O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
terça-feira, agosto 31, 2010
domingo, agosto 29, 2010
Vídeo mostra a crise econômica
.
O vídeo definitivo sobre a grande crise de 2008. Um trabalho soberbo desse jorbacdc, mostrando a maior batalha dos últimos anos, a luta contra a crise global, que marcou definitivamente a consolidação da candidatura Dilma e o esvaziamento da José Serra.
Por jorbacdc, no Youtube
August 24, 2010
Este vídeo traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula, do PT.
Com pouco mais de 9 minutos de duração, o vídeo traz também uma resposta aos que não entendem como o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter liquidado quase todas as estatais lucrativas.
Pois, ao que parece, os "economistas PhDs" do PSDB não conseguem enxergar além das "receitas importadas" dos seus gurus neoliberais internacionais. E no meio do "efeito manada", o economista (?) José Serra disparou a dar entrevistas em que apontava os "graves erros" que a equipe econômica do governo Lula estava cometendo para tentar superar a crise, pois "ia na contramão" das medidas adotadas pelas grande potências mundiais que, segundo Serra, "eram as únicas soluções possíveis".
E o vídeo aponta as "medidas" e as contradições de José Serra ante a crise quando ele ainda era governador do Estado mais rico da Federação.
Ao economista (?) José Serra (e a todos os demais "especialistas" da direita conservadora do Brasil) parece faltar a ousadia, a sensibilidade e a criatividade mostradas pelo governo do PT para superar as falhas graves, como a crise financeira mundial e a desigualdade social de um grande país que, definitivamente, não deve ficar importando "receitas de bolo" estrangeiras para superar as dificuldades internas.
O vídeo mostra também de que forma a grande imprensa brasileira (que se popularizou na blogosfera como "PIG") exerceu um papel totalmente antipatriótico. Pois que, no furor para destruir a imagem de Lula, "importou' a crise e trouxe graves consequências ao Brasil, onde a crise poderia ter batido de forma mais suave se não fosse o alarmismo dos empresários que, pelos noticiários da imprensa, resolveram erroneamente demitir funcionários.
Em tempo: a imprensa brasileira foi a única do mundo (daqueles países que não tinham nada a ver com a crise) que expôs com destaque e sensacionalismo a crise econômica mundial. A abordagem alarmista foi ainda pior do que aquela mostrada pela imprensa norte-americana ou europeia.
O vídeo definitivo sobre a grande crise de 2008. Um trabalho soberbo desse jorbacdc, mostrando a maior batalha dos últimos anos, a luta contra a crise global, que marcou definitivamente a consolidação da candidatura Dilma e o esvaziamento da José Serra.
Por jorbacdc, no Youtube
August 24, 2010
Este vídeo traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula, do PT.
Com pouco mais de 9 minutos de duração, o vídeo traz também uma resposta aos que não entendem como o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter liquidado quase todas as estatais lucrativas.
Pois, ao que parece, os "economistas PhDs" do PSDB não conseguem enxergar além das "receitas importadas" dos seus gurus neoliberais internacionais. E no meio do "efeito manada", o economista (?) José Serra disparou a dar entrevistas em que apontava os "graves erros" que a equipe econômica do governo Lula estava cometendo para tentar superar a crise, pois "ia na contramão" das medidas adotadas pelas grande potências mundiais que, segundo Serra, "eram as únicas soluções possíveis".
E o vídeo aponta as "medidas" e as contradições de José Serra ante a crise quando ele ainda era governador do Estado mais rico da Federação.
Ao economista (?) José Serra (e a todos os demais "especialistas" da direita conservadora do Brasil) parece faltar a ousadia, a sensibilidade e a criatividade mostradas pelo governo do PT para superar as falhas graves, como a crise financeira mundial e a desigualdade social de um grande país que, definitivamente, não deve ficar importando "receitas de bolo" estrangeiras para superar as dificuldades internas.
O vídeo mostra também de que forma a grande imprensa brasileira (que se popularizou na blogosfera como "PIG") exerceu um papel totalmente antipatriótico. Pois que, no furor para destruir a imagem de Lula, "importou' a crise e trouxe graves consequências ao Brasil, onde a crise poderia ter batido de forma mais suave se não fosse o alarmismo dos empresários que, pelos noticiários da imprensa, resolveram erroneamente demitir funcionários.
Em tempo: a imprensa brasileira foi a única do mundo (daqueles países que não tinham nada a ver com a crise) que expôs com destaque e sensacionalismo a crise econômica mundial. A abordagem alarmista foi ainda pior do que aquela mostrada pela imprensa norte-americana ou europeia.
quinta-feira, agosto 26, 2010
terça-feira, agosto 24, 2010
Carta dos Blogueiros Progressistas
“A liberdade da internet é ainda maior que a liberdade de imprensa, na medida em que a imprensa compreensiva do rádio e da televisão se define como serviço público sob regime de concessão ou permissão, ao passo que a internet se define como instância de comunicação inteiramente privada”
MinistroAyresBritto
Em 21 e 22 de agosto de 2010, homens e mulheres de várias partes do país se reuniram em São Paulo, no Sindicato dos Engenheiros, com a finalidade de materializarem uma entidade, inicialmente abstrata, dita Blogosfera, a qual vem ganhando importância no transcurso desta década devido à influência progressiva que passou a exercer na comunicação e nos grandes debates públicos.
A Blogosfera é produto dos esforços de pessoas independentes das corporações de mídia, os blogueiros progressistas, designação que alude àqueles que, além de seus ideais humanistas, ousaram produzir o que já se tornou o primeiro meio de comunicação de massas autônomo. Contudo, produzir um blog independente, no Brasil, ainda é um ato de heroísmo porque não existem meios sólidos de financiamento para exercer a atividade profissionalmente, ou seja, obtendo remuneração.
Em busca de soluções para as dificuldades que persistem para que a Blogosfera Progressista siga crescendo e ganhando influencia em uma comunicação de massas dominada por um oligopólio poderoso, influente e, muitas vezes, antidemocrático, os blogueiros progressistas se unem para formularem aspirações e propostas de políticas públicas e pelo estabelecimento de um marco legal regulatório que contemple as transformações pelas quais a comunicação está passando no Brasil e no mundo.
Com base nesse espírito que permeou o 1º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, os participantes deliberaram em favor dos seguintes pontos:
I – Apoiamos o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), de iniciativa do governo federal, como forma de inclusão digital de expressiva parcela do povo brasileiro extemporaneamente alijada de um meio de comunicação de massas como a internet no limiar da segunda década do século XXI, o que é inaceitável e incompatível com os direitos fundamentais do homem à comunicação em um momento histórico em que os avanços tecnológicos nessa área já são acessíveis a qualquer cidadão de qualquer classe social nos países em estágio civilizatório mais avançado.
Apesar do apoio ao PNBL, os Blogueiros Progressistas declaram que, mesmo entendendo a iniciativa governamental como positiva, julgam que precisa de aprimoramento, pois da forma como está ainda oferece pouco para que a internet possa ser explorada em todas as suas potencialidades. A velocidade de processamento a ser oferecida à sociedade sem cobrança dos custos exorbitantes da iniciativa privada, por exemplo, precisa ser ampliada ou não realizará aquilo a que se propõe.
2 – Defendemos a regulamentação dos Artigos 220, 221 e 223da Constituição Federal, que legislam sobre a comunicação no Brasil e, entre outras coisas, proíbem a concentração abusiva dos meios de comunicação de massa e que dispõem sobre os sistemas público, estatal e privado.
Por omissão dos Poderes Executivo e Legislativo na regulamentação da matéria e sob sugestão do eminente professor Fabio Konder Comparato, os Blogueiros Progressistas decidem mover na Justiça brasileira uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) com vistas à regulamentação das leis que determinam profundas alterações na realidade da comunicação no Brasil supra descrita e que vêm sendo solenemente ignoradas.
3 – Combatemos iniciativas que tramitam no Poder Legislativo tais como o Projeto de Lei de autoria do senador mineiro Eduardo Azeredo, iniciativa que se notabilizou pela alcunha de “AI-5 digital” e que pretende impor restrições policialescas à liberdade de expressão na rede mundial de computadores, bem como as especulações sobre o que se convencionou chamar de “pedágio na rede”, ou seja, a possibilidade de os grandes grupos de mídia poderem veicular seus conteúdos na internet com vantagens tecnológicas como capacidade e velocidade de processamento em detrimento do que for produzido pelos cidadãos comuns e pelas pequenas empresas de comunicação.
4 – Reivindicamos a elaboração de políticas públicas que incentivem a veiculação de publicidade privada e oficial remuneradas nos blogs, bem como outras formas de financiamento que efetivamente viabilizem essa forma de comunicação representada pela Blogosfera Progressista, de maneira que possa ser produzida por qualquer cidadão que disponha de competência para explorar seu potencial econômico e comercial, exatamente como fazem os meios de comunicação de massas tradicionais com amplo apoio do Estado por meio de fartas verbas públicas que, com freqüência, são repassadas sob critérios meramente políticos e que ignoram a orientação constitucional que determina pluralidade na comunicação do país.
5 – Cobramos dos Poderes Executivo e Legislativo que examinem com seriedade deliberações da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) como a da criação do imprescindível Conselho Nacional de Comunicação.
6 – Deliberamos pela instituição de um Encontro Anual dos Blogueiros progressistas, que deve ocorrer, sempre que possível, em diferentes capitais para que um número maior de unidades da Federação tenha contato com esse evento e, em algum momento, com o universo da blogosfera.
