Luiz Alberto Moniz Bandeira*
“Procuremos precisar quais os interesses em jogo na questão. Petróleo! Exclamam de todos os lados. O petróleo opera prodígios, tem ditado a política internacional das grandes potências, assentou e derrubou governos, abalou uma dinastia, criou fortunas fabulosas e conta entre os seus servidores estadistas dos mais notáveis”.
Embaixador José Joaquim Moniz de Aragão, secretário-geral do Itamaraty, durante a Guerra do Chaco, 1934[1]
“No matter how selfless America perceives its aims, an explicit insistence on predominance would gradually unite the world against the United States and force into impositions that would eventually leave it isolated and drained”.
Henry Kissinger[2]
“A América é a terra do futuro, na qual, em tempos vindouros, haverá algo como uma contenda entre a do Norte e a América do Sul, e onde a importância da História Universal deverá manifestar-se”.[3]
G. W. F. Hegel
O conflito entre a Rússia e a Geórgia mostrou que o “arc of crisis”, que Zbigniew Brzezinski dizia estender-se do Paquistão até a Etiópia, circundando o Oriente Médio, é muito mais amplo e abrange toda a Ásia Central e o Cáucaso. Diante de tal situação, a importância geopolítica da América do Sul aumentou ainda mais, na estratégia de segurança dos Estados Unidos, que buscam fontes de fornecimento de gás e petróleo em regiões mais estáveis. O próprio Halford J. Mackinder, na sua conferência sobre o "The Geographical Pivot of History, em 1904, ressaltou que o desenvolvimento das vastas potencialidades da América do Sul podia ter “decisive influence” sobre o sistema internacional de poder e fortalecer os Estados Unidos ou, do outro lado, a Alemanha, se desafiasse, com sucesso, a Doutrina Monroe.[4]
Os Estados Unidos e a Alemanha, desde fim do século XIX, já se haviam tornado as duas maiores potências industriais do mundo e conseqüentemente rivais. Porém, ao contrário da Alemanha, que não possuía qualquer domínio importante, ao qual pudesse estender o círculo de consumo para o capital, os Estados Unidos dispunham de enorme espaço econômico. As Américas Central e do Sul, assim como o Caribe, configuravam uma espécie de colônia, a única região do mundo, em que não havia séria rivalidade entre as grandes potências. Lá os Estados Unidos eram, praticamente, “soberanos” e seu fiat tinha força de lei, conforme o secretário de Estado, Richard Olney, escreveu em 1895. E acrescentou que os “infinite resources” da América (Estados Unidos), combinados com sua posição isolada, tornavam-na “master of the situation and practically invulnerable as against any or all other powers”. [5] Nem a Alemanha nem a Grã-Bretanha nem a França quiseram desafiar a Doutrina Monroe, expressão de uma política unilateral dos Estados Unidos, formulada em 2 de Dezembro de 1823, pelo presidente James Monroe (1817-1825).
O que disse Halford J. Mackinder a respeito do "closed heartland of Euro-Asia", afirmando que o Estado que o controlasse teria condições de projetar o poder de um lado para o outro lado da região e era inaccessível a uma força naval, aplica-se aos Estados Unidos, mas no sentido inverso. Com um território distendido ao longo da América do Norte, entre dois oceanos, o Atlântico e o Pacífico, os Estados Unidos não tinham vizinhos que pudessem ameaçar sua segurança. Seu extensivo litoral impedia que qualquer bloqueio fosse efetivamente mantido[6]. E, ao ascender ao primeiro lugar no ranking das maiores potências industriais, nos anos 1890, os Estados Unidos começaram a robustecer seu poder naval, até então menor que o do Brasil, Argentina ou Chile. [7] Assim puderam projetar sua influência, para um lado e para o outro, i. e., para o Ocidente e o Oriente, avançando sobre os mares, que a Grã-Bretanha ainda controlava, como o “chief builder and shipowner”, com “vast imperial responsabilities” na Ásia e na África.[8]
O comandante Alfred T. Mahan foi quem racionalizou a construção do poder naval dos Estados Unidos, argumentando que a grandeza de uma nação dependia do seu comércio no além-mar, o comércio dependia do poder naval e o poder naval, de colônias. Sem estabelecimentos no estrangeiro, colonial ou militar, os navios de guerra dos Estados Unidos seriam como pássaros sem terra, incapazes de voar muito além de suas próprias costas. Tornava-se, portanto, necessário o estabelecimento de bases e depósitos de carvão, para o abastecimento dos navios, numa extensa cadeia de ilhas, que possibilitassem a sustentação do poder naval e permitissem a expansão marítima e comercial dos Estados Unidos. O domínio de Cuba, bem como de Porto Rico e das Ilhas Virgens, cuja cessão o presidente William McKinley (1897 – 1901) solicitara à Dinamarca, afigurava-se fundamental para a segurança das rotas no Golfo do México e a defesa do canal, que os Estados Unidos projetavam abrir no istmo do Panamá. E o presidente McKinley, em 1898, aproveitou a luta pela independência de Cuba para declarar guerra à Espanha, visando a conquistar o que ainda restava do seu vasto império colonial. No entanto, a campanha militar contra a Espanha, impulsionada por interesses econômicos e objetivos estratégicos, não se limitou às ilhas do Caribe. Estendeu-se ao arquipélago das Filipinas, cuja conquista possibilitaria sua penetração nos mercados da Ásia, particularmente da China. Esta guerra permitiu que os Estados Unidos, como salientou Sir Halford Mackinder, conquistassem importantes possessões em ambos oceanos – o Pacífico e o Atlântico – e assumissem a construção do Canal do Panamá, com objetivo de ganhar a vantagem da insularidade para a mobilização de suas frotas de guerra. [9]
Realmente, em termos estratégicos, a projeção geopolítica dos Estados Unidos, na direção da Ásia, e a vastidão do seu próprio território continental, que separava o litoral do Atlântico do litoral do Pacífico, constituíam um problema para a defesa, dado que era difícil separar e, quando necessário, reunir suas frotas, em caso de guerra. Esta foi uma das razões pelas quais o presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) apressou a abertura de um canal inter-oceânico, no istmo do Panamá, território pertencente à Colômbia, a fim de consolidar os alicerces do império, cuja soberania se expandira de Cuba e Porto Rico, no Caribe, até Tutuila, no arquipélago de Samoa, e Guam, ao sul do Pacífico, quinze milhas a leste das Filipinas, possibilitando que suas frotas pudessem circular livremente e reunir-se, no momento e no local em que as circunstâncias táticas e estratégicas o exigissem. Motivos, tanto militares quanto civis, faziam “imperativo” o estabelecimento de “fácil e rápida” comunicação por mar, entre o Atlântico e o Pacífico[10].
Doutrina Monroe
O presidente Theodore Roosevelt rejuvenesceu então a Doutrina Monroe com um Corolário, mediante o qual racionalizou o direito de intervir em outros Estados latino-americanos, sobretudo na América Central e no Caribe, em casos de “wrong-doing or impotence” dos seus governos. Esta doutrina, sintetizada no lema “a América para os americanos”, passara a funcionar, a partir do final do século XIX, como cobertura ideológica para objetivo estratégico dos Estados Unidos, que consistia em manter sua hegemonia sobre todo o Hemisfério Ocidental, conquistar e assegurar as fontes de matéria-prima e os mercados da América do Sul para as suas manufaturas, alijando do subcontinente a competição da Grã-Bretanha e de outras potências industriais da Europa. Daí a proposta para formar com os Estados latino-americanos uma comunidade comercial, uma espécie de união aduaneira, apresentada durante a 1ª Conferência Pan-Americana, instalada em Washington, em novembro de 1889. A idéia, entretanto, não fora aceita, devido à oposição da Argentina e do Chile, e o resultado da 1° Conferência Pan-Americana consistiu somente na instalação do Bureau Internacional das Repúblicas Americanas. Mas em 1896 Charles Emory Smith, líder do Partido Republicano na Filadélfia e editor de jornal, declarou que “our spirit, if not our flag will rules the hemisphere”.[11]
Com razão o notável jurista brasileiro Rui Barbosa, que fora o primeiro ministro da Fazenda após a proclamação da república, denunciou, em artigo publicado em A Imprensa, em 10 de maio de 1899, que os princípios da Doutrina Monroe “nunca exprimiram senão um interesse dos Estados Unidos, nunca encerraram compromisso nenhum, por parte deles, a favor dos povos sul-americanos”.[12] Conforme ressaltou, “deixar aberto esse campo à dilatação vindoira do seu império era, como nos vai mostrar o exame ulterior do assunto, à luz da teoria e dos fatos, o intento substancial da fórmula de Monroe”.[13] Este, de fato, sempre foi o propósito dos Estados Unidos. Durante a Conferência de Versailles (1919), o presidente Woodrow Wilson (1913- 1921) empenhou-se para conservar a América Latina como área de influência exclusiva dos Estados Unidos, ao incluir no Pacto da Liga das Nações o Art. XXI, determinando que nada seria considerado que pudesse “afetar a validade de acordos internacionais tais como tratados de arbitramento ou entendimentos regionais, a exemplo da Doutrina Monroe”,[14] que viessem a assegurar a manutenção da paz[15]. A Doutrina Monroe, em realidade, constituía apenas uma declaração política unilateral dos Estados Unidos, feita em 1823, e nunca fora um entendimento regional. Mas, identificando a Doutrina Monroe com o pan-americanismo, como um acordo regional, o presidente Woodrow Wilson conseguiu excluir a América Latina da jurisdição da Liga das Nações.
