e o capitalismo do final do século XX.

Deste ponto vista, o grande jogo proposto pelo governo Obama, para o mundo pós-Iraque e pós-Afeganistão, aponta na mesma direção da década de 1970, só que com o sinal trocado. Agora se trata de uma proposta de aliança estratégica com a Rússia, que bloquearia a expansão chinesa na Ásia, mas que também envolverá algum tipo de apoio ou “convite” ao desenvolvimento do capitalismo russo, bloqueado pelo seu excessivo viés “primário-exportadora”.

Roosevelt concebeu uma aliança parecida com a URSS, em 1945, mas sua proposta foi atropelada pela sua morte, e pela estratégia desenhada por Churchill e Truman, que levou à Guerra Fria. Agora de novo, o projeto de Barack Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode ser atropelado – entre outras coisas - pelas mudanças presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, no ano de 2012.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Um projeto de nação e a Força Aérea Brasileira

A aviação como arma foi utilizada primeiramente na primeira guerra mundial. No Brasil ela nasceu em 1916, quando a Marinha do Brasil montou um esquadrão aéreo, sendo seguida logo depois pelo Exército Brasileiro.


Gloster Meteor MK - 8

A Força Aérea Brasileira foi criada em 1941, unindo as aviações da Marinha e do Exército, já tendo seu batismo de fogo na segunda guerra mundial.
A Força Aérea Brasileira sempre foi uma força de segunda categoria, em relação à de outros países. Ela nunca teve uma aviação de combate no estado da arte.
A FAB entrou na era do jato com o avião inglês Gloster Meteor Mk – 8, que segundo consta foi trocado por algodão. Os Estados Unidos se negaram a vender o F – 86 Sabre, por questões geopolíticas.


Mirage III E BR

O Brasil entrou na era supersônica com os 17 Mirages III E BR, adquiridos da França em 1972, sendo seu principal vetor até 2005. Na época da aquisição, a FAB tentou comprar o F 4 Phantom dos Estados Unidos, mais uma vez teve negada a sua pretensão. Em troca venderam o F 5 E Freedom Fighter, um avião menor, que começou a operar no país em 1975. Ele teve ficar operacional até 2018.
A aviação de caça do Brasil hoje conta com 12 Mirage 2000, além dos F5 E Que foram modernizados, como aviação de caça. Tem ainda os AMX, fabricados por um consórcio entre a Embraer e um fabricante italiano e os SuperTucanos, que é um turbo-hélice fabricado pela Embraer que serve principalmente na região Norte.


F5E e F4 Phantom


Mirage 2000


Sukhoi SU 30


Rafale


Gripen


Super Hornet

A política na FAB

A Força Aérea Brasileira, a partir da década de 1950, foi uma das principais forças a desestabilizar o regime democrático no Brasil. A chamada República do Galeão junto com as forças oposicionistas, levoaram Getúlio Vargas ao suicido. A campanha contra Juscelino Kubstchek também foi feroz e foram protagonistas, junto com outras forças militares e civis no golpe que derrubou João Goulart e implantou a ditadura militar no Brasil.

A implantação de um pólo tecnológico aeronáutico

Nasceu dentro da Aeronáutica a criação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, junto com outros institutos de pesquisas aerospaciais. Desse centro de ensino e pesquisa é que foi criada a Embraer.
A Empresas Brasileira de Aeronáutica, nasceu a partir de uma demanda da FAB por um cargueiro, que foi o Bandeirante. Esse avião foi sucesso e exportado pelo mundo inteiro.
A Embraer ainda foi se beneficiou do conhecimento adquirido com o caça leve Xavante, fabricado no Brasil a partir do projeto italiano, que deu as bases industriais para a empresa e futuramente facilitou a parceria para o projeto do AMX.
Nesses anos todos a Embraer tem aparelhados a Força Aérea Brasileira com aviões de todos os tipos e segundo a sua necessidade, com exceção da aviação de caça de alto desempenho.

