O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
quarta-feira, dezembro 21, 2011
Brasil inaugura nova era de geração hidrelétrica na Amazônia
Usina de Santo Antônio, em Rondônia, deve produzir primeiro megawatt no dia 28, com turbina que traz menor impacto ambiental; veja o infográfico e entenda a diferença
Pedro Carvalho, iG São Paulo
Brasil inaugura nova era de geração hidrelétrica na AmazôniaUsina de Santo Antônio, em Rondônia, deve produzir primeiro megawatt no dia 28, com turbina que traz menor impacto ambiental.
A Hidrelétrica de Santo Antônio, que será a sexta maior do País e fica em Rondônia, no Rio Madeira, deve começar a gerar energia no próximo dia 28. Nessa data, a primeira das 44 turbinas da usina deve ser ligada de forma definitiva. Será a primeira turbina do tipo "bulbo" a operar na bacia amazônica – uma questão técnica que representa uma enorme mudança no modo como a região utiliza seu potencial hidrelétrico. Isso porque a turbina bulbo aproveita a correnteza natural do rio, sendo capaz de gerar energia em larga escala sem que uma grande área da floresta seja alagada.
Assim, Santo Antônio será o oposto dos últimos empreendimentos feitos na bacia hidrográfica mais importante do País. Em 1980, o governo inaugurou a usina de Balbina (AM), considerada um desastre pela imensa área alagada e a produção pífia. Ainda no fim do regime militar, foi construída a hidrelétrica de Tucuruí, uma das maiores do Brasil, mas que também deixou muita floresta debaixo d'água (2.414 km2, contra 350 km2 em Santo Antônio) – e que, no mais, fica numa região do Pará já quase fora da bacia amazônica.
Santo Antônio fica próxima ao coração da região amazônica e terá a melhor relação entre área alagada e energia gerada, em comparação com qualquer usina brasileira. Sozinha, irá produzir 3.150 MW, cerca de 3% da atual capacidade elétrica do País. Em conjunto com Jirau, vai formar o Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, que deve adicionar 6.600 MW ao sistema nacional de energia.
Após a entrada em operação dessa primeira turbina, as outras serão inauguradas num ritmo médio de uma por mês, até que, em 2016, todas estejam funcionando. A concessionária adiantou em um ano o início da geração, que ocorreria em dezembro de 2012, para antecipar receitas, mas não divulga o quanto isso vai adicionar ao caixa. O plano era fazer um evento de inauguração, que contaria com a presença da presidenta Dilma. Mas, por motivos técnicos, a turbina só poderá ser ligada nos últimos dias de dezembro, data desfavorável para a agenda política.
Primeira grande obra do governo Dilma e parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a usina de Santo Antônio é também um superlativo esforço de engenharia. No momento, 18 mil pessoas trabalham no canteiro de obras – chegou a ser 20 mil. Elas consomem 78.800 quilos de carne, 800 mil xícaras de café e 11.400 sacos de arroz por mês. A quantidade de concreto usada na construção seria suficiente para erguer 37 estádios do Maracanã. O aço empregado faria 18 torres Eiffel. O custo total deve passar dos R$ 15 bilhões.
Santo Antônio será a primeira grande usina brasileira a usar turbinas bulbo. A tecnologia já existe no País, mas em projetos menores, como a hidrelétrica de Igarapava (MG). A hidrelétrica do Rio Madeira será a maior do mundo a usar turbinas do tipo – a segunda fica no Japão e tem apenas nove turbinas. A turbina que será ligada no final do mês mede 8,15 metros de diâmetro – é menor apenas que as usadas em Murray Lock (EUA) – e tem capacidade de gerar, numa vazão ideal, 71,6 MW.
As turbinas bulbo permitem a criação de usinas do tipo “fio d’água”, ou seja, todo o volume de água que chega à barragem corre para o outro lado – não há reservatório. Isso faz o impacto de Santo Antônio ser menor. A variação da altura do rio, na parte anterior às turbinas, será de 13,9 m, pouco maior que a cheia natural do Madeira. “Isso é possível porque a turbina bulbo é mais eficiente", explica Andre Morello, engenheiro e coordenador de fornecimento eletromecânico em Santo Antônio. "Com ela, a velocidade natural da água, sem barragens, é suficiente para gerar energia significativa.”
Além disso, um recurso que já está em funcionamento é o sistema de transposição de peixes (veja no infográfico acima). Para subir o rio na época da piracema, os peixes passam por um canal construído na Ilha do Presídio, que fica no meio do rio. “Eles são atraídos para lá pela velocidade da água que sai do canal”, explica Morello. “Já a água que sai das turbinas, numa velocidade muito maior que a correnteza natural, não atrai os animais”, diz. O sistema foi testado no Madeira e já está sendo usado pelos animais.
Mesmo com tantos números grandes, Santo Antônio pode aumentar de tamanho. O grupo concessionário, formado por Odebrecht, Andrade Gutierrez, Eletrobras Furnas e outras empresas, submeteu à agência controladora de energia um plano para incluir mais seis turbinas no projeto, o que aumentaria a capacidade de geração para 3.580 MW. O projeto está em análise pela Aneel e pelo Ministério de Minas e Energias.
A energia produzida a partir do dia 28 já será distribuída para o sistema Acre-Rondônia. Os 3 km de linhas que ligam Santo Antônio ao sistema elétrico, também construídos pela concessionária que vai administrar a usina por 35 anos, ficaram prontos há cerca de dois meses. O potencial elétrico brasileiro, um dos diversos gargalos de infraestrutura que o país precisará solucionar nos próximos anos, será um pouco maior nos primeiros dias de 2012 do que foi em 2011 – com um custo ambiental que também olha para o futuro.
A ideologia e a privatização das teles
por Sergio Leo, do Amálgama
Já pensou se não tivessem privatizado a indústria automobilística? Ainda estaríamos usando aquelas carroças que o Collor xingou na década de 90, lembra?
O quê? A indústria automobilística já era privatizada? Hummm…
… Mas e as companhias aéreas, hein? Lembra como era caro andar de avião? Só rico conseguia ir ao exterior. Depois da privatização, hoje qualquer um faz crediário e viaja a Buenos Aires, viu a matéria sobre a nova classe média viajando, na Globo?
O quê? As aéreas também já eram privadas?
Mas, então, o que aconteceu com as telecomunicações, hein? É consenso que graças à privatização, tudo mudou, e só a desestatização nos permite ter isso, hoje, esses telefones à disposição de todos, quando antes era coisa caríssima, declarada até no imposto de renda.
Não, comigo essa fábula não vinga.
Nos anos 90, em que os telefones se espalharam pelo país, houve uma revolução, um salto quântico na tecnologia de telecomunicações, e foi isso, não a venda da Telebras, as companhias financiadas pelo público BNDES, que barateou custos, simplificou o acesso, e popularizou o telefone. Boa parte do dinheiro investido veio do banco público, aliás. Os ganhos, claro, foram para os acionistas privados.
Só a fé cega em tabus ideológicos permite falar, sem piscar, que foi a privatição que fez isso tudo. Dê uma olhada na telefonia privada no México, da Telmex, e verá que o capital privado não garante eficiência.
Outro chavão é dizer que só a privatização garantiu recursos que o setor estatal não teria para investir. Ora, grande parte do dinheiro que financiou a compra das estatais e que financia os investimentos das privatizadas veio do setor público. Uma consulta ao site do BNDES mostra isso. Aliás, o setor público, com o BNDES e os fundos de pensão estatais, ainda detém boa parte do capital dessas empresas de controle privado.
Hoje, na TV — poderia ter sido em qualquer outro lugar — repórteres comentavam os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios, e, comparando o mau desempenho do saneamento com a diseminação dos telefones, claro, saíram com esse chavão: ah, é claro, na telefonia privatizaram.
Pois bem, passou batido aos repórteres um pequeno dado: o grande crescimento na disponibilidade de telefone ocorreu na telefonia móvel, não na fixa, que tem caído em termos proporcionais: 49% das casas têm só o celular como telefone. Eram só 16% em 2004.
A quantidade de casas com telefone fixo (com ou sem celular) caiu, e chegou a 43,6% dos domicílios — eram 51,1% em 2001. E as casas só com fixo caíram proporcionalmente mais da metade, de mais de 14% para menos de 6%. Alguns noticiosos contaram essa história como “avanço do celular nas preferências do consumidor”. Prefiro pensar que é a consequência da tecnologia, que foi a principal responsável pela melhoria na distribuição de telefones no país.
A ligação de telefone fixo é mais barata que a de celular. Por que tão pouca gente (em geral, empresas e famílias de maior renda) opta pela telefonia fixa? Ora, porque ter um celular é bem mais fácil (e era impossível na Telebras estatal, porque não existiam celulares). Num mundo desses, claro que a tendência da telefonia seria tornar-se mais barata e acabar problemas como a compra da linha a preços caríssimos.
Agora, tenha a curiosidade de consultar os serviços de proteção ao consumidor. Quem está nas cabeças, como péssimo prestador de serviços à população? Ora, quem diria, as companhias de telefonia. Qualquer um que precisou trocar de linha, substituir o telefone, queixar-se de contas erradas sabe disso muito bem. Isso sem falar no próximo salto tecnológico, a banda larga, para o qual as empresas privadas, teoricamente, deveriam estar bem mais preparadas.
Se a telefonia fosse ainda estatal, esse problema estaria sendo jogado na conta do Estado. Como não é, é assunto tabu entre os profetas da privatização.
Meu amigo Vinod Thomas, insuspeito funcionário graduadíssimo do Fundo Monetário Internacional (e que provavelmente não concordaria com esse post), fez um belo estudo sobre o Brasil, recentemente, e, com sua experiência de funcionário de instituição financeira multilateral, comentava, em certo trecho: o que garante eficiência não é a propriedade ser estatal ou privada, é a existência de competição.
Por isso têm razão todos aqueles que dizem que eu exagero, que claramente houve melhoria após a privatização. Houve, e, em parte, devido a certas características do setor privado (encontráveis em boas estatais, como a Embrapa e a Petrobras, para dar dois exemplos). Mas não têm razão os que, ideologicamente, atribuem a mudança exclusivamente à privatização, como se ela fosse panaceia e o Estado, sempre um gerador de problemas.
Melhorou onde se impôs a competição (preocupação, registre-se, do tucano privatista Sérgio Motta, que Deus o tenha no confortável inferno dos ateus). E geraram-se fortunas até hoje envolvidas em escândalos que pipocam vez por outra, como se fossem indesejáveis chamadas de telemarketing.
Então, da próxima vez em que algum deslumbrado vier defendera privatização com esse exemplo falso aí da telefonia, concorde. E emende: “Sem falar no sucesso da privatização das montadoras de automóveis e das companhias aéreas, hein?”.
segunda-feira, dezembro 19, 2011
Marcos Coimbra: José Serra semeou a beligerância que marca este dezembro
por Marcos Coimbra, no Correio Braziliense
O que estará acontecendo com o velho “espírito cordial brasileiro”? Onde andará nossa proverbial capacidade de encontrar o entendimento, mesmo em meio às diferenças de opinião?
Está certo que o tal “espírito”, nas palavras de Sérgio Buarque de Holanda — que trouxe o conceito de “homem cordial” para o centro da discussão sobre a cultura brasileira —, não é algo, necessariamente, positivo.
Ele não usava a expressão, apenas, como sinônimo de afável, amável, sincero. Em sua obra mais importante, Raízes do Brasil, “cordial” tinha o sentido etimológico e descrevia uma cultura regida “pelo coração” ao invés da razão, em que a subjetividade impede a predominância dos valores objetivos, e em que a ética privada — da amizade e da compreensão — submete a ética pública.
A consequência disso era clara para ele: “No Brasil, somente excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos (…). Ao contrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares, que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal”.