Na 17ª Conferência Internacional dos Estados Americanos, realizada em Montevidéu, entre 3 de 26 de dezembro de 1933, os Estados Unidos renunciaram à intervenção armada em outros países e não apenas anuíram com a abolição da Platt Amendment, que autorizava a intervenção em Cuba, como retiraram os fuzileiros navais da Nicarágua e do Haiti. Assim o presidente Franklin D. Roosevelt (1933-1945) começou a implementar a Good Neighbor Policy, mas não conseguiu que todos os países da região reduzissem suas tarifas alfandegárias e abrissem o mercado para as exportações dos Estados Unidos, através de um tratado multilateral, ou acordos bilaterais, desdobrando a Doutrina Monroe em sua dimensão econômica, com a implantação de uma área de livre comércio no hemisfério. Ao declarar a guerra contra o Eixo, a pretexto do ataque do Japão a Pearl Harbor, o presidente Franklin D. Roosevelt pressionou então os Estados latino-americanos para que rompessem as relações com a Alemanha, que mais e mais penetrava na região, sobretudo na América do Sul, a fim de eliminar o principal concorrente comercial dos Estados Unidos.
Importância geopolítica da América do Sul
A Segunda Guerra Mundial evidenciou a importância geopolítica da América do Sul na estratégia dos Estados Unidos, que necessitavam não apenas assegurar as fontes de matéria-prima – ferro, manganês e outros minerais indispensáveis à sua indústria bélica – como também manter a segurança de sua retaguarda e do Atlântico Sul. O Brasil fornecia aos Estados Unidos produtos agrícolas, borracha, manganês, ferro e outros minerais estratégicos. Mas sua posição no subcontinente, a América do Sul, revestia-se de maior relevância geopolítica, devido ao imenso espaço territorial e aos recursos que possuía e ao fato de ter fronteiras com todos os países da região (exceto Chile e Equador), ocupar grande parte do litoral do Atlântico Sul, defrontado com a África Ocidental. E os Estados Unidos temiam que as forças da Alemanha, a partir da costa do Senegal, avançassem em direção das Américas, atravessando o estreito Natal-Dakar, ocupassem o arquipélago de Fernando de Noronha, e terminassem por conquistar o Saliente Nordestino, que abrangia o Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Daí a pressão para que Brasil permitisse a implantação de bases navais e aéreas nas principais cidades litorâneas do Nordeste, de onde os aviões da IV Frota americana, fundeada em Recife, realizaram vôos diários, através do Cinturão do Atlântico Sul (Saliente Nordestino – ilha de Ascensão -África) com a missão de patrulhar o oceano, entre as bases de Natal e Ascensão, visando a detectar submarinos do Eixo e principalmente navios furadores de bloqueio, que transportavam da Ásia, principalmente, matérias-prima estratégicas para o esforço de guerra da Alemanha.
O Saliente Nordestino dista somente 3.000 quilômetros do ponto mais ocidental da África francesa, e por ai passam importantes rotas do tráfego marítimo, procedente do Golfo Pérsico e do Extremo-Oriente, com destino aos portos situados ao norte da América do Sul, no Caribe e na América do Norte. E a base aérea de Paranamirim-Natal, cedida aos Estados Unidos juntamente com a base de Belém do Pará, possibilitou o estabelecimento de uma ponte aérea, estrategicamente fundamental para o abastecimento das tropas inglesas que combatiam no norte da África e no Oriente Médio, bem como, depois, para a invasão da Europa, através da Itália, e inclusive o apoio às operações militares no Extremo Oriente. O patrulhamento aéreo do Cinturão do Atlântico Sul, entre Recife e Ascensão, foi reforçado por quatro grupos-tarefas e aviões Liberators, e navios da IV Frota dos Estados Unidos, baseada em Recife, afundaram diversos submarinos de 1.200 t (U-848, U-849 e U-177) e os furadores de bloqueio – Essemberg, Karin, Wesserland, Rio Grande e o Burgenland - navios que traziam mercadorias do Oriente para a Alemanha.
A partir da vitória na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos buscaram consolidar a supremacia econômica, política, militar e cultural, que conquistaram, derrotando a Alemanha e avassalando a Grã-Bretanha, a França e demais países da Europa Ocidental. E, embora verbalmente condenassem as políticas de esfera de influência e de equilíbrio de poder, apontando para uma era de paz apoiada na segurança coletiva da ONU, os Estados Unidos não renunciaram à hegemonia na América Latina. Assim como o fizeram em 1919, no Pacto da Liga das Nações, cuidaram de evitar que a ONU pudesse exercer diretamente qualquer influência nas questões do hemisfério ocidental. O Art. 52 da Carta de São Francisco legitimou outra vez a “existência de acordos ou organismos regionais capazes de tratar das questões relativas à manutenção da paz e da segurança internacionais”.
Destarte, por meio do Art. 52 da Carta de São Francisco, os Estados Unidos reafirmaram a Doutrina Monroe, reservando-se o direito de tratar unilateralmente as questões que eventualmente surgissem na América Latina, sem se submeterem a um possível veto no Conselho de Segurança da ONU. E, em 1947, celebraram com todos os países da região o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), também conhecido como Tratado do Rio de Janeiro, considerando qualquer ataque ao território de um Estado americano como um ataque a todos os demais, ao mesmo tempo em que eles se comprometiam a resolver suas disputas entre si antes de recorrer à ONU. Estava demarcada, portanto, a zona de segurança do hemisfério entre o Pólo Norte até o extremo sul da Patagônia. E, no ano seguinte, 1948, a 9ª Conferência Interamericana, em Bogotá, recriou a União Pan-Americana sob o nome de Organização dos Estados Americanos (OEA), uma vez mais tratando de excluir a América Latina da jurisdição imediata da ONU.
Zona estratégica
A política exterior dos Estados Unidos visou tradicionalmente a promover interesses privados específicos[16], interesses empresariais, com ênfase na promoção de mercados abertos, livre iniciativa e boas vindas aos investimentos estrangeiros – objetivos geralmente apresentados como do interesse da humanidade[17]. Também sua estratégia global sempre foi determinada pelos interesses e necessidades do seu processo produtivo e de sua sociedade, i. e., assegurar as fontes de materiais estratégicos, tais como os campos de petróleo na Venezuela, as minas de estanho na Bolívia, as minas de cobre no Chile etc., existentes na América do Sul, e manter abertas as linhas de acesso, as vias de comunicação e transporte, no Atlântico Sul e no Caribe.[18]
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães salientou, em sua importante obra Quinhentos anos de periferia, que a América Latina, ao contrário do que muitos imaginam, “é de fato a zona estratégica mais importante para os Estados Unidos”. [19] Porém, dentro da América Latina, configurada pelos países situados abaixo do Rio Grande ou Rio Bravo do Norte, a América do Sul é a região que apresenta maior significação geopolítica, na estratégia dos Estados Unidos, devido ao seu enorme potencial econômico e político. São doze países dentro de um espaço contíguo, da ordem de 17 milhões de quilômetros quadrados, o dobro do território dos Estados Unidos (9.631.418 km2). Sua população, em 2007, era de aproximadamente 400 milhões de habitantes, também maior que a dos Estados Unidos (303,8 milhões), representando cerca de 67% de toda a chamada América Latina e 6% da população mundial, com integração lingüística, porquanto a imensa maioria fala português ou espanhol, línguas que se comunicam. Ademais, a América do Sul possui grandes reservas de água doce e biodiversidade da terra, enormes riquezas em recursos minerais e energéticos – petróleo e gás – pesca, agricultura e pecuária. E a integração do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) com os países da Comunidade Andina (CAN), Chile e Venezuela, permite a formação de uma massa econômica que se pode calcular em mais de US$ 3 trilhões, maior do que a da Alemanha, da ordem de US$ 2,8 trilhões, em 2007, calculada com base na paridade do poder de compra.
