quinta-feira, julho 25, 2013

Juros matam. Matam a economia e matam vidas

Do Tijolaço

O jornalista Paulo Moreira Leite publica hoje, em seu blog na Istoé, um artigo que deveria ser um látego nas consciências dos nossos analistas de economia e nos dirigentes do Banco Central.
Deveria doer, mas não doerá, porque suas consciências petrificaram-se pelo monoteísmo do mercado e já não conseguem ver que economia são pessoas, não números.
Não é preciso ser socialista para ver isso – Keynes está aí, como prova – mas é preciso não ser um fanático emburrecido para não ver que o Brasil não pode suportar, indefinidamente, a sangria que lhes faz o mundo do capital que se descolou da produção e do consumo e vive de um rentismo do século retrasado, embora agora informatizado.
Juros altos, incoerentemente altos, senhores do mercado, vão matar uma das poucas coisas que ainda funciona na economia mundial: os países em desenvolvimento, porque os que são seus modelos vivem a mais tristes das decadências.
Leiam o excelente texto de Paulo Moreira Leite:
Hipocrisia de fraque & cartola
Paulo Moreira Leite
O desemprego subiu para 6%, contra 5,8% em maio. Milhares de pessoas não conseguiram o trabalho que procuravam e isso não é bom para ninguém.
A rigor, contudo, não é um patamar alto, ainda que seja uma raridade. Só em 2002, quando o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso, o país teve um desemprego maior do que 6% em junho.

A preocupação sobre os 6% se justifica por uma pergunta: este número aponta para uma tendência de novas altas no futuro?

Impossível saber agora.

A leitura da maioria de nossos observadores sugere impressões falsas sobre o comportamento da economia.

Dá a impressão de que possíveis altas do desemprego, com queda do salário e a reversão de um ambiente espantosamente saudável quando se olha para o mundo lá fora, inevitavelmente estão a caminho.

Isso porque o país estaria condenado, por leis da natureza ou castigos divinos, por ter se recusado a cumprir o ABC do pensamento monetarista. Claro que não é assim.

A queda no emprego pode ser acentuada, estancada ou mesmo revertida – ainda que parcialmente – pelas mesmas decisões que levaram aos 6%.

(Nunca é demais lembrar o óbvio. O desemprego no país encontra-se num patamar baixíssimo, muito próximo do pleno emprego, o que torna ilusório imaginar novas reduções).

Os 6% obrigam, no entanto, a falar de uma certa hipocrisia. Foi em abril, sob uma pressão violentíssima da turma de fraque & cartola, que o Banco Central cedeu e modificou a taxa de juros – este sim, um sinal poderoso e de efeitos materiais bem conhecidos sobre o conjunto da economia.

Em redução desde agosto de 2011, quando sofreu um golpe histórico para baixo, em abril de 2013 o juro subiu de 7,25% para 7,50% naquele momento. Depois, foi para 8% e agora se encontra em 8,5%. Assim, a jato, com se o país estivesse com uma grande tragédia pela frente.

É claro que, do ponto de vista de quem vai às compras, ou precisa de recursos para investir, uma cascata de três altas consecutivas teria de produzir algum efeito, concorda?

Quando se olha para a alta do desemprego – levíssima em si, assustadora como prenúncio — cabe fazer a pergunta real: mas não era isso mesmo que se queria?

O argumento nominal pela alta de juros era a alta da inflação. Mas era uma tese nominal, que não encontrava apoio nos números reais. No mês a mês de 2013, a inflação encontrava-se – e ainda se encontra — em queda desde fevereiro, mas isso nunca incomodou nossos analistas. Isso porque o objetivo não era nem nunca havia sido vencer uma inflação que, por qualquer parâmetro, seguia uma das mais baixas da história e longe de qualquer quadro ameaçador.

O que se queria era um sinal político. Cobrava-se do governo Dilma uma demonstração enfática de seu compromisso de impedir novas altas inflacionárias. Não havia, rigorosamente, um quadro econômico para justificar a alta dos juros. Havia um ambiente político e era assim, no círculo que discute economia no Planalto, que a alta se justificou.

O Banco Central cedeu e os juros voltaram a subir.

A economia melhorou? O ambiente está mais otimista? A confiança retornou? Nem um pouco. A economia de mercado nem sempre obedece a seus psicólogos. Os ganhos do mercado financeiro voltaram a engordar? Sem dúvida.

O rentismo é uma tremenda força da natureza nos investimentos da turma fraque & cartola. Engorda seu patrimônio pessoal e também alimenta o caixa de empresas. Após décadas de financeirização econômica, empresários produtivos compensam perdas na indústria e no comércio com ganhos nas aplicações em títulos do governo.

Mas não é só isso. Não estamos falando de bilhões que podem ser perdidos e mais tarde recuperados. Isso é o dia-a-dia.

