sexta-feira, outubro 27, 2017

Crônicas Econômicas - O Economicismo



O Economicismo

Evaristo Almeida

Uma crítica bastante contundente do Henri Lefebvre contra as ciências parcelares é a forma como elas são usadas ideologicamente para encobrir outros interesses, ele as chama de forma pejorativa de economicismo, filosofismo, sociolisgmo, entre outros.

Isso me animou a escrever sobre o economicismo, que é a economia na sua forma mais vulgar; antes tínhamos a economia política, que é a economia em que a contradição das classes sociais está presente, assim também como toda formação histórica que explica o desenvolvimento e o subdesenvolvimento de um país.

O economicista (e não economista, não confundam) se forma nas universidades mais famosas dos Estados Unidos, ou em simulacros no Brasil, que as copiam e se orgulham disso. O economista John Kenneth Galbraith, escreveu no livro “A Era das Incertezas” que ele tinha preocupação no que essas instituições ensinavam, principalmente porque a maioria dos alunos eram de países do terceiro mundo e cuja aplicabilidade não era possível nem nos Estados Unidos.

Pelo visto, lá também eles tentaram aplicar o economicismo, pois concentraram a renda no 1% mais rico da população com aumento da desigualdade da renda e transformaram os Esteites num país especializado em produzir papéis, pela captura do capital financeiro que abdica do movimento mostrado por Marx da acumulação capitalista de D-M-D’, em que dinheiro ou capital (D) é transformado em mercadoria (M) e no final esse dinheiro, através do trabalho, é valorizado com mais-valia (D’). Optaram pelo circuito financeiro D-D’, sem a intermediação da produção de mercadorias, ou seja, do uso do trabalho humano e só produz crises financeiras, que vem se repetindo desde os anos 1970 e a maior de 2008, quebrou tanto os Estados Unidos quanto a Europa.

O resultado dessas estripulias todas foi o aumento da pobreza e da desigualdade social nesses países.

Bem, mas os cabeças de planilha (como Nassif apelidou os economicistas) tupiniquins são lobotomizados e seguem a cartilha decorada nos Estados Unidos de forma canina, mesmo porque são ideologicamente alinhados com o neoliberalismo que vê o mercado como unidade suprema acima do povo; pregam redução do gasto social e dos direitos trabalhistas e previdenciários, alta taxa de desemprego para que os salários não ameacem a taxa de lucros, passar todos os bens coletivos para controle privado no processo que no passado ficou conhecido como privataria (as empresas, geralmente estrangeiras, receptam esses ativos a preços vis, como o pré-sal hoje, como as gangues fazem com produtos alheios) e estão a serviço dos interesses estrangeiros, em prejuízo do povo brasileiro (fazem parte da subelite, que são aqueles que estão comprometidos com o projeto de nação dos países centrais).

Os representantes do economicismo estão na mídia, da qual se dizem comentaristas de economia, mas a realidade mostrou que defendem unicamente a reprodução do capital em detrimento da dignidade humana e até nutrem certo desprezo pelo nosso povo, falam do mercado de capitais (bolsa de valor), como se fosse economia e trabalharam diuturnamente para o golpe de estado que colocou uma quadrilha no governo do país com o terrorismo econômico que praticaram.

Eles estão na televisão, nos jornais, nos rádios, mas também na academia, ensinando teorias para os alunos que perpetuam a condição da desigualdade social no Brasil e a condenação ao subdesenvolvimento.

Abdicaram de construir uma nação soberana com o povo, em que a condição de vida boa para todos seja possível.

Os representantes do economicismo defendem juros altos, mesmo não tendo nada na teoria econômica que justifique a transferência pelo governo do pagamento de R$ 500 bilhões de juros anualmente ou a cobrança de 400% pela banca privada, num processo de agiotagem consentida e que deveria ser combatida.

Eles são parte do processo de locupletação da suposta elite brasileira (subelite), que usam o argumentos dos juros para expropriar recursos que deveriam ir para a educação, saúde, mobilidade urbana, segurança, pagamento de melhores salários aos professores, entre outros gastos socialmente benéficos para a economia, mas vão para o 1% mais rico do país.