O Programa FX

O programa FX teve início nos ano 2000, que previa a aquisição de 12 a 24 caças para substituir o Mirage III E BR, que estavam em final de serviço. Com a entrada do governo Lula e a crise financeira que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tinha deixado o país, o FX foi cancelado.
No ano de 2006 foi lançado o F-X2, com previsão inicial de 36 aeronaves. Esse projeto foi mais ambicioso, pois prevê a transferência tecnológica da fabricação de caças supersônicos. Além do número de caças ser maior em relação ao F-X1, a tecnologia apresentada também está muito perto do estado da arte da aviação militar. Os aviões são todos de categoria superior à quarta geração de caças, muito perto da tecnologia de quinta geração, ao contrário dos aviões presentes no F-X1. Os três caças finalistas dos seis apresentados inicialmente foram o Rafale F3 francês, F 18 Super Hornet estadunidense, Gripen NG sueco. Causou muita estranheza o fato do caça Sukhoi não está na short list, pois pelos testes operacionais o russo se mostrou melhor do que os demais, além de ser tecnologicamente superior aos outros.
A situação atual
O Brasil está na iminência da escolha de seu principal caça de combate. Fatores como desempenho e transferência tecnológica são essenciais, pois o país precisa entrar no grupo do demais que são capazes de projetar um caça integralmente e projetar a FAB como uma força de primeira categoria. Somente países como os Estados Unidos, Russia, França, Suécia e China, são atualmente capazes de projetar e fabricar aviões de caça supersônicos integralmente, além do grupo europeu formado pela Alemanha, Inglaterra, Espanha e Itália, que fabricam conjuntamente o Eurofighter Typhoon. A índia está engatinhando, juntamente com a Coréia do Sul.
Os aviões apresentados pelo Brasil atendem a capacidade operacional da Força Aérea Brasileira, mas na análise final alguns pontos precisam ficar bem esclarecidos.
O Avião da Boeing F 18 Super Hornet é um projeto já amadurecido e os Estados Unidos fazem de tudo para que os países da América Latina não possuam capacidade de projetar e fabricar produtos aerospaciais. Como foi divulgado recentemente pelo Wikileaks de que eles são contra o Brasil ter capacidade de fabricar um foguete, como o VLS – Veículo Lançador de Satélites. Sempre que puderam os Estados Unidos negaram a venda de aviões no estado da arte fabricados por eles. E é possível que esse país tenha vetado a compra do vetor russo SU 35BM pelo Brasil. Outro ponto negativo para o avião estadunidense é a necessidade da Marinha do Brasil também comprar aviões para o navio aeródromo São Paulo e esse vetor não ser operacional nessa embarcação. Os Estados Unidos tem feito forte lobby, com a vinda do senador Mccain ao Brasil e futuramente do presidente Obama. Vão prometer em troca da venda dos aviões, a compra de etanol brasileiro e de aviões da Embraer.
O avião sueco Gripen NG é um avião ainda em desenvolvimento, não existe de fato. A vantagem seria a experiência adquirida durante execução do seu projeto. Mas operacionalmente a sua autonomia é pequena, o que não se encaixa num país continental como Brasil.
Dessa forma resta ao avião francês Rafale, que está entre os melhores caças atualmente em serviço e que o governo francês garante a transferência tecnológica. Em desacordo existe o preço caro e a complicada manutenção do avião, além do governo francês ter abandonado a posição brasileira no caso do Irã na ONU.
Como alternativa o Brasil poderia cancelar o F-X2 e fazer um acordo com os russos para a compra do Sukhoi SU 35, com a condição de participação do projeto do caça de quinta geração que é o PAK FA, além de acordos na área aerospacial. É lógico se eles realmente transferirem a tecnologia como fizeram com a china e a Índia que atualmente fabricam sob licença o SU 30 MK.

Reflexão final

A soberania do Brasil passa pelo domínio tecnológico na área aerospacial. O Brasil está desenvolvendo um foguete lançador de satélites com muita dificuldade.
A Força Aérea Brasileira é a responsável pela defesa do espaço aéreo brasileiro e tem feito grandes contribuições ao país, como a criação do ITA, pelo Brigadeiro Casimiro Montenegro, a Embraer, o Cindacta, entre outros projetos que tem ajudado o país. Ela precisa de caças capazes de defender o Brasil, mas precisa deter o conhecimento tecnológico para não ficar refém do país que vender os aviões.
A Embraer com o projeto do F-X2 pode enfim assimilar a capacidade de desenvolver aviões supersônicos com toda tecnologia envolvida, que incluem novos materiais que a capacitarão para desenvolver a nova geração de aviões civis da empresa.
Uma análise rápida sobre o assunto, visto não ter acesso aos dados que compõem o programa F-X2, recomendam cuidado com os interesses geopolíticos dos Estados Unidos na América Latina e a submissão do continente à política desse país. Inclusive os Estados Unidos já prometeram comprar aviões brasileiros de defesa em duas oportunidades e em ambas simplesmente disseram que o projeto estava cancelado. E não foram só com o Brasil, com o consórcio Airbus também.
Assim é preciso muito cuidado com negociação na área de defesa aerospacial com os Estados Unidos.
Não há no mundo nenhum país bonzinho ou lá o que seja, como disse um experiente diplomata, os países não tem amigos, tem interesses. Dessa forma, o Brasil precisa agir de forma soberana e de acordo com os seus interesses. É assim que fazem as grandes potências. Os países que só dizem “sim” estão fadados a ser de segunda categoria.
É lógico que a modernização da Força Aérea Brasileira também pressupõe que essa força tenha compromissos com o Brasil, seu povo e sua democracia.
É o que esperamos.