Em que pesem esses efeitos danosos, foi pela presença da “cordialidade” que construímos uma cultura política menos marcada pela radicalização e pelo ódio que a de nossos vizinhos. Na América do Sul, a regra é a existência de clivagens, ideológicas e partidárias, muito mais profundas e duradouras do que as que temos por aqui.
Da redemocratização para cá, todos os momentos políticos mais importantes foram marcados por grandes convergências: a eleição de Tancredo, a institucionalização democrática com Sarney, a eleição direta para presidente, o impeachment de Collor, o plano Real, a vitória de Lula. Sempre houve oposição (até porque a cordialidade não requer a concórdia), mas não intransigente e, às vezes, pouco mais que simbólica.
Dentre muitos, um exemplo: Fernando Henrique abraçando Lula no parlatório do Palácio do Planalto, depois de lhe passar a faixa presidencial, os dois emocionados, sob os olhos do país.
Este é o primeiro Natal a que chegamos com um ambiente político tão carregado. A data ajuda a deixar isso visível — pois costuma ser um momento de desanuviamento de espíritos —, mas, na verdade, quase todo 2011 foi assim (salvo os primeiros meses, quando o governo Dilma viveu uma fase rósea).
As três frentes da oposição brasileira terminam o ano em pé de guerra. No plano institucional, os partidos e os políticos oposicionistas exacerbam o discurso. Até lideranças tradicionalmente avessas a extremismos fazem coro, ameaçadas de perder a legitimidade.
Na imprensa de oposição — que assumiu, explicitamente, a missão de “ocupar a posição oposicionista deste país, já que a oposição (partidária) está profundamente fragilizada”, conforme disse, ano passado, a presidente da Associação Nacional dos Jornais —, o tom só piorou ao longo de 2011.
Nos últimos meses, práticas “jornalísticas” antes inaceitáveis (invasão de domicílio e espionagem, por exemplo), entraram para o arsenal da reportagem de alguns veículos. Destinaram espaço nada modesto a estimular protestos de “indignados” (com resultados inexpressivos). Quase diariamente, exigem contundência dos políticos da oposição.
Na oposição social, espontânea e desorganizada — e que se manifesta particularmente na internet e nas redes sociais —, são cada vez mais frequentes as manifestações de uma agressividade incomum em nossos costumes políticos. Em parte, ela ecoa o que consome dos valentões dessa imprensa, em parte, apenas expressa seus pontos de vista com truculência.
Uma das razões que explicam esse triplo recrudescimento é a campanha que Serra fez em 2010. Ele semeou a beligerância que marca este dezembro.
A vitória de Dilma é outra causa. Perder para Lula era aceitável, ter de se contentar com apenas lhe ser oposição, uma coisa até normal. Mas estar condenado a ocupar um posto secundário frente a ela, quase uma afronta.
A popularidade do governo é a terceira. Sua aprovação popular é inconcebível por quem se acha tão melhor.
O governismo (qualquer governismo) não é, por princípio, radical. A não ser quando se sente acuado. E talvez não estejamos muito longe desse ponto, pelo andar da carruagem.
Por enquanto, a radicalização é um fenômeno localizado, que não atinge a vasta maioria do país.
Ela ocorre, quase que exclusivamente, no âmbito do sistema político e na pequena parcela da sociedade que acompanha seu dia a dia. Ainda bem.
No Brasil das pessoas comuns, o Natal está chegando como sempre, favorecendo os sentimentos de cooperação e amizade. Aumentando algo que não deveríamos deixar que desaparecesse: a cordialidade.
AEB: 18 anos e poucos resultados
por Guilherme Poggio
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entrevista do físico Thyrso Villela, diretor da área de satélites, ao site da revista VEJA
Em números, o programa espacial brasileiro passa a impressão de ser grande, com seus 20 satélites, 15 foguetes e três centros de lançamento — de acordo com informações da Agência Espacial Brasileira (AEB). No papel, está quase em pé de igualdade com potências emergentes como a China e a Índia. Na prática, contudo, o programa nacional, que em 2012 completa 18 anos, não apresenta resultados tão expressivos quando os outros membros do BRIC.
Dos 20 satélites listados no programa espacial brasileiro, apenas um está em funcionamento, quatro foram desativados por atingirem o fim da vida útil e 15 estão previstos para ‘um futuro próximo‘. Já entre os 15 foguetes, quatro estão em operação e 11 são previstos para os próximos anos. Dois centros de lançamento ainda são promessas.
No entanto, nada está perdido, acredita o físico Thyrso Villela, diretor da área de satélites, aplicações e desenvolvimento da AEB. O doutor em astronomia pela Universidade de São Paulo (USP) garante que o Brasil está passando por uma transformação espacial inédita. Villela está na AEB há três anos.
Nesta quinta-feira, o diretor fez uma apresentação sobre o futuro do programa espacial brasileiro no Instituto de Física da USP, durante a Escola Avançada de Astrobiologia, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Em entrevista ao site de VEJA, Villela explicou como pretende fazer a AEB cumprir sua parte para ajudar o Brasil a conquistar a independência espacial, transformando o país em um potência científica e tecnológica.
Durante sua apresentação, o senhor disse que a Agência Espacial Brasileira (AEB) quer começar a planejar com alto custo-benefício. Não deveria ser sempre assim? Por que isso é uma novidade? Porque nunca houve uma ação estruturada no programa espacial brasileiro. Existiram iniciativas isoladas, com institutos, como o Inpe, realizando experimentos separadamente.
Por que motivo nesses 17 anos de Agência Espacial Brasileira nunca houve uma ação estruturada? Tem toda uma história. Há um tempo era um ciclo vicioso: não tínhamos recursos humanos e não tínhamos recursos financeiros. Aí não tínhamos resultados. Se não tem resultado, vamos mostrar o que para captar recursos? Em seguida, quando os primeiros resultados começaram a surgir, tivemos sérios problemas de orçamento por vários anos.
O que nos garante que o ano de 2012 será melhor para o programa espacial brasileiro? Em 2011, o Ministro de Ciência e Tecnologia, Aloísio Mercadante, nos orientou que este ano seria de reflexão para a agência. É exatamente isso que estamos fazendo.
Não deveria ser um ano para trabalhar em vez de ficar refletindo? O programa espacial vinha com problemas há muito tempo. Precisávamos resolver isso. Não adianta colocar dinheiro na agência sem um propósito muito bem fundamentado.
Mas todos os programas espaciais do mundo têm problemas… É diferente…
Diferente como? Não quer dizer que ficamos parados. Fizemos várias coisas. Os projetos que existem continuaram em andamento. O CBERS-3, satélite construído junto com os chineses, com 50% de tecnologia brasileira, ficou pronto e está sendo testado. Tivemos avanços com a plataforma multimissão, com o veículo lançador de satélites, o projeto do satélite geoestacionário… No geral, o último ano do orçamento bianual, nesse caso 2011, é mais reflexivo. Se não tivéssemos repensado nossas estratégias passaríamos os próximos três anos estagnados.
A AEB está apostando alto em uma plataforma multimissão que vai servir de base para outros satélites, barateando o processo de construção. Contudo, o projeto que tinha cinco anos de previsão para ser concluído ainda não está pronto 10 anos depois. Por quê? É algo que nunca foi feito antes. Isso quer dizer que precisamos criar a tecnologia, testá-la e fazer com que ela dê certo com uma indústria que ainda está crescendo e aprendendo a produzir os componentes. É diferente de fazer uma ponte ou um prédio. Vários dos sistemas presentes na plataforma nunca haviam sido desenvolvidos no Brasil. No meio do caminho, muitos componentes que iríamos comprar acabaram entrando na lista internacional de embargo. Ou seja, tivemos que aprender sozinhos como fazer as partes que faltavam e isso acabou atrasando ainda mais o projeto.
Como o Brasil vai conseguir se livrar dos embargos internacionais? O único caminho é desenvolver a própria tecnologia. A questão de embargo é política e militar, mas também é profundamente comercial. Existem vários interesses em jogo e precisamos pegar os atalhos para chegar onde queremos.
O senhor disse durante a apresentação que o Brasil não tem escolha a não ser ter acesso independente ao espaço, referindo-se à construção de foguetes e satélites nacionais. Por que não temos essa escolha? Atualmente, qualquer sensoriamento remoto que o Brasil quiser fazer, seja o monitoramento do desmatamento da Amazônia ou a previsão do tempo, depende de satélites internacionais. Existem acordos para que a utilização desses equipamentos seja garantida, mas ninguém sabe o que pode acontecer. Estamos nas mãos de outros países. Durante a Guerra das Malvinas e o furacão Katrina ficamos praticamente sem imagens de satélite. É uma posição muito vulnerável. Não é ufanismo nem nacionalismo. O Brasil precisa ser capaz de lançar os próprios satélites de forma independente.
O que mais o país poderia ganhar com independência espacial? Somos um país com uma extensão territorial enorme. Temos vários recursos minerais que precisam ser conhecidos e explorados da melhor forma possível. O que ganhamos com informação de meteorologia, por exemplo, chega a ser o equivalente ao que gastamos com nosso programa espacial anualmente, cerca de 300 milhões de reais.
Mas esse dinheiro, uma vez economizado, seria revertido para a AEB? Estamos trabalhando para isso. O programa espacial brasileiro apesar de ser velho, é novo. Começou há 50 anos, mas veio parando. Ficamos estagnados no tempo e acabamos não tendo investimento. Para se ter ideia, o mercado de serviços de satélites é da ordem 200 bilhões de dólares por ano. Não estamos querendo entrar nesse campo pela aventura tecnológica. Queremos tudo que vem junto: empresas brasileiras de altíssima tecnologia, cursos universitários de ponta, institutos especializados. É algo que se espalha pela economia e melhora a qualidade dos empregos. O Brasil não pode continuar sendo o celeiro do mundo, isso é ridículo.
Já existem exemplos de empresas brasileiras que se especializaram em tecnologia espacial? Essa é uma das missões da agência: fomentar o parque industrial brasileiro de alta tecnologia. O parque é pequeno, mas existe. Temos o exemplo dos satélites Amazônia-1 e CBERS. Trouxemos uma empresa que não tinha nada a ver com o programa espacial. Ela fez contribuições importantíssimas com um instrumento ótico e componentes de câmeras. Agora, ela é nossa parceira.
O Brasil teve três lançamentos fracassados com o Veículo Lançador de Satélites (VLS), um deles causando a morte de 21 pessoas em 2003, no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O Brasil está pronto para lançar os próprios satélites? Os dois primeiros voos do VLS-1, sob o ponto de vista estritamente técnico, foram bons. Veja o que os Estados Unidos tiveram que fazer para conquistar o espaço. Eles tiveram uma série de acidentes, muito mais do que já tivemos. Também estamos aprendendo sozinhos. O sistema de controle, por exemplo, que é uma parte complicadíssima do foguete, funcionou perfeitamente. Esperamos que os voos experimentais do VLS-1 se iniciem em 2012 e ele esteja em operação em 2016.
A exemplo da fabricante de aviões americana, Boeing, que ajuda a Nasa na construção de foguetes, por que a AEB não conta com a parceria da Embraer? Não é uma possibilidade totalmente descartada. Na área espacial, todas as empresas fortes se envolvem com o Ministério da Defesa, que coordena a construção de foguetes. Metade dos artefatos que orbitam a Terra é militar. A Embraer vai construir um satélite geoestacionário, o primeiro brasileiro, e vai operá-lo junto com a Telebrás. O dinheiro, 700 milhões de reais, já está alocado. Os passos estão sendo dados.