A importância geopolítica da América do Sul na estratégia dos Estados Unidos, para manter a hegemonia global, está em larga medida e intrinsecamente vinculada à sua dimensão econômica e comercial. Daí porque o presidente George W. H. Bush anunciou em 27 de junho de 1990 The Enterprise of the Americas Initiative (EAI), com a intenção de instituir uma zona de livre-comércio, desde Anchorage, no Alaska, até a Terra do Fogo. O presidente William J. Clinton (1993-2001), que o sucedeu, reanimou a idéia e apresentou a proposta, unilateralmente, aos demais chefes de governo, na Cúpula das Américas, realizada em Miami, entre 9 e 11 de dezembro de 1994, sob o nome de Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Esta proposta de integração econômica regional encapava, porém, objetivos geopolíticos, com respeito à segurança continental, mediante o fortalecimento das instituições democráticas e combate ao narcotráfico e ao terrorismo, ameaças que substituíram a subversão e o comunismo, na agenda militarista dos Estados Unidos, após a decomposição do Bloco Socialista e da União Soviética. O coronel (R) Joseph R. Núñez, do Exército dos Estados Unidos, ressaltou em estudo publicado pelo Strategic Studies Institute, do U.S. Army War College, que
with current concerns about the Free Trade Area of the Americas and the strength of democratic regimes, along with the growing need for homeland—even hemispheric—security, it is most important that we seriously consider new ways to respond to our strategic situation.[20]
O que os Estados Unidos pretendiam, com a formação da ALCA, bem como da APEC (Asia-Pacif Economic Cooperation) e a celebração de mais de 200 acordos comerciais, entre os quais os da Rodada Uruguai, era construir uma rede de compromissos internacionais, de modo a modelar o sistema econômico mundial e fazê-lo funcionar em benefício da América, i. e., dos Estados Unidos, como centro mais dinâmico da economia global, no século XXI. A própria Secretária de Estado, Madeleine K. Albright, na época, proclamou que “(...) We must continue shaping a global economic system that works for America”.[21] E a embaixadora Charlene Barshefsky, como chefe da United States Trade Representative (USTR), defendeu a aprovação da fast track, na House of Representatives, argumentando que o princípio subjacente da política comercial da administração do presidente Clinton era “to support U.S. prosperity, U.S. jobs and the health of the U.S. companies”.[22]
Conforme o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães sustentou, a ALCA representava parte da estratégia de manutenção da hegemonia econômica e política dos Estados sobre a América do Sul, porquanto, muito mais do que uma tradicional área de livre comércio, ela, se implantada, envolveria compromissos internacionais nas áreas do comércio de bens e serviços, de investimentos diretos, de compras governamentais, de patentes industriais, de normas técnicas e, muito provavelmente, de meio ambiente e padrões trabalhistas.[23] Seu propósito central consistia em criar um conjunto de regras, afim de incorporar os países da América do Sul, sobretudo o Brasil, ao espaço econômico (e ao sistema político) dos Estados Unidos, de forma assimétrica e subordinada, limitando sua capacidade de formular e executar política econômica própria, para atrair e disciplinar os investimentos estrangeiros, ampliar a capacidade industrial instalada, estimular a criação e integração das cadeias produtivas, promover a transferência efetiva de tecnologia e o fortalecimento do capital nacional.[24]
A proposta de formação da Área de Livre Comércio das América (ALCA), como a vertente econômica da estratégia global dos Estados Unidos para manter a hegemonia no hemisfério, conjugou-se com a aplicação das medidas neoliberais, estabelecidas pelo Consenso de Washington (consenso entre o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Departamento do Tesouro dos Estados Unidos), recomendando a privatização das empresas estatais, desregulamentação da economia e liberalização unilateral do comércio exterior. O Estado, portanto, devia retirar-se da economia, quer como empresário quer como regulador das transações domésticas e internacionais, submetendo-a às forças do mercado. A orientação do Consenso de Washington foi no sentido de reduzir o papel do Estado, torná-lo miniatura de Estado, o Estado-mínimo, o que significava, em meio à globalização da economia, o constrangimento da própria soberania nacional dos países da América do Sul (também de outros continentes), com a entrega de todo o poder econômico às corporações transnacionais, a maioria das quais americanas, que se assenhoreavam das empresas estatais, postas à venda pelos governos, sob o signo da privatização, que implicava, na maioria dos casos, sua estrangeirização.
O que se pretendeu foi abrir o mercado latino-americano, ou, mais especificamente, o mercado sul-americano à competição, dando às corporações transnacionais e aos investidores e banqueiros a liberdade de movimentar capitais, bens, plantas industriais, lucros e tecnologia, sem que os governos nacionais pudessem criar obstáculos. Dentro de tal moldura econômica, os países da América do Sul deviam abdicar de sua soberania, desarmando-se, militarmente, e aceitando retirar do poder judiciário nacional e transferir para uma comissão internacional de arbitragem a capacidade de julgar e decidir qualquer litígio entre o Estado nacional e as mega empresas multinacionais dos Estados Unidos. Com o estabelecimento da ALCA, estas empresas terminariam por adquirir um poder superior ao dos Estados nacionais, na linha do Acordo Multilateral de Investimentos (AMI), negociado, mas não concluído,[25] no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), com o propósito de estabelecer normas multilaterais para regulamentar, liberalizar e proteger os investimentos estrangeiros, e impedir qualquer intervenção governamental sobre ativos financeiros de propriedade de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, existentes em determinado país.
Contudo, ao fim dos anos 1990, após a aplicação das medidas neoliberais preconizadas pelo Consenso de Washington, o general Charles E. Wilhelm, comandante-em-chefe do Southern Commannd dos Estados Unidos (USSOUTHCOM), reconheceu que, na sua área de responsabilidade, a América do Sul, “democracy and free market reforms are not delivering tangible results to the people” e nações situadas na região estavam pior economicamente do que antes da restauração da democracia. “Can democracy survive without an economic system that produces adequate subsistence and services for the majority of its citizens?” – perguntou.[26] Também HenryKissinger, em sua obra Does America Need a Foreign Policy, reconheceu que “neither globalization nor democracy has brought stability to the Andes”.[27] Também na Bolívia, durante os 15 anos em que a Bolívia se apresentou como modelo de livre mercado, i. e., de 1985 ao ano 2000, a deterioração das condições de vida acelerou-se e atingiu principalmente os camponeses, reduzindo à miséria mais de 80% da população na área rural. E, na inauguração de um seminário, quando lançou a Estrategia Boliviana de Reducción de Pobreza (EBRP), o próprio presidente Hugo Banzer deplorou que a estabilidade econômica não houvesse contribuído para diminuir os índices de pobreza em que vivia, no ano 2000, mais da metade da população boliviana (63%), especialmente a de origem indígena. E a questão agrária, que a revolução de 1952 buscara equacionar, mediante a repartição dos latifúndios e distribuição de terras para os trabalhadores rurais, tornou-se outra vez grave fator de tensões sociais e irromperam os conflitos sociais.[28]
A débâcle econômica e financeira da Argentina, que não teve alternativa senão praticar o default, i. e., suspender o pagamento da dívida externa, em meio de aguda crise social e política, evidenciou o caráter perverso do modelo neoliberal. Com toda a razão o professor norte-americano Paul Krugman comentou, em artigo publicado pelo New York Times, que o “catastrófico fracasso”(catastrophic failure) das políticas econômicas lá aplicadas com o selo – “made in Washington” - representavam igualmente um desastre para a política exterior dos Estados Unidos, assim como o maior revés para a proposta da ALCA[29]. As negociações para a implantação da ALCA, cujo objetivo era aplicar efetivamente a Doutrina Monroe à economia e ao comércio da região, não alcançaram, de fato, nenhum resultado, devido à oposição do Mercosul. O Brasil e a Argentina, à frente, rechaçaram, inter alia, as pretensões dos Estados Unidos, com respeito aos investimentos e serviços e outras regras relativas a patentes, reforçando as já existentes na Organização Mundial do Comércio (OMC), bem como a abertura do mercado de compras governamentais, o que impediria o Estado, o maior consumidor de bens de capital, de orientá-las em benefício das empresas nacionais ou mesmo das empresas estrangeiras sediadas no país.[30]
América do Sul e a formação de identidade própria
Conquanto a América Central e o Caribe sejam essenciais à defesa do seu território e das rotas marítimas entre a costa do Pacífico e a costa do Atlântico, a América do Sul reveste-se de fundamental importância geopolítica para os Estados Unidos, sobretudo vis-à-vis a formação da União Européia e a emergência da China. Dado que celebrara com o México e o Canadá o North American Free Trade Agreement (NAFTA) e os países da América Central e do Caribe, com exceção de Cuba, tendiam a gravitar, inevitavelmente, na órbita dos Estados Unidos, afigurava-se necessário à elite política de Washington e à comunidade dos homens de negócios, das grandes empresas multinacionais, assegurar o completo domínio do mercado e das fontes de matérias-primas e energia da América do Sul. Não lhes convinha, portanto, que o Brasil e a Argentina, atraindo o Paraguai e o Uruguai, avançassem com o projeto de construção do Mercosul, constituindo uma união aduaneira, com a perspectiva de que evoluísse para um mercado comum, similar à União Européia.
Henry Kissinger, em Does America Need a Diplomacy?, referiu-se à contradição entre o NAFTA e o Mercosul e assinalou o perigo que representava a tendência da América Latina para integrar-se de modo autônomo e, talvez, hostil a uma ampla estrutura hemisférica.[31] Isto seria não um simples “setback” para as perspectivas econômicas dos Estados Unidos de integrar um mercado de 400 milhões de pessoas, o qual representava 25% do seu comércio ultramarino, mas também para a sua esperança de uma nova ordem, “based on growing comunity of democracies in the Americas and Europe”.[32] A declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o "Mercosul é mais que um mercado, o Mercosul é, para o Brasil, um destino", enquanto a ALCA era "uma opção", repercutiu nos Estados Unidos, e Kissinger advertiu que o Mercosul estava propenso a apresentar as mesmas tendências manifestadas na União Européia, que buscava definir uma identidade política européia não apenas distinta dos Estados Unidos, mas em manifesta oposição aos Estados Unidos. Ele acentuou que a afirmação dessa "identidade própria, diferenciada da América do Norte, estava a criar uma potencial contenda entre Brasil e Estados Unidos sobre o futuro do Cone Sul". [33] Segundo afirmou, especialmente no Brasil, havia líderes atraídos pela perspectiva de uma América Latina politicamente unificada, em confronto com os Estados Unidos e o NAFTA.[34] E, como Samuel Pinheiro Guimarães acentuou, o Brasil realmente configura, na América do Sul, o “único rival possível à influência hegemônica dos Estados Unidos”, devido às suas dimensões geográficas, demográficas e econômicas e à sua posição geopolítica e estratégica[35], ao longo de grande parte do Atlântico Sul, defrontando a África Ocidental. E foi o Brasil, com o apoio da Argentina, que obstou a implantação da ALCA, prevista para o ano 2005. Estes dois países, com uma população total de mais de 232 milhões de habitantes (2007, est.) e um PIB conjunto de US$ 2,3 trilhões (2007), segundo a paridade do poder de compra, são os que realmente mais interessam aos Estados Unidos, não apenas pelo amplo mercado que representam, mas também pelo peso geopolítico e o valor estratégico que possuem.