7 – Lutaremos para instituir núcleos de Apoio Jurídico aos Blogueiros Progressistas, no âmbito das tentativas de censura que vêm sofrendo sobretudo por parte da classe política e de grandes meios de comunicação de massas.
São Paulo, 22 de agosto de 2010
Altamiro Borges
Conceição Lemes
Conceição Oliveira
Diego Casaes
Eduardo Guimarães
Luis Nassif
Luiz Carlos Azenha
Paulo Henrique Amorim
Renato Rovai
Rodrigo Vianna
quinta-feira, agosto 19, 2010
sábado, agosto 14, 2010
EUA: QUEREMOS A VENEZUELA DE VOLTA
James Petras
Washington procura desestabilizar a Venezuela:
O império revida (e perde) por James Petras
A política dos EUA para com a Venezuela tem dado muitas voltas tácticas, mas o objectivo é sempre o mesmo: derrubar o Presidente Chavez, inverter a nacionalização dos grandes negócios, abolir a comunidade de massas e os conselhos de trabalhadores e repor o país como um estado-cliente. Washington financiou a apadrinhou politicamente um golpe militar em 2002, um lock-out de patrões em 2002-2003, um referendo e numerosas tentativas dos meios de comunicação, de políticos e de ONGs para sabotar o regime. Até agora todos os esforços da Casa Branca têm sido um fracasso – Chavez ganhou várias vezes eleições livres, manteve a lealdade das forças armadas e o apoio da grande maioria dos pobres urbanos e rurais, do grosso da classe trabalhadora e da classe média do sector público. Washington não desistiu nem tentou travar boas relações com o governo eleito do presidente Chavez. Pelo contrário, a cada derrota dos seus colaboradores internos, a Casa Branca virou-se cada vez mais para uma estratégia de 'exterior', montando um poderoso 'cordão militar', que cerca a Venezuela com uma presença militar de grande escala, estendendo-se pela América Central, pelo norte da América do Sul e pelas Caraíbas. A Casa Branca de Obama apoiou um golpe militar nas Honduras, que deitou abaixo o governo democraticamente eleito do Presidente Zelaya (em Junho de 2009), aliado de Chavez, e substituiu-o por um regime fantoche que apoia a política militar anti-Chavez de Washington. O Pentágono assegurou várias bases militares na Colômbia oriental (em 2009), junto à fronteira venezuelana, graças ao dirigente seu cliente, Alvaro Uribe, o conhecido presidente narco-paramilitar. Em meados de 2010 Washington conseguiu um acordo sem precedentes com a aprovação da presidente Laura Chinchilla da Costa Rica, de direita, para posicionar 7 000 tropas de combate americanas, mais de 200 helicópteros e dezenas de navios apontados para a Venezuela, sob o pretexto de perseguir traficantes de droga. Actualmente, os EUA estão a negociar com o regime direitista do presidente Ricardo Martinelli do Panamá a possibilidade de reinstalar uma base militar na antiga Zona do Canal. Juntamente com a Quarta Frota que patrulha ao largo, 20 mil efectivos no Haiti, e uma base aérea em Aruba, Washington cercou a Venezuela do lado oriental e norte, estabelecendo posições favoráveis para uma rápida intervenção directa se surgirem circunstâncias internas favoráveis. A militarização política da Casa Branca em relação à América Latina, muito em especial a Venezuela, faz parte da sua política global de confronto e intervenção armada. É visível que o regime Obama alargou o âmbito e a extensão das operações dos esquadrões de morte clandestinos que operam actualmente em 70 países de quatro continentes, aumentou a presença de combate dos EUA no Afeganistão com mais 30 mil efectivos para além de mais de 100 mil mercenários contratados que operam através das fronteiras do Paquistão e Irão, e forneceu material e apoio logístico aos terroristas armados iranianos. Obama procedeu a uma escalada de exercícios militares provocadores ao largo da costa da Coreia do Norte e no Mar da China, suscitando protestos de Beijing. Igualmente revelador, o regime Obama aumentou o orçamento militar para mais de um milhão de milhões de dólares, apesar das crises económicas, do monstruoso défice e dos apelos aos cortes de austeridade nos Serviços de Cuidados de Saúde, Assistência Medicamentosa e Sociais. Por outras palavras, a atitude militar de Washington para com a América Latina e principalmente para com o governo democrático socialista do Presidente Chavez faz parte duma resposta militar geral a qualquer país ou movimento que recuse submeter-se ao domínio dos EUA. Surge a pergunta – porque é que a Casa Branca porfia na opção militar? Porquê militarizar a política externa para conseguir resultados favoráveis face a uma oposição decidida? A resposta, em parte, é que os EUA perderam grande parte da sua alavanca económica, que exercia anteriormente, e que garantia o derrube ou a submissão de governos adversários. A maior parte das economias asiáticas e latino-americanas atingiram um certo grau de autonomia. Outras não dependem de organizações financeiras internacionais influenciadas pelos EUA (o FMI, o Banco Mundial); conseguiram empréstimos comerciais. A maioria diversificou os seus parceiros comerciais e investidores e aprofundou laços regionais. Nalguns países, como o Brasil, a Argentina, o Chile e o Peru, a China substituiu os EUA enquanto seu parceiro comercial principal. Muitos países deixaram de procurar a "ajuda" dos EUA para estimular o crescimento, procuram parcerias com empresas multinacionais, frequentemente baseadas fora da América do Norte. Na medida em que o braço de ferro económico deixou de ser uma ferramenta eficaz para assegurar a obediência, Washington recorreu cada vez mais à opção militar. Na medida em que a elite financeira dos EUA esvaziou o sector industrial do país, Washington tem sido incapaz de reconstruir as suas alavancas económicas internacionais. Grandes fracassos diplomáticos, resultantes da sua incapacidade de se adaptar a mudanças básicas no poder global, também obrigaram Washington a afastar-se das negociações políticas e a comprometer-se com a intervenção e confrontação militar. Os políticos americanos continuam cristalizados na época corrupta dos anos 80 e 90, o apogeu dos dirigentes clientes e da pilhagem económica, quando Washington gozava de apoio global, privatizava empresas, explorava o financiamento da dívida pública e praticamente não tinha rival no mercado mundial. No final dos anos 90, o aumento do capitalismo asiático, as revoltas anti-liberais das massas, o ascendente de regimes de centro-esquerda na América Latina, as repetidas crises financeiras, as quedas das bolsas de acções nos EUA e na União Europeia e o aumento dos preços dos bens conduziram a um realinhamento do poder global. As tentativas de Washington para continuar a pôr em prática políticas sintonizadas com as décadas anteriores entraram em conflito com as novas realidades de mercados diversificados, potências recém-emergentes e regimes políticos relativamente independentes ligados a novos eleitorados de massas. As propostas diplomáticas de Washington para isolar Cuba e a Venezuela foram rejeitadas por todos os países latino-americanos. A tentativa de ressuscitar acordos de comércio livre, que privilegiavam os exportadores americanos e protegiam produtores não competitivos, foi rejeitada. Incapaz de reconhecer os limites do poder diplomático imperialista e moderar as suas propostas, o regime Obama virou-se cada vez mais para a opção militar. A luta de Washington para reafirmar o poder imperialista, através da política intervencionista não se revelou melhor do que as suas iniciativas diplomáticas. Os golpes apoiados pelos EUA na Venezuela (2002) e na Bolívia (2008) foram derrotados pela mobilização popular de massas e pela lealdade dos militares aos regimes no poder. Do mesmo modo, na Argentina, no Equador e no Brasil, os regimes pós neo-liberais, apoiados pelas elites industriais, mineiras e agro-exportadoras e pelas classes populares, conseguiram derrotar as tradicionais elites neo-liberais pró-EUA, com raízes nas políticas dos anos 90 e anteriores. A política de desestabilização não conseguiu desalojar os novos governos que prosseguiam políticas externas relativamente independentes e se recusaram a voltar à velha ordem da supremacia dos EUA. Onde Washington conseguiu reconquistar terreno político com a eleição de regimes políticos direitistas – foi através da sua capacidade de explorar o 'desgaste de políticas de centro-direita (Chile), as fraudes políticas e a militarização (Honduras e México), o declínio da esquerda popular nacional (Costa Rica, Panamá e Peru) e a consolidação de um estado policial fortemente militarizado (Colômbia). Estas vitórias eleitorais, especialmente na Colômbia, convenceram Washington que a opção militar, aliada a uma profunda intervenção e exploração de processos eleitorais abertos, é a forma de inverter a viragem para a esquerda na América Latina – principalmente na Venezuela. Política dos EUA para com a Venezuela: Aliando tácticas militares e eleitorais As tentativas dos EUA para derrubar o governo democrático do presidente Chavez repetem muitas das tácticas aplicadas contra anteriores adversários democráticos. Incluem incursões pela fronteira de forças militares e paramilitares colombianas, semelhantes aos ataques fronteiriços dos 'contras' apoiados pelos EUA contra o governo sandinista da Nicarágua nos anos 80. A tentativa de cercar e isolar a Venezuela é semelhante à política de Washington durante os últimos cinquenta anos contra Cuba. A canalização de fundos para grupos da oposição, partidos, meios de comunicação e ONGs através de organismos americanos e fundações 'fantoches' é uma repetição das tácticas aplicadas para desestabilizar o governo democrático de Salvador Allende no Chile em 1970-1973, de Evo Morales na Bolívia em 2006-2010 e de inúmeros outros governos na região. A política de múltiplas frentes de Washington, na sua fase actual, está orientada para a escalada de uma guerra de nervos, através das suas constantes ameaças de segurança. Em parte, as provocações militares são um 'teste' dos preparativos de segurança da Venezuela, experimentando os seus pontos fracos nas defesas terrestres, aéreas e marítimas. Estas provocações também fazem parte de uma estratégia de desgaste, para forçar o governo Chavez a manter em 'alerta' as suas forças de defesa e mobilizar a população