Forças Armadas têm plano para agilizar ajuda em tragédias

As Forças Armadas se preparam para montar ao menos três bases no País para agilizar o atendimento a vítimas de tragédias naturais como a que ocorreu há duas semanas na região serrana do Rio de Janeiro e que deixou mais de 800 pessoas mortas, além de milhares de desabrigados. Segundo uma alta fonte nas Forças Armadas, Marinha, Exército e Aeronáutica precisam melhorar a atuação na resposta a catástrofes.

"Precisamos e queremos ser mais rápidos nessa atuação", disse a fonte militar, que pediu para não ser identificada. "Fizemos uma reavaliação da nossa atuação e vimos onde podemos avançar para sermos mais ágeis", afirmou.

Um ofício com o pedido para a criação dessas unidades de pronto atendimento a tragédias será encaminhado ainda esta semana ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim, de acordo com a fonte. "A proposta será formalizada ao ministro e a ideia é termos isso disponível o mais rápido possível para nos prepararmos para outros episódios", disse.

A proposta é que as bases de atendimento emergencial sejam montadas nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, consideradas as mais sujeitas a fenômenos naturais. As unidades de pronto atendimento ficariam baseadas em unidades das Forças Armadas já existentes nessas regiões e teriam à disposição equipamentos, barracas, aeronaves, veículos e materiais usados normalmente no combate a tragédias naturais.

Recentemente, o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, defendeu uma atuação mais rápida das Forças Armadas após eventuais tragédias naturais. "Eu entendo que as Forças Armadas podem ter um papel de maior protagonismo na pronta resposta com pontes móveis, hospitais de campanha e equipamentos que possam ser disponibilizados num menor tempo e mitigar a dor e óbitos", disse o ministro na semana passada no Rio de Janeiro

Ao menos 832 pessoas morreram na tragédia e ainda há mais de 500 desaparecidos, duas semanas depois do temporal que caiu na noite do dia 11 e devastou a região, afetando principalmente Teresópolis, Nova Friburgo e Petrópolis. Segundo a Defesa Civil do Estado, os desabrigados na região serrana chegam a 8.914, enquanto o total de desalojados é de 20.532.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4912666-EI17544,00-Fonte+Forcas+Armadas+tem+plano+para+agilizar+ajuda+em+tragedias.html

terça-feira, janeiro 25, 2011

Desenvolvimento nacional e sabotagem ao desenvolvimento:EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes”




O Conversa Afiada reproduz email enviado por Stanley Burburinho (quem será ele? ):

“EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes, revela WikiLeaks
José Meirelles Passos
RIO – Ainda que o Senado brasileiro venha a ratificar o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas EUA-Brasil (TSA, na sigla em inglês), o governo dos Estados Unidos não quer que o Brasil tenha um programa próprio de produção de foguetes espaciais. Por isso, além de não apoiar o desenvolvimento desses veículos, as autoridades americanas pressionam parceiros do país nessa área – como a Ucrânia – a não transferir tecnologia do setor aos cientistas brasileiros.