Entretanto, não obstante o fracasso das negociações para formação da ALCA, os Estados Unidos, mudando de tática, trataram de compelir os países da América do Sul, América Central e Caribe a firmar acordos de livre comércio e abrir seus mercados, instrumentalizando tanto o Central America Free Trade Agreement (CAFTA), nos entendimentos com os países da América Central, como o Andean Trade Preference Act (ATPA), com que o Congresso expandiu, em 2008, o Andean Trade Promotion and Drug Erradication Act (ATPDEA), para as negociações com Peru, Colômbia, Bolívia e Equador. Esta lei, o ATPDEA, permitia aos Estados Unidos concederem, unilateralmente, preferências comerciais, sem reciprocidade, aos países com os quais firmassem tratados de livre comércio. A parceria entre desiguais evidentemente só favorecia os Estados Unidos, mas a possibilidade de receber preferências comerciais, sem reciprocidade, alimentou em determinados setores empresariais, dentro de todos os países, interesse em negociar acordos de livre-comércio, antes do encerramento do prazo de vigência do ATPDEA[36]. E os quatro países andinos, Peru, Colômbia, Bolívia e Equador, juntos, representavam, em 2006, um mercado de aproximadamente US$ 11,6 bilhões para as exportações dos Estados Unidos, dando acesso a cerca de 5.600 produtos com isenção tarifária, e um mercado de US$ 8,2 bilhões para seus investimentos diretos. Contudo, desde 2004, quando as negociações estavam em curso, a mudança do contexto político na América do Sul ainda mais se acentuou, com a eleição de Evo Morales (2005) e Rafael Correa (2007), ambos líderes de esquerda e nacionalistas, para a presidência da Bolívia e do Equador. Este fato complicou a equação estratégica dos Estados Unidos, evidenciando o crescente desvanecimento de sua influência na região, tanto que não conseguiram sequer derrocar o presidente Hugo Chávez do governo da Venezuela, apesar das diversas tentativas encorajadas pela CIA, como o frustrado golpe militar-empresarial, em abril de 2002, e as greves dos trabalhadores da PDVSA, paralisando a produção de petróleo.
Militarização da Colômbia
O principal interesse de Washington, inter alia, nos Estados andinos são as fontes de energia que lá existem, e garantir os suprimentos de petróleo oriundos do Equador e da Colômbia, que é atualmente o terceiro maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, entre os países da América Latina, abaixo apenas da Venezuela e do México. Cerca de onze das dezoito empresas, que extraem petróleo na Colômbia, são norte-americanas, cujos investimentos financiam a exploração de um terço do seu território, inclusive degradando o meio-ambiente. Novos investimentos são necessários para manter e aumentar as exportações de petróleo. E a descoberta de novas reservas torna-se essencial para as exportações, o que implica a pesquisa e lavra do petróleo em outro terço do país, controlado ainda pelas Forças Armadas Revolucionarias da Colômbia (FARC) e pelo Exército de Libertação Nacional (ELN). Não foi por outra razão que o presidente Bill Clinton, em 2000, lançou o Plano Colômbia, prevendo investimentos de cerca de US$ 6 bilhões, dos quais os Estados Unidos participariam com US$ 1,3 bilhão para a compra de helicópteros e outros armamentos.
Os cinco oleodutos existentes na Colômbia, sobretudo o que transporta mais de 100.000 bpd do campo de Caño Limón, em Arauca, para o porto Coveñas, no Caribe, sofrem mais de uma centena de ataques e atos de sabotagem, por ano, perpetrados pelas das FARC e pelo ELN. Desde 1986, ocorreram mais de 900 incidentes causando perdas de mais de 2,5 milhões de barris de petróleo e, entre 1998 e 2008, as empresas estrangeiras e o governo da Colômbia tiveram prejuízos da ordem de US$ 1 bilhão em conseqüência dos ataques efetuados pelos guerrilheiros das FARC e do ELN. Esta, a razão pela qual entre 10% e 15% das tropas do Exército colombiano e dos assessores militares dos Estados Unidos estão mobilizados, ao longo dos cinco oleodutos e outras instalações, para proteger a infra-estrutura energética e as companhias estrangeiras de petróleo, entre as quais Occidental Petroleum Corp. (OXY), Royal Dutch/Shell e a BP-Amoco, que fazem doações ao Ministério das Finanças da Colômbia para a sua própria proteção.
O diário Los Angeles Times revelou que, em sete anos, desde o lançamento do Plano Colômbia, o Exército colombiano recebeu US$ 4,35 bilhões, para combater as guerrilhas, e os soldados e policiais cometeram crescente número de assassinatos, abusos de direitos humanos e, durante o período de cinco anos, que terminou em junho de 2006, o número de execuções extrajudiciais aumentou em mais de 50%, com relação ao período anterior.[37] Em 2009, a ajuda militar concedida pelos Estados Unidos à Colômbia, desde 2004, alcançará o montante de US$ 3,3 bilhões. [38] A aplicação de tais recursos, votados pelo Congresso americano, visou a proteger os interesses econômicos dos Estados Unidos, na região, especialmente o oleoduto de Caño Limón, operado pela Occidental Petroleum e pela Royal Dutch/Shell, em Arauca, onde se concentra a maior parte dos assessores militares dos Estados Unidos e ocorrem as maiores violações de direitos humanos.[39]
Embora a administração do presidente George W. Bush apresente o combate ao narcotráfico e ao terrorismo para justificar a concessão anual U$ 700 milhões à Colômbia, a maior parte como assistência militar, o principal objetivo é proteger os oleodutos, sobretudo o de Canon Limón, já explodido cerca de 79 vezes, a fim de assegurar os suprimentos futuros de petróleo aos Estados Unidos e inspirar confiança aos investidores estrangeiros. E com o fechamento da Forward Operating Location (FOL), depois denominada Cooperative Security Location (CSL), i. e, a base militar instalada dos Estados Unidos em Manta, no Equador, previsto para 2009, devido à denúncia do contrato pelo presidente Rafael Correa, o U.S. Southern Command (USSOUTHCOM) passou a excogitar na sua transferência para a base aérea de Palanquero, em Puerto Salgar, 120 milhas ao norte de Bogotá. Esta base aérea, em Puerto Salgar, pode albergar mais de 2.000 homens, possui uma série de radares, além de cassinos, restaurantes, supermercados, hospital e teatro. E a pista do aeroporto, a mais longa da Colômbia, tem 3.500 metros de longitude, 600 metros maior que a de Manta, e permite a partida simultânea de até três aviões. Os Estados Unidos terão assim um ponto de apoio, no centro da Colômbia, ainda melhor que o de Manta, como Forward Operating Location.