e depois reduzir temporariamente a pressão até à provocação seguinte. O objectivo é desacreditar a permanente referência do governo a ameaças, a fim de enfraquecer a vigilância e, quando as circunstâncias o permitirem, poderem fazer um ataque oportuno. O aparato militar externo de Washington destina-se a intimidar os países das Caraíbas e da América Central que podem tencionar estabelecer relações económicas mais estreitas com a Venezuela. A exibição de força também se destina a encorajar a oposição interna para acções mais agressivas. Simultaneamente, a atitude de confronto é dirigida aos "elos mais fracos" dos sectores "moderados" do governo de Chavez que se sentem nervosos e anseiam por uma "reconciliação" mesmo que seja ao preço de concessões imorais à oposição e ao novo regime do presidente Santos na Colômbia. A crescente presença militar destina-se a abrandar o processo de radicalização interna e impossibilitar as crescentes ligações da Venezuela com o Médio Oriente e outros regimes, adversos à hegemonia dos EUA. Washington está confiante em que uma exibição militar e uma guerra psicológica, que relacionem a Venezuela com rebeldes revolucionários como a guerrilha colombiana, levará a que os aliados e amigos de Chavez na América Latina se distanciem dele. Igualmente importante, as acusações não fundamentadas de Washington de que a Venezuela está a dar refúgio a campos de guerrilheiros da FARC, destina-se a pressionar Chavez a reduzir o seu apoio a todos os movimentos sociais na região, incluindo os Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil, assim como os grupos não-violentos pró direitos humanos e os sindicatos na Colômbia. Washington pretende uma "polarização" militar: ou os EUA ou Chavez. Rejeita a polarização política que existe actualmente e que contrapõe Washington ao MERCOSUL, a organização de integração económica que engloba o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, com a Venezuela à beira de se tornar membro da ALBA (integração económica que engloba a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua, o Equador e diversos estados das Caraíbas). O factor FARC Obama e Uribe, agora ex-presidente, acusaram a Venezuela de proporcionar refúgio aos guerrilheiros colombianos (FARC e ELN). Na realidade isto é uma conspiração para pressionar o presidente Chavez a denunciar ou pelo menos a exigir que as FARC desistam da sua luta armada nas condições ditadas pelos EUA e pelo regime colombiano. Contrariamente à jactância do presidente Uribe e do Departamento de Estado de que as FARC são um fragmento decadente, isolado e derrotado do passado, em consequência das suas sucessivas campanhas de contra-insurreição, um recente e detalhado estudo de campo feito por um investigador colombiano 'La guerra contra las FARC y la guerra de las FARC' demonstra que nos últimos dois anos os guerrilheiros consolidaram a sua influência sobre um terço do país, e que o regime em Bogotá controla apenas metade do país. Depois de sofrer importantes derrotas em 2008, as FARC e o ELN avançaram regularmente durante 2009-2010 infligindo mais de 1 300 baixas militares no ano passado e provavelmente quase o dobro este ano (La Jornada, 8/6/2010). O reaparecimento e avanço das FARC tem uma importância crucial, face à campanha militar de Washington contra a Venezuela. Também afecta a posição do seu "aliado estratégico" – o regime de Santos. Primeiro, demonstra que, apesar dos 6 mil milhões de dólares adicionais na ajuda militar dos EUA à Colômbia, a sua campanha anti-insurreição para "exterminar" as FARC foi um fracasso. Segundo, a ofensiva das FARC abre uma "segunda frente" na Colômbia, enfraquecendo qualquer tentativa para desencadear uma invasão da Venezuela utilizando a Colômbia como "trampolim". Terceiro, enfrentando uma crescente luta de classes interna, é mais provável que o novo presidente Santos procure reduzir as tensões com a Venezuela, na esperança de transferir as tropas da fronteira do seu vizinho para a crescente insurreição dos guerrilheiros. Num certo sentido, apesar das preocupações de Chavez quanto aos guerrilheiros e dos apelos abertos para acabar com a guerrilha, o reaparecimento dos movimentos armados são, com toda a probabilidade, um factor importante para reduzir as perspectivas duma intervenção dirigida pelos EUA. Conclusão A política de multi-frentes de Washington, destinada a desestabilizar o governo venezuelano tem sido, de longe, contra-producente, sofrendo importantes revezes e poucos êxitos. A linha dura para com a Venezuela não conseguiu "arregimentar" nenhum apoio nos principais países da América Latina, com excepção da Colômbia. Isolou Washington, não isolou Caracas. As ameaças militares podem ter radicalizado as medidas sócio-económicas adoptadas por Chavez, não as moderaram. As ameaças e acusações saídas da Colômbia reforçaram a coesão interna na Venezuela, exceptuando apenas os fanáticos grupos de oposição. Também contribuíram para que a Venezuela melhorasse as suas operações de informações, policiais e militares. As provocações colombianas levaram a uma quebra das relações e a uma redução de 80% no comércio entre fronteiras no valor de muitos milhares de milhões de dólares, levando à falência numerosas empresas colombianas, quando a Venezuela as substituiu por importações industriais e agrícolas do Brasil e da Argentina. Os efeitos das políticas de tensão e da "guerra de desgaste" são difíceis de medir, principalmente em termos do seu impacto sobre as cruciais eleições legislativas que se aproximam, em 26 de Setembro de 2010. Sem dúvida, a incapacidade de a Venezuela regular e controlar o fluxo de muitos milhões de fundos americanos para os seus colaboradores venezuelanos teve um impacto significativo na sua capacidade organizativa. Sem dúvida, os tempos económicos conturbados tiveram algum efeito na limitação das despesas públicas para os novos programas sociais. Do mesmo modo, a incompetência e a corrupção de vários funcionários de topo de Chavez, principalmente na distribuição de alimentos públicos, na habitação e na segurança social irão ter um impacto eleitoral. É provável que estes factores "internos" tenham muito maior influência na modelação do alinhamento dos resultados eleitorais da Venezuela do que a agressiva política de confronto adoptada por Washington. Apesar disso, se a oposição pró-EUA aumentar substancialmente a sua presença legislativa nas eleições de 26 de Setembro – para cima de um terço do Congresso do povo – vai ser tentado o bloqueio das mudanças sociais e das políticas de estímulo económico. Os EUA irão intensificar os seus esforços para pressionar a Venezuela a desviar recursos para questões de segurança, a fim de sabotar as despesas sociais e económicas que garantem o apoio dos 60% da população venezuelana mais pobre. Até agora, a política da Casa Branca, baseada numa maior militarização e praticamente sem novas iniciativas económicas, tem sido um fracasso. Encorajou os maiores países latino-americanos a aumentar a integração regional, conforme testemunham os acordos alfandegários e tarifários adoptados na reunião do MERCOSUL no início de Agosto deste ano. Não provocou nenhuma redução de hostilidades entre os EUA e os países da ALBA. Não aumentou a influência dos EUA. Pelo contrário, a América Latina virou-se para uma nova organização política regional, a UNASUL (que exclui os EUA), minimizando a Organização dos Estados Americanos que os EUA utilizam para impor a sua agenda. Ironicamente, a única luz que favorece a influência dos EUA, provém dos processos eleitorais internos. O candidato direitista José Serra está a disputar fortemente a corrida nas próximas eleições presidenciais brasileiras. Na Argentina, no Paraguai e na Bolívia, a direita pró-EUA está a reagrupar-se e tem esperanças de reconquistar o poder. O que Washington continua a não perceber é que, em todo o espectro político, desde a esquerda ao centro-direita, há líderes políticos chocados e em oposição ao avanço e promoção da opção militar como peça central de política. Praticamente todos os líderes políticos têm recordações desagradáveis de exílio e perseguição do anterior ciclo de regimes militares apoiados pelos EUA. O auto-proclamado alcance extra-territorial dos militares americanos, operando a partir das suas sete bases na Colômbia, alargou a brecha entre os regimes democráticos de centro e centro-esquerda e a Casa Branca de Obama. Por outras palavras, a América Latina encara a agressão militar dos EUA à Venezuela como um "primeiro passo" para sul na direcção dos seus países. Esse facto, e o ímpeto para uma maior independência política e mercados mais diversificados, enfraqueceram as tentativas diplomáticas e políticas de Washington para isolar a Venezuela. O novo presidente Santos da Colômbia, proveniente do mesmo molde direitista do seu antecessor Álvaro Uribe, enfrenta uma escolha difícil – continuar como instrumento da confrontação militar dos EUA e desestabilização da Venezuela à custa de vários milhares de milhões de dólares em prejuízos comerciais e do isolamento do resto da América Latina ou reduzir as tensões fronteiriças e as incursões, abandonando a retórica provocadora e normalizando as relações com a Venezuela. Se acontecer esta última situação, os EUA perderão o seu melhor e último instrumento para a sua estratégia externa de "tensões" e guerra psicológica. Washington ficará com duas opções apenas: uma intervenção militar unilateral directa ou financiar a guerra política através dos seus colaboradores internos. Entretanto, o presidente Chavez e os seus apoiantes fariam bem em concentrar-se a fim de fazer a economia sair da recessão, travar a corrupção no estado e a sua monumental ineficácia e atribuir à comunidade e aos conselhos com base nas fábricas um papel mais importante em todas as coisas desde o aumento da produtividade à segurança pública. Em último caso, a segurança a longo prazo da Venezuela em relação ao longo e penetrante alcance do Império dos EUA depende da força das organizações de massas que apoiam o governo de Chavez. 10/Agosto/2010 O original encontra-se em www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=20563 . Tradução de Margarida Ferreira.