A restrição dos EUA está registrada claramente em telegrama que o Departamento de Estado enviou à embaixada americana em Brasília, em janeiro de 2009 – revelado agora pelo WikiLeaks ao GLOBO. O documento contém uma resposta a um apelo feito pela embaixada da Ucrânia, no Brasil, para que os EUA reconsiderassem a sua negativa de apoiar a parceria Ucrânia-Brasil, para atividades na Base de Alcântara no Maranhão, e permitissem que firmas americanas de satélite pudessem usar aquela plataforma de lançamentos.
Além de ressaltar que o custo seria 30% mais barato, devido à localização geográfica de Alcântara, os ucranianos apresentaram uma justificativa política: “O seu principal argumento era o de que se os EUA não derem tal passo, os russos preencheriam o vácuo e se tornariam os parceiros principais do Brasil em cooperação espacial” – ressalta o telegrama que a embaixada enviara a Washington.
A resposta americana foi clara. A missão em Brasília deveria comunicar ao embaixador ucraniano, Volodymyr Lakomov, que “embora os EUA estejam preparados para apoiar o projeto conjunto ucraniano-brasileiro, uma vez que o TSA (acordo de salvaguardas Brasil-EUA) entre em vigor, não apoiamos o programa nativo dos veículos de lançamento espacial do Brasil”. Mais adiante, um alerta: “Queremos lembrar às autoridades ucranianas que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”.
O Senado brasileiro se nega a ratificar o TSA, assinado entre EUA e Brasil em abril de 2000, porque as salvaguardas incluem concessão de áreas, em Alcântara, que ficariam sob controle direto e exclusivo dos EUA. Além disso, permitiriam inspeções americanas à base de lançamentos sem prévio aviso ao Brasil. Os ucranianos se ofereceram, em 2008, para convencer os senadores brasileiros a aprovarem o acordo, mas os EUA dispensaram tal ajuda.
Os EUA não permitem o lançamento de satélites americanos desde Alcântara, ou fabricados por outros países mas que contenham componentes americanos, “devido à nossa política, de longa data, de não encorajar o programa de foguetes espaciais do Brasil”, diz outro documento confidencial.
Viagem de astronauta brasileiro é ironizada
Sob o título “Pegando Carona no Espaço”, um outro telegrama descreve com menosprezo o voo do primeiro astronauta brasileiro, Marcos Cesar Pontes, à Estação Espacial Internacional levado por uma nave russa ao preço de US$ 10,5 milhões – enquanto um cientista americano, Gregory Olsen, pagara à Rússia US$ 20 milhões por uma viagem idêntica.
A embaixada definiu o voo de Pontes como um gesto da Rússia, no sentido de obter em troca a possibilidade de lançar satélites desde Alcântara. E, também, como uma jogada política visando a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Num ano eleitoral, em que o presidente Lula sob e desce nas pesquisas, não é difícil imaginar a quem esse golpe publicitário deve beneficiar.
Essa pode ser a palavra final numa missão que, no final das contas, pode ser, meramente ‘um pequeno passo’ para o Brasil” – diz o comentário da embaixada dos EUA, numa alusão jocosa à célebre frase de Neil Armstrong, o primeiro astronauta a pisar na Lua, dizendo que seu feito se tratava de um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a Humanidade.

http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/01/25/eua-tentaram-impedir-programa-brasileiro-de-foguetes-revela-wikileaks-923601726.asp


Sagotagem base de Alcântara-4 anos e nada se concluiu
Por Por Carlos Chernij 06/07/2007 às 16:23


Os Estados Unidos estariam por trás das explosõesde foguetes na base maranhense de Alcântara. Motivo:evitar que outros países entrem na corrida espacial TEORIA - Base de Alcântara foi sabotada

OBJETIVO - Impedir que o programa espacial brasileiro saia do papel


Sabotagem do Tio Sam

Desde a década de 1980, o Brasil trabalha na construção de um foguete nacional capaz de colocar satélites em órbita. Em 1997, foi testado o primeiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites (VLS-1). Explodiu poucos segundos após a decolagem. Em 1999, outro teste e mais uma explosão. Na terceira tentativa, em 22 de agosto de 2003, nem deu tempo de começar a contagem regressiva. O foguete explodiu três dias antes do lançamento, quando estava sendo preparado na base de Alcântara, no Maranhão. O comando da Aeronáutica investigou e concluiu que o acidente foi causado por uma falha elétrica. O problema é que o relatório oficial não convenceu todo mundo. Especialistas em pesquisas espaciais desconfiam que o programa brasileiro foi sabotado. Um complô estrangeiro teria completado a sua missão em território nacional? Alguns fatos indicam que sim, segundo a teoria verde-amarela. E, certamente, você já encontrou o nosso principal suspeito em outras páginas deste livro.

Para entender o nascimento da teoria, é preciso voltar a agosto de 2003. Logo depois do incidente, enquanto os destroços ainda queimavam, já havia fontes militares descartando a hipótese de sabotagem. Oficialmente, o defeito no foguete ocorreu sozinho. Os mais desconfiados rapidamente alertaram que uma detonação espontânea seria difícil, pois ainda faltavam três dias para o lançamento e o combustível fora escolhido de forma a minimizar o risco de explosões. Até aqui, tudo é fato. Os conspirólogos trabalham em cima das próximas informações, uma mistura de episódios reais e especulações. Embora tenha eliminado a possibilidade de sabotagem, a Aeronáutica havia cancelado o lançamento algumas vezes, sem dar nenhuma explicação. Dias antes, os militares brasileiros também fizeram um levantamento sobre estrangeiros registrados em hotéis de São Luis. Há quem diga que cerca de 20 americanos estavam hospedados em Alcântara naquela semana, algo incomum na pequena cidade.

O súbito interesse turístico por Alcântara apontaria o país de origem dos prováveis conspiradores: os Estados Unidos. Os americanos não simpatizam com iniciativas estrangeiras de desenvolvimento de foguetes. Se você já brincou com o Google Earth na internet, deve ter sacado que as imagens de satélite permitem xeretar o quintal alheio com uma qualidade bastante boa. Do mesmo modo, quem consegue colocar sozinho seus satélites em órbita pode espiar onde quiser. Mais ou menos como os Estados Unidos e a Rússia, pioneiros da corrida espacial, fazem desde a década de 1960. A tecnologia de um foguete como o VLS é essencialmente a mesma usada em mísseis de longa distância, como os que carregam armas nucleares. Isso também não interessa aos americanos, que pregam o desarmamento, mas não abrem mão dos seus arsenais.