O senhor disse na apresentação que o orçamento da AEB vai triplicar em dois anos, passando de 200 a 300 milhões de reais por mês, para algo entre 600 e 900 milhões de reais. Dado o histórico financeiro da agência, como o senhor espera que isso aconteça? É um caminho inevitável. O passo mais difícil já foi dado. Os satélites geoestacionários têm prazo de validade. Vamos precisar repô-los a cada 15 anos. Isso quer dizer que haverá uma indústria por trás da construção da sonda, indefinidamente. Daí a coisa começa a andar, em todos os setores. Se não fizermos isso, teremos que contratar o serviço. Estamos fazendo o satélite justamente para não termos que gastar 60 milhões por ano alugando dos outros. É por isso que esperamos que o governo mantenha o projeto em gestões futuras e o orçamento seja triplicado.
Atualmente a AEB gasta menos de 1% — do já reduzido orçamento — em ciência, cerca de três milhões de reais. Como a AEB espera avançar em conhecimento gastando tão pouco? Em 2012 estamos planejando gastar cinco vezes mais em ciência, algo na ordem de 15 milhões de reais. Estamos nos aproximando das universidades para que elas tenham equipes preparadas para atender as necessidades da agência e para que elas tenham espaço para realizar seus experimentos.
Mas isso está longe de acontecer… É verdade. Mas veja, falo isso tranquilamente. Ainda não temos a garantia de que uma missão vai existir. Ninguém quer arriscar a carreira e chegar lá e não dar em nada.
Então que cientista se arriscaria aliar-se à agência agora? Se garantirmos o acesso, o lançamento do projeto e o recurso financeiro, as coisas acontecem. Foi o que fizemos no Itasat, uma pequena plataforma de satélite desenvolvida pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica e outras instituições.
O que foi feito? Garantimos o recurso, cerca de 5 milhões de reais e a plataforma foi desenvolvida com sucesso. Agência, indústria e cientistas trabalharam em conjunto. Há um desconto por causa do desenvolvimento tecnológico, mas ele será incremental. Vamos andar como todo mundo andou: aprenderemos a engatinhar, dar os passos depois correr.
Qual é a nova missão da Agência Espacial Brasileira? Vamos publicar em janeiro um documento mostrando quais tecnologias que vão nos nivelar com outros países e quais são de vanguarda. Vamos organizar encontros, workshops e vamos nos aproximar dos cursos de engenharia espacial. Temos pesquisadores brasileiros que realizam pesquisas de ponta. Essas pessoas contribuem para o avanço do conhecimento, mas que não têm projetos voltados para as necessidades da AEB. A contradição está aí. Temos um capital humano preparado, mas eles não sabem dos nossos problemas. Vamos virar essa mesa e, com eles, faremos a coisa passo-a-passo.
FONTE: Veja
COMENTÁRIO E & P
Até que enfim alguma coisa que preste nas páginas da Veja, apesar das perguntas meio vira-lata do jornalista, que não conhece o programa espacial brasileiro, suas dificuldades de um país que passou pela crise da dívida externa de 1980 e pela ideologia neoliberal de 1990 em que desenvolver tecnologia não era essencial, assim como ter um projeto de nação.
quinta-feira, dezembro 15, 2011
quarta-feira, dezembro 14, 2011
Livro faz Serra ter chilique: “Lixo! Lixo! Lixo!”
Ricardo Kotscho
Do R7
O ex-governador e ex-candidato presidencial José Serra teve um chilique ao ser perguntado sobre o livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Júnior, em que ele é o personagem central. Repetiu várias vezes que o livro era um "lixo" e, quando uma repórter pediu que comentasse o conteúdo, perdeu a paciência: "Vou comentar o que sobre lixo? Lixo é lixo".
Até me espantei quando vi a notícia sobre a reação de Serra publicada no portal do Estadão, às 20h25 desta terça-feira, pouco antes de entrar no ar no Jornal da Record News. Estava rompido o pacto de silêncio na grande imprensa que escondia a obra desde o seu lançamento na última sexta-feira.
Mais espantado ainda fiquei ao não encontrar hoje a notícia na edição de papel do centenário matutino paulistano, em matéria que registra o constrangedor encontro entre José Serra e Aécio Neves na inauguração da Sala Artur da Távola, na Câmara Municipal, em São Paulo, na tarde do mesmo dia.
O texto de Daiene Cardoso fala do Encontro Nacional da Juventude Tucana e, ao final, publica o evento da Câmara, com declarações de Serra sobre a sucessão municipal e a situação do ministro do Desenvolvimento Fernando Pimentel, "que tem sido questionado na sua atividade como consultor entre 2009 e 2010".
Sobre o livro, nada, nenhum questionamento. Aliás, as declarações de Serra e Aécio sobre o livro não foram publicadas em nenhum dos três jornalões nacionais, que até hoje ignoram a sua existência. Devem achar que seus leitores não têm acesso à internet nem ao JRN.
A foto de Ed Ferreira que ilustra a matéria resume o clima do encontro entre Serra e Aécio, logo depois dos tucanos falarem aos repórteres sobre o livro de Amaury Ribeiro Júnior, que continua batendo recordes de vendas apesar do boicote de editores e colunistas dos jornalões.
A Privataria Tucana já é bem conhecida por quem acessa o R7 e assiste ao Jornal da Record News, um programa comandado por Heródoto Barbeiro, que não tem lista negra de assuntos nem de entrevistados.
Olhando e esticando a mão no vazio, Serra, com ar contrariado, está ao lado de um sorridente Aécio Neves, que achou graça quando pediram sua opinião sobre o livro:
"Não é uma literatura que me interesse. Os que se interessarem devem lê-lo", comentou com ironia. Pelo jeito, são muitos os interessados, para desgosto de Serra. Hoje a Geração Editorial mandou para as livrarias mais 50 mil exemplares. Entre outras revelações e denúncias, Amaury conta como um candidato tucano espionava o outro e o PSDB acusava o PT de espionagem.
Durante a campanha presidencial do ano passado, Amaury Ribeiro Júnior foi acusado de quebrar o sigilo fiscal de pessoas ligadas a Serra e ao PSDB, e por isso responde a inquérito na Polícia Federal. Em sua defesa, o jornalista alegou que estava fazendo uma pesquisa exatamente para escrever sobre A Privataria Tucana.
COMENTÁRIO E & P
Esse livro mostra que a velha imprensa brasileira e o PSDB são as mesmas coisas. Os colunistas dos jornais e televisão do Brasil, tão metidos a cobrar ética se calam de forma infame sobre a privataria tucana. São de certa forma cúmplices desse roubo que assolou a nação brasileira. Por isso, que envergonhados escondem o livro da população brasileira. O objetivo do jornalismo das empresas mercantis não é desinformar, desviando o foco do que realmente interessa ao país. Enquanto isso eles se locupletam às custas de privatizações criminosas, juros altos e pedágios paulistas extorsivos.
terça-feira, dezembro 13, 2011
O muro de silêncio, por Maria Inês Nassif
Por Webster Franklin
Da Carta Maior
Um sucesso de vendas cercado por um muro de silêncio
O livro "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr., foi lançado há quatro dias e já é um fenômeno de vendas cercado por um muro de silêncio. Produto de doze anos de trabalho - e, sem dúvida, a mais completa investigação jornalística feita sobre o submundo da política neste século -, o livro consegue mapear o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria sido montado em torno do tucano José Serra. De quebra, coloca o PT em duas saias justas. Ao atirar para os dois lados, o livro-bomba do jornalista acabou conseguindo a façanha de ser ignorado pela mídia tradicional, pelo PT e pelo PSDB.
Maria Inês Nassif
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O livro "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr., foi lançado há quatro dias e já é um fenômeno de vendas cercado por um muro de silêncio. Produto de doze anos de trabalho - e, sem dúvida, a mais completa investigação jornalística feita sobre o submundo da política neste século -, o livro consegue mapear o esquema de corrupção e lavagem de dinheiro montado em torno do político tucano José Serra - ex-deputado, ex-senador, ex-ministro, ex-governador, ex-prefeito e candidato duas vezes derrotado à Presidência da República. De quebra, coloca o PT em duas saias justas. A primeira delas é a constatação de que o partido, no primeiro ano de governo Lula, "afinou" diante do potencial de estrago da CPMI do Banestado, que pegou a lavanderia de vários esquemas que, se atingiam os tucanos, poderiam também resvalar para figuras petistas. O segundo mal-estar com o PT é o ultimo capítulo do livro, quando o autor conta a "arapongagem" interna da campanha do PT, que teria sido montada para derrubar o grupo ligado ao mineiro Fernando Pimentel da campanha da candidata Dilma Rousseff. Amaury aponta (como ele já disse antes) para o presidente do partido, Rui Falcão. Falcão já moveu um processo contra o jornalista por conta disso. O jornalista mantém a acusação.
Ao atirar para os dois lados, o livro-bomba do jornalista, um dos melhores repórteres investigativos do país, acabou conseguindo a façanha de ser ignorado pela mídia tradicional e igualmente pelo PT e pelo PSDB. O conteúdo de seu trabalho, todavia, continua sendo reproduzido fartamente por sites, blogs e redes sociais. Esgotado ontem nas livrarias, caminha para sua segunda edição. E já foi editado em e-book.
Os personagens do PSDB são conhecidos. O ex-caixa de campanha de Serra e de FHC, Ricardo Sérgio de Oliveira, aparece como o "engenheiro" de um esquema que operou bilhões de dólares durante as privatizações e os dois governos de Fernando Henrique Cardoso. A mesma tecnologia financeira usada por Oliveira foi depois copiada pela filha de Serra, Verônica, e seu marido, Alexandre Burgeois. Gregório Marin Preciado surge também como membro atuante do esquema. Ele é casado com uma prima do tucano nascido na Móoca, ex-líder estudantil e cardeal tucano.
Embora esteja concentrado nesse grupo específico do tucanato - o empresário Daniel Dantas só aparece quando opera para o mesmo esquema -, o livro não poupa gregos, nem troianos. A documentação da Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do Banestado, que forneceu os primeiros documentos sobre lavagem de dinheiro obtido ilegalmente das privatizações, é o pontapé inicial do novelo que se desenrola até as eleições presidenciais do ano passado. A comissão, provocada por denúncias feitas pela revista Isto É, em matéria assinada pelo próprio Ribeiro Jr. e por Sônia Filgueiras, recebeu da promotoria de Nova York, e foi obrigada a repassá-lo à Justiça de São Paulo, um CD com a movimentação de dinheiro de brasileiros feita pelo MTB Bank, de NY, fechado por comprovação de que lavava dinheiro do narcotráfico, do terrorismo e da corrupção, por meio de contas de um condomínio de doleiros sul-americanos.
O material era uma bomba, diz o jornalista, e provocou a "Operação Abafa" da comissão de inquérito, pelo seu potencial de constranger tanto tucanos, como petistas (a CPMI funcionou no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003).
Amaury Ribeiro conta de forma simples intrincadas operações de esfria/esquenta dinheiro ilegal - e, de quebra, dá uma clara ideia de como operava a "arapongagem tucana" a mando de Serra. Até o livro, as acusações de que Serra fazia dossiês para chantagear inimigos internos (do PSDB) e externos eram só folclore. No livro, ganham nome, endereço e telefone.
Nos próximo parágrafos, estão algumas das histórias contadas por Amaury Ribeiro Jr., com as fontes. Nada do que aponta deixa de ter uma comprovação documental, ou testemunhal. É um belo roteiro para a grande imprensa que, se não acusou até agora o lançamento do livro, poderia ao menos tomá-lo como exemplo para voltar a fazer jornalismo investigativo.
1. A arapongagem da turma do José Serra (pág. 25) - Quando ministro da Saúde do governo FHC, José Serra montou um núcleo de inteligência dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (a Gerência Geral da Secretaria de Segurança da Anvisa). O núcleo era comandado pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), também delegado. O grupo foi extinto quando a imprensa denunciou que o grupo bisbilhotava a vida dos funcionários. O funcionário da Agência Brasileira de Informações Luiz Fernandes Barcellos (agente Jardim) fazia parte do esquema. Também estava lá o delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo de Graças Souza.