Washington procura desestabilizar a Venezuela:
O império revida (e perde) por James Petras
A política dos EUA para com a Venezuela tem dado muitas voltas tácticas, mas o objectivo é sempre o mesmo: derrubar o Presidente Chavez, inverter a nacionalização dos grandes negócios, abolir a comunidade de massas e os conselhos de trabalhadores e repor o país como um estado-cliente. Washington financiou a apadrinhou politicamente um golpe militar em 2002, um lock-out de patrões em 2002-2003, um referendo e numerosas tentativas dos meios de comunicação, de políticos e de ONGs para sabotar o regime. Até agora todos os esforços da Casa Branca têm sido um fracasso – Chavez ganhou várias vezes eleições livres, manteve a lealdade das forças armadas e o apoio da grande maioria dos pobres urbanos e rurais, do grosso da classe trabalhadora e da classe média do sector público. Washington não desistiu nem tentou travar boas relações com o governo eleito do presidente Chavez. Pelo contrário, a cada derrota dos seus colaboradores internos, a Casa Branca virou-se cada vez mais para uma estratégia de 'exterior', montando um poderoso 'cordão militar', que cerca a Venezuela com uma presença militar de grande escala, estendendo-se pela América Central, pelo norte da América do Sul e pelas Caraíbas. A Casa Branca de Obama apoiou um golpe militar nas Honduras, que deitou abaixo o governo democraticamente eleito do Presidente Zelaya (em Junho de 2009), aliado de Chavez, e substituiu-o por um regime fantoche que apoia a política militar anti-Chavez de Washington. O Pentágono assegurou várias bases militares na Colômbia oriental (em 2009), junto à fronteira venezuelana, graças ao dirigente seu cliente, Alvaro Uribe, o conhecido presidente narco-paramilitar. Em meados de 2010 Washington conseguiu um acordo sem precedentes com a aprovação da presidente Laura Chinchilla da Costa Rica, de direita, para posicionar 7 000 tropas de combate americanas, mais de 200 helicópteros e dezenas de navios apontados para a Venezuela, sob o pretexto de perseguir traficantes de droga. Actualmente, os EUA estão a negociar com o regime direitista do presidente Ricardo Martinelli do Panamá a possibilidade de reinstalar uma base militar na antiga Zona do Canal. Juntamente com a Quarta Frota que patrulha ao largo, 20 mil efectivos no Haiti, e uma base aérea em Aruba, Washington cercou a Venezuela do lado oriental e norte, estabelecendo posições favoráveis para uma rápida intervenção directa se surgirem circunstâncias internas favoráveis. A militarização política da Casa Branca em relação à América Latina, muito em especial a Venezuela, faz parte da sua política global de confronto e intervenção armada. É visível que o regime Obama alargou o âmbito e a extensão das operações dos esquadrões de morte clandestinos que operam actualmente em 70 países de quatro continentes, aumentou a presença de combate dos EUA no Afeganistão com mais 30 mil efectivos para além de mais de 100 mil mercenários contratados que operam através das fronteiras do Paquistão e Irão, e forneceu material e apoio logístico aos terroristas armados iranianos. Obama procedeu a uma escalada de exercícios militares provocadores ao largo da costa da Coreia do Norte e no Mar da China, suscitando protestos de Beijing. Igualmente revelador, o regime Obama aumentou o orçamento militar para mais de um milhão de milhões de dólares, apesar das crises económicas, do monstruoso défice e dos apelos aos cortes de austeridade nos Serviços de Cuidados de Saúde, Assistência Medicamentosa e Sociais. Por outras palavras, a atitude militar de Washington para com a América Latina e principalmente para com o governo democrático socialista do Presidente Chavez faz parte duma resposta militar geral a qualquer país ou movimento que recuse submeter-se ao domínio dos EUA. Surge a pergunta – porque é que a Casa Branca porfia na opção militar? Porquê militarizar a política externa para conseguir resultados favoráveis face a uma oposição decidida? A resposta, em parte, é que os EUA perderam grande parte da sua alavanca económica, que exercia anteriormente, e que garantia o derrube ou a submissão de governos adversários. A maior parte das economias asiáticas e latino-americanas atingiram um certo grau de autonomia. Outras não dependem de organizações financeiras internacionais influenciadas pelos EUA (o FMI, o Banco Mundial); conseguiram empréstimos comerciais. A maioria diversificou os seus parceiros comerciais e investidores e aprofundou laços regionais. Nalguns países, como o Brasil, a Argentina, o Chile e o Peru, a China substituiu os EUA enquanto seu parceiro comercial principal. Muitos países deixaram de procurar a "ajuda" dos EUA para estimular o crescimento, procuram parcerias com empresas multinacionais, frequentemente baseadas fora da América do Norte. Na medida em que o braço de ferro económico deixou de ser uma ferramenta eficaz para assegurar a obediência, Washington recorreu cada vez mais à opção militar. Na medida em que a elite financeira dos EUA esvaziou o sector industrial do país, Washington tem sido incapaz de reconstruir as suas alavancas económicas internacionais. Grandes fracassos diplomáticos, resultantes da sua incapacidade de se adaptar a mudanças básicas no poder global, também obrigaram Washington a afastar-se das negociações políticas e a comprometer-se com a intervenção e confrontação militar. Os políticos americanos continuam cristalizados na época corrupta dos anos 80 e 90, o apogeu dos dirigentes clientes e da pilhagem económica, quando Washington gozava de apoio global, privatizava empresas, explorava o financiamento da dívida pública e praticamente não tinha rival no mercado mundial. No final dos anos 90, o aumento do capitalismo asiático, as revoltas anti-liberais das massas, o ascendente de regimes de centro-esquerda na América Latina, as repetidas crises financeiras, as quedas das bolsas de acções nos EUA e na União Europeia e o aumento dos preços dos bens conduziram a um realinhamento do poder global. As tentativas de Washington para continuar a pôr em prática políticas sintonizadas com as décadas anteriores entraram em conflito com as novas realidades de mercados diversificados, potências recém-emergentes e regimes políticos relativamente independentes ligados a novos eleitorados de massas. As propostas diplomáticas de Washington para isolar Cuba e a Venezuela foram rejeitadas por todos os países latino-americanos. A tentativa de ressuscitar acordos de comércio livre, que privilegiavam os exportadores americanos e protegiam produtores não competitivos, foi rejeitada. Incapaz de reconhecer os limites do poder diplomático imperialista e moderar as suas propostas, o regime Obama virou-se cada vez mais para a opção militar. A luta de Washington para reafirmar o poder imperialista, através da política intervencionista não se revelou melhor do que as suas iniciativas diplomáticas. Os golpes apoiados pelos EUA na Venezuela (2002) e na Bolívia (2008) foram derrotados pela mobilização popular de massas e pela lealdade dos militares aos regimes no poder. Do mesmo modo, na Argentina, no Equador e no Brasil, os regimes pós neo-liberais, apoiados pelas elites industriais, mineiras e agro-exportadoras e pelas classes populares, conseguiram derrotar as tradicionais elites neo-liberais pró-EUA, com raízes nas políticas dos anos 90 e anteriores. A política de desestabilização não conseguiu desalojar os novos governos que prosseguiam políticas externas relativamente independentes e se recusaram a voltar à velha ordem da supremacia dos EUA. Onde Washington conseguiu reconquistar terreno político com a eleição de regimes políticos direitistas – foi através da sua capacidade de explorar o 'desgaste de políticas de centro-direita (Chile), as fraudes políticas e a militarização (Honduras e México), o declínio da esquerda popular nacional (Costa Rica, Panamá e Peru) e a consolidação de um estado policial fortemente militarizado (Colômbia). Estas vitórias eleitorais, especialmente na Colômbia, convenceram Washington que a opção militar, aliada a uma profunda intervenção e exploração de processos eleitorais abertos, é a forma de inverter a viragem para a esquerda na América Latina – principalmente na Venezuela. Política dos EUA para com a Venezuela: Aliando tácticas militares e eleitorais As tentativas dos EUA para derrubar o governo democrático do presidente Chavez repetem muitas das tácticas aplicadas contra anteriores adversários democráticos. Incluem incursões pela fronteira de forças militares e paramilitares colombianas, semelhantes aos ataques fronteiriços dos 'contras' apoiados pelos EUA contra o governo sandinista da Nicarágua nos anos 80. A tentativa de cercar e isolar a Venezuela é semelhante à política de Washington durante os últimos cinquenta anos contra Cuba. A canalização de fundos para grupos da oposição, partidos, meios de comunicação e ONGs através de organismos americanos e fundações 'fantoches' é uma repetição das tácticas aplicadas para desestabilizar o governo democrático de Salvador Allende no Chile em 1970-1973, de Evo Morales na Bolívia em 2006-2010 e de inúmeros outros governos na região. A política de múltiplas frentes de Washington, na sua fase actual, está orientada para a escalada de uma guerra de nervos, através das suas constantes ameaças de segurança. Em parte, as provocações militares são um 'teste' dos preparativos de segurança da Venezuela, experimentando os seus pontos fracos nas defesas terrestres, aéreas e marítimas. Estas provocações também fazem parte de uma estratégia de desgaste, para forçar o governo Chavez a manter em 'alerta' as suas forças de defesa e mobilizar a população e depois reduzir temporariamente a pressão até à provocação seguinte. O objectivo é desacreditar a permanente referência do governo a ameaças, a fim de enfraquecer a vigilância e, quando as circunstâncias o permitirem, poderem fazer um ataque oportuno. O aparato militar externo de Washington destina-se a intimidar os países das