Em julho de 2013, a questão é outra, envolve o poder de Estado sobre a sexta economia do planeta, onde o bloco político liderado por Luiz Inácio Lula da Silva tentará vencer o quarto mandato consecutivo. Em caso de vitória, uma opção política que seria possível definir como jucelinismo de esquerda poderá completar 16 anos à frente do Estado.

Nada mau, considerando-se que outros juscelinismos — o de JK e outros semelhantes — chegaram a ter problemas até para serem empossados e mesmo para terminar um único mandato.

A campanha de 2014 será travada na economia.

É certo que, num ambiente de guerra total, não haverá trégua em nenhum terreno, mesmo naqueles em que a miséria nacional clama por uma ação do Estado – como a saúde publica e seus médicos ausentes – nem na reabilitação de nossos costumes políticos, que obriga a pensar numa reforma capaz de ampliar as bases de nossa democracia.

Mas é na economia, que define o bem-estar da população e o grau de satisfação com cada governo, que a eleição irá se resolver.

Os adversários, unidos pela esperança de fazer um todos-contra-um, têm um ano e dois meses para construir uma candidatura viável e criar um ambiente desfavorável à presidente, contando com composição de flores e plantas como Marina Silva e José Serra, Aécio Neves e Eduardo Campos, quem sabe sob as bênçãos de Joaquim Barbosa.

Neste vale-tudo, o esforço principal é questionar, de alto a baixo, um elemento básico nas decisões que fazem o destino de um país, seja a do empresário que resolve investir em seu negócio, seja do cidadão que sai de casa para o trabalho e do estudante que ocupa a rua em protesto.

Em todos os casos, o que está em jogo é a confiança no governo, elemento químico que envolve a capacidade de Dilma em defender as conquistas realizadas até aqui, impedir que sejam dizimadas palmo a palmo, centímetro por centímetro, como ocorre hoje com as antigas fortalezas de bem-estar da Europa, e dar conta dos progressos necessários, que os protestos de rua apontaram em nuvens de muita clareza e confusão também.

O confronto que se aproxima envolve aspectos objetivos e subjetivos e todos sabem que eles se alimentam mutuamente. Cada número desfavorável será ampliado e exagerado. Cada número positivo será escondido, amenizado. Empenhados em auxiliar uma oposição “fraquinha”, não é preciso esperar uma visão isenta nem equilibrada da maioria dos meios de comunicação. Se já era ruim quando o país crescia a 7,5%, imagine agora.

Já li quem dissesse que os 6%, ainda um dos menores índices de desemprego do mundo e da história do Brasil, são a prova definitiva da desagregação da política econômica.

Calma, gente.

O aumento no desemprego foi leve e pode ter sido breve.

É um sinal de que medidas que supostamente deveriam proteger o bolso dos brasileiros estão produzindo efeito – negativo.

Os 6% podem ser um sinal superficial ou uma brecha que anuncia uma rachadura em todo edifício. Dependem, essencialmente, das respostas que o governo der a eles.O desemprego subiu para 6%, contra 5,8% em maio. Milhares de pessoas não conseguiram o trabalho que procuravam e isso não é bom para ninguém.
A rigor, contudo, não é um patamar alto, ainda que seja uma raridade. Só em 2002, quando o Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso, o país teve um desemprego maior do que 6% em junho.

A preocupação sobre os 6% se justifica por uma pergunta: este número aponta para uma tendência de novas altas no futuro?

Impossível saber agora.

A leitura da maioria de nossos observadores sugere impressões falsas sobre o comportamento da economia.

Dá a impressão de que possíveis altas do desemprego, com queda do salário e a reversão de um ambiente espantosamente saudável quando se olha para o mundo lá fora, inevitavelmente estão a caminho.

Isso porque o país estaria condenado, por leis da natureza ou castigos divinos, por ter se recusado a cumprir o ABC do pensamento monetarista. Claro que não é assim.

A queda no emprego pode ser acentuada, estancada ou mesmo revertida – ainda que parcialmente – pelas mesmas decisões que levaram aos 6%.

(Nunca é demais lembrar o óbvio. O desemprego no país encontra-se num patamar baixíssimo, muito próximo do pleno emprego, o que torna ilusório imaginar novas reduções).

Os 6% obrigam, no entanto, a falar de uma certa hipocrisia. Foi em abril, sob uma pressão violentíssima da turma de fraque & cartola, que o Banco Central cedeu e modificou a taxa de juros – este sim, um sinal poderoso e de efeitos materiais bem conhecidos sobre o conjunto da economia.

Em redução desde agosto de 2011, quando sofreu um golpe histórico para baixo, em abril de 2013 o juro subiu de 7,25% para 7,50% naquele momento. Depois, foi para 8% e agora se encontra em 8,5%. Assim, a jato, com se o país estivesse com uma grande tragédia pela frente.

