Por: Helena Stephanowitz
O teste de hipótese na velha imprensa é especular sobre racionamento elétrico a partir do baixo nível dos reservatórios. A previsão se assemelha a essa recente, sobre o fim do mundo
A situação de hoje é muito diferente da de 2001. Todo ano os reservatórios esvaziam na época da seca e enchem na 'época das chuvas, formando um ciclo. Há anos com maior abundância de chuva e outros com menor, por isso o sistema precisa ser monitorado para não ficar abaixo dos limites de segurança. Os reservatórios hoje estão baixos porque estão no pico da seca prolongada. Em 2001 os reservatórios ficaram em níveis baixos o ano inteiro. Esses números podem ser facilmente conferidos no ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Para desolação da turma que torce contra, a previsão probabilística do Instituto Nacional de Meteorologia prevê para este trimestre chuvas acima do normal em quase todo o território nacional.
O sistema hidrelétrico depende, sim, deste ciclo da chuva inerente à natureza, mas é óbvio que precisa ser planejado com margens de segurança, para não ter surpresas em anos de estiagem acima da média, como ocorreu em 2001, quando não havia termelétricas suficientes nem havia linhas de transmissão suficientes para transferir energia de uma região para outra, como hoje. Além disso as usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, começam a gerar energia e atingirão capacidade máxima nos próximos anos.
As especulações na velha imprensa não correspondem à realidade, mas, alinhada à oposição, essa velha imprensa está conseguindo ganhar a guerra da pauta, impondo como assuntos dominantes uma agenda negativa ao governo federal.
Lula também governou com um noticiário adverso semelhante, mas ele e seus ministros conseguiam fazer chegar à população as notícias positivas de seu governo. A velha imprensa equivalia àquelas pessoas chatas, pessimistas, as quais se você der muito ouvido passa o dia deprimido (e à toa). Lula era o outro lado da moeda, do Brasil que dava certo e superava seus obstáculos. E que ganhava respeito internacional. A velha mídia baixa a autoestima do brasileiro; Lula levantava. Quando o cidadão ia fazer um balanço via que o catastrofismo da velha imprensa era tão furado como o fim do calendário dos Maias, enquanto o governo Lula mostrava que estava certo, com seus resultados.
Dilma também tem resultados a mostrar, e provavelmente terá muito mais em 2014, com muitas inaugurações e transformações visíveis na vida das pessoas, mas se ela e seus ministros não ocuparem o espaço do noticiário da pauta positiva, continuará perdendo a guerra da pauta para a oposição que domina as redações.
Na comunicação do governo Lula, principalmente no segundo mandato, cada ministro cuidava de tocar as políticas públicas e realizações, mas também enfrentava os embates, davam entrevistas, explicavam o lado do governo diante dos ataques e travavam debates políticos com a oposição. Já a comunicação do governo Dilma parece a de um quartel onde os ministros não falam sem autorização hierárquica e tanto o planalto como os ministérios quase sempre se limitam a soltar notas à imprensa sobre suas realizações que, quando chegam nas redações, sofrem a “Lei de Ricúpero” às avessas: “O que é bom a mídia esconde, e o do que der para extrair notícia ruim a mídia escancara”.
No mês passado, o ministro das Minas e Energia comemorava em reunião interna 14,7 milhões beneficiados pelo programa "Luz para Todos", No último domingo, o programa Fantástico da TV Globo conseguiu a façanha de desconstruir o programa Luz para Todos (sem nem sequer citá-lo), mostrando uma casa sem luz como se aquilo fosse regra e não exceção. Até hoje não vi ninguém do governo dar alguma resposta à reportagem. Está prevalecendo a versão negativa do Fantástico.
Esta semana o que está bombando entre os jovens é o Sisu, para usar a nota do Enem como meio de ingresso nas universidade federais. É uma pequena revolução em relação ao antigo vestibular. No governo, um silêncio sepulcral. No programa de rádio Café com a Presidenta, o assunto nem foi lembrado.
Não se trata de pedir à presidenta para falar pelos cotovelos, nem se preocupar mais com a imagem do que com o conteúdo, porque no fim do mandato o povo julga pelos resultados e não pelos discursos. Mas é preciso que alguém no governo preencha o vácuo e enfrente as batalhas das pautas. O ideal é também liberar os ministros para atuarem como políticos que são, respondendo mais, dando mais entrevistas. Se houver um ou outro ruído em uma ou outra entrevista, como acontecia também no governo Lula, não é motivo para ameaça de demissão. O importante é acertar mais do que errar, e política exige uma dose de ousadia, sujeita a erros pontuais. Na comunicação também o ótimo é inimigo do bom. O silêncio, deixando a pauta vazia é o pior dos mundos, pois deixa a oposição com a avenida aberta para fazer um carnaval com factoides os mais absurdos.
A velha mídia já declarou reiteradamente atuar como partido de oposição. Se o governo tem líderes no Congresso para travar o bom combate político, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República precisa dos técnicos para fazer as coisas da forma correta, mas precisa também ter uma visão política do processo, atuando de forma pró-ativa.
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