Este núcleo, mesmo desmontado oficialmente, teria sido usado por Serra, quando governador, para investigar os "discretos roteiros sentimentais" do governador de Minas, Aécio Neves, no Rio de Janeiro. De posse do dossiê, Serra teria tentado chantagear Aécio para que o governador mineiro não disputasse com ele a legenda do PSDB para a Presidência da República. O agente Jardim, segundo apurou Amaury, fez o trabalho de campo contra Aécio. (Fontes: O agente da Cisa Idalísio dos Santos, o Dadá, conseguiu informações sobre o núcleo de arapongagem de Serra e teve a informação confirmada por outros agentes. Para a "arapongagem" contra Aécio, o próprio Palácio da Liberdade).
2. O acordo entre Serra e Aécio (págs. 25 a 28) - Por conta própria, Ribeiro Jr., ainda no "Estado de Minas" e sem que sua apuração sobre a arapongagem de Serra tivesse sido publicada, retomou pauta iniciada quando ainda trabalhava no "Globo", sobre as privatizações feitas no governo FHC. Encontrou a primeira transação do ex-tesoureiro de campanha de FHC e Serra, Ricardo Sérgio de Oliveira: a empresa offshore Andover, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, que injetava dinheiro de fora para outra empresa sua, em São Paulo, a Westchester. (Fontes: cartórios de títulos e documentos e Juntas Comerciais de São Paulo e do Rio).
Nos mesmos papéis, encontrou outro personagem que usava a mesma metodologia de Oliveira: o genro de Serra, Alexandre Bourgeois, casado com Verônica Serra. Logo após as privatizações das teles, Bourgeois abriu duas off-shores no mesmo paraíso fiscal - a Vex Capital e a Iconexa Inc, que operavam no mesmo escritório utilizado pelo ex-tesoureiro, o do Citco Building. (Fonte: 3° Cartório de Títulos e Documentos de São Paulo).
Amaury ligou para assessoria de Serra no governo do Estado e se deu mal: as informações, das quais queria a versão do governador, serviram para que o tucano paulista ligasse para Aécio e ambos aparassem as arestas. O Estado de Minas não publicou o material.
3. Ricardo Sérgio de Oliveira, Carlos Jereissati e a privatização das teles - O primeiro indício de que a privatização das teles encheu os cofres de tucanos apareceu no relatório sobre as movimentações financeiras do ex-caixa de campanha Ricardo Sérgio de Oliveira que transitou pela CPMI do Banestado. A operação comprova que Oliveira recebeu propina do empresário Carlos Jereissati, que adquiriu em leilão a Tele Norte Leste e passou a operar a telefonia de 16 Estados. A offshore Infinity Trading (de Jereissati) depositou US$ 410 mil em favor da Fanton Interprises (de Ricardo Sérgio) no MTB Bank, de Nova York.
Comprovação do vínculo da Infinity Trading com Jereissati: Relatório 369 da Secretaria de Acompanhamento Econômico; documentos da CPMI do Banestado.
Comprovação do vínculo de Oliveira com a Franton: declaração do próprio Oliveira, à Receita Federal, de uma doação à Franton, em 2008.
4. Quando foi para a diretoria Internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio tinha duas empresas, a Planefin e a RCM. Passou a administração de ambas para a esposa, a desenhista Elizabeth, para assumir o cargo público. Em 1998, a RCM juntou-se à Ricci Engenharia (do seu sócio José Stefanes Ferreira Gringo), para construir apartamentos. Duas torres foram compradas pela Previ (gerida pelo seu amigo João Bosto Madeira da Costa) ainda na maquete. A Planefin entrou no negócio de Intenet recebeu líquido, por apenas um serviço, R$ 1,8 milhão do grupo La Fonte, de Carlos Jereissati, aquele cujo consórcio, a Telemar, comprou a Tele Norte Leste (com a ajuda de Ricardo Sérgio, que forneceu aval do BB e dinheiro da Previ à Telemar).
5. Em julho de 1999, a Planefim comprou, por R$ 11 milhões, metade de um prédio de 13 andares no Rio, e outra metade de outro edifício em Belo Horizonte. As duas outras metades foram compradas pela Consultatum, do seu sócio Ronaldo de Souza, que morreu no ano passado. Quem vendeu o patrimônio foi a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, reduto tucano. O dinheiro para pagar a metade de Ricardo Sérgio nos imóveis veio da Citco Building, nas Ilhas Virgens Briânicas, a mesma "conta-ônibus" de doleiros que viria a lavar dinheiro sul-americano sujo, de várias procedências.
Amanhã, a Carta Maior contará o que o livro de Amaury Ribeiro Jr. revela das operações feitas pela filha e genro de Serra, Verônica e Alexandre Bourgeois, e pelo primo Gregório Marín Preciato.
COMENTÁRIO E & P
Será que os donos do Partido da Imprensa golpista, representado pela Globo, Folha, Veja e Estado se locupletaram junto com os tucanos na privataria e por isso estão mudos? A locupletação pode ser através de participação acionária dessas empresas em empresas privatizadas ou em publicidade gasta por empresas como Telefônica e Eletropaulo. Serão cúmplices dos tucanos? A sociedade brasileira exige uma resposta e a imprensa mais uma vez perde a sua já pálida credibilidade. Cadê a liberdade de imprensa? Será que nenhum jornalista da velha imprensa quis fazer um texto e foi barrado pelos donos dessas empresas? Liberdade de expressão é a de desinformar o povo a serviço de interesses que vão contra o próprio povo?
sábado, dezembro 10, 2011
A reportagem investigativa da década
Autor:
Luis Nassif
Fui ontem à coletiva do repórter Amaury Ribeiro Jr, sobre o livro que lançou.
Minha curiosidade maior era avaliar seu conhecimento dos mecanismos do mercado financeiro e das estruturas de lavagem de dinheiro.
Amaury tem um jeito de delegado de polícia, fala alto, joga as ideias de uma forma meio atrapalhada – embora o livro seja surpreendentemente claro para a complexidade do tema. Mas conhece profundamente o assunto.
Na CPI dos Precatórios – que antecedeu a CPI do Banestado - passei um mês levando tiro de alguns colegas de Brasília ao desnudar as operações de esquenta-esfria dinheiro e a estratégia adotada por Paulo Maluf. Foi o primeiro episódio jornalístico a desvendar o submundo das relações políticas, mercado financeiro, crime organizado.
No começo entendi os tiros como ciumeira de colegas pela invasão do seu território por jornalista de fora. Depois, me dei conta que havia um esquema Maluf coordenando o espírito de manada, no qual embarcaram colegas sem conhecimento mais aprofundado do tema.
Minhas colunas estão no livro “O jornalismo dos anos 90”, mostrando como funcionavam as empresas offshore, o sistema de doleiros no Brasil, as operações esquenta-esfria na BMF e na Bovespa, as jogadas com títulos estaduais.
Repassei parte desse conhecimento ao meu amigo Walter Maierovitch, quando começou a estudar esse imbricamento mercado-crimes financeiros e, depois, na cerimônia de lançamento do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência).
Mesmo assim, persistiu a dicotomia na cobertura: jornalistas de mercado não entravam em temas policiais e jornalistas policiais não conheciam temas financeiros. E a Polícia Federal e o Ministério Público ainda tateavam esse caminho.
Aos poucos avançou-se nessa direção. A Sisbin significou um avanço extraordinário na luta contra o crime organizado. E, no jornalismo, Amaury Ribeiro Jr acabou sendo a melhor combinação de jornalismo policial com conhecimento de mercado.
Quem o ouve falar, meio guturalmente, não percebe, de imediato, sua argúcia e enorme conhecimento. Além de ter se tornado um especialista nas manobras em paraísos fiscais, nos esquemas de esquentamento de dinheiro, tem um enorme discernimento para entender as características de cada personagem envolvido na trama.
Mapeou um conjunto de personagens que atuam juntos desde os anos 90, girando em torno do poder e da influência de José Serra: Riolli, Preciado, Ricardo Sergio, Verônica Serra, seu marido Alexandre Burgeois. É uma ação continuada.
Entendeu bem como se montou o álibi Verônica Serra, uma mocinha estreante em Internet, naquele fim dos anos 90, com baixíssimo conhecimento sobre tendências, modelos de negócios, de repente transformada, por matérias plantadas, na mais bem sucedida executiva da Internet nacional. Criou-se um personagem com toque de Midas, em um terreno onde os valores são intangíveis (a Internet) para justificar seu processo de enriquecimento. Mas todo o dinheiro que produzia vinha do exterior, de empresas offshore.
Talvez o leitor leigo não entenda direito o significado desses esquemas offshore em paraísos fiscais. São utilizados para internalizar dinheiro de quem não quer que a origem seja rastreada. Nos anos 90, a grande década da corrupção corporativa, foram utilizados tanto por grandes corporações – como Citigroup, IBM – para operações de corrupção na América Latina (achando que com as offshores seriam blindadas em seus países), como por políticos para receber propinas, traficantes para esquentar recursos ilícitos.
Ou seja, não há NENHUMA probabilidade de que o dinheiro que entrou pelas contas de Verônica provenha de fontes legítimas, formalizadas, de negócios legais.
Ao mesmo tempo, Amaury mostra como esse tipo de atuação de Serra o levou a enveredar por terrenos muito mais pesados, os esquemas de arapongagem, os esquemas na Internet (o livro não chega a abordar), os assassinatos de reputação de adversários ou meros críticos. É um modo de operação bastante tipificado na literatura criminal.
No fundo, o grande pacto de 2005 com a mídia visou dois objetivos para Serra: um, que não alcançou, o de se tornar presidente da República; o outro, que conseguiu, a blindagem.
O comprometimento da velha mídia com ele foi tão amplo, orgânico, que ela acabou se enredando na própria armadilha. Não pode repercutir as denúncias de corrupção contra Serra porque afetaria sua própria credibilidade junto ao universo restrito de leitores que lêem jornais, mas não chegam ainda à Internet.
Ao juntar todas as peças do quebra-cabeças e acrescentar documentos relevantes, Amaury escancara a história recente do país. Fica claro porque os jornais embarcaram de cabeça na defesa de Daniel Dantas, Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram com seus próprios leitores. (Só não ficou claro porque o PT aceitou transformar a CPI do Banestado em pizza. Quais os nomes petistas que estavam envolvidos nas operações?)
E agora? Como justificar o enorme estardalhaço em torno do avião alugado do Lupi (independentemente dos demais vícios do personagem) e esconder o enriquecimento pessoal de um bi-candidato à presidência da República?
Mesmo não havendo repercussão na velha mídia, o estrago está feito.
Serra será gradativamente largado ao mar, como carga indesejada, aliás da mesma forma que está ocorrendo com os jornalistas que fizeram parte do seu esquema.
A CPI dos Precatórios
No PDF, o livro “O jornalismo dos anos 90”. A partir da página 147, minhas colunas sobre a CPI dos Precatórios, onde já se revelava todo o imenso esquema do crime organizado no país, os doleiros, a operação em Foz do Iguaçu, as concessões do Banco Central etc.
A ironia da história é que, em determinado momento, consegui convencer o banqueiro Fábio Nahoum – testa de ferro do Maluf – a passar informações ao relator da CPI, senador Roberto Requião. Como testemunhas do encontro, a repórter Mônica Bérgamo – que teve um comportamento impecável quando Requião e alguns colegas de Brasília tentaram desqualificar minhas revelações – e o então senador José Serra.
Não podia imaginar que um dos esquemas que operava na região era do próprio Serra.
sexta-feira, dezembro 09, 2011
Livro mostra o porão das privatizações tucanas no Brasil, a maior de todas as corrupções da história do país
Carta tem o livro do Amaury.