Em 2004, com a Andean Counterdrug Initiative, o presidente George W. Bush expandiu o Plano Colômbia, como um dos aspectos da estratégia dos Estados Unidos para assegurar sua presença militar na América do Sul e, em particular, na Amazônia.[40] E o Congresso aprovou a duplicação do número de soldados estacionados na Colômbia, que subiu de 400 para 800, e o de contractors, mercenários (ex-militares) empregados pelas military companies, mediante as quais o Pentágono terceiriza as funções militares (outsourcing),[41] aumentou de 400 para 600. Estes militares e mercenários americanos adestram e apóiam cerca de 17.000 soldados, que executaram o Plano Patriota, ampla ofensiva de contra-insurgência nas selvas no sul da Colômbia. Com razão, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, em sua obra Desafios brasileiros na era dos gigantes, apontou “a crescente presença de assessores militares americanos e a venda de equipamentos sofisticados às Forças Armadas colombianas, pretensamente para apoiar os programas de erradicação das drogas, mas que podem ser, fácil e eventualmente, utilizados no combate às FARC e ao ELN”, como um componente relativamente novo na questão de segurança da Amazônia.[42]
Com a assistência dos Estados Unidos, o Exército da Colômbia tornou-se o maior e o mais bem equipado, relativamente, da América do Sul. Com população de 44 milhões de habitantes, a Colômbia possui um contingente militar de cerca de 208.600 efetivos, enquanto o Brasil, com 8,5 milhões de quilômetros quadrados e mais de 190 milhões de habitantes, tem um contingente de somente 287.870, e a Argentina, com 40 milhões de habitantes e um território de 2,7 milhões de quilômetros quadrados, tem um efetivo de apenas 71.655. A Colômbia, com um PIB de $320.4 bilhões (2007 est.), de acordo com a paridade do poder de compra, destina 3,8% aos gastos militares, enquanto o Brasil, cujo PIB é de $1.838 trilhões (2007 est.), gasta apenas um 1,5%, a Argentina com um PIB de $523.7 bilhões (2007 est.), gasta apenas 1,1%. Em 2005, o Congresso estipulou para a região uma ajuda econômica de US$ 9,2 milhões e cerca de US$ 859,6 milhões para assistência militar. [43]
Na realidade, é o Pentágono que determina e dirige a política exterior dos Estados Unidos com respeito à América Central e à América do Sul. A República da Guyana permitiu que a Beal Aerospace Technologies, companhia americana, construísse uma base para lançamento de foguetes e satélites, em Essequibo, território litigioso, disputado pela Venezuela, o que permitiria estabelecer a presença militar dos Estados Unidos, ao longo do seu flanco oriental. Mas não somente através da Guyana, em cuja costa a Exxon Mobil, com a filial Esso Exploration and Production Guyana Ltd., iniciou a exploração de petróleo em águas profundas, os Estados Unidos tratam de aumentar sua presença na Amazônia. O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, propôs ao presidente do Suriname, em outubro de 2007, o estabelecimento de uma base no seu território para testar os novos veículos militares desenvolvidos, pela General Dynamics Combat Systems, destinados a operações nas selvas. [44]
Carro de assalto blindado para operações nas selvas
Também no Peru, região de Ayacucho, epicentro da guerra contra o grupo Sendero Luminoso (1980-2000), o primeiro contingente de 70 soldados americanos da Task Force New Horizons começou a operar, em maio de 2008, sob o mesmo pretexto de realizar tarefas humanitárias. Este número deveria ser aumentado para um total de 350, entre 1° de junho e 31 de agosto. E m outubro de 2008, pilotos, tripulantes da U.S. Army CH-47D "Chinook", e soldados da Task Force New Horizons, fortemente armados, estavam a dar apoio, com helicópteros pesados, a mais de 990 militares americanos, operando nessa região, 575 quilômetros ao sudeste de Lima, onde os Estados Unidos negociavam com as Forças Armadas do Peru a instalação de uma base militar, no contexto dos entendimentos para firmar o Tratado de Livre Comércio (TLC), celebrado em dezembro de 2007.[45] O interesse dos Estados Unidos em instalar uma base em Ayacucho, uma zona eqüidistante das áreas dominadas pelas FARC, na Colômbia, e dos conflitos sociais na Bolívia, é facilitar a mobilização de seus contingentes em toda região da América do Sul. Os Estados Unidos contam ainda com uma base naval em Iquitos, ao norte do Peru, em uma região estratégica da Amazônia, na qual dispõem de equipamento fluvial, como lanchas de combate, e outras bases em Santa Lucia e sobre o rio Nanaí.
O estacionamento permanente de tropas e equipamentos bélicos, no Suriname e na Guyana, bem como na Colômbia e também no Peru, [46] como antes no Equador e na Bolívia, dão aos Estados Unidos enorme vantagem estratégica, para intervir militarmente em qualquer país, se necessário, a fim de defender seus interesses econômicos e ocupar as nascentes do rio Amazonas. Em realidade, a militarização da Colômbia, com a presença de mais de 1.000 militares e mercenários americanos, empregados pelas military firmas empreiteiras do Pentágono na região, e em outros países vizinhos, constitui um desafio para a própria nacional segurança nacional do Brasil, na medida em que ameaça a segurança da Amazônia.
Fonte: Graphic Maps – World Atlas.Com
De qualquer forma, o objetivo estratégico imediato dos Estados Unidos é armar e mover a Colômbia como importante peça no xadrez da América do Sul. É fazê-la um pivot country, um enclave, como Israel no Oriente Médio, e empregá-la como contrapeso da Venezuela, para qualquer eventual contingência, i. e., de intervenção militar, mas sem usar suas próprias tropas e sim contingentes de um país sul-americano, no caso, a Colômbia, caso o governo do presidente Hugo Chávez ameace ainda mais seus interesses econômicos, e. g., suspendendo o fornecimento de petróleo aos Estados Unidos e desviando para a China toda a sua vasta produção.
Os recursos energéticos da América do Sul
A Venezuela, cujas reservas estão entre as maiores do mundo, é o quarto maior exportador de petróleo para os Estados Unidos. Responde por cerca de 15% do seu consumo diário. A proximidade geográfica entre os dois países torna barato o custo do transporte, através do Caribe. E as relações extremamente antagônicas entre o presidente Hugo Chávez (1999) e o governo do presidente George W. Bush não afetaram o comércio entre os dois países, inclusive porque os Estados Unidos, por outro lado, são o principal mercado para a produção de energia da Venezuela. Mas constitui motivo de preocupação, em Washington, o fato de que a Venezuela haja começado a exportar petróleo para a China, que busca mais e mais fontes de energia, a fim de atender ao impetuoso crescimento econômico, e se tornou seu principal parceiro na América do Sul. O volume de petróleo, cada vez maior, importado da Venezuela pela China, cerca de 70.000 bpd, em 2006, subiu para 197.000 bpd, em 2007, ano em que o comércio entre os dois países alcançou o montante de US$ 2,5 bilhões. [47]
A China está a ampliar seu intercâmbio, não apenas com a Venezuela, mas também com a Colômbia, Equador, Bolívia, Chile, Argentina e Brasil. Seu comércio com os países da América Latina, em geral, alcançou, em 2005, o montante de aproximadamente US$ 50 bilhões, dos quais os negócios com os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai – representaram 85% do total. Mas a China está interessada, sobretudo, em assegurar fontes de energia, como gás e petróleo. A China Petro-Chemical Corp (Sinopec), em 2004, firmou contrato com a Petrobrás para explorar a plataforma submarina, em diversas áreas, perto da África, Venezuela, Equador, Colômbia e Golfo do México.[48] E essa crescente expansão econômica e comercial da China na América do Sul alarmou os formuladores da política exterior dos Estados Unidos até então concentrados nos problemas do Oriente Médio.
Venezuela, Bolívia e Equador possuem importantes reservas de gás e petróleo. De acordo com a Energy Information Administration, dos Estados Unidos, a Venezuela, um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, possui reservas comprovadas de 80 bilhões de barris e produziu cerca de 2,8 milhões bpd, em 2006. A Bolívia possui a segunda maior reserva de gás natural, na América do Sul, depois da Venezuela. Os recursos naturais na região de Santa Cruz de la Sierra, são estimados em 2,8 trilhões de pés cúbicos de gás dos 26,7 trilhões de reservas provadas da Bolívia. Se somadas às prováveis, o volume sobe a 48,7 trilhões de pés cúbicos. As reservas de petróleo do Equador, o quinto maior produtor sul-americano, são estimadas em 4,5 bilhões e suas exportações somaram 376.000 bpd, em 2006. Brasil, Colômbia, Argentina e Peru também produzem gás e petróleo. No entanto, de todos esses países, apenas o Brasil, segundo a avaliação de Stephanie Hanson, editora do Council on Foreign Relations, think-tank sediado em Nova York desde 1921, tem o potencial de tornar-se significativo produtor mundial de petróleo, na próxima década, com a exploração das jazidas encontradas na região do pré-sal, descobertas em águas profundas, nas bacias do Sul e Sudeste do Brasil.[49] As reservas provadas atualmente existentes são da ordem de 11 bilhões de barris, mas a produção do Brasil poderá saltar para 2,2 milhões bpd, em 2006, para 3,5 milhões de bpd, em 2012, e permitir a exportação de maior excedente.
O Brasil no mapa geopolítico do petróleo
A estimativa da Associação Brasileira de Geólogos de Petróleo (ABGP) é de que a Bacia de Santos, no litoral do Estado de S. Paulo, contém 33 bilhões de barris. Este volume quadruplica as reservas de petróleo do Brasil, que sobem de 13 bilhões de barris (provados) para cerca de 46 bilhões de barris. Os dados são ainda muito imprecisos. O certo é que, no campo de Tupi (litoral de Santos), há cerca de 5 a 8 bilhões de barris. Porém, a Petrobrás ainda tem mais oito campos promissores: Caramba, Bem-te-vi, Carioca, Guará, Júpiter, Iara e Parati. E aí é possível, segundo os cálculos da Petrobrás e a informação de Stephanie Hanson, do Council on Foreign Relations, que a quantidade de petróleo alcance 70 a 100 bilhões de barris, além de grande volume de gás.[50] Tudo indica, porém, que a camada de pré-sal se estenda por 800 quilômetros, com 200 quilômetros de largura, desde Espírito Santo, norte do Rio de Janeiro, a Santa Catarina,[51] e é mesmo possível que alcance toda a costa da Argentina.
Fonte: Economist.com
As reservas descobertas na camada pré-sal ao longo da costa, entre o Espírito Santo e Santa Catarina, inseriram o Brasil no mapa geopolítico do petróleo. Este foi um dos fatores, inter alia, que provavelmente levaram o presidente George W. Bush a restaurar a IV Frota, para o Atlântico Sul, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas, de armas e de pessoas, o terrorismo e a pirataria que ameaça o fluxo do livre comércio nos mares do Caribe e da América do Sul. Porém, o próprio almirante Gary Roughead, chefe de Operaciones Navais, anunciou em 24 de abril que se havia decidido restabelecer a IV Frota, em virtude da imensa importância da segurança marítima no sul do hemisfério.
Mapa da América Central e da América do Sul sob a jurisdição do South Command das Forças Armadas dos Estados Unidos para hemisfério ocidental.