Caraíbas e da América Central que podem tencionar estabelecer relações económicas mais estreitas com a Venezuela. A exibição de força também se destina a encorajar a oposição interna para acções mais agressivas. Simultaneamente, a atitude de confronto é dirigida aos "elos mais fracos" dos sectores "moderados" do governo de Chavez que se sentem nervosos e anseiam por uma "reconciliação" mesmo que seja ao preço de concessões imorais à oposição e ao novo regime do presidente Santos na Colômbia. A crescente presença militar destina-se a abrandar o processo de radicalização interna e impossibilitar as crescentes ligações da Venezuela com o Médio Oriente e outros regimes, adversos à hegemonia dos EUA. Washington está confiante em que uma exibição militar e uma guerra psicológica, que relacionem a Venezuela com rebeldes revolucionários como a guerrilha colombiana, levará a que os aliados e amigos de Chavez na América Latina se distanciem dele. Igualmente importante, as acusações não fundamentadas de Washington de que a Venezuela está a dar refúgio a campos de guerrilheiros da FARC, destina-se a pressionar Chavez a reduzir o seu apoio a todos os movimentos sociais na região, incluindo os Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil, assim como os grupos não-violentos pró direitos humanos e os sindicatos na Colômbia. Washington pretende uma "polarização" militar: ou os EUA ou Chavez. Rejeita a polarização política que existe actualmente e que contrapõe Washington ao MERCOSUL, a organização de integração económica que engloba o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, com a Venezuela à beira de se tornar membro da ALBA (integração económica que engloba a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua, o Equador e diversos estados das Caraíbas). O factor FARC Obama e Uribe, agora ex-presidente, acusaram a Venezuela de proporcionar refúgio aos guerrilheiros colombianos (FARC e ELN). Na realidade isto é uma conspiração para pressionar o presidente Chavez a denunciar ou pelo menos a exigir que as FARC desistam da sua luta armada nas condições ditadas pelos EUA e pelo regime colombiano. Contrariamente à jactância do presidente Uribe e do Departamento de Estado de que as FARC são um fragmento decadente, isolado e derrotado do passado, em consequência das suas sucessivas campanhas de contra-insurreição, um recente e detalhado estudo de campo feito por um investigador colombiano 'La guerra contra las FARC y la guerra de las FARC' demonstra que nos últimos dois anos os guerrilheiros consolidaram a sua influência sobre um terço do país, e que o regime em Bogotá controla apenas metade do país. Depois de sofrer importantes derrotas em 2008, as FARC e o ELN avançaram regularmente durante 2009-2010 infligindo mais de 1 300 baixas militares no ano passado e provavelmente quase o dobro este ano (La Jornada, 8/6/2010). O reaparecimento e avanço das FARC tem uma importância crucial, face à campanha militar de Washington contra a Venezuela. Também afecta a posição do seu "aliado estratégico" – o regime de Santos. Primeiro, demonstra que, apesar dos 6 mil milhões de dólares adicionais na ajuda militar dos EUA à Colômbia, a sua campanha anti-insurreição para "exterminar" as FARC foi um fracasso. Segundo, a ofensiva das FARC abre uma "segunda frente" na Colômbia, enfraquecendo qualquer tentativa para desencadear uma invasão da Venezuela utilizando a Colômbia como "trampolim". Terceiro, enfrentando uma crescente luta de classes interna, é mais provável que o novo presidente Santos procure reduzir as tensões com a Venezuela, na esperança de transferir as tropas da fronteira do seu vizinho para a crescente insurreição dos guerrilheiros. Num certo sentido, apesar das preocupações de Chavez quanto aos guerrilheiros e dos apelos abertos para acabar com a guerrilha, o reaparecimento dos movimentos armados são, com toda a probabilidade, um factor importante para reduzir as perspectivas duma intervenção dirigida pelos EUA. Conclusão A política de multi-frentes de Washington, destinada a desestabilizar o governo venezuelano tem sido, de longe, contra-producente, sofrendo importantes revezes e poucos êxitos. A linha dura para com a Venezuela não conseguiu "arregimentar" nenhum apoio nos principais países da América Latina, com excepção da Colômbia. Isolou Washington, não isolou Caracas. As ameaças militares podem ter radicalizado as medidas sócio-económicas adoptadas por Chavez, não as moderaram. As ameaças e acusações saídas da Colômbia reforçaram a coesão interna na Venezuela, exceptuando apenas os fanáticos grupos de oposição. Também contribuíram para que a Venezuela melhorasse as suas operações de informações, policiais e militares. As provocações colombianas levaram a uma quebra das relações e a uma redução de 80% no comércio entre fronteiras no valor de muitos milhares de milhões de dólares, levando à falência numerosas empresas colombianas, quando a Venezuela as substituiu por importações industriais e agrícolas do Brasil e da Argentina. Os efeitos das políticas de tensão e da "guerra de desgaste" são difíceis de medir, principalmente em termos do seu impacto sobre as cruciais eleições legislativas que se aproximam, em 26 de Setembro de 2010. Sem dúvida, a incapacidade de a Venezuela regular e controlar o fluxo de muitos milhões de fundos americanos para os seus colaboradores venezuelanos teve um impacto significativo na sua capacidade organizativa. Sem dúvida, os tempos económicos conturbados tiveram algum efeito na limitação das despesas públicas para os novos programas sociais. Do mesmo modo, a incompetência e a corrupção de vários funcionários de topo de Chavez, principalmente na distribuição de alimentos públicos, na habitação e na segurança social irão ter um impacto eleitoral. É provável que estes factores "internos" tenham muito maior influência na modelação do alinhamento dos resultados eleitorais da Venezuela do que a agressiva política de confronto adoptada por Washington. Apesar disso, se a oposição pró-EUA aumentar substancialmente a sua presença legislativa nas eleições de 26 de Setembro – para cima de um terço do Congresso do povo – vai ser tentado o bloqueio das mudanças sociais e das políticas de estímulo económico. Os EUA irão intensificar os seus esforços para pressionar a Venezuela a desviar recursos para questões de segurança, a fim de sabotar as despesas sociais e económicas que garantem o apoio dos 60% da população venezuelana mais pobre. Até agora, a política da Casa Branca, baseada numa maior militarização e praticamente sem novas iniciativas económicas, tem sido um fracasso. Encorajou os maiores países latino-americanos a aumentar a integração regional, conforme testemunham os acordos alfandegários e tarifários adoptados na reunião do MERCOSUL no início de Agosto deste ano. Não provocou nenhuma redução de hostilidades entre os EUA e os países da ALBA. Não aumentou a influência dos EUA. Pelo contrário, a América Latina virou-se para uma nova organização política regional, a UNASUL (que exclui os EUA), minimizando a Organização dos Estados Americanos que os EUA utilizam para impor a sua agenda. Ironicamente, a única luz que favorece a influência dos EUA, provém dos processos eleitorais internos. O candidato direitista José Serra está a disputar fortemente a corrida nas próximas eleições presidenciais brasileiras. Na Argentina, no Paraguai e na Bolívia, a direita pró-EUA está a reagrupar-se e tem esperanças de reconquistar o poder. O que Washington continua a não perceber é que, em todo o espectro político, desde a esquerda ao centro-direita, há líderes políticos chocados e em oposição ao avanço e promoção da opção militar como peça central de política. Praticamente todos os líderes políticos têm recordações desagradáveis de exílio e perseguição do anterior ciclo de regimes militares apoiados pelos EUA. O auto-proclamado alcance extra-territorial dos militares americanos, operando a partir das suas sete bases na Colômbia, alargou a brecha entre os regimes democráticos de centro e centro-esquerda e a Casa Branca de Obama. Por outras palavras, a América Latina encara a agressão militar dos EUA à Venezuela como um "primeiro passo" para sul na direcção dos seus países. Esse facto, e o ímpeto para uma maior independência política e mercados mais diversificados, enfraqueceram as tentativas diplomáticas e políticas de Washington para isolar a Venezuela. O novo presidente Santos da Colômbia, proveniente do mesmo molde direitista do seu antecessor Álvaro Uribe, enfrenta uma escolha difícil – continuar como instrumento da confrontação militar dos EUA e desestabilização da Venezuela à custa de vários milhares de milhões de dólares em prejuízos comerciais e do isolamento do resto da América Latina ou reduzir as tensões fronteiriças e as incursões, abandonando a retórica provocadora e normalizando as relações com a Venezuela. Se acontecer esta última situação, os EUA perderão o seu melhor e último instrumento para a sua estratégia externa de "tensões" e guerra psicológica. Washington ficará com duas opções apenas: uma intervenção militar unilateral directa ou financiar a guerra política através dos seus colaboradores internos. Entretanto, o presidente Chavez e os seus apoiantes fariam bem em concentrar-se a fim de fazer a economia sair da recessão, travar a corrupção no estado e a sua monumental ineficácia e atribuir à comunidade e aos conselhos com base nas fábricas um papel mais importante em todas as coisas desde o aumento da produtividade à segurança pública. Em último caso, a segurança a longo prazo da Venezuela em relação ao longo e penetrante alcance do Império dos EUA depende da força das organizações de massas que apoiam o governo de Chavez. 10/Agosto/2010 O original encontra-se em www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=20563 . Tradução de Margarida Ferreira.
sexta-feira, agosto 13, 2010
sexta-feira, agosto 06, 2010
quinta-feira, agosto 05, 2010
quarta-feira, agosto 04, 2010
Iraque 2011, Afeganistão 2014, Irã ?