Atualmente, a base de Alcântara é considerada o melhor espaçoporto do mundo em localização geográfica. Por estar próxima à linha do Equador, permite uma economia de até 30% de combustível nos foguetes. Na prática, isso significa gastar menos ou poder mandar para o espaço cargas mais pesadas. Como os Estados Unidos são os donos da maior parte do lucrativo mercado de lançamento de satélites comerciais, eles tentaram, em 2001, fechar um acordo para "alugar" a base brasileira para seus lançamentos. Mas havia vários detalhes importantes no acordo de salvaguardas tecnológicas proposto. Um deles determinava que nenhum brasileiro poderia fazer inspeções no que estivesse sendo trazido dos Estados Unidos para Alcântara. A proposta gerou muitos debates no Congresso e foi engavetada como violação da soberania nacional.

Menos de uma semana após a explosão em Alcântara, a tese de sabotagem tomou vulto em duas notinhas da coluna do jornalista Cláudio Humberto - publicada em vários jornais do país. No dia 27 de agosto, foi citado Ronaldo Schlichting, pesquisador da corrida espacial e perito em armas. Dizia a nota: "Schlichting sugere bala do fuzil Barret .50, que alcança 3 quilômetros, como possível 'impacto de objeto no foguete'". No dia seguinte, outra referência à sabotagem, desta vez nas palavras de um professor do Centro Tecnológico da Aeronáutica. "O cientista Edison Bittencourt nega 'ignição espontânea' num dos quatro motores do foguete que explodiu em Alcântara. Sugere onda eletromagnética disparada do espaço ou de pequeno dispositivo, inserido no motor e controlado a distância", escreveu o colunista.

É possível destruir um foguete com o apertar de um botão, aproveitando uma falha de segurança na informática? Pedro Antonio Dourado de Rezende, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília, acredita que sim. "Bastaria uma rápida e certeira transmissão, até por radiofreqüência de um ponto escondido em algum canto da base, neste caso indevassável, para que um serviço de inteligência estrangeiro pudesse 'crackear' a comunicação brasileira visando uma sabotagem dessa magnitude, sem deixar pistas", disse em um artigo publicado no site Observatório da Imprensa.

Como não puderam transformar Alcântara em seu playground espacial, os americanos teriam radicalizado. A explosão do terceiro VLS matou 21 técnicos e engenheiros altamente especializados - gente que não existe aos montes aqui nem em qualquer lugar do mundo. Estima-se que serão necessários dez anos para formar uma nova geração brasileira de cérebros tão capacitados. Mas o programa espacial brazuca continua. O governo prometeu para 2006 o próximo lançamento do VLS. Será uma excelente oportunidade de testar a tese conspiratória.

Fonte: http://www.midiaindependente.org/pt/red/2007/07/387523.shtml


segunda-feira, janeiro 24, 2011

Os 10 melhores caças do mundo

Não sei quem fez a seleção, mas concordo plenamente com ela

Que tal esse para a FAB? SU 35 BM

Um projeto de nação e forças armadas

Um país com um projeto de nação como o Brasil, que o adotou a partir de 2003, com a ascensão das forças progressistas do governo Lula não pode prescindir de ter forças armadas bem equipadas e treinadas para defender o seu povo e território. Principalmente se possui riquezas imensuráveis em minérios, água, terra, biodiversidade, entre outros.

Os países, cujas forças armadas não possuem equipamentos e treinamentos adequados sofrem com a invasão estrangeira, como o Iraque, cujo objetivo é despojá-lo das suas riquezas.

Na América Latina, nos anos 1960 e 1970, as forças armadas foras transformadas em forças de ocupação internas, a pretexto de impedir o avanço do comunismo e sob orientação dos Estados Unidos, foi forjada a ideologia da segurança nacional.

Essa doutrina, transformou os partidos de esquerda do continente em inimigos, aos quais deveriam ser aniquilados por todos os meios. Foi assim que os militares do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e demais países latino-americanos, prenderam, torturam, estruparam e assassinaram cidadãos de seus países que lutaram contra os regime de exceção implantados neles.

A década de 1980 assistiu ao início do processo de democratização dos países, mas nas forças armadas, isso ainda está em processo de ocorrer. Na Argentina e no Chile houve grande progresso, com militares presos e vários crimes desvendados. No Brasil isso não aconteceu, o que represente um risco para o futuro. A sociedade brasileira deve lutar para que os episódios bárbaros cometidos pelos militares brasileiros sejam desvendados e punidos.