Com as operações navais da IV Frota, os Estados Unidos complementam o anel de bases militares, que envolve Comapala, em El Salvador; Guantánamo, em Cuba; Comayuga, em Honduras; Aruba, em Curaçao; e Manta, no Equador, de onde deverá ser transferida para a Colômbia. Este anel seria ainda arrematado com a base aérea, construída em 1983 e posteriormente ampliada, em Mariscal Estigarribia, no Paraguai, distante apenas 200 quilômetros da fronteira com a Bolívia e a Argentina, e 320 quilômetros do Brasil, muito perto da Tríplice Fronteira. Esta base aérea, aonde as tropas da Special Operations Forces (SOF) começaram a chegar em 2005, com imunidades concedidas pelo governo paraguaio, possui uma pista de 3.500 metros de longitude e tem capacidade para aquartelar 16.000 soldados[52].
Pista do aeroporto na base aérea em Mariscal Estigarríbia, no Paraguai
Mas o ex-bispo Fernando Lugo, eleito em 2008 para a presidência do Paraguai pela Alianza Patriótica para el Cambio, prometeu por fim à presença de tropas americanas, com imunidades, na região estratégica de Mariscal Estagarribia, e aos exercícios militares conjuntos com forças paraguaias, percebidos como preparativos para uma guerra preventiva, visando ao controle dos recursos naturais da Bolívia, cujo governo do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada (1993-1997), sob a pressão dos Estados Unidos e do Fundo Monetário Internacional, vendera em 1995 suas reservas de petróleo e gás à Enron e à Shell por US$ 263,5 milhões, menos do que um por cento do valor dos depósitos.[53] Entretanto, a eleição do líder indígena Evo Morales, dirigente do Movimiento al Socialismo (MAS), para a presidência da Bolívia, ampliou a frente de resistência e oposição aos Estados Unidos na América do Sul, aliando-se ao presidente Hugo Chávez, da Venezuela. E ele representa a grande parte do povo boliviano que se opõe à exportação de gás para os Estados Unidos, cujas reservas, em 2003, representavam apenas 3% das existentes no mundo e o consumo esgotaria em cerca de oito anos, isto é, até 2011.
Em face de tão dramática situação, os Estados Unidos intentam apoderar-se de qualquer reserva, em qualquer região, por menor que seja. Mesmo se novas descobertas de gás fossem feitas, elas não ultrapassariam 5% do gás mundial, volume igual ao existente, àquele época, na América do Sul, onde a Bolívia e a Argentina concentravam a maior parte.[54] E daí porque as companhias petrolíferas, em larga medida, e as agências dos Estados Unidos exploram as contradições internas e encorajam a secessão dos departamentos de Tarija, Chuquisaca, Santa Cruz, Beni e Pando, que conformam a “media-luna”, o que representaria duro golpe na liderança do Brasil na América do Sul e na sua cada vez maior influência internacional.
Objetivos da IV Frota
A restauração da IV Frota implica, decerto, diversos interesses estratégicos dos Estados Unidos. Mas o que torna evidente seu real objetivo é o fato de que o comando da IV Frota foi entregue ao contra-almirante Joseph Kernan, oficial da US Navy SEAs (United States Navy Sea, Air and Land Forces), constituída pelas Special Operations Forces, da Marinha de Guerra, e são empregadas em ações diretas e em missões de reconhecimento especial, capazes de empreender guerra não convencional, defesa interna no exterior e operações contra o terrorismo. Um dos integrantes da IV Frota é um navio de assalto anfíbio, o USS Kearsarge (LHD 3), cuja principal missão é embarcação, deslocamento, desembarque de forças em qualquer parte do mundo, servindo como Expeditionary Strike Group, conceito militar introduzido na Marinha de Guerra dos Estados Unidos, no início dos anos 1990, e que consiste de forças altamente móveis e auto-sustentáveis para executar missões em várias partes do globo. E sua “missão humanitária” começou em Santa Marta, na Colômbia, em coordenação com o Comando Geral das Forças Armadas e o Exército Nacional da Colômbia.
É evidente que os Estados Unidos, com o domínio dos mares, e do espaço, nunca deixaram de ter navios de guerra trafegando nas águas internacionais da América do Sul, embora a IV Frota, criada em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, houvesse sido extinta, oficialmente, em 1950. Sua restauração não significa maior mudança nas atividades militares dos Estados Unidos no Atlântico Sul, uma vez que 38% do seu comércio global se realiza com países do hemisfério, 34% do petróleo que importa provém da região e 2/3 dos navios que transitam pelo Canal do Panamá destinam-se aos portos americanos.[55] Apenas oficializou uma presença que de fato nunca deixou de existir, mas visando a demarcar e reafirmar o Atlântico Sul como área sob seu domínio, sobretudo em face da descoberta de grandes jazidas de petróleo, no campo Tupi, na camada pré-sal do litoral de S. Paulo. Aos Estados Unidos preocupa a crescente presença da China na América do Sul e pretendem controlar seus recursos minerais e energéticos, tais como as jazidas de ferro de Mutum e as reservas de gás natural existentes na Bolívia, a Patagônia da Argentina e o Aqüífero Guarani, o maior reservatório de água subterrânea do mundo, situado nos países que integram o Mercosul.[56]
A restauração da IV Frota ocorreu, contudo, dentro de um contexto que se afigura altamente desfavorável aos Estados Unidos. O fracasso da tentativa de golpe contra o presidente Hugo Chávez, em abril de 2002, complicou a equação estratégica regional da administração do presidente George W. Bush. Chávez consolidou-se no poder e protagonizou a oposição à política e aos interesses dos Estados Unidos. E esta foi reforçada, no âmbito sul-americano, com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula Silva, no Brasil, Nestor Kirchner, na Argentina, Evo Morales, na Bolívia, Tabaré Vázques, no Uruguai, e Rafael Correa, no Equador. Alguns mais radicais, outros mais moderados, exprimiram, de um modo ou de outro, a rejeição ao domínio dos Estados Unidos, pelo menos de significativa parte da população. A eleição desses líderes, apodados de populistas pelos ideólogos do conservadorismo, não significa que a América do Sul tendeu ainda mais para a esquerda. Ela reflete o enorme desgaste da influência dos Estados Unidos na região, o declínio cada vez maior do seu domínio, as tensões e incertezas relacionadas com o processo de globalização da economia, que os governos de Washington trataram de impulsionar, após o desmoronamento da União Soviética e do Bloco Socialista.
O declínio da influência dos Estados Unidos na América do Sul, revelado pela dificuldade de impedir a eleição ou depor governos de tendência mais à esquerda, como ocorreu nos anos 1960 e 1970, foi acelerado pelo fracasso das políticas neoliberais recomendadas pelo Consenso de Washington, que ainda mais incrementaram a desigualdade de renda, na maioria dos países, fomentaram o aumento do desemprego urbano e ampliaram a brecha social entre ricos e pobres, entre os trabalhadores mais capacitados e os demais, sem qualificação. A crise acentuou-se, particularmente, nos Estados andinos, como, e. g., Peru, Bolívia e Equador, onde 92% da população manifestaram desencanto com a economia de mercado, conforme estudo apresentado ao Strategic Studies Institute do Army War College dos Estados Unidos.[57] As pesquisas do Program on International Policy Attitudes (PIPA), realizadas conjuntamente pelo Center on Policy Attitudes (COPA) e o Centro for International and Securities Studies at Maryland, University of Maryland (CISSM), em fins de 2006 e início de 2007, mostraram também que a percepção dos Estados Unidos na América Latina permanecia negativa e que somente 1/3 dos habitantes do Brasil e do Chile criam que eles tinham influência positiva no mundo. Os resultados ainda foram mais baixos no México (12%) e Argentina (13) e em todos os países a oposição à guerra no Iraque oscilava entre 65% no Chile e 95% na Argentina.[58] E outra pesquisa indicou que, globalmente, o conceito sobre os Estados Unidos estava a evoluir de ruim para pior.[59]
Como Kissinger observara, no início do século XXI, a América do Sul buscava definir uma identidade política própria, o que estava a gerar uma virtual contenda entre o Brasil e os Estados Unidos sobre o futuro do Cone Sul". [60] Esta previsão o filósofo alemão George W. Hegel fizera por volta de 1830, quando disse que a América era “a terra do futuro”, na qual, em tempos vindouros, haveria “algo como uma contenda entre a do Norte e a América do Sul , e onde a importância da História Universal deverá manifestar-se”.[61] A contenda é possível. A América do Sul, sob a liderança do Brasil juntamente com a Argentina e a Venezuela, está tratando realmente de definir sua própria identidade, diferenciada dos Estados Unidos e mesmo em oposição ao domínio dos Estados Unidos, o que se evidencia com a criação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e do Conselho Sul-Americano de Defesa. Tais iniciativas que implicam o desaparecimento do sistema interamericano, instituído por Washington e configurado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), bem como o do Tratado do Rio de Janeiro, obsoleto e denunciado pelo México, e da Junta Interamericana de Defesa (JID).