É tiro no Cerra !
A “Privataria tucana”, de Amaury Ribeiro Jr., chega às bancas. CartaCapital relata o que há no livro
Não, não era uma invenção ou uma desculpa esfarrapada. O jornalista Amaury Ribeiro Jr. realmente preparava um livro sobre as falcatruas das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. Neste fim de semana chega às livrarias “A Privataria Tucana”, resultado de 12 anos de trabalho do premiado repórter que durante a campanha eleitoral do ano passado foi acusado de participar de um grupo cujo objetivo era quebrar o sigilo fiscal e bancário de políticos tucanos. Ribeiro Jr. acabou indiciado pela Polícia Federal e tornou-se involuntariamente personagem da disputa presidencial
Na edição que chega às bancas nesta sexta-feira 9, CartaCapital traz um relato exclusivo e minucioso do conteúdo do livro de 343 publicado pela Geração Editorial e uma entrevista com autor (reproduzida abaixo). A obra apresenta documentos inéditos de lavagem de dinheiro e pagamento de propina, todos recolhidos em fontes públicas, entre elas os arquivos da CPI do Banestado. José Serra é o personagem central dessa história. Amigos e parentes do ex-governador paulista operaram um complexo sistema de maracutaias financeiras que prosperou no auge do processo de privatização.
Ribeiro Jr. elenca uma série de personagens envolvidas com a “privataria” dos anos 1990, todos ligados a Serra, aí incluídos a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado. Mas quem brilha mesmo é o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, o economista Ricardo Sérgio de Oliveira. Ex-tesoureiro de Serra e FHC, Oliveira, ou Mister Big, é o cérebro por trás da complexa engenharia de contas, doleiros e offshores criadas em paraísos fiscais para esconder os recursos desviados da privatização.
O livro traz, por exemplo, documentos nunca antes revelados que provam depósitos de uma empresa de Carlos Jereissati, participante do consórcio que arrematou a Tele Norte Leste, antiga Telemar, hoje OI, na conta de uma companhia de Oliveira nas Ilhas Virgens Britânicas. Também revela que Preciado movimentou 2,5 bilhões de dólares por meio de outra conta do mesmo Oliveira. Segundo o livro, o ex-tesoureiro de Serra tirou ou internou no Brasil, em seu nome, cerca de 20 milhões de dólares em três anos.
A Decidir.com, sociedade de Verônica Serra e Verônica Dantas, irmã do banqueiro Daniel Dantas, também se valeu do esquema. Outra revelação: a filha do ex-governador acabou indiciada pela Polícia Federal por causa da quebra de sigilo de 60 milhões de brasileiros. Por meio de um contrato da Decidir com o Banco do Brasil, cuja existência foi revelada por CartaCapital em 2010, Verônica teve acesso de forma ilegal a cadastros bancários e fiscais em poder da instituição financeira.
Na entrevista a seguir, Ribeiro Jr. explica como reuniu os documentos para produzir o livro, refaz o caminho das disputas no PSDB e no PT que o colocaram no centro da campanha eleitoral de 2010 e afirma: “Serra sempre teve medo do que seria publicado no livro”.
CartaCapital: Por que você decidiu investigar o processo de privatização no governo Fernando Henrique Cardoso?
Amaury Ribeiro Jr.: Em 2000, quando eu era repórter de O Globo, tomei gosto pelo tema. Antes, minha área da atuação era a de reportagens sobre direitos humanos e crimes da ditadura militar. Mas, no início do século, começaram a estourar os escândalos a envolver Ricardo Sérgio de Oliveira (ex-tesoureiro de campanha do PSDB e ex-diretor do Banco do Brasil). Então, comecei a investigar essa coisa de lavagem de dinheiro. Nunca mais abandonei esse tema. Minha vida profissional passou a ser sinônimo disso.
CC: Quem lhe pediu para investigar o envolvimento de José Serra nesse esquema de lavagem de dinheiro?
ARJ: Quando comecei, não tinha esse foco. Em 2007, depois de ter sido baleado em Brasília, voltei a trabalhar em Belo Horizonte, como repórter do Estado de Minas. Então, me pediram para investigar como Serra estava colocando espiões para bisbilhotar Aécio Neves, que era o governador do estado. Era uma informação que vinha de cima, do governo de Minas. Hoje, sabemos que isso era feito por uma empresa (a Fence, contratada por Serra), conforme eu explico no livro, que traz documentação mostrando que foi usado dinheiro público para isso.
CC: Ficou surpreso com o resultado da investigação?
ARJ: A apuração demonstrou aquilo que todo mundo sempre soube que Serra fazia. Na verdade, são duas coisas que o PSDB sempre fez: investigação dos adversários e esquemas de contrainformação. Isso ficou bem evidenciado em muitas ocasiões, como no caso da Lunus (que derrubou a candidatura de Roseana Sarney, então do PFL, em 2002) e o núcleo de inteligência da Anvisa (montado por Serra no Ministério da Saúde), com os personagens de sempre, Marcelo Itagiba (ex-delegado da PF e ex-deputado federal tucano) à frente. Uma coisa que não está no livro é que esse mesmo pessoal trabalhou na campanha de Fernando Henrique Cardoso, em 1994, mas sob o comando de um jornalista de Brasília, Mino Pedrosa. Era uma turma que tinha também Dadá (Idalísio dos Santos, araponga da Aeronáutica) e Onézimo Souza (ex-delegado da PF).
CC: O que você foi fazer na campanha de Dilma Rousseff, em 2010?
ARJ: Um amigo, o jornalista Luiz Lanzetta, era o responsável pela assessoria de imprensa da campanha da Dilma. Ele me chamou porque estava preocupado com o vazamento geral de informações na casa onde se discutia a estratégia de campanha do PT, no Lago Sul de Brasília. Parecia claro que o pessoal do PSDB havia colocado gente para roubar informações. Mesmo em reuniões onde só estavam duas ou três pessoas, tudo aparecia na mídia no dia seguinte. Era uma situação totalmente complicada.
CC: Você foi chamado para acabar com os vazamentos?
ARJ: Eu fui chamado para dar uma orientação sobre o que fazer, intermediar um contrato com gente capaz de resolver o problema, o que acabou não acontecendo. Eu busquei ajuda com o Dadá, que me trouxe, em seguida, o ex-delegado Onézimo Souza. Não tinha nada de grampear ou investigar a vida de outros candidatos. Esse “núcleo de inteligência” que até Prêmio Esso deu nunca existiu, é uma mentira deliberada. Houve uma única reunião para se discutir o assunto, no restaurante Fritz (na Asa Sul de Brasília), mas logo depois eu percebi que tinha caído numa armadilha.
CC: Mas o que, exatamente, vocês pensavam em fazer com relação aos vazamentos?
ARJ: Havia dentro do grupo de Serra um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) que tinha se desentendido com Marcelo Itagiba. O nome dele é Luiz Fernando Barcellos, conhecido na comunidade de informações como “agente Jardim”. A gente pensou em usá-lo como infiltrado, dentro do esquema de Serra, para chegar a quem, na campanha de Dilma, estava vazando informações. Mas essa ideia nunca foi posta em prática.
CC: Você é o responsável pela quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Verônica, na agência da Receita Federal de Mauá?
ARJ: Aquilo foi uma armação, pagaram para um despachante para me incriminar. Não conheço ninguém em Mauá, nunca estive lá. Aquilo faz parte do conhecido esquema de contrainformação, uma especialidade do PSDB.
CC: E por que o PSDB teria interesse em incriminá-lo?
ARJ: Ficou bem claro durante as eleições passadas que Serra tinha medo de esse meu livro vir à tona. Quando se descobriu o que eu tinha em mãos, uma fonte do PSDB veio me contar que Serra ficou atormentado, começou a tratar mal todo mundo, até jornalistas que o apoiavam. Entrou em pânico. Aí partiram para cima de mim, primeiro com a história de Eduardo Jorge Caldeira (vice-presidente do PSDB), depois, da filha do Serra, o que é uma piada, porque ela já estava incriminada, justamente por crime de quebra de sigilo. Eu acho, inclusive, que Eduardo Jorge estimulou essa coisa porque, no fundo, queria apavorar Serra. Ele nunca perdoou Serra por ter sido colocado de lado na campanha de 2010.
CC: Mas o fato é que José Serra conseguiu que sua matéria não fosse publicada no Estado de Minas.
ARJ: É verdade, a matéria não saiu. Ele ligou para o próprio Aécio para intervir no Estado de Minas e, de quebra, conseguiu um convite para ir à festa de 80 anos do jornal. Nenhuma novidade, porque todo mundo sabe que Serra tem mania de interferir em redações, que é um cara vingativo.
quinta-feira, dezembro 08, 2011
segunda-feira, dezembro 05, 2011
A oposição na sociedade, por Marcos Coimbra
Por Marcos Coimbra
O que chamamos oposição, na maior parte das vezes, diz apenas respeito ao mundo da política institucionalizada. Fundamentalmente, aos partidos oposicionistas, seus representantes, organizações e (poucos) filiados.
Uma das razões para isso é que é modesta, no Brasil, a atuação de grupos de pressão e associações civis voltadas para a política. Existem, mas são, ainda, pouco relevantes.
Há, no entanto, outra oposição, extra-partidária e fora do Estado, que se manifesta no âmbito da sociedade. Ela é diferente da anterior, e tende a ser, a cada dia, mais significativa.
Não estamos nos referindo, simplesmente, aos eleitores de oposição, aqueles que, de maneira sistemática, votam nas legendas hoje oposicionistas, não votam no PT e costumam não gostar de Lula, dos petistas e de tudo que fazem. Os que se definem como antagônicos ao “lulopetismo”. Esses existem desde sempre.
Entre a oposição formal, exercida pelos partidos, e o eleitorado de oposição, constituído por cidadãos individualizados, estamos vendo nascer e se desenvolver uma “nova militância” oposicionista.
Não foi em 2011 que começamos a perceber sua existência. Desde a eleição de 2010, no mínimo, já era identificável.
Por enquanto, é incipiente, mas parece crescer e se tornar mais vigorosa ideologicamente. É um fenômeno espontâneo, que acontece à margem dos partidos e que não resulta de sua atuação.
Seu lugar por excelência de formação e desenvolvimento é a internet. É nela que seus integrantes se reconhecem, estabelecem comunicação, fazem proselitismo.
Não é unificada por um ideário. Ao contrário, seu denominador comum fundamental é uma negação: o antipetismo. No fundo, não se entusiasma na defesa de nada. O que quer é “acabar com o PT”.
Essa hostilidade ficou particularmente evidente quando Lula foi diagnosticado com câncer. Foram tantas as manifestações enraivecidas, misturando júbilo, espírito de vingança e condenação por ele estar sendo tratado em um hospital de ponta, que até alguns adversários mais bem educados se assustaram.
Em suas ideias, misturam-se noções de várias origens. Algumas são típicas do conservadorismo clássico, outras vêm do nacionalismo de direita. Às vezes, são ultraliberais, outras de um antiliberalismo feroz.
Ela desconfia dos partidos e dos políticos, repele a “intervenção do estado na vida privada”, e quer acabar com os impostos. Costuma detestar o esquerdismo e abominar o “politicamente correto”.
Uma parte da mídia, especialmente algumas revistas e jornais, se reporta, cada vez mais, a ela. Nessas publicações estão alguns de seus heróis e os porta-vozes mais radicais, facilmente reconhecíveis pelo uso de violência verbal. São os valentões da palavra.
A agressividade que consomem é transferida para sites de relacionamento, blogs e intervenções pessoais, em comentários nas redes sociais e no noticiário. O twitter é um dos lugares onde mais aparece, pois enseja a expressão emocional imediata.