É preciso que os militares brasileiros ajam de acordo com o século XXI e defendam um projeto de Brasil soberano e rico, com crescimento social e econômico e equidade social.

Eles precisam de desvencilhar daqueles que usaram a farda de forma hedionda e que mancham qualquer força armada.

Quando se pensa em militares como o Marechal Rondon, o Almirante Casimiro Montenegro, o General Teixeira Lott, entre tantos outros que lutaram pelo Brasil, se percebe que é possível que o país possa ter forças de defesa que defendam a democracia e não voltem a doutrina da segurança nacional, que só beneficiou os Estados Unidos, pois graças as forças de ocupação internas no continente americano, eles puderam manter a hegemonia na América Latina.

A hegemonia dos Estados Unidos pressupõe uma elite local, vassala e ideologicamente comprometida com a sua ideologia, em detrimento da maioria da população, que fica na pobreza. Um dos meios para isso é a ideologia neoliberal e o "estado mínimo", com predominância financeira. As empresas de comunicação desses países são pautadas nas defesa dos interesses dos estadunidenses, mesmo em detritimento dos interesses nacionais. Isso acontece muito no Brasil. A imprensa brasileira transforma os países que não atendem aos interesses dos Estados Unidos em nossos inimigos, mesmo que não sejam.

Assim países como a Venezuela, Bolívia e Cuba são tratados como ditaduras e combatidas diariamente, enquanto verdeiras ditaduras apoiadas pelos Estados Unidos são preservadas. O caso de Honduras e Tunísia é exemplar do que acontece quando a imprensa segue o padrão do Departamento de Estado estadunidense.

As forças armadas brasileiras preciasm defender os interesses nacionais e não sirvam de forças de ocupação intena, e encampem um projeto de desenvolvimento nacional, com o povo brasileiro.

É dentro desse contexto que as forças armadas brasileiras estão se re-equipando, baseadas na Estratégia Nacional de Defesa, que pela primeira vez torna claro quais os objetivos e meios que nossas forças armadas precisam ter para defender o Brasil e dissuadir qualquer país estrangeiro de invadi-lo.

Vários fatores fazem com que a modernização tecnológica e de defesa nacional dos militares brasileiros ganhem consistência e sejam conhecidos pelo povo. Dentre elas está o maior parque aquífero do mundo, petróleo do pré-sal, minérios estratégicos como nióbio e urânio, bio-diversidade, capacidade industrial e intelectual, entre outros.

Também a nova inserção do Brasil no mundo, pressupõe capacidade de poder militar. Não para invadir nenhum país, mas para poder dizer "não" àqueles países que o Brasil sempre disse "sim"e estão mal acostumados; quando os interesses forem divergentes.

Outra preocupação é a reativação da IV Frota Americana e da proliferação de bases dos Estados Unidos na América do Sul. Ao contrário do que diz a imprensa brasileira, de que a Venezuela representaria perigo eminente, são os Estados Unidos que o representam, por um motivo simples, reservas de petróleo e água. A Venezuela os tem em abundância e os Estados Unidos não.

Assim é que vemos a Força Aérea Brasileira, Marinha do Brasil e Exército Brasileiro em amplo processo de modoernização dos seus equipamentos de defesa.

E & P

EUA & a “livre iniciativa”: criar guerras locais e privadas, para exportação

EUA & a “livre iniciativa”: criar guerras locais e privadas, para exportação

Eric Prince - fundador da Blackwater


Blackwater e as milícias na Somália20/1/2011, Katharine Houreld e Associated Press, SalonBlackwater founder secretly backing Somali militiaTraduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Ver também:
● Adam Ciralsky, Vanity Fair, 27/6/2010: “Empresário, soldado e espião” (em português)
● Jeremy Scahill, The Nation, 15/9/2010: “Blackwater & Co.: A negabilidade total” [Blackwater's Black Ops] (em português)
● Guardian, UK, 21/9/2010, “Cowboy Contractors: Armed and Dangerous” (em inglês)
● Jeffrey Gettleman, “Os piratas estão vencendo”, 14/10/2010. New York Review of Books, vol. 57, n. 15 (em português).

Erik Prince, cuja empresa, denominada então Blackwater Worldwide, tornou-se sinônimo de forças norte-americanas privadas de segurança operantes no Iraque e no Afeganistão, silenciosamente já assumiu novo papel: hoje, vende treinamento de guerra a soldados locais, nas áreas sem lei da Somália.