E esse dinheiro vem de impostos regressivos, coletados principalmente entre os mais pobres que pagam muito mais, proporcionalmente a renda, do que os mais ricos.

Além de surrupiar via juros, parte dos recursos do Estado, a suposta elite (subelite) não gosta de pagar impostos, pois sonegam anualmente cerca de US$280 bilhões, segundo dados de 2013, divulgados por Tax Justice Network (rede de justiça fiscal, em tradução livre, organização internacional independente com base em Londres, que analisa e divulga dados sobre movimentação de impostos e paraísos fiscais), dados de 2010.
E tudo isso é escondido da população pelos economicistas, através dos seus bate-estacas na mídia e na academia, que usam a questão fiscal (falácia fiscal) como argumento para acabar com a aposentadoria, gastos sociais e redução dos direitos trabalhistas.

E os partidários do economicismo, ficam em êxtase quando um prefeito, como o de São Paulo, legítimo representante da suposta elite (subelite) diz que vai distribuir restos de comida fossilizados para a população de rua e para os alunos da rede municipal (imagino o que Waldick Soriano e Falcão diriam a respeito dessa ração) e ameaçou que em breve o país inteiro será vítima dessa infâmia.

Uma pergunta, será que ministério público que ficou indignado com uma ciclovia na Avenida Paulista na gestão passada, vai questionar o gestor, o empresário que não é político, que está prefeito de São Paulo? Ou hibernará durante os quatro longos anos dessa “jestão”?

Ou uma ciclovia deve provocar mais indignação que distribuição de restos de comida à população?

E a televisão, os jornais, rádios, que atacavam diuturnamente as ciclovias, que reduziu a mortalidade de ciclistas na capital, vão se manifestar contra a distribuição de ração à população?

Ou o papel da mídia na cidade de São Paulo é agir politicamente em torno de um projeto de dominação social, de forma parcial, tratando o que é bom como a ciclovia como ruim e o que é um acinte à dignidade humana de forma acalorada?

É o processo invertido, em que o bom é ruim e o ruim é bom, de acordo com os interesses políticos mais escusos da suposta elite (subelite) brasileira?

Ou acham que o povo é lixo e merece comer o que nem a cão deveria ser distribuído?

Alguém vai investigar a empresa que está por trás disso tudo?

Será que já ouviram falar que comida é arroz, feijão, carne, frutas, saladas, que é o que deveria ser distribuído?

Ou não consideram os pobres e os alunos das escolas públicas como gente?

A farinata seria distribuída em escolas como o Dante Alighieri, Bandeirantes ou nessas escolas bilíngües, as high schools?

Nesse caso, provocaria uma forte reação da alta classe média paulistana, que está se lixando quando são estudantes da periferia?

Ou os alunos do Campo Limpo, Jardim Paraná, Itaquera, Jardim Ângela, São Mateus, entre outros, são diferentes deles?

A condição humana não é a mesma?

Bem, voltemos ao economicismo que gosta muito quando um governo como Alckmin, que assim comoTemer (que não foi derrubado ainda por representar interesses que vão contra o bem-estar do povo brasileiro e está a serviço de interesses estrangeiros) enviou o PL 920/2017 à Alesp para cortar gastos sociais, correção salarial e evolução na carreira dos funcionários públicos, para pagamento de juros da dívida pública.

O Alckmin sabe que a condição da saúde, da educação, da mobilidade e da segurança é precária, mas de novo os interesses do mercado em detrimento da população é o que importa?

O economicismo está atrelado aos interesses da suposta elite brasileira (subelite), cujas ideias vieram nas caravelas de Cabral, que é explorar essas terras e o seu povo e depois se mandarem, antes iam para Lisboa, agora vão para Miami.

Para finalizar essa crônica o economicismo é um misto de picaretagem econômica e alienação política, feita com o uso da mídia, a serviço da espoliação do povo brasileiro.