Há certa semelhança entre essa militância e a ultradireita americana do chamado Tea Party: ambas surgiram naturalmente (ainda que com o incentivo do grande capital, lá de empresários da indústria química, aqui dos conglomerados de mídia), querem “purificar” a política e são fortemente anti-estatistas e antitributação.
A diferença é organizacional, pois o Tea Party, que nasceu em 2009, já está estruturado, embora continue a ser um movimento sem liderança centralizada, composto por entidades locais e indivíduos sem vínculos estreitos. (Apesar disso, houve mais de cem candidatos ao Congresso americano, na eleição de meio-período de 2010, que receberam a chancela do movimento - dos quais 32% se elegeram).
Por aqui, essa nova militância ainda não conseguiu passar pelo teste da mobilização. Permanece verbal e passiva, com baixa capacidade de se apresentar nas ruas. Os protestos anticorrupção convocados pela internet no segundo semestre, por exemplo, que pareciam significativos, terminaram sendo fracassos de público.
Que relação se estabelecerá entre essa oposição na sociedade e a oposição partidária? Estará em gestação um Tea Party à brasileira?
Em 2010, Serra procurou fomentar os sentimentos dessas pessoas, para os utilizar na campanha. Seus assessores chegaram a criar peças de comunicação específicas para açular o antipetismo na internet. A onda anti-aborto foi deflagrada e sustentada por lideranças religiosas ligadas a ele.
Quem cria ventos, se arrisca a colher tempestades. O PSDB precisa pensar se o que quer é ser a voz partidária desses militantes.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
sexta-feira, dezembro 02, 2011
Vídeo - Jurômetro
COMENTÁRIO E & P
Bem é da Fiesp, mas ficou bem didático como nós jogamos dinheiro
fora pagando juros absurdos que só enriquecem a sub-elite brasileira (não tem um projeto de nação). A
mesma que criou essa armadilha no governo de FHC, da qual ainda não
conseguimos nos livrar. Ou o país acaba com os juros altos ou os juros altos acabam com o Brasil. Estamos longe ainda dos juros reais pagos na Hungria de 2,5% ao ano. Na verdade se montou toda uma indústria rentista ao redor dos juros altos. A imprensa brasileira é parte disso, pois sem nenhuma constatação científicas os "comentaristas " de economia pregam a manutenção desses juros absurdos. O economistas de mercado, aqueles que foram treinados para serem papagaios de piratas, falam a mesma coisa, sem juros altos, a inflação fica fora de controle. É dinheiro que deveria ser gasto em educação, saúde, infraestrutura, moradia em desenvolvimento, mas que aumenta a desigualdade social e se transforma em bmws, mercedes, ferraris, condomínios de luxo, entre outras farras das 20.000 famílias que detém 80% da dívida do governo. O Banco Central apesar de ter tirado os banqueiros da direção, o que foi um avanço, ainda não diminuiu os juros a contento. Eles ainda tem medo do "mercado". Essa divinidade abstrata que é formada por espertalhões, que usam o pretexto inflacionário para se locupletarem ás custas do povo brasileiro.
A crise vem brava
A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países. O artigo é de Amir Khair.
Amir Khair
Cada dia aumenta a oscilação no humor dos mercados acompanhando os anúncios do sobe e desce da crise europeia. No último dia 30 veio a notícia que os bancos centrais dos Estados Unidos, Europeu (BCE), Canadá, Grã-Bretanha, Japão e Suíça concordaram em reduzir o custo das linhas existentes em suas operações, a partir do próximo dia 5.
O objetivo desses bancos centrais é “a aliviar as tensões nos mercados financeiros e, assim, mitigar os efeitos de tais apertos sobre a oferta de crédito às famílias e empresas, e assim ajudar a promover a atividade econômica”.
Eles acordaram em facilitar e ampliar até fevereiro de 2013 os intercâmbios de divisas entre si, a um juro reduzido de 0,50% e em alguns casos, prosseguir com suas operações de refinanciamento a três meses até nova ordem.
São decisões para garantir liquidez e evitar que os mercados de crédito travem, o que já estava ocorrendo nos bancos europeus devido a dúvidas sobre a capacidade da região de lidar com a crise da sua dívida.
Essas notícias impulsionaram dia 30 as bolsas de valores mundo afora, tendo a nossa chegado a crescer acima de 4%, fechado a 2,85%.
Creio que há um viés otimista numa parte das análises sobre o desenrolar da crise da zona do euro. Elas apostam que haverá solução para essa crise apesar dos agudos problemas econômicos, fiscais e financeiros, devido à impossibilidade de absorver ou dar garantia à montanha de títulos podres que carregam os bancos. Esses títulos se referem à dívida soberana dos governos que estão entrando em forte recessão que agravou as finanças publicas, e com sérios problemas sociais inerentes ao aperto fiscal, que sofreram.
A realidade vem indicando o agravamento crescente do quadro europeu. No dia 25 último veio a notícia de que a crise de confiança chegou afinal ao coração da Europa, a Alemanha, maior economia do bloco e sócio mais importante da união monetária. O sinal de alerta soou na quarta-feira (24), quando o Tesouro alemão só conseguiu vender 65% dos títulos no valor de €6 bilhões oferecidos ao mercado, e assim mesmo, com o Banco Central Alemão (Bundesbank) comprando parte desse total.
A crise do euro começou nos países de menor importância econômica: Irlanda, Portugal e Grécia e agora atinge economias maiores como Espanha e Itália, já apontando a França como a nova bola da vez. Sobraria como país importante só a Alemanha, que ainda pensa que está imune à crise. Fato é que sua sorte depende fundamentalmente da saúde desses países em recessão no seu intercâmbio comercial e nos reflexos que poderão vir do colapso do sistema financeiro de algum desses países.
A cegueira alemã consiste na sua intransigência em não apoiar os planos de socorro do BCE para comprar de forma mais intensa os títulos soberanos dos países com sérias dificuldades de honrá-los.
As agências de classificação de risco, com grande atraso, repetindo o ocorrido na crise de 2007/2008 acordaram para a crise europeia e agora começam a rebaixar as notas de classificação de risco de governos e bancos em profusão.
Em face desse quadro creio que há condições para se instalar uma recidiva da crise de 2007/2008, porém mais grave por envolver simultaneamente o sistema financeiro europeu e, dadas as relações estreitas com o sistema financeiro americano, pode contaminar ele.
Se essa avaliação for correta é de se esperar um mergulho mais profundo das economias europeia e americana, com redução expressiva do consumo de suas populações devido ao desemprego em níveis mais elevados em relação aos atuais, com aprofundamento da crise social durante vários anos. As ditas economias desenvolvidas passarão a ser chamadas de economias estagnadas. Suas moedas serão desvalorizadas e elas serão cada vez mais dependentes da exportação, disputando com países que têm custos mais baixos, como os do leste da Ásia. A situação é difícil e poderá exigir a redução de salários para enfrentar a concorrência internacional.
Nesse cenário, as economias dos países emergentes seriam afetadas pela redução das exportações e enxugamento do mercado de crédito. A saída delas é se apoiar na ampliação dos seus mercados internos. Isso ajudaria a direcionar parte dos produtos antes destinados ao mercado externo para serem usados e consumido no país. Além disso, existe a possibilidade de usar políticas públicas de redistribuição de renda e de redução dos custos que mais pesam nas camadas de renda média e baixa como: alimentação, habitação, transporte, saúde e educação. Isso amplia o poder aquisitivo delas estimulando o desenvolvimento econômico, além do maior atendimento na área social.
Os países emergentes poderão ampliar seu poder de competição externa na evolução desse processo, devido aos salários mais baixos, e ampliação da produção devido ao crescimento do mercado interno, o que reduz os custos devido à economia de escala.
O Brasil tem boa munição para o enfrentamento dessa recidiva. Goza de situação fiscal confortável, reservas internacionais de US$ 350 bilhões, depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central (BC) superior a R$ 400 bilhões, além de ter juro básico elevado, que pode ser rebaixado, reduzindo despesas do governo federal e, taxas de juros do sistema financeiro elevadas, que reduzem o consumo e que podem baixar se o governo quiser.
Preocupado com a desaceleração da economia, o governo anunciou nesta quinta-feira novo pacote de medidas para estimular os empréstimos dos bancos para a população e, consequentemente, aumentar o consumo das famílias.
O governo decidiu reduzir o Imposto Sobre Produtos Industrializados sobre os produtos da linha branca, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Além disso, a alíquota do Imposto Sobre Operações Financeiras para pessoas físicas está sendo reduzida de 3% para 2,5% ao ano. Com isso, está sendo revertido, parcialmente, o aumento do tributo efetuado em abril.
Recentemente a presidente Dilma Rousseff tem pedido aos brasileiros que continuem consumindo e que as empresas mantenham sua produção.
No dia 25 último, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com representantes de entidades ligadas à indústria e ao varejo e afirmou que “nós estaremos tomando medidas para continuar estimulando o consumo, para que ele volte ao patamar adequado para manter a economia crescendo entre 4% e 4,5%”.
Infelizmente o BC vai agindo em contradição ao que tem manifestado seu presidente e em suas atas e relatórios quanto à preocupação com os reflexos da crise europeia. A parcimônia com que vem reduzindo a taxa básica de juro é preocupante. Continuamos praticando a maior taxa do mundo. Isso desestimula os investimentos, impede o equilíbrio fiscal e artificializa o câmbio reduzindo a competitividade de nossas empresas. É hora de mudar isso para completar o arsenal de defesa do País para enfrentar a crise que já está em nossa porta.
Santayana sobre o Irã e a Síria. Atrás da Europa, os EUA
O Conversa Afiada reproduz texto de Mauro Santayana no JB:
Novo movimento na escalada da guerra
Mauro Santayana
“A Primeira Guerra Mundial foi um trágico e desnecessário conflito” – assim se abre o excelente estudo do historiador britânico John Keegan sobre aquele confronto. Todas as guerras são uma só e permanente, iniciada não se sabe quando. Os raros períodos de paz têm sido os das tréguas impostas pela exaustão.
Em 1922, desmobilizado depois da derrota de seu país, o cabo Adolfo Hitler conclamaria a Alemanha à desforra: “não é possível que dois milhões de alemães tenham sido mortos em vão. Não podemos perdoar, nós queremos vingança”.
O confronto de 1914-1918 teve sua origem em outra guerra ocorrida quatro décadas antes, entre a França e a Alemanha. Como a mentira e a provocação são sempre instrumentos do poder, a guerra de 1870 fora provocada pela jogada de Bismarck, falsificando um telegrama que narrava encontro entre o embaixador da França, Conde Benedetti, e o rei Guilherme I, no balneário de Bad Ems. A conversa ocorrera em termos corteses, com o soberano alemão se negando a aceitar uma reivindicação da França. Bismarck mudou os termos do telegrama, afirmando que o embaixador e o rei se haviam insultado mutuamente, chegando quase aos bofetões. Divulgado o texto fraudado, a opinião pública dos dois paises exigiu a guerra – e a França caiu na armadilha, declarando-a em primeiro lugar, em julho de 1870.
A Alemanha em pouco tempo levou suas tropas a Paris. Bismarck se apossou logo da Alsácia e da Lorena, com a desculpa de que necessitava proteger-se no futuro contra o inimigo vencido. Lord Salisbury, depois primeiro ministro da Inglaterra, fez o alerta contra tal pretensão, em artigo publicado no calor dos fatos, em outubro de 1870, na famosa Quarterly Review. Escreveu o estadista que “as outras nações da Europa são levadas a deduzir que devem temer mais a intoxicação de uma Alemanha triunfante, do que uma França diante da violência e da Revolução. Uma Alemanha pacífica é apenas conversa de diplomatas. Nada existe na História para justificar semelhante situação”.