Prince esta envolvido num programa de multimilhões de dólares financiado por países árabes, entre os quais os Emirados Árabes Unidos, para treinar cerca de 2 mil recrutas somalianos para combater os piratas que aterrorizam a costa africana, segundo fonte que conhece bem o projeto e relatório de inteligência que chegou a jornalistas da Associated Press.

O nome de Prince apareceu no conflito da Somália, no contexto do debate sobre se se deveriam usar empresas privadas de segurança em alguns dos pontos mais perigosos do mundo. Blackwater – cuja empresa mudou de nome para Xe Services – tornou-se símbolo em Washington de empresários envolvidos em incidentes de guerra, dentre os quais o mais conhecido foi a acusação de assassinato de 14 civis, em 2007, em Badgá, feita contra empregados de Prince.

Apesar de os piratas somalianos atacarem navios de várias bandeiras, a maioria dos Estados reluta em mandar soldados por terra para atacar os territórios onde vivem os piratas, numa nação que vive em anarquia, praticamente sem lei, há mais de duas décadas e onde os comandos de paz da ONU não avançam além de alguns quarteirões em torno da capital. As forças que agora estão sendo treinadas visam a preencher esse vácuo. Um dos funcionários disse que já há batalhões prontos para partir à caça de um senhor-da-guerra local, ligado a guerrilheiros islâmicos.

Em resposta a um pedido de entrevista, um porta-voz de Prince respondeu, por e-mail, que o fundador da Blackwater está interessado em “ajudar a Somália a derrotar o fantasma da pirataria” e tem trabalhado como conselheiro em várias operações antipirataria. O porta-voz Mark Corallo disse que Prince não tem “participação financeira” no projeto e recusou-se a responder qualquer pergunta sobre o envolvimento de Prince.

O trabalho de Prince reaviva a discussão sobre o uso de empresas privadas como fornecedoras de forças de combate em situação de guerra. Os críticos dizem que esse trabalho pode minar os esforços da comunidade internacional para treinar e financiar o reequipamento de exércitos somalianos para combater guerrilheiros islâmicos ligados à al-Qaeda.

A União Europeia está treinando cerca de 2 mil soldados somalianos, com apoio de instrutores do exército dos EUA, e há em treinamento uma força da União Africana de 8 mil agentes de pacificação, de Uganda e Burundi.

Com a introdução, nesse quadro, de exércitos privados, “vê-se a privatização da guerra, em que as empresas de segurança operam protegidas por ‘sigilo empresarial’, sem qualquer obrigação de prestar contas à comunidade internacional” – disse E.J. Hogendoorn, analista que trabalha em Nairobi para o International Crisis Group. “A quem essas empresas prestam contas e o que as impedirá de trabalhar para o ‘outro lado’ (no caso, para os próprios piratas), se isso lhes parecer comercialmente mais interessante?"

Embora as preocupações de Hogendoorn sejam ouvidas também entre funcionários do governo dos EUA, o diretor de outra dessas empresas de segurança privada reforça os argumentos a favor do envolvimento crescente de Prince.

“Há 34 países cujas marinhas trabalham para tentar deter os piratas. E já se sabe que só poderão ser detidos em terra” – disse John Burnett, diretor da Empresa Maritime Underwater Security Consultants [Consultores de Segurança Submarina]. “Com a experiência e a grande reputação que Prince acumulou, acho bem provável que tenha sucesso.”

Prince, que vive agora nos Emirados Árabes Unidos, já não é sócio da Blackwater. Defendeu empenhadamente a empresa. Disse à revista Vanity Fair [endereço acima] que “quando pareceu conveniente, alguém me empurrou para ser atropelado pelo ônibus”.

Mês passado, a Associated Press noticiou que o projeto para a Somália incluía treinamento de 1.000 soldados de uma força antipirataria no norte da Somália, na região semiautônoma de Puntland, e de guardas presidenciais em Mogadishu, a capital destruída, no litoral. A matéria falava de uma empresa privada de segurança, Saracen International, que estaria envolvida, além de Pierre Prosper, ex-embaixador dos EUA; Michael Shanklin, ex-diretor da CIA; e um Estado muçulmano não identificado, como financiador. Prosper e Shanklin confirmaram que trabalharam como conselheiros do governo somaliano.

Depois disso, a Associated Press soube, através de funcionários e documentos, que Prince está envolvido e que há planos para treinar outra força de 1.000 agentes antipirataria em Mogadishu, exércitos oficiais mal treinados e sem armas enfrentam guerrilheiros.

Lafras Luitingh, chefe de operações da empresa Saracen International registrada em Beirute, Líbano, disse que a empresa tentou manter o projeto em segredo, para preservar o efeito surpresa contra os piratas. Disse que sua empresa assinou um contrato com o governo somaliano em março. Não disse se Prince está envolvido, mas disse que ele não é sócio da empresa.