De forma realista e pragmática, uma operação militar no Irã, ou mesmo bombardeios aéreos a instalações nucleares que seriam identificadas como riscos, é inviável no atual quadro regional, uma vez que colocaria em xeque as retiradas no Iraque e no Afeganistão e sinalizaria novos engajamentos em um momento no qual a opinião pública dos EUA se mostra contrária a operações externas. Dentro da lógica ofensiva de certos setores, e da perspectiva indicada por Emmanuel Todd de “teatralização” dos conflitos e da necessidade de “bater no fraco por não poder enfrentar o forte”, é preciso avaliar que nem sempre as motivações que impelem os norte-americanos à guerra são aquelas que se encontram mais visíveis. O artigo é de Cristina Soreanu Pecequilo.
Cristina Soreanu Pecequilo (*)
No último dia 2 de agosto, o presidente Barack Obama anunciou oficialmente que as tropas de combate norte-americanas no Iraque iniciarão sua retirada a partir do dia 31 de agosto, com previsão de saída total até dezembro de 2011. O encerramento da Guerra do Iraque, uma das principais peças de campanha do então candidato, que a definia como a “guerra de escolha” que drenava recursos dos Estados Unidos (EUA) da “guerra da necessidade” contra o terrorismo no Afeganistão (e Paquistão), surge em um momento sensível da administração democrata.
Tal momento é simbolizado pela proximidade das eleições legislativas de meio de mandato de novembro de 2010, para a qual as pesquisas de opinião indicam perda da maioria democrata em pelo menos uma das casas do Legislativo (ou nas duas inclusive), pela desaceleração da economia dos EUA e de uma intensa batalha no campo da legislação para a imigração. A catastrófe ambiental da British Petroleum e o que alguns definiram como fraqueza do governo em lidar com o caso, associado ao vazamento de informações sobre a Guerra do Afeganistão no site Wikileaks, igualmente compõem este quadro.
Depois de algumas importantes vitórias como a aprovação da reforma do sistema de saúde e de bem estar, o avanço da reforma financeira e o lançamento da nova Grande Estratégia de Segurança Nacional, Obama encontra-se na defensiva pressionado não só pelos republicanos, mas pelas forças democratas, dentro e fora do gabinete.
A “confirmação” da retirada das tropas no Iraque representa uma tentativa de recuperar o poder de iniciativa de Washington, e recolocar o debate em termos mais favoráveis. Neste quadro, ainda se insere a prometida ofensiva na Guerra do Afeganistão, visando minar as forças da Al-Qaeda, estando subjacente a este esforço intensivo dos EUA e de seus aliados da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma projeção adicional de desengajamento militar, com início previsto para 2011 e término em 2014.
Mais do que motivadas por questões estratégicas, as retiradas com data programada respondem a necessidades políticas norte-americanas e, no caso do Afeganistão, às demandas dos aliados, que gradualmente já vem diminuindo sua participação na guerra (pressões internas, custos excessivos, desgaste eleitoral). No caso dos EUA, os processos de “Iraquização” e “Afeganização”, que correspondem na retórica à transferência de responsabilidades de defesa às tropas locais, remontam à experiência da “Vietnamização” da década de 1970, e da saída honrosa, sem derrota, de um cenário de instabilidade que permanece em aberto.
Paradoxalmente, porém, os ecos do Vietnã e de uma possível síndrome do Iraque ou do Afeganistão, e o questionamento dos porquês destas operações (em sua origem desenvolvimento e possível fim próximo) restringem-se aos setores mais críticos nos EUA, o que se repete pelo sistema internacional.
É questionável que estes cronogramas correspondam ao “sucesso” militar das operações no que se refere ao combate a focos de terrorismo, disseminação da democracia e consolidação de um cenário estável no Iraque e Afeganistão (ou especificamente no Iraque, o encerramento de um conflito “errado”). Estes rearranjos estratégicos de tropas norte-americanas, transitando do Oriente Médio à Eurásia respondem a um esgotamento duplo, político e militar, revelado na superextensão. Ao mesmo tempo, não se pode desconsiderar que o rearranjo esteja relacionado a um reposicionamento de presença, vide as declarações do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, Mike Mullen, de que existe uma opção militar de intervenção no Irã caso o país prossiga com seu programa nuclear. As declarações de Mullen foram realizadas menos de uma semana depois da Casa Branca ter anunciado que estaria disposta a retomar negociações com Teerã sobre a questão da proliferação, retomando o acordo tripartite conduzido por Brasil, Turquia e Irã.
Este acordo tem sido objeto de inúmeras idas e vindas na Casa Branca: inicialmente os esforços de Brasil e Turquia foram bem recebidos e incentivados por serem considerados essenciais para destravar o processo diplomático, concluído o acordo, contudo, o texto foi rejeitado pelos EUA que investiram em sanções unilaterais e via Conselho de Segurança das Nações Unidas, as quais se agregaram sanções da UE e, nas últimas semanas, sinalizações positivas ressurgiram no campo diplomático, as quais se seguiram às declarações de Mullen. As hipóteses de guerra no Irã são recorrentes em Obama tanto quanto foram em W. Bush, mesmo que sob um referencial diferente, proliferação nuclear e guerra contra o terror respectivamente, uma vez que respondem a pressões de grupos de interesse e à visão militarista e messiânica compartilhada por falcões republicanos e democratas.
A consequência destas oscilações de posições é o reforço preventivo da postura do Irã, respondendo ao seu estrangulamento na região, e o favorecimento de suas correntes radicais (em detrimento das forças reformistas que haviam alcançado grande relevância nos anos 1990 com Khatami e sua proposta do Diálogo das Civilizações). No cenário asiático, a despeito da diferença de tratamento e postura dos EUA diante da Coréia do Norte e seu programa de proliferação (vide as Conversações das Seis Partes que agregam EUA, Rússia, China, Japão, Coréia do Norte e Coréia do Sul em esforços multilaterais), resultado similar se observa, de maior fechamento do regime norte-coreano.
De forma realista e pragmática, uma operação militar no Irã, ou mesmo bombardeios aéreos a instalações nucleares que seriam identificadas como riscos, é inviável no atual quadro regional, uma vez que colocaria em xeque as retiradas no Iraque e no Afeganistão e sinalizaria novos engajamentos em um momento no qual a opinião pública dos EUA se mostra contrária a operações externas. Dentro da lógica ofensiva de certos setores, e da perspectiva indicada por Emmanuel Todd de “teatralização” dos conflitos e da necessidade de “bater no fraco por não poder enfrentar o forte” (Depois do Império, 2003), é preciso avaliar que nem sempre as motivações que impelem os norte-americanos à guerra são aquelas que se encontram mais visíveis.
Temas contundentes do Oriente Médio pelos quais passam o futuro deste cenário como a retomada do processo de paz Israel-Palestina surgem em segundo plano, invertendo a equação dos anos 1970 quando se avaliava que a estabilidade da região iniciava-se pela reinserção equilibrada de todos os Estados e povos pela acomodação, respeito e coexistência (e da qual resultaram acordos como Israel-Egito em Camp David e os Tratados de Oslo na década de 1990). Permanece um contexto de crises, no qual o desengajamento militar norte-americano de 2011, 2014 ou, eventualmente, um novo cronograma para novos conflitos, demonstra a volatilidade estratégica regional, e o vácuo diplomático e político de soluções mais duradouras, sujeitas às mudanças de compromisso e das prioridades dos atores envolvidos.
(*) Doutora em Ciência Política e Professora de Relações Internacionais
Re-visões do desenvolvimento
Há dois projetos em disputa no Brasil e um único cenário de embate político real. Não há o cenário chamado por alguns de pós-Lula. O esforço da grande mídia para criar esse cenário se torna evidente quando apresentam os principais candidatos à Presidência. Dilma jamais é apresentada como candidata do governo ou do presidente Lula. E Serra e Marina não são apresentados como candidatos da oposição, mas sim como candidatos de seus respectivos partidos. No cenário pós-Lula, projetos aplicados e testados se tornam abstrações e o suposto preparo dos candidatos para ocupar o cargo de presidente se transforma em critério objetivo. O artigo é de João Sicsu.
João Sicsú
Artigo publicado originalmente na revista Inteligência.
Os últimos 20 anos marcaram a disputa de dois projetos para o Brasil. Há líderes, aliados e bases sociais que personificam essa disputa. De um lado estão o presidente Lula, o PT, o PC do B, alguns outros partidos políticos, intelectuais e os movimentos sociais. Do outro, estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), o PSDB, o DEM, o PPS, o PV, organismos multilaterais (o Banco Mundial e o FMI), divulgadores midiáticos de opiniões
conservadoras e quase toda a mídia dirigida por megacorporações.
O projeto de desenvolvimento liderado pelo presidente Lula se tornou muito mais claro no seu segundo mandato – quando realizações e ações de governo se tornaram mais nítidas. O primeiro mandato estava contaminado por “heranças” do período FHC. Eram “heranças” objetivas, tal como a aguda vulnerabilidade externa, e “heranças” subjetivas, ou seja, ideias conservadoras permaneceram em alguns postos-chave do governo. O presidente Lula fez mudanças importantes no seu segundo mandato: trocou o comando de alguns ministérios e de instituições públicas. E, também, implementou programas e políticas claramente opostos à concepção do seu antecessor. Um exemplo foi o lançamento, no início de 2007, do Programa de Aceleração do Crescimento (o PAC), muito criticado pelos oposicionistas, mas que foi a marca da virada para um projeto de governo com contornos mais desenvolvimentistas.