“Dia virá – diz Salisbury em outra passagem – no qual os sonhos ambiciosos da Alemanha virão chocar-se, em seu caminho, com um povo suficientemente forte para por os seus ressentimentos à prova. Esse dia será, para a França, o da restituição e o da revanche”.
Por duas vezes, em 1918 e em 1945, a Alemanha pagou pelas suas ambições. Na Primeira Guerra Mundial, a aliança entre a França e a Inglaterra, com a contribuição norte-americana, levou-a ao chão. Os sentimentos de revanche, capitalizados por Hitler, conduziram-na novamente ao desvario. Desta segunda vez, não obstante a brava resistência da Grã Bretanha e a ação interna dos patriotas dos países ocupados, o povo mais forte foi o da União Soviética. Quem derrotou a Alemanha foi o Exército Vermelho, a partir da heróica reviravolta de Stalingrado, até sua chegada a Berlim.
A Europa atual, em lugar de ter aprendido com o passado, parece ter perdido de vez a lucidez. Não há mais Salisbury, Disraeli, ou Churchill, entre os ingleses, mas pigmeus, como David Cameron e seus antecessores imediatos. No resto da Europa, o cenário é o mesmo. Incapazes de governar, posto que desprovidos de inteligência política, os simulacros de governantes entregam o poder aos banqueiros e a consultores empresariais. Como comediantes, lêem discursos que correspondem aos interesses dos reais donos do poder, e se reúnem com seus pares, fazendo de conta que lideram: não passam de meros delegados dos grandes banqueiros.
Ao mesmo tempo, cresce, na França e na Inglaterra, mas também na Itália e na Espanha, uma tendência a retomar, assimilar e assumir o espírito germânico de conquista e domínio, tão bem identificado por Salisbury há 140 anos. É assim que podemos ver a mobilização acelerada de Paris e Londres, sob o patrocínio norte-americano, contra o Irã e a Síria. Não é a violação dos direitos humanos, que eles mesmos desrespeitam em seus países, a movê-los – mas a hipótese, cada vez mais provável, de que as manifestações de inconformismo dentro de suas próprias fronteiras passem do protesto à revolução.
A deplorável e estranha invasão da embaixada britânica em Teerã, não era de interesse de Ahmadinejad. O governo inutilmente pediu desculpas e prometeu punir os responsáveis – mas isso não bastou. O tom irado e belicoso subiu nas chancelarias da Europa Ocidental. Repete-se a mesma história: a fim de obter a coesão interna, diante da insatisfação crescente de seus povos contra o neoliberalismo, apela-se para o falso patriotismo e a xenofobia. A guerra de agressão pode ser o passo seguinte.
É nesse cenário que vemos a alteração geopolítica do mapa mundial, com suas perspectivas e prováveis conseqüências. Os grandes países emergentes – China, Rússia (que reemerge) Brasil e Índia – deixaram claro que não admitem a intervenção na Síria, nem no Irã, fora dos mandamentos da Carta das Nações Unidas. Os russos mantêm uma base militar no porto sírio de Tartus – equipada com foguetes de defesa aérea de alta eficiência – e naves militares bem equipadas para uma guerra no Mediterrâneo. Os chineses têm também navios de guerra patrulhando aquele grande mar interior.
Os norte-americanos, em sua velha insensatez, parecem desafiar Moscou, ao anunciar que deixarão de cumprir certas cláusulas do Tratado das Forças Militares na Europa, no que se refere à Rússia. Esse tratado reduzia a presença de exércitos e armas convencionais no Continente, e o aviso prévio e recíproco entre Washington e Moscou de seu deslocamento militar na região. O tratado foi cumprido rigorosamente pelos russos, que fizeram recuar grande parte de suas tropas para além dos Urais.
Um ataque à Síria exigiria neutralizar o poder russo na base de Tartus, e é quase certo que haveria retaliação. Por outro lado, o Irã está muito perto da Rússia, e uma ação da Otan naquele país ameaçaria diretamente a segurança de Moscou.
Essa razão levou os Brics a aconselhar negociações com o governo de Teerã, em busca da paz na região, e a condenar qualquer iniciativa que viole os princípios da Carta das Nações Unidas. Um desses princípios é o da autodeterminação dos povos. O entendimento desses países, no encontro de Moscou, revela uma entente bem clara entre a China, a Rússia e a Índia, no espaço eurasiático, com todo o seu poderio militar (incluídos os arsenais atômicos), ao lado do Irã e da Síria.
A declaração oficial da diplomacia russa sobre a ameaça à Síria não poderia ter sido mais explícita, quando afirma que “ a situação dos direitos humanos em um ou em outro país pode ser, evidentemente, objeto de preocupação internacional, mas em nenhum caso se pode admitir que questões de direitos humanos sejam usadas como pretexto para qualquer tipo de intervenção nos assuntos internos de estados soberanos, como se vê hoje, no caso da Síria. Cabe aos sírios decidir sobre o próprio destino, sem qualquer ‘empurrão’ vindo do exterior. A Rússia de modo algum aceita cenário que inclua a intervenção militar na Síria”.
Por detrás da Europa, há a ação permanente dos Estados Unidos, a proteger Israel e a instigar Londres e Paris à agressão, na esperança de, como das outras vezes, impor sua “paz” ao mundo. Uma paz que, em 1945, lhes trouxe o controle das matérias primas mundiais, entre elas, o petróleo, e a cômoda situação de únicos emitentes de moeda no planeta.
Estamos à margem de um conflito que, se ocorrer, será tão trágico, ou mais trágico, do que os outros. Enfim, a paz sempre depende da vontade de que haja paz para todos – com equidade e justiça.
Presidentes latino-americanos criam novo bloco regional e deixam EUA de fora
De acordo com analistas, Celac terá o desafio de implantar políticas autônomas em relação a Washington.
BBC – O Estado SP
Presidentes e representantes dos 33 países da América Latina se reúnem nesta sexta-feira, em Caracas, para formalizar a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Será a primeira vez que os países do continente se articulam em uma mesma plataforma política – com a tarefa de tentar aprofundar a integração regional – sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.
Segundo analistas, a Celac nasce com o desafio de criar uma organização capaz de gerar consenso entre os países e cuja institucionalidade seja capaz de implementar políticas de integração autônomas em relação aos Estados Unidos.
Entre as contradições a serem enfrentadas pelo bloco está a de construir políticas comuns em uma região ainda marcada por diferentes níveis de desenvolvimento econômico, pobreza, crime organizado e, em especial, antagonismos no campo político-ideológico.
O presidente venezuelano Hugo Chávez, conhecido pelas críticas ao governo de Washington, e pelo discurso anti-imperialista em encontros regionais, adotou um tom moderado ao falar sobre a nova organização regional e reconheceu que ela deverá respeitar a heterogeneidade dos países e de seus projetos, estejam eles à esquerda ou à direita do campo político.
“Temos que ter muita paciência, muita sabedoria. Não podemos deixar-nos levar pelas ideologias governantes em um país ou outro”, disse Chávez na última quinta-feira, minutos antes de receber a presidente Dilma Roussef no Palácio de governo.
“Este processo tem que ser independente do socialismo cubano, do socialismo venezuelano, ou do sistema de governo e ideologia do governo do Brasil, da Colômbia (…) é a união política, geopolítica, e sobre esta união vamos construir um grande polo de poder do século 21.”
O primeiro debate do grupo, realizado na noite desta quinta-feira, já mostrou como deve ser difícil conseguir o consenso entre os países do novo bloco. Os países não chegaram a um acordo sobre como será o mecanismo para a tomada de decisões – por unanimidade ou por maioria qualificada. O debate deve ser retomado nesta sexta-feira.
Institucionalidade
O maior desafio para a Celac será “passar da afirmação de uma identidade e articulação política a uma institucionalidade que permita aos países tomar decisões”, disse à BBC Brasil Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.
Uma das propostas do documento constitutivo da Celac é um protocolo de defesa da democracia e direitos humanos, aos moldes da cláusula anti-golpe de Estado estabelecida pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Entre as divergências iniciais está a posição do novo bloco a respeito do futuro da Organização de Estados Americanos (OEA), cujo papel passou a ser questionado durante a crise boliviana, em 2008 e depois do golpe de Estado em Honduras, em 2009.
Venezuela, Equador e Bolívia defendem que a OEA já teria cumprido seu papel histórico no hemisfério e deve ser substituída.
“Não é possível que os conflitos latino-americanos tenham que ser tratados em Washington”, defendeu o presidente equatoriano Rafael Correa, dias antes da Cúpula.
“(Espero) que mais cedo que tarde (a Celac) possa substituir a OEA, que historicamente tem tido grandes distorções”, acrescentou.
Esta posição, no entanto, ainda não é um consenso entre a maioria dos países da região, que até agora preferem defender a coexistência das duas instituições.
Para o analista internacional Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela, a Celac tende a contribuir para o enfraquecimento da OEA, mas ainda é cedo para falar de sua extinção.
“A substituição da OEA pela Celac não será fruto de um decreto ou de declarações a favor ou contra, e sim pelas vias de fato”, disse à BBCBrasil.
Lander cita como exemplo a atuação da Unasul na resolução do conflito da Bolívia, em 2008, que ele considera ‘decisiva’. “Se a Celac mostrar que pode solucionar os conflitos regionais sem a intervenção dos Estados Unidos, o papel da OEA vai perder força naturalmente.”
Independência
Para o o economista americano Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington, a Celac é criada em um momento em que a América Latina se consolida como uma região “mais independente do que nunca”.
“Washington ainda é o principal problema no hemisfério, especialmente com respeito à democracia e à auto-determinação nacional”, disse Weisbrot à BBC Brasil.
O analista político venezuelano Carlos Romero, professor de estudos internacionais da Universidade Central da Venezuela, diz que a criação da Celac é um “passo positivo que marca um processo de maturidade política”da região.
No entanto, ele afirma que isso não necessariamente significará a existência um bloco antagônico a Washington. “Os EUA já não exercem a mesma tutela do passado”, diz.
A discussão do grupo ainda deve incluir a criação de um fundo de reserva para enfrentar a crise financeira internacional.
“Quanto mais nos integrarmos, mais estaremos preparados para enfrentar este furacão que a economia mundial está vivendo e a instabilidade do resto do planeta”, afirmou o presidente colombiano Juan Manuel Santos, principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul.
Liderança brasileira
Os especialistas concordam que o Brasil tende a assumir um papel de “liderança natural” na Celac, protagonismo que antes era dividido com o México quando se tratava do hemisfério como um todo.
“O Brasil é uma potência regional, tem sido (protagonista) pró-democracia e em defesa independência regional na América Latina. Deve ajudar a desempenhar este papel dentro Celac”, disse Mark Weisbrot.
O governo brasileiro vê a Celac como o “terceiro anel” do processo de integração regional, seguido do Mercosul e da Unasul.
A reunião de Cúpula para a abertura da Celac havia sido marcada para 5 de julho, mas foi adiada imediatamente após o presidente venezuelano Hugo Chávez ser diagnosticado com câncer, no final de junho.
A Celac unificará as estruturas do Grupo do Rio, mecanismo de consulta internacional regional criado em 1986, e da Calc (Comunidade América Latina e Caribe) e deve trabalhar em cinco áreas: política, energia, desenvolvimento social, ambiente e economia.
BBC – O Estado SP
Presidentes e representantes dos 33 países da América Latina se reúnem nesta sexta-feira, em Caracas, para formalizar a criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac).
Será a primeira vez que os países do continente se articulam em uma mesma plataforma política – com a tarefa de tentar aprofundar a integração regional – sem a presença dos Estados Unidos e do Canadá.
Segundo analistas, a Celac nasce com o desafio de criar uma organização capaz de gerar consenso entre os países e cuja institucionalidade seja capaz de implementar políticas de integração autônomas em relação aos Estados Unidos.
