por Luiz Carlos Azenha
A Vale do Rio Doce foi privatizada, em 1997, por pouco mais de U$ 3,3 bilhões de dólares. Dez anos depois, em 2007, teve faturamento quase dez vezes maior, ou seja, de cerca de U$ 33 bilhões.
Em retrospectiva, alegam os privatistas, era impossível prever que o preço internacional do minério de ferro subiria tanto, aumento causado especialmente pelo crescimento espetacular da China!
A história da Vale é ilustrativa: a Itabira Iron Ore, da qual ela se originou, só foi nacionalizada pelo governo de Getúlio Vargas depois de um acordo entre o Brasil, a Grã Bretanha e os Estados Unidos, pelo qual recebemos financiamento externo para a criação da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce em troca da garantia de suprimento de minério de ferro e borracha para o esforço de guerra dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.
Getúlio tinha visão de estadista: ficou em cima do muro, entre americanos e nazistas, até arrancar de Washington as concessões indispensáveis ao início da industrialização do Brasil.
Foi o legado de Getúlio que Fernando Henrique Cardoso - ele ainda não está preso? - prometeu pulverizar. Pulverizou, em parte, ao vender a Vale a preço de banana.
Mas esse não é o meu ponto. O que quero destacar é que os Estados Unidos, para obter o que queriam do Brasil - minério de ferro e borracha -, aceitaram até mesmo a nacionalização de uma empresa americana.
Os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram um gesto simbólico -- sem desfazer do esforço e da dedicação deles -- e a base aérea de Natal serviu à guerra no Norte da África. Mas o ESSENCIAL foi a matéria prima: minério de ferro e borracha.
Por que haveria de ser diferente agora?
Por que as matérias primas perderiam importância agora, que o Brasil se descobre sentado sobre uma enormidade de petróleo em sua costa?
Recentemente o ministro da Defesa, Nelson Jobim, trouxe a público o debate sobre a mineração em alto mar. Falou da necessidade de o Brasil se juntar com os vizinhos e com países da África para discutir o controle da navegação no Atlântico Sul.
Leia aqui sobre a mineração no mar
Outro dia, a bordo de um navio da Marinha, descobri surpreso que a Amazônia azul -- o mar territorial brasileiro -- é quase tão grande quanto a Amazônia verde. E, com certeza, tão rico quanto.
Essas são as questões essenciais para o futuro do Brasil, que deveriam ocupar boa parte da agenda do Parlamento brasileiro. No entanto, um dos maiores partidos do país decide concentrar esforços em uma CPI eleitoreira, que desvia a atenção da opinião pública do debate realmente necessário: como explorar o pré-sal? Onde investir o dinheiro? Quais são as perspectivas da mineração em águas profundas? Como o Brasil pode controlar a sua costa e projetar seu poder no Atlântico Sul?
Dizem, hoje, para justificar o preço de venda da Vale, que era impossível prever o preço internacional do minério de ferro.
Mas, como se isso fosse realmente necessário, que fique o alerta: o petróleo que está na costa brasileira vale muito e valerá cada vez mais. Será uma vergonha se nós, brasileiros, desperdiçarmos essa oportunidade de fazer do Brasil um país decente. E, acreditem, como já aconteceu muitas vezes no passado, existem milhares de brasileiros dispostos a entregar o ouro ao bandido em troca de migalhas.
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