Depois da assinatura desse contrato, assumiu na Somália um novo governo, que já nomeou uma comissão para investigar os negócios da empresa Saracen e outras, disse o ministro de Informação da Somália Abdulkareem Jama. Disse que não tem notícia de qualquer envolvimento de Prince. Em operação separada, a ONU também está investigando se esses contratos com o ex-governo somaliano implicaria desobediência ao embargo imposto contra venda de armas para as facções somalianas.

O dinheiro desloca-se por uma rede de empresas transnacionais, cujos endereços nem sempre puderam sem confirmados, na investigação que a AP fez para verificar se os informes que recebera seriam fidedignos.

Há pelo menos três empresas Saracens – uma registrada no Líbano e duas dirigidas por um sócio de Luitingh e com base em Uganda, onde funcionários do governo disseram à AP que todos os documentos de registro das empresas haviam sumido. Em Beirute, repórter da AP que investigava os dados do mesmo relatório não conseguiu localizar o endereço da empresa de Luitingh que consta do contrato assinado na Somália. Autoridades libanesas desconhecem o endereço da sede de Saracen no Líbano, e sugerem que talvez tenha sede nos Emirados Árabes Unidos.

A empresa Afloat Leasing, que possui dois barcos com os quais a Saracen já trabalhou, disse que a empresa é registrada na Libéria, mas essa informação não foi confirmada em investigação da Associated Press.

A missão da força que está sendo treinada pode ser maior do que enfrentar os piratas.

Um ex-funcionário do governo dos EUA, que pediu que seu nome não fosse divulgado, porque não tem autorização para falar a jornalistas, disse que, além de atacar os piratas, a nova força em Puntland terá a tarefa de caçar um senhor-da-guerra local que se suspeita esteja fornecendo armas a o grupo al-Shabab, o mais temido dos vários grupos guerrilheiros somalianos. Luitingh disse que jamais ouviu falar desse plano.

Luitingh é membro fundador de Executive Outcomes, grupo de mercenários da África do Sul, cujo nome apareceu associado, nos anos 1990s, aos conflitos em Serra Leoa, Angola e até na Papua Nova Guiné.

Disse que a empresa Saracen cuidará para que não se recrutem crianças-soldados, pagará regularmente aos alistados, e prestará contas legalmente ao governo da Somália. Um grupo de 150 recrutas concluiu o treinamento em novembro em Puntland, e outro está na etapa final. Em Mogadishu, os treinamentos ainda não começaram.

Saracen recusou-se a comentar sobre suas fontes de financiamento. Um informante, que conhece o projeto e insiste que seu nome não seja divulgado, por ser proibido de falar à imprensa, disse à Associated Press que Prince supervisiona o treinamento antipirataria.

O relatório de inteligência, no qual os Emirados Árabes Unidos são identificados como financiadores e Prince como participante, foi entregue à AP sob a condição de que nem o autor nem a agência fossem identificados, porque é documento classificado como Confidencial. Vários oficiais de segurança ocidentais disseram, em entrevista, que os dados daquele relatório não são confiáveis.

Os piratas usam largas extensões do litoral da Somália como portos-base, dos quais partem para abordar navios mercantes no Golfo de Aden e no Oceano Índico. O grupo Al-Shabab controla a maior parte do sul e da região central da Somália e grande parte da capital. Os governos ocidentais temem que a Somália venha a ser usada como base para ataques ao ocidente.

Alguns funcionários dos EUA temem que os projetos da empresa Saracen divulguem a ideia de que mais dinheiro e mais armas – em vez de melhores governos e treinamento transparente de defesa nacional – seriam competentes para derrotar a guerrilha. O exército da Somália foi enfraquecido por muitas deserções, porque uma longa sequência de governos corruptos instituiu a miséria entre os soldados, que não recebiam nem soldos nem qualquer apoio.

Os somalianos treinados pela União Europeia receberão 100 dólares por mês. Funcionário do governo dos EUA disse que a empresa Saracen oferece salários de 300 dólares durante o treinamento e de 500 dólares um mês depois de o treinamento concluído, quando o recruta entra em serviço ativo.

“É certo que o exército oficial perderá os quadros mais bem treinados, que acorrerão na direção das milícias mercenárias” – disse aquele funcionário, o que debilitará cada vez mais o exército e fortelecerá as milícias.

Muitos países, inclusive Estados do Golfo, ofereceram assistência militar à Somália. Muitos Estados árabes, que deram dinheiro, logo descobriram que não havia meios para acompanhar o uso do dinheiro – disse Hogendoorn, analista na Somalia. Por isso, provavelmente, há governantes árabes dispostos a apoiar a empresa Saracen – concluiu.

Fonte: http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/01/eua-livre-iniciativa-criar-guerras.html