O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
segunda-feira, junho 12, 2017
Como não temer um governo de trevas?
(Laerte Fedrigo)*
Antes de se consolidar o golpe de estado no Brasil, Michel Temer anunciou a Ponte para o Futuro, que na nossa concepção estava mais para uma pinguela para o passado, uma vez que significava superávit primário para o pagamento de juros, elevação da idade mínima para aposentadoria, mudança das regras trabalhistas, fim da estabilidade no serviço público e cortes nos gastos sociais. Em síntese, arrocho sobre os trabalhadores e redução do tamanho e do papel Estado, em nome e a favor do deus mercado. O retrocesso se configurou na formação ultraconservadora do primeiro ministério.
No campo ético-moral, os partidos da oposição e da grande mídia, articulados com interesses internacionais, usando de um discurso falso moralista, anticorrupção, difamam símbolos nacionais, como a PETROBRAS, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Correios, estimulando a transferência do patrimônio público para a iniciativa privada. As delações e as malas de dinheiro ilustram quão caro tem custado o silêncio de uns e o apoio de outros a um projeto nefasto para o Brasil e para o seu povo, especialmente para a classe trabalhadora. Enganou-se quem vestiu a camisa verde amarela e foi às ruas achando que estava em curso uma cruzada contra a corrupção.
Recentemente o Governo Temer anunciou o fim da recessão. Um discurso falacioso, já que os dados do IBGE indicam que o PIB do primeiro trimestre de 2017 caiu mais uma vez, totalizando 12 trimestres consecutivos de variação negativa. No Brasil real, a tendência é de aprofundamento da recessão, já que a locomotiva da economia se desloca à marcha ré.
A indústria registrou queda de 1,1%, puxada pelo setor da construção, que caiu 6,3%. O setor de serviços registrou queda de 1,7%, puxada pelo comércio, que despencou 2,5%, seguido pelo setor de transporte, armazenagem e correio, cuja queda foi de 2,2%. Na indústria, apenas dois segmentos contribuíram positivamente para o desempenho do PIB: a indústria extrativa mineral e a indústria de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. No setor de serviços, nenhum segmento cumpriu essa façanha. Por essa ótica, a agropecuária foi o único macro setor que contribuiu positivamente para a evolução do PIB, mas não é preciso muito esforço para entender as suas razões, já que, segundo o INPE, em 2016 só na chamada Amazônia Legal houve um aumento de 29% de corte raso, totalizando 7.989 km2 de devastação.
Pela ótica do consumo, os investimentos em Formação Bruta de Capital Fixo, o chamado consumo das empresas, registrou queda de 3,7% no primeiro trimestre de 2017. É o décimo segundo trimestre consecutivo de queda neste indicador. O consumo das famílias, que participa com mais de 60% da composição do PIB no Brasil, caiu 1,9%, pelo nono trimestre consecutivo. O consumo do governo, por sua vez, que poderia reverter o ciclo vicioso da economia brasileira, também caiu, este pela décima vez consecutiva: - 1,3%. No que diz respeito ao consumo do resto do mundo, enquanto as exportações cresceram 1,9%, as importações cresceram 9,8%.
O resultado dessa verdadeira depressão não poderia ser outro senão o aumento das taxas de desemprego. Segundo dados da PNAD Contínua do IBGE, só no primeiro trimestre de 2017 foram quase dois milhões de novos desempregados (1,8), de sorte que a taxa de desemprego atingiu 13,7% da PEA. Ao todo, já são 14,2 milhões de desempregados. Considerando que em 2014 eram 6,5 milhões, o aumento no número de desempregados foi da ordem 118% no período. Deveras assustador.
Como se não bastasse, os dados da pesquisa industrial mensal do IBGE indicaram queda na produção industrial em quase todas as categorias econômicas no mês de abril. A produção de bens intermediários, por exemplo, só não caiu no que diz respeito a componentes para a indústria de alimentos e para a indústria de produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. Nos demais segmentos, a queda variou de 2,48% (indústrias extrativas) a 15,44% (indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias). A produção de bens de capital caiu entre 13% (indústria de máquinas e equipamentos) e 20% (equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos). A produção de bens de consumo duráveis também caiu em todas as grandes atividades, variando de 12,41% na indústria de móveis a 24,6% nas demais atividades. Na indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias houve queda de 21,74%. A produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis também registrou queda de 11,38% para produtos têxteis, 15,42% para produtos alimentícios e 17,46% para bebidas.
Na trajetória de retrocessos, a política perdeu credibilidade, a economia despencou e o desemprego cresceu, acompanhado por conflitos no campo, com todo tipo de vilipêndio à vida humana, especialmente contra as populações originárias do Brasil. A situação é grave, mas o pior está por vir, se chanceladas as reformas em curso. O tempo de meias medidas acabou. A hora é de luta em defesa de direitos arduamente conquistados pela classe trabalhadora.
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* Laerte Fedrigo é Mestre em Economia Política pela PUC/SP.
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