Mas o acelerado desgaste da influência e do prestígio dos Estados Unidos na América do Sul e, em geral, na América Latina debilita inclusive sua estratégia global, que obedece às diretrizes traçadas desde o governo de George H. W. Bush (1989 -1993), no sentido de desencorajar qualquer desafio à sua preponderância ou tentativa de reverter a ordem econômica e política internacionalmente estabelecida. [62] No conflito com os Estados Unidos, gerado pela tentativa de incorporar a Geórgia e a Ucrânia à OTAN e instalar bases antimísseis na Polônia e na República Tcheca, o presidente Hugo Chávez, desafiando os Estados Unidos, respaldou a Rússia, que enviou a Caracas dois bombardeiros estratégicos TU-160, para a realização de exercícios conjuntos com aviões da Força Aérea Venezuelana, e sinalizou que mandará também navios de guerra ao Caribe, como resposta à presença de navios americanos no Mar Negro. E, em meio ao agravamento do conflito na Bolívia, no início de setembro de 2008, o governo de Evo Morales não apenas denunciou a Enron e a Shell, sócias majoritárias dos dutos Transredes, e a Ashmore Energy Internacional, de haver impulsionado o plano conspirativo contra seu governo como considerou persona no grata o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, acusando-o de apoiar a rebelião dos departamentos da "media-luna" contra La Paz e encorajar a secessão da Bolívia, acusação que, decerto, tinha fundamento.[63] Solidário com Evo Morales, o presidente Hugo Chávez expulsou o embaixador dos Estados Unidos em Caracas, Patrick Duddy e deu-lhe o prazo de apenas 72 horas para abandonar o pais. E a Argentina e o Brasil, por sua vez, manifestaram solidariedade ao governo de Evo Morales, enfaticamente, condenaram o levante e os atos terroristas e sabotagens da oposição, no Oriente boliviano, como tentativa de desestabilizar a ordem constitucional do país, e deixaram claro, de modo inequívoco, que não aceitariam nem reconheceriam a secessão dos departamentos do Oriente boliviano.
Conclusões
Não há dúvida de que as tensões e os conflitos na Bolívia e na Geórgia se entrelaçam, gerados e alimentados pela disputa das fontes de energia em que os Estados Unidos se empenharam, a fim de manter seu way of life, com alto nível de consumo e de desperdício. Como bem observou o cientista político José Luís Fiori está em curso uma nova “corrida imperialista”, entre as grandes potências, que lutam por sua segurança energética e alimentar. A China penetra cada vez mais na África, onde os países da União Européia buscam conservar a preeminência sobre suas antigas colônias. E a competição, como prevê, José Luís Fiori, deverá atingir a América Latina, porém de forma ainda mais intensa, graças aos seus recursos de gás e petróleo, às suas grandes reservas minerais e recursos hídricos, e à sua imensa capacidade de produção alimentar, muito superior à da África. [64]
Este aspecto econômico-comercial certamente também pesou na decisão americana de reativar a IV Frota no Atlântico Sul, com a perspectiva de que a região se torne um dos grandes centros produtores de petróleo, em virtude das recentes descobertas de jazidas, na camada pré-sal no litoral de São Paulo e que provavelmente se estendem por todo o sul até o litoral da Argentina. E o envolvimento do Brasil, que mais e mais se projeta como potência econômica e política, será inevitável. É o maior exportador mundial de alimentos, brevemente tornar-se-á um dos maiores exportadores de petróleo, e possui grande parte do Aqüífero Guarani, como das águas do Amazonas e da biodiversidade existente na região. [65] Em tais circunstâncias, o Brasil não pode deixar de reequipar e modernizar suas Forças Armadas, particularmente a Marinha de Guerra, com a construção do submarino nuclear, e adquirir mais e mais autonomia e auto-suficiência na produção de material bélico, condição essencial para alcançar o status de grande potência, integrando toda a América do Sul. Também não se pode descartar a hipótese de guerra com uma potência tecnologicamente superior ou de envolvimento do Brasil em conflito que atinja suas fronteiras e, por conseguinte, afete a sua segurança nacional, como na Bolívia, envolvendo a Venezuela. E um Estado, que necessita importar continuamente armamentos e munições, e navios para o transporte, não tem condições de enfrentar a eventualidade de uma guerra. Uma Segunda Guerra Fria foi deflagrada e envolve a América do Sul, onde a penetração dos Estados Unidos constitui um fator de instabilidade e inquietação. O elevado grau de turbulência interna e resistência e oposição da maioria dos governos à vontade dos Estados Unidos, denota claramente o desvanecimento de sua hegemonia, na região onde antes seu fiat tinha força de lei, e repercute, profundamente, sobre sua estratégia global, no sentido de impor a Pax Americana, i. e, “preservar e estender uma ordem internacional amigável (friendly) à nossa segurança, nossa prosperidade e nossos princípios”, conforme as diretrizes do Project for the New American Century (PNAC)[66].
St. Leon (Baden-Württemberg), setembro de 2008.
--------------------------------------------------------------------------------
* Conferência pronunciada na Escola Superior de Guerra, em 23 de setembro de 2008.
* Luiz Alberto Moniz Bandeira é cientista político, professor titular de história da política exterior do Brasil, na Universidade de Brasília (aposentado) e autor de mais de 20 obras, entre as quais Fórmula para o caos – A derrubada de Salvador Allende (1970-1973) e Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque), pela qual recebeu o Troféu Juca Pato, eleito pela União Brasileira de Escritores (UBE) Intelectual do Ano 2005.
[1] Circular n° 907. às Missões Diplomáticas Brasileiras. Confidencial. A Questão do Chaco – Os títulos dos contendores., Embaixador José Joaquim Moniz de Aragão, Secretário-Geral do Itamaraty. Rio de Janeiro, 28.8.1934. AHI – Guerra do Chaco - 9(31).(45)5. Arquivo do Embaixador Moniz de Aragão.
[2] KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy? Toward a Diplomacy for the 21st Century. Nova York: Simon & Schuster, 2001, p. 468.
[3] “Amerika ist somit das Land der Zukunft, in welchem sich in vor uns liegenden Zeiten, etwa im Streite von Nord- und Südamerika, die weltgeschichtliche Wichtigkeit offenbaren soll.” HEGEL, G.W.F. Vorlesung über die Philosophie der Weltgeschichte. In: Die Vernunft in der Geschichte. Hamburg: F. Meiner Verlag, 1994. Band 1, p. 209.
[4] MACKINDER, Sir Halford John. “The Geographical Pivot of History”, Geographical Journal, Royal Geographical Society London, April 1904, vol. XXIII pp. 436.
[5] “The United States is practically sovereign on this continent, and its fiat is law upon the subjects to which it confines its interposition”. Nota à Grã-Bretanha, 20/.06/.1895, apud KISINGER, Henry. Diplomacy. Nova York: A touchstone Book/ Simon Schuster, 1994, p. 38. Vide também HICKS, John D. A Short History of American Democracy. Boston: Houghton Mifflin Company-Riverside Press, 1943, p. 602. PERKINS, Dexter. A history of the Monroe doctrine. Boston: Little, Brown, 1963, p. 175.
[6] MAHAN, Alfred T. The Influence of Sea Power upon History – 1660-1783. Nova York: Dover Publication, Inc., 1987, p. 87.
[7] KISSINGER, Henry. Diplomacy. Nova York: A Touchstone Book/Simon Scguster, 1994, pp. 37-38.
[8] MACKINDER, Sir. Halford J. Britain and the Britain Seas. Oxford: At the Claredon Press, 2nd edition, 1925, p. 334.
[9] MACKINDER, Sir Halford John. Democratic Ideals and Reality. Westport Connecticut: Greenwood Press, Publisher, 1981, pp. 59-60.
[10] ROOSEVELT, Theodore. Theodore Roosevelt. An Autobiography. Nova Yotk: A Da Capo Paperback, 1985, p. 538.
[11] SCHIRMER, Daniel B. Republic or empire American: resistance to the Philippine war. Boston: Schenkman, p. 20.
[12] BARBOSA, Rui “Vã Confiança - A Doutrina Monroe: sua origem” in BARBOSA, Rui. Obras Seletas - Volume 8Fonte digital: Ministério da Cultura Fundação Biblioteca Nacional - Departamento Nacional do Livro - http://www.bn.br/bibvirtual/acervo/
[13] Ibid.
[14] “The French and English texts, it was to turn out, though both of them official, were inconsistent with one another. One declared the Doctrine was not “to be considered as incompatible with any one of the provisions of the present pact”. The other declared the Doctrine to be “not affected by the engagement of the Convenant”. One subordinated the Doctrine to the Convenant; the other the Convenant to the Doctrine”. Perkins, 1963, p. 297.
[15] CARVALHO, Delgado de. História diplomática do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1959, p. 305. SMITH, Joseph. The cold war: 1945-1992. 2. ed. Oxford: Blackwell, 1998, pp. 30 e 31. PERKINS, Dexter. A history of the Monroe doctrine. Boston: Little, Brown, 1963, p.p. 296-297.
[16] SCHOULTZ, Lars. Beneath the United States. A History of. U.S. Policy Toward Latin America, 1998, p. 373.
[17] Id., ibid., p. 10.
[18] BLACK, Jan K. Sentinels of Empire – The United States and Latin American Militarism. Nova York: Greenwoodpress, 1986, p. 10.
[19] PINHEIRO GUIMARÃES, Samuel. Quinhentos anos de periferia. Porto Alegre-Rio de Janeiro: Editora da Universidade/UFRGS – Editora Contraponto, 1999, p. 99.