É claro que, do ponto de vista de quem vai às compras, ou precisa de recursos para investir, uma cascata de três altas consecutivas teria de produzir algum efeito, concorda?

Quando se olha para a alta do desemprego – levíssima em si, assustadora como prenúncio — cabe fazer a pergunta real: mas não era isso mesmo que se queria?

O argumento nominal pela alta de juros era a alta da inflação. Mas era uma tese nominal, que não encontrava apoio nos números reais. No mês a mês de 2013, a inflação encontrava-se – e ainda se encontra — em queda desde fevereiro, mas isso nunca incomodou nossos analistas. Isso porque o objetivo não era nem nunca havia sido vencer uma inflação que, por qualquer parâmetro, seguia uma das mais baixas da história e longe de qualquer quadro ameaçador.

O que se queria era um sinal político. Cobrava-se do governo Dilma uma demonstração enfática de seu compromisso de impedir novas altas inflacionárias. Não havia, rigorosamente, um quadro econômico para justificar a alta dos juros. Havia um ambiente político e era assim, no círculo que discute economia no Planalto, que a alta se justificou.

O Banco Central cedeu e os juros voltaram a subir.

A economia melhorou? O ambiente está mais otimista? A confiança retornou? Nem um pouco. A economia de mercado nem sempre obedece a seus psicólogos. Os ganhos do mercado financeiro voltaram a engordar? Sem dúvida.

O rentismo é uma tremenda força da natureza nos investimentos da turma fraque & cartola. Engorda seu patrimônio pessoal e também alimenta o caixa de empresas. Após décadas de financeirização econômica, empresários produtivos compensam perdas na indústria e no comércio com ganhos nas aplicações em títulos do governo.

Mas não é só isso. Não estamos falando de bilhões que podem ser perdidos e mais tarde recuperados. Isso é o dia-a-dia.

Em julho de 2013, a questão é outra, envolve o poder de Estado sobre a sexta economia do planeta, onde o bloco político liderado por Luiz Inácio Lula da Silva tentará vencer o quarto mandato consecutivo. Em caso de vitória, uma opção política que seria possível definir como jucelinismo de esquerda poderá completar 16 anos à frente do Estado.

Nada mau, considerando-se que outros juscelinismos — o de JK e outros semelhantes — chegaram a ter problemas até para serem empossados e mesmo para terminar um único mandato.

A campanha de 2014 será travada na economia.

É certo que, num ambiente de guerra total, não haverá trégua em nenhum terreno, mesmo naqueles em que a miséria nacional clama por uma ação do Estado – como a saúde publica e seus médicos ausentes – nem na reabilitação de nossos costumes políticos, que obriga a pensar numa reforma capaz de ampliar as bases de nossa democracia.

Mas é na economia, que define o bem-estar da população e o grau de satisfação com cada governo, que a eleição irá se resolver.

Os adversários, unidos pela esperança de fazer um todos-contra-um, têm um ano e dois meses para construir uma candidatura viável e criar um ambiente desfavorável à presidente, contando com composição de flores e plantas como Marina Silva e José Serra, Aécio Neves e Eduardo Campos, quem sabe sob as bênçãos de Joaquim Barbosa.

Neste vale-tudo, o esforço principal é questionar, de alto a baixo, um elemento básico nas decisões que fazem o destino de um país, seja a do empresário que resolve investir em seu negócio, seja do cidadão que sai de casa para o trabalho e do estudante que ocupa a rua em protesto.

Em todos os casos, o que está em jogo é a confiança no governo, elemento químico que envolve a capacidade de Dilma em defender as conquistas realizadas até aqui, impedir que sejam dizimadas palmo a palmo, centímetro por centímetro, como ocorre hoje com as antigas fortalezas de bem-estar da Europa, e dar conta dos progressos necessários, que os protestos de rua apontaram em nuvens de muita clareza e confusão também.

O confronto que se aproxima envolve aspectos objetivos e subjetivos e todos sabem que eles se alimentam mutuamente. Cada número desfavorável será ampliado e exagerado. Cada número positivo será escondido, amenizado. Empenhados em auxiliar uma oposição “fraquinha”, não é preciso esperar uma visão isenta nem equilibrada da maioria dos meios de comunicação. Se já era ruim quando o país crescia a 7,5%, imagine agora.

Já li quem dissesse que os 6%, ainda um dos menores índices de desemprego do mundo e da história do Brasil, são a prova definitiva da desagregação da política econômica.

Calma, gente.

O aumento no desemprego foi leve e pode ter sido breve.

É um sinal de que medidas que supostamente deveriam proteger o bolso dos brasileiros estão produzindo efeito – negativo.

Os 6% podem ser um sinal superficial ou uma brecha que anuncia uma rachadura em todo edifício. Dependem, essencialmente, das respostas que o governo der a eles.
Por: Fernando Brito

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