Os projetos em disputa
O projeto desenvolvimentista estabelece como pilar central o crescimento. Mas, diferentemente de uma visão “crescimentista” que busca o crescimento econômico sem critérios, objetivos ou limites, o projeto liderado
pelo presidente Lula busca, acima de tudo, o crescimento social do indivíduo, portanto, é um projeto desenvolvimentista – além de ser ambientalmente sustentável e independente no plano internacional (1). Já o projeto implementado pelo PSDB pode ser caracterizado como um projeto estagnacionista, que aprofundou vulnerabilidades sociais e econômicas.
O projeto desenvolvimentista tem balizadores econômicos e objetivos sociais. Os balizadores são: (1) manutenção da inflação em níveis moderados; (2) administração fiscal que busca o equilíbrio das contas públicas associado a programas de realização de obras de infraestrutura e a políticas anticíclicas; (3) redução da vulnerabilidade externa e algum nível de administração cambial; (4) ampliaçãodo crédito; e (5) aumento do
investimento público e privado.
E os objetivos econômico-sociais do projeto desenvolvimentista são: (1) geração de milhões de empregos com carteira assinada; (2) melhoria da distribuição da renda; e (3) recuperação real do salário mínimo.
O projeto implementado pelo PSDB e seus aliados no período 1995-2002 tinha as seguintes bases econômicas:
(1) estabilidade econômica, que era sinônimo, exclusivamente, de estabilidade monetária, ou seja, o controle da inflação era o único objetivo macroeconômico; (2) abertura financeira ao exterior e culto às variações da taxa de câmbio como a maior qualidade de um regime cambial; (3) busca do equilíbrio fiscal como valor moral ou como panaceia, o que justificava corte de gastos em áreas absolutamente essenciais; e (4) privatização de empresas públicas sem qualquer olhar estratégico de desenvolvimento.
E os objetivos econômico-sociais eram: (1) desmantelamento do sistema público de seguridade social; (2) criação de programas assistenciais fragmentados e superfocalizados; e (3) desmoralização e desmobilização do serviço público.
Os resultados da aplicação do modelo desenvolvimentista são muito bons quando comparados com aqueles alcançados pelo projeto aplicado pelo PSDB e seus aliados. Contudo, ainda estão distantes das necessidades
e potencialidades da economia e da sociedade brasileiras. Logo, tal modelo precisa ser aperfeiçoado – e muito.
Só há, portanto, dois projetos em disputa e um único cenário de embate político real. Não há o cenário chamado por alguns de pós-Lula. Sumariando, o pós-Lula seria o seguinte: o presidente Lula governou, acertou e errou... Mas o mais importante seria que o governo acabou e o presidente Lula não é candidato. Agora, estaríamos caminhando para uma nova fase em que não há sentido estabelecer comparações e posições em relação ao governo do presidente Lula. Em outras palavras, não caberia avaliar o governo Lula comparando-o com os seus antecessores e, também, nenhum candidato deveria ocupar a situação de oposição ou situação. O termo oposição deveria ser usado pelo PSDB com um único sentido: “oposição a tudo o que está errado” – e não oposição ao governo e ao projeto do presidente Lula.
O pseudocenário pós-Lula
O esforço da grande mídia para criar esse cenário se torna evidente quando apresentam os principais candidatos à Presidência. A candidata Dilma é apresentada como: “a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata à Presidência...” Ou “a candidata do PT Dilma Rousseff...”. Jamais apresentam a candidata Dilma como a candidata do governo ou do presidente Lula. E Serra e Marina não são apresentados como candidatos da oposição, mas
sim como candidatos dos seus respectivos partidos políticos. Curioso é que esses mesmos veículos de comunicação quando tratam, por exemplo, das eleições na Colômbia se referem a candidatos do governo e da oposição.
No cenário pós-Lula, projetos aplicados e testados se tornam abstrações e o suposto preparo dos candidatos para ocupar o cargo de presidente se transforma em critério objetivo. Unicamente em casos muito extremos
é que podemos, a priori, afirmar algo sobre o preparo de um candidato para ocupar determinado cargo executivo.
Em geral, somente é possível saber se alguém é bem ou mal preparado após a sua gestão. Afinal, o PSDB e seus aliados sempre afirmaram que o sociólogo poliglota era mais preparado do que o metalúrgico monoglota.
Rumos da economia são resultados de decisões políticas balizadas por projetos de desenvolvimento que ocorrem em situações conjunturais concretas. Situações específicas e projetos de desenvolvimento abrem ao presidente um conjunto de possibilidades. Saber escolher a melhor opção é a qualidade daquele que está bem preparado, mas isso somente pode ser avaliado posteriormente. O cenário pós-Lula e a disputa em torno de critérios de preparo representam tentativas de despolitizar o período eleitoral que é o momento que deveria preceder o voto na mudança ou na continuidade.
O voto dado com consciência política é sempre um voto pela mudança ou pela continuidade. Portanto, a tentativa de construir um cenário pós-Lula tem o objetivo de despolitizar o voto, isto é, retirar do voto a sua possibilidade de fazer história. Tentam “vender” a ideia de que a história é feita pela própria história, em um processo espontâneo, e que caberia ao eleitor escolher o melhor “administrador” da “vida que segue”. No cenário pós-Lula, o eleitor se torna uma vítima do processo, apenas com a capacidade de decidir o “administrador”, sua capacidade verdadeira de ser autor da história é suprimida. A construção de um cenário pós-Lula é a única alternativa do PSDB e de seus aliados, já que comparações de realizações têm números bastante confortáveis a favor do projeto do presidente Lula quando comparados com as (não)realizações do presidente Fernando Henrique Cardoso.
O crescimento e os objetivos macroeconômicos
A taxa de crescimento do PIB a partir de 2006 se tornou mais elevada. O crescimento a partir daquele ano trouxe uma característica de qualidade e durabilidade temporal: a taxa de crescimento do investimento se tornou, pelo menos, o dobro da taxa de crescimento de toda a economia. Para evitar que o crescimento tenha o formato de um “voo de galinha” economias devem buscar, de um lado, reduzir suas vulnerabilidades e, de outro, elevar a sua taxa de investimento: mais investimento, hoje, representa mais investimento e mais crescimento, amanhã. A taxa de crescimento esperada do investimento (público + privado) em 2010 é de mais de 18%. O investimento público, considerados os gastos feitos pela União e pelas estatais federais, alcançará mais de 3% do PIB este ano. O presidente FHC teria de governar o Brasil por aproximadamente 14 anos para fazer o crescimento que o presidente Lula fez em oito anos, ou seja, somente teríamos em 2016 o PIB que vamos alcançar ao final de 2010
se o país tivesse sido governado pelo PSDB desde 1995.
O crédito se ampliou drasticamente na economia brasileira nos últimos anos. Em 2003, representava menos que 23% do PIB. Em 2009, alcançou mais de 46% do PIB. O crédito se amplia quando potenciais credores
e devedores se sentem seguros para realizar o empréstimo. Os devedores, que são aposentados, pensionistas, trabalhadores e empresas, vão aos bancos pedir um empréstimo quando avaliam que poderão honrar seus
compromissos futuros. Aos olhos das empresas, a sensação de segurança sobre o futuro aumenta quando esperam crescimento das suas vendas e, portanto, elevação de suas receitas. Empresas mais otimistas fazem mais empréstimos. E, tanto para empresários quanto para trabalhadores, é o ambiente de crescimento econômico que propicia a formação de cenários otimistas em relação ao futuro.
O ânimo para que trabalhadores, aposentados e pensionistas fossem aos bancos nesses últimos anos pedir empréstimos sofreu duas influências. De um lado, houve a inovação institucional do crédito consignado que deu garantias aos bancos e reduziu a taxa de juros dos empréstimos (que, aliás, é ainda muito alta) e, de outro, a criação de milhões e milhões de empregos com carteira assinada. Com a carteira assinada, o trabalhador, além de se sentir mais seguro, cumpre o requisito formal para ir ao banco pedir um empréstimo. A carteira assinada oferece segurança econômica e sentimento de cidadania. Cabe, ainda, ser mencionado que os bancos públicos foram instrumentos preciosos para que o crescimento dos anos recentes fosse acompanhado por um aumento vigoroso do crédito. O crescimento, o aumento do investimento e a ampliação do crédito foram alcançados em um ambiente macroeconômico organizado, isto é, inflação controlada, dívida líquida do setor público monitorada de forma responsável e redução da vulnerabilidade externa.
A inflação do período 1995-2003 resultava exatamente da fraqueza externa da economia brasileira. Crises desvalorizavam abruptamente a taxa de câmbio que transmitia uma pressão altista para os preços. Ademais, nesse período os preços administrados subiam a uma velocidade que era o dobro da velocidade dos preços livres. Diferentemente, a inflação dos dias de hoje é causada por pressões pontuais. Há, contudo, um aumento de preços que tem pressionado de forma mais permanente a inflação: é o aumento dos preços de bebidas e alimentos. Políticas específicas e criativas para dissolver essa pressão devem ser implementadas.