[20] Coronel Joseph R. Núñez. A 21st Century Security Architecture For The Americas: Multilateral Cooperation, Liberal Peace, And Soft Power. August 2002
http://www.strategicstudiesinstitute.army.mil/pubs/display.cfm?pubID=15
[21] Secretary of State-Designate Madeleine K. Albright. Prepared statement before the Senate Foreign Relations Committee, as released by the Office of the Spokesman, Department of State, Washington, D.D., January 8, 1997. http://www.secretary.state.gov/statements/970108a.html
[22] Barshefsky statement before House Trade Panel 3/18, U.S. Information and Texts, N° 011, March 20, 1997, p. 42.
[23] Samuel Pinheiro Guimarães. “ALCA para principiantes”; “Como será a ALCA”. Manuscritos.
[24] Ibid.
[25] O projeto do Acordo Multilateral de Investimentos (AMI) começou a ser negociado pelos países membros da OCDE, secretamente, em 1995. Porém, quando o projeto se tornou público, as negociações foram suspensas, em fins de 1998, em virtude de problemas econômicos e da severa oposição que sofreu.
[26] Statement of General Charles E. Wilhelm, commander-in-chief, U.S. Southern Command, Before the Senate Caucus on International Narcotics Control, March 23, 2000.
[27] KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy. Toward a Diplomacy for 21st Century. Nova York: Simon & Schuster, 2001, p. 136.
[28] Vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Brasil, Argentina e Estados Unidos - Conflito e integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul). Rio de Janeiro: Editora Revan, 2ª. ed., 2003, pp. 554-555.
[29] Paul Krugman - “Crying with Argentina”. The New York Times, NY, 1.1.2002
[30] PINHEIRO GUIMARãES, Samuel. Desafios brasileiros na Era dos Gigantes. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2006, p. 282.
[31] KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy. Toward a Diplomacy for 21st Century. Nova York: Simon & Schuster, 2001, pp. 151-152.
[32] Id., ibid., p. 152.
[33] Id., ibid., pp. 152 - 163.
[34] Id., ibid., p. 152.
[35] PINHEIRO GUIMARÃES, Samuel. Quinhentos anos de periferia. Porto Alegre-Rio de Janeiro: Editora da Universidade/UFRGS – Editora Contraponto, 1999, p. 121.
[36] Em fevereiro de 2008, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Andean Trade Preference Extension Act, expandindo o Andean Trade Promotion and Drug Eradication Act (ATPDEA).
[37] “Colombian military gains come at a price” Los Angeles Times. January 18, 2008. Amazon Watch. http://www.amazonwatch.org/amazon/CO/
[38] U.S. Aid to Colombia, All Programs, 2004-2009 - Just the Facts - A civilian's guide to U.S. defense and security assistance to Latin America and the Caribbean.
http://justf.org/Country?country=Colombia - The Center for International Policy - Colombia Programa - U.S. Aid to Colombia Since 1997. http://www.ciponline.org/colombia/aidtable.htm
[39] Bill Weinberg. “Oil Makes U.S. Raise Military Stakes in Colombia”. November 26, 2004 - Long Island, NY Newsday.
http://www.commondreams.org/cgi-bin/print.cgi?file=/views04/1126-05.htm
[40] PINHEIRO GUIMARÃES, Samuel. Desafios brasileiros na era dos gigantes. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, p. 189.
[41] Vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2ª ed. 2006, pp. 725-727.
[42] Id., ibid., p. 189,
[43] The Economist, "What lies beneath -Is there really an ocean of oil off Brazil?” April 16, 2008, http://www.economist.com/daily/news/displaystory.cfm?story_id=11043022&top_story=1
Matthew Flynn “United States Announces IV Fleet Resumes Operations Amid South American Suspicions” - Americas Policy Program Report - Americas Policy Program, Center for International Policy (CIP) July 11, 2008. http://americas.irc-online.org/am/5362
[44] Ivan Cairo. “On Venezuela's Doorstep: US proposes military test site in Suriname”. Caribbean Net News Suriname. October 8, 2007. http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=7022. Ivan Cairo. “Suriname government sanctions testing of US army vehicle”. Caribbean Net News. February 12, 2008. http://www.caribbeannetnews.com/news-5981--36-36--.html
[45] Agencia EFE. “El primer contingente de soldados de EE.UU. se instala en Ayacucho”. El Comercio. Lima, 13 de setiembre del 2008. Carlos Noriega. “Admite Perú que EE.UU. pondría una base”. Página/12, Buenos Aires, 17 de junio de 2008.
[46] Airman 1st Class Tracie Forte. “U.S. Army aviators support humanitarian mission in Ayacucho, Peru”. Task Force New Horizons Public Affairs. America’s Air Force - http://www.12af.acc.af.mil/news/story_print.asp?id=123106116
[47] R. Evan Ellis, “Chinese Interests in Latin America: Overview and Implications for Regional Security Issues,” Presentation for the Latin America Orientation Course (LAOC) Hulburt Field, FL: U.S. Air Force Special Operations School (USAFSOS), March 1, 2007. R. Evan Ellis. “U.S. National Security Implications of Chinese Involvement in Latin America”. June 2005 Strategic Studies Institute, U.S. Army War College ISBN 1-58487-198-http://www.carlisle.army.mil/ssi
[48] Cynthia Malta. “Estatal chinesa de petróleo quer investir em gasoduto Rio-Bahia”. Valor Econômico, 25/05/2004. “Sinopec, Brazil's Petrobras to explore deep sea oil”. China Daily (Xinhua). 18/8/2004.
[49] Stephanie Hanson, News Editor. “Energy Bottlenecks in South America”. Council on Foreign Relations, April 21, 2008.
[50] Ibid.
[51] http://www2.petrobras.com.br/Petrobras/
[52] Desde o início dos anos 90, a fim de reduzir custos e pessoal militar, o Pentágono delineou nova estratégia para a instalação de bases militares no exterior. Buscou construir em outros países pistas de aviação, quartéis, estoques de carburante e equipamento etc., mas sem ocupar permanentemente essas bases com as Special Operations Forces (SOF). O que interessa ao Pentágono é que estejam em condições de uso instantâneo, no momento em que alguma intervenção militar direta se afigure necessária. Tais bases também são periodicamente usadas como ponto de partida e apoio para exercícios (a) de treino de tropas americanas e (b) de treino de tropas dos países-clientes, bem como a fim de familiarizá-las com equipamentos militares americanos, criando condições para futuras vendas. Além de servir também para a coleta de inteligência, constitui assim um meio de promoção de venda de material bélico, um comércio dirigido pelo Pentágono. Bases desse tipo foram instaladas na Mauritânia, no Mali e provavelmente em outros países da África.
[53] Conn Hallinan. “Dark Armies, Secret Bases, and Rummy, Oh My!” Foreign Policy in Focus November 21, 2005 - Editor: John Gershman, IRC. http://www.fpif.org/fpiftxt/2939
[54] Antônio Ermírio de Moraes Uma lição a ser observada e aprendida. Folha de S. Paulo - 19/10/2003
[55] Matthew Flynn “Estados Unidos anuncia que su IV Flota reanuda operaciones, en medio de sospechas sudamericanas Programa de las Américas Reporte 29 de julio de 2008”. http://www.ircamericas.org/esp/5422.
[56] Bernardo Quagliotti De Bellis. “IV Flota impone su presencia en el Atlantico Sur”. La Onda Digital - Uruguay
[57] Steve C. Ropp. “The strategic implications of the rise of populism in Europe and South America” - June 2005 -Strategic Studies Institute (SSI) ISBN 1-58487-201-2
http://www.carlisle.army.mil/ssi/
[58]http://www.pipa.org/?PDA=1%3Fcategory=films&profile=mobilefilmsuseraverage&subject=177636%20-%2026k - USC Center on Public Diplomacy at the Annenberg School - http://publicdiplomacy.wikia.com/wiki/Anti-Americanism
[59] “World View of US Role Goes From Bad to Worse”. http://www.worldpublicopinion.org/pipa/articles/home_page/306.php?nid=&id=&pnt=306&lb=hmpg1
[60] KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy? Toward a Diplomacy for the 21st Century. Nova York: Simon & Schuster, 2001, p. p. 152 - 163.
[61] “Amerika ist somit das Land der Zukunft, in welchem sich in vor uns liegenden Zeiten, etwa im Streite von Nord- und Südamerika, die weltgeschichtliche Wichtigkeit offenbaren soll.“ HEGEL, G.W.F. Vorlesung über die Philosophie der Weltgeschichte. In: Die Vernunft in der Geschichte. Hamburg: F. Meiner Verlag, 1994. Band 1, p. 209.
[62] POWELL, Colin L. - The Military Strategy of the United States – 1991-1992, US Government, Printing Office, ISBN 0-16-036125-7, 1992, p 7. Draft Resolution - 12 “ Cooperation for Security in the Hemisphere, Regional Contribution to Global Security - The General Assembly, recalling: Resolutions AG/RES. 1121 (XXX- 091 and AG/RES. 1123 (XXI-091) for strengthening of peace and security in the hemisphere, and AG/RES. 1062 (XX090) against clandestine arms traffic.
[63] Luiz Alberto Moniz Bandeira. “A balcanização da Bolívia”. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 de julho de 2007.
[64] José Luís Fiori. “Escopeta não é chocalho”. Le Monde Diplomatique (edição em português