Do Carta Maior
Sibá Machado falou da proximidade entre Aécio Neves e venezuelanos acusados de conspiração e de sua desconfiança do envolvimento da CIA no Brasil.
Darío Pignotti - Página/12
Brasília - Washington apoia o movimento de desestabilização do governo de Dilma? Foi que o este diário perguntou a políticos e acadêmicos brasileiros que, invariavelmente, responderam que “sim”, mas quase todos sob condição de anonimato. Alguns solicitaram o sigilo alegando carecer de provas, outros, possivelmente, por temor às chicotadas da imprensa, que ridiculiza esse tipo de especulação relacionada à intervenção norte-americana.
O Brasil vive sob um estado de sítio midiático, onde se difama sumariamente qualquer um que apoie o governo, denuncie o golpe branco ou insinue que a presidenta recebe apoio externo. O chefe da bancada de deputados do PT, Sibá Machado, não se coíbe diante das críticas da imprensa tradicional e responde sem papas na língua ao que indagamos sobre uma eventual conexão estadunidense. “Tem que ser muito inocente para supor que uma campanha de desestabilização como essa não recebe nenhum tipo de apoio de fora. Chama a nossa atenção que nenhum dos meios de imprensa investigue esse tema, quando é bastante lógico pensar que tudo isso está manipulado desde altas esferas”.
– As “altas esferas” a que você se refere seriam as da Inteligência norte-americana?
– Já disse, e continuo dizendo, que trabalho com a hipótese de que a Inteligência golpista que está atuando na América do Sul não se limita à Inteligência de cada país. Estamos enfrentando interesses que vêm de fora da região em represália a vários governos sul-americanos que assumiram uma linha de maior independência dos Estados Unidos. Vejamos o que está se passando na Venezuela, no Brasil, na Argentina. Vemos muitas semelhanças nas ações contra esses governos, na linguagem utilizada, no papel dos grandes meios de comunicação, no papel jogado pelo Poder Judiciário.
Se olhamos para trás teremos mais exemplos, como o golpe contra Hugo Chávez (2002), o golpe com maquiagem institucional contra o presidente paraguaio Fernando Lugo (2012) e aqui também estamos vendo, agora, quando a oposição busca o parecer de juristas para justificar o impeachment (julgamento político) contra a presidenta Dilma.
– Existem documentos sobre a participação da CIA e da NSA?
– Não tenho documentos, estou formulando uma hipótese a partir dos antecedentes e elementos políticos. Trabalho com a hipótese de que a CIA e outros órgãos de Inteligência como a NSA estão operando, é algo que podemos perceber. E essa desestabilização regional tem interesses particulares no Brasil, onde o PT ganhou quatro eleições consecutivas, todas desde 2002. Vamos fazer uma retrospectiva. Não caiu bem para os norte-americanos a atitude da Dilma, suspendendo a visita de Estado a Washington, em 2013, devido à espionagem que ela sofreu por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA). Os Estados Unidos tampouco viram com satisfação a nossa participação na formação dos Brics, na criação de um banco alternativo ao Banco Mundial, de uma agência alternativa ao FMI. Eles não aprovam nenhuma mudança mais importante na ordem geopolítica e econômica. Não gostaram dos investimentos na construção do Porto de Mariel, em Cuba, da diversificação dos mercados, do novo paradigma da política externa brasileira, entre outras coisas.
Aécio e os reacionários
Depois de ser derrotado nas eleições presidenciais de outubro de 2014, Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), adotou um discurso incendiário contra Dilma, exigindo sua destituição através de um processo de impeachment, considerado inapropriado até mesmo por caciques do seu partido, como o ex-mandatário Fernando Henrique Cardoso.
Durante a entrevista com Página/12, em seu escritório na Câmara dos Deputados, o petista Sibá Machado fala da proximidade entre Aécio e os dirigentes venezuelanos acusados de conspirar contra o presidente Nicolás Maduro. E mencionou a recente participação do líder opositor brasileiro no Fórum de Lima, onde ele confraternizou com grandes nomes da direita latina, como o ex-presidente uruguaio Jorge Batlle, o escritor peruano Mario Vargas Llosa e o cubano-estadunidense Carlos Alberto Montaner, paladino do pensamento reacionário de Miami.
– Como Aécio se articula com seus colegas latino-americanos?
– Por um lado, está a sua atividade pública. Esteve em Lima, onde se reuniu com familiares dos golpistas venezuelanos (as esposas de Leopoldo López e Antonio Ledezma, ambos processados). Pelo que vejo, Aécio está tomando o modelo da ultra-direita venezuelana. Na realidade, esses contatos internacionais me lembram muito a Operação Condor, quando as ditaduras atuavam em rede. E digo mais, suspeitamos que Aécio se comunica frequentemente com outros golpistas, que mantém reuniões clandestinas e que se articula para semear a instabilidade contra os governos progressistas.
– Uma das bandeiras de Aécio agora é a corrupção na Petrobras….
– Mas é curioso que logo o Aécio venha a criticar a Petrobras, pedindo o fim o novo marco regulatório da exploração do petróleo, implantado nos governos do PT. Aécio defende o mesmo discurso das empresas multinacionais com sede nos Estados Unidos. Estou convencido de que os norte-americanos não estão satisfeitos com a nova lei do petróleo, que dá muito poder à Petrobras. Eles preferiam o modelo anterior, de concessões, que era um paradigma entreguista conveniente para as multinacionais. No entanto, a lei que aprovamos garante que o petróleo é um patrimônio nacional.
– Dilma viajará a Washington em junho, mas até agora os EUA não deu satisfações ao Brasil sobre os documentos roubados dos arquivos da Petrobras.
– Digo novamente que não tenho documentos, mas desconfio que parte dessa informação roubada pela NSA a respeito da Petrobras tenha parado nas mãos de líderes da oposição. A NSA e a oposição golpista, não tem escrúpulos, jogam no vale tudo, o que eles querem é desmontar a Petrobras e as grandes empresas nacionais brasileiras. O que aconteceu aqui foi muito grave. A NSA roubou segredos de Estado, é possível que eles tenham tido conhecimento prévio dos descobrimentos dos gigantescos poços de petróleo em águas profundas, da zona do Pré-Sal (revelados pelo governo brasileiro em 2007), e que tenham manejado essa informação antes de o ex-presidente Lula anunciar isso publicamente.
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