Entretanto, cabe ser ressaltado que esse tipo específico de inflação se incorporou à economia brasileira devido ao tipo de crescimento que o modelo adotou. Um crescimento com forte distribuição da renda provoca necessariamente aumento acentuado das compras de bebidas e alimentos. A dívida líquida do setor público, como proporção do PIB, cresceu de uma média, por ano, no primeiro mandato do presidente FHC de 32,3% para 50,7% no seu segundo governo. A média esperada dessa relação no segundo mandato do presidente Lula é de 42,7%. A dívida externa foi anulada e a dívida interna dolarizada, zerada. As reservas internacionais que auxiliam na redução da vulnerabilidade externa, hoje, estão em patamar superior a US$ 250 bilhões. No seu segundo mandato, o presidente FHC matinha acumulado em média um montante inferior a US$ 36 bilhões.
Os objetivos socioeconômicos
O crescimento alcançado nos últimos anos tem uma evidente característica de maior qualidade social. Nos oito anos correspondentes aos governos de FHC foram criados somente 1.260.000 empregos com carteira assinada. O governo Lula terá criado de 2003 ao final de 2010 mais que 10.500.000 empregos. Portanto, FHC teria de governar o Brasil por 64 anos para atingir a marca do presidente Lula, ou seja, o PSDB teria de governar o Brasil de 1995 a 2058 para que pudesse criar a mesma quantidade de empregos com carteira criados com a implementação do projeto de desenvolvimento do presidente Lula.
O salário mínimo (SM) é um elemento-chave do objetivo de fazer a economia crescer e distribuir renda. Ele estabelece o piso da remuneraçãodo mercado formal de trabalho, influencia as remunerações do mercado informal e decide o benefício mínimo pago pela Previdência Social. Portanto, a política de recuperação do salário mínimo, além da política de ampliação do crédito, tem sido decisiva para democratizar o acesso ao mercado de bens de consumo. O presidente FHC teria de governar o Brasil por mais 12 anos para alcançar o patamar de recuperação atingido pelo presidente Lula para o SM, ou seja, somente em 2015 o trabalhador receberia o salário mínimo que recebe hoje se o Brasil tivesse sido governado pelo PSDB desde 1995. Em paralelo à criação de empregos com carteira assinada e à política de recuperação do salário mínimo, a ampliação da cobertura e do valor dos benefícios pagos pelo Sistema de Seguridade Social deve ser considerada decisiva dentro do projeto desenvolvimentista.
Em média por mês, durante os dois mandatos do presidente FHC, foram pagos 18 milhões de benefícios. De 2003 a 2009 foram pagos, em média, mais que 24 milhões de benefícios por mês. O valor dos benéficos no segundo mandato do presidente Lula é, em média, 36% maior em termos reais do que era no primeiro mandato do presidente FHC. O Sistema de Seguridade Social brasileiro é um importante elemento que promove crescimento com desenvolvimento porque, por um lado, reduz vulnerabilidades e desigualdades sociais e, por outro, injeta recursos na economia que se transformam diretamente em consumo. Aquele que recebe um benefício previdenciário ou social gasta quase tudo o que recebe imediatamente, gerando consumo, empregos, produção e investimentos.
Em 1995, o montante monetário dos benefícios emitidos ao longo do ano foi de aproximadamente R$ 80 bilhões; em 2009, esse montante alcançou mais que R$ 319 bilhões (ambos os valores corrigidos de acordo com o INPC para os dias de hoje). Nos cálculos referidos anteriormente não estão incluídos os pagamentos feitos pelo programa Bolsa Família, que tem orçamento muito inferior ao Sistema de Seguridade Social. Esse programa precisa ser ampliado para se tornar um elemento mais poderoso do projeto de desenvolvimento. Em 2009, alcançou 12,4 milhões de famílias que foram beneficiadas com R$ 12,4 bilhões, o que equivale a dizer que cada família recebeu aproximadamente R$ 83,00 por mês. A ampliação do Bolsa Família não pode ser oposta à política de fortalecimento do Sistema de Seguridade Social, que engloba a assistência social (aos idosos e aos deficientes pobres) e o sistema de previdência (que emite aposentadorias, pensões etc.). Os miseráveis, os pobres, a classe média e toda a sociedade brasileira precisam de ambos.
Somente para aqueles que pensam que é possível haver desenvolvimento sem crescimento (ou que desenvolvimento é sinônimo apenas de redução de desigualdades de renda) é que um real a mais para o Sistema de Seguridade Social poderia representar um real a menos para o programa Bolsa Família. São os mesmos que opõem os idosos às crianças, o ensino fundamental ao ensino universitário, o setor público ao privado, a regulação econômica às liberdades democráticas e o Estado ao mercado. Na escassez de crescimento que predominou durante os governos do presidente FHC, apresentavam sempre a solução deveras conhecida: “focalizar nos mais necessitados” por meio dos serviços do terceiro setor (ONGs), já que o Estado é considerado ineficiente, e mediante as doações de empresas que demonstram “responsabilidade social”.
Os ideólogos da área social da era FHC estavam errados. A experiência recente de desenvolvimento tem mostrado que o aumento do salário mínimo, o fortalecimento do Sistema de Seguridade Social e a ampliação do Bolsa Família conformam um tripé essencial de redução da miséria, da pobreza e das vulnerabilidades sociais, por um lado, e de impulso ao crescimento econômico baseado no mercado doméstico com redução de desigualdades, por outro.
Resultado que deve ser enfatizado
A proporção que os salários ocupam no PIB – ou a distribuição funcional da renda entre trabalhadores e detentores das rendas do capital – é um elemento importante para a avaliação da qualidade social da dinâmica econômica. Esse elemento avalia a capacidade de compra de serviços e bens por parte de cada segmento social produtivo; avalia, portanto, o grau de democratização do acesso ao mercado de bens e serviços. Desde 1995 até 2004, houve um contínuo processo de redução da massa salarial em relação ao PIB. Em 1995, era de 35,2%, em 2004, alcançou o seu pior nível histórico, 30,8%. A partir de então, houve um nítido processo de recuperação. Ao final de 2009, retornou para o patamar de 1995.
Perspectivas: desenvolvimento e planejamento
Há dois projetos em disputa: o estagnacionista, que acentuou vulnerabilidades sociais e econômicas, aplicado no período 1995-2002, e o desenvolvimentista redistributivista, em curso. Portanto, o que está em disputa, particularmente neste ano de 2010, são projetos, já testados, que pregam continuidade ou mudança. Somente no cenário artificial, que a grande mídia tenta criar, chamado de pós-Lula, é que o que estaria aberto
para a escolha seria apenas o nome do “administrador do condomínio Brasil”. Seria como se o “ônibus Brasil” tivesse trajeto conhecido, mas seria preciso saber apenas quem seria o melhor, mais eficiente, “motorista”. Se
for para usar essa figura, o que verdadeiramente está em jogo em 2010 é o trajeto, ou seja, o projeto, que obviamente está concretizado em candidatos, aliados e bases sociais.
Os resultados da aplicação do projeto estagnacionista durante os anos 1995-2002 e do projeto desenvolvimentista aplicado no período 2007- 2010 são bastante nítidos. Os números são amplamente favoráveis à gestão do
presidente Lula em relação à gestão do presidente FHC. Contudo, um alerta é necessário: os resultados alcançados estão ainda muito aquém das necessidades e das potencialidades da economia e da sociedade brasileiras. O primeiro passo de rompimento com a herança deixada por FHC foi o atendimento de necessidades sociais e econômicas. Medidas e programas quase que emergenciais foram implantados. Posteriormente, essas ações foram se transformando em políticas públicas que foram, por sua vez, mostrando consistência entre si e, dia a dia, foram se conformando em um projeto de desenvolvimento. Ao longo do governo do presidente Lula, a palavra desenvolvimento tomou conta dos ministérios, do PT e de demais partidos políticos aliados, tomou conta dos movimentos sociais e retornou ao debate acadêmico.
O próximo passo é consolidar cada política pública como parte indissociável do projeto de desenvolvimento. Mas, para tanto, é necessário pensar, refletir, organizar e planejar. Assim como a ideia de desenvolvimento retornou, agora é hora de retornar com a ideia do planejamento. Uma rota de desenvolvimento somente se tornará segura se estiver acompanhada de planejamento. Políticas públicas devem ter objetivos e metas quantitativas. Devem conter sistemas de avaliação rigorosos para medir realizações e necessidades. É preciso que cada gestor público cultive a cultura da busca de metas – em todas as áreas e esferas: na cultura, na saúde, na educação, na economia etc. Planejar não significa somente olhar para os próximos cinqüenta anos, significa também planejar cada dia, cada mês, cada ano... De forma detalhada, de forma obsessiva. Sem planejamento, uma trajetória desenvolvimentista promissora pode se transformar em “salto de trampolim”.
(*) O articulista é diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do IPEA e professor-doutor do Instituto de Economia da UFRJ (joaosicsu@gmail.com).
(1). Esses aspectos, embora fundamentais, nãoserão tratados neste artigo.
segunda-feira, agosto 02, 2010
CHOMSKY E AS 10 ESTRATÉGIAS DE MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA
Por Márcia Ap. Nogueira da Silva
O lingüista estadunidense Noam Chomsky elaborou a lista das "10 estratégias de manipulação" através da mídia:1 – A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO- O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".
2 – CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.
3 – A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.
4 – A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.
5 – DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê?"Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".
6 – UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos.Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...
7 – MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".
8 – ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto...
9 – REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução!
10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.
Fonte: www.institutojoaogoulart.org.br
Assinar:
Postagens (Atom)