Entre as contradições a serem enfrentadas pelo bloco está a de construir políticas comuns em uma região ainda marcada por diferentes níveis de desenvolvimento econômico, pobreza, crime organizado e, em especial, antagonismos no campo político-ideológico.
O presidente venezuelano Hugo Chávez, conhecido pelas críticas ao governo de Washington, e pelo discurso anti-imperialista em encontros regionais, adotou um tom moderado ao falar sobre a nova organização regional e reconheceu que ela deverá respeitar a heterogeneidade dos países e de seus projetos, estejam eles à esquerda ou à direita do campo político.
“Temos que ter muita paciência, muita sabedoria. Não podemos deixar-nos levar pelas ideologias governantes em um país ou outro”, disse Chávez na última quinta-feira, minutos antes de receber a presidente Dilma Roussef no Palácio de governo.
“Este processo tem que ser independente do socialismo cubano, do socialismo venezuelano, ou do sistema de governo e ideologia do governo do Brasil, da Colômbia (…) é a união política, geopolítica, e sobre esta união vamos construir um grande polo de poder do século 21.”
O primeiro debate do grupo, realizado na noite desta quinta-feira, já mostrou como deve ser difícil conseguir o consenso entre os países do novo bloco. Os países não chegaram a um acordo sobre como será o mecanismo para a tomada de decisões – por unanimidade ou por maioria qualificada. O debate deve ser retomado nesta sexta-feira.
Institucionalidade
O maior desafio para a Celac será “passar da afirmação de uma identidade e articulação política a uma institucionalidade que permita aos países tomar decisões”, disse à BBC Brasil Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.
Uma das propostas do documento constitutivo da Celac é um protocolo de defesa da democracia e direitos humanos, aos moldes da cláusula anti-golpe de Estado estabelecida pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Entre as divergências iniciais está a posição do novo bloco a respeito do futuro da Organização de Estados Americanos (OEA), cujo papel passou a ser questionado durante a crise boliviana, em 2008 e depois do golpe de Estado em Honduras, em 2009.
Venezuela, Equador e Bolívia defendem que a OEA já teria cumprido seu papel histórico no hemisfério e deve ser substituída.
“Não é possível que os conflitos latino-americanos tenham que ser tratados em Washington”, defendeu o presidente equatoriano Rafael Correa, dias antes da Cúpula.
“(Espero) que mais cedo que tarde (a Celac) possa substituir a OEA, que historicamente tem tido grandes distorções”, acrescentou.
Esta posição, no entanto, ainda não é um consenso entre a maioria dos países da região, que até agora preferem defender a coexistência das duas instituições.
Para o analista internacional Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela, a Celac tende a contribuir para o enfraquecimento da OEA, mas ainda é cedo para falar de sua extinção.
“A substituição da OEA pela Celac não será fruto de um decreto ou de declarações a favor ou contra, e sim pelas vias de fato”, disse à BBCBrasil.
Lander cita como exemplo a atuação da Unasul na resolução do conflito da Bolívia, em 2008, que ele considera ‘decisiva’. “Se a Celac mostrar que pode solucionar os conflitos regionais sem a intervenção dos Estados Unidos, o papel da OEA vai perder força naturalmente.”
Independência
Para o o economista americano Mark Weisbrot, co-diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington, a Celac é criada em um momento em que a América Latina se consolida como uma região “mais independente do que nunca”.
“Washington ainda é o principal problema no hemisfério, especialmente com respeito à democracia e à auto-determinação nacional”, disse Weisbrot à BBC Brasil.
O analista político venezuelano Carlos Romero, professor de estudos internacionais da Universidade Central da Venezuela, diz que a criação da Celac é um “passo positivo que marca um processo de maturidade política”da região.
No entanto, ele afirma que isso não necessariamente significará a existência um bloco antagônico a Washington. “Os EUA já não exercem a mesma tutela do passado”, diz.
A discussão do grupo ainda deve incluir a criação de um fundo de reserva para enfrentar a crise financeira internacional.
“Quanto mais nos integrarmos, mais estaremos preparados para enfrentar este furacão que a economia mundial está vivendo e a instabilidade do resto do planeta”, afirmou o presidente colombiano Juan Manuel Santos, principal aliado dos Estados Unidos na América do Sul.
Liderança brasileira
Os especialistas concordam que o Brasil tende a assumir um papel de “liderança natural” na Celac, protagonismo que antes era dividido com o México quando se tratava do hemisfério como um todo.
“O Brasil é uma potência regional, tem sido (protagonista) pró-democracia e em defesa independência regional na América Latina. Deve ajudar a desempenhar este papel dentro Celac”, disse Mark Weisbrot.
O governo brasileiro vê a Celac como o “terceiro anel” do processo de integração regional, seguido do Mercosul e da Unasul.
A reunião de Cúpula para a abertura da Celac havia sido marcada para 5 de julho, mas foi adiada imediatamente após o presidente venezuelano Hugo Chávez ser diagnosticado com câncer, no final de junho.
A Celac unificará as estruturas do Grupo do Rio, mecanismo de consulta internacional regional criado em 1986, e da Calc (Comunidade América Latina e Caribe) e deve trabalhar em cinco áreas: política, energia, desenvolvimento social, ambiente e economia.
FMI pede grana. E diz que Brasil resiste ao PiG
O Conversa Afiada reproduz texto do Blog do Planalto:
Diretora-geral do FMI diz que economia brasileira está solida e pode resistir aos efeitos da crise
A economia brasileira está sólida e pode resistir às dificuldades impostas pela crise. A avaliação foi feita hoje (1o) pela diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Em visita ao Brasil, ela foi recebida pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. No encontro, foram discutidos a crise que atinge com mais seriedade os países da Europa e seus impactos nas economias emergentes.
No entanto, para a diretora do FMI, o Brasil está em situação favorável, resultado de uma política econômica amparada em “três pilares”: controle da inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal. Junto com a força do mercado interno, esses três pilares protegem a economia brasileira dos efeitos da crise.
“Compartilhei com a senhora presidenta nossas preocupações com a Zona do Euro e a expectativa que nossos parceiros europeus vão conseguir montar um conjunto forte para tratar os diferentes componentes da crise. E ouvi da presidenta o apoio do Brasil para reforçar e fortalecer o Fundo Monetário com aporte de recursos”, disse Lagarde na entrevista coletiva concedida no Ministério da Fazenda após reunião com o ministro Guido Mantega.
Na avaliação do ministro da Fazenda, a crise europeia está se agravando, o que exige o aporte de recursos adicionais para o Fundo Monetário Internacional. A preocupação, segundo Mantega, é que a crise chegue aos países emergentes.
“O FMI está mais forte que em 2008 e mesmo assim deveria se fortalecer ainda mais. O Brasil está disposto a colaborar com o aporte adicional de recursos através de acordos bilaterais de crédito. Não há quantia definida. Isso é uma discussão que nós fazemos com o BRICs. Porém, isso está condicionado às reformas de cotas que já foram acertadas em 2009/2010 e que nós tenhamos a colaboração também de outros países, como Estados Unidos e os europeus.”
Chora, Cerra, chora !
Chora, Farol, chora !
Chora, Urubóloga, chora !
Chora, … , chora !
Paulo Henrique Amorim (às gargalhadas)
Tijolaço e o presente de Natal do Rio e do Brasil
O Conversa Afiada republica excelente post do imbatível Fernando Brito no Tijolaço:
Um presente de Natal para o Rio e para o Brasil
Quem passa pelo Elevado da Perimetral, no Rio de Janeiro, vê dois gigantescos navios atracados ali.
À esquerda de quem olha o mar, o OSX-1, o primeiro navio-plataforma que operará nos campos do empresário Eike Batista, na Bacia de Campos. À direita, ainda maior, um grande petroleiro, com a pintura fosca pelo tempo e o nome Petrobras pintado meio “a bangu”.
E se o cidadão continuar rodando por ali, entrar na ponte Rio-Niterói e olhar à esquerda verá ainda outro intenso movimento à esquerda, onde navios da Petrobras trabalham na recuperação do cais de atracação de um velho e imenso estaleiro.
O navio com o nome Petrobras era um petroleiro chamado Titan Seema, construído em 93 e tornou obsoleto por ter um conjunto de máquinas já inadequado para viagens transoceânicas. Foi comprado por cerca de R$ 40 milhões pela Petrobras, preço de liquidação para uma nave de tem 326 metros de comprimento, 57 de largura e capacidade para armazenar 1,4 milhões de barris de petróleo, 40% mais que o navio gigante que está ao lado dele, no cais do Rio.
O estaleiro era o Ishikavajima, abandonado há quase 20 anos, depois de ter sido o maior do Hemisfério Sul e empregar mais de dez mil trabalhadores. Foi inaugurado por Juscelino, como parte de sua divisão de tarefas: indústria automobilística para São Paulo, indústria naval para o Rio de Janeiro.
Escrevi, semana passada, que os dois veteranos vão se encontrar e renascer.
E este encontro começa em duas semanas, quando a Petrobras receberá as propostas dos estaleiros para assumirem e reformarem o Ishikavajima – que voltará a chamar-se Inhaúma, que era seu nome antes de os japoneses fazerem ali a sua planta naval. Nele, serão transformados o Titan Steel – agora P-74 – e três outros navios semelhantes, que se tornarão FPSO ( sigla que quer dizer Produção, Armazenamento e Transbordo Flutuantes) para operar nas áreas do pré-sal conhecidas como Franco e Libra, na Bacia de Santos.
O custo é estimado em R$ 2 bilhões de reais, que serão empregados no reforço estutural dos cascos, reforma e ampliação de instalações diversas, construção de alojamentos e a colocação de sistemas de ancoragem dinâmicos, que permitem à embarcação compensar o movimento de correntes, ventos e marés e permanecer estacionado no centro de uma teia de dutos ligados ma diversos poços de petróleo.
Depois de renovados, outra licitação, cujo valor deve se um pouco maior, escolhe os responsáveis pela instalação, sobre o navio, da planta de processamento de petróleo que vai deixar pronto para embarque um volume de “apenas”, 150 mil barris (um bilhão de litros) de petróleo por dia.
A opção pela compra de petroleiros usados, uma tradição na construção de FPSOs, explica-se pelo fato de que estes navios ficarão praticamente fixos e – recuperados e reforçados estruturalmente – custam apenas uma pequena fração do que custaria fazer e equipar um novo. E, ainda, reduz o prazo que ocupam nos estaleiros, abrindo espaço para novas encomendas. O preço do casco, numa FPSO, é de apenas 5% do valor total.
A reforma do estaleiro e os quatro navios-plataforma e suas instalações vão gerar nada menos que 11 mil empregos diretos e recolocar, outra vez, o Rio à frente de uma vocação que, há mais de 50 anos, Juscelino consagrou trazendo o Ishilavajima para cá.
A partir de junho do ano que vem, um a um, os quatro gigantes vão ficar ali, com suas proas quase invadindo as pistas da Ponte Rio-Niterói, como um símbolo monumental do que, hoje, quem cruza a Baía da Guanabara, já percebe: o renascimento de uma região que sofreu, como poucas, a discriminação e até o ódio de governos soturnos do período militar, que detestavam o Rio de Janeiro e suas tradições de alegria, irreverência e liberdade.
O carioca, que é gente que veio para cá de todos os lugares, ao contrário do que fizeram pensar, trabalha muito. Mas, durante mais de 30 anos, tiraram-lhe o emprego.
Trabalhamos tanto e com tanto gosto que podemos dar nova vida a quatro mamutes do mar, que recebemos agora, e e vamos cuidar de mandar embora para alto mar o mais rápido possível, dizendo-lhes: vão, vão lá para o meio do mar, enfrentar as ondas e as profundezas, cuidar de tornar o Brasil mais rico e melhor, para todos os nossos irmãos, de todas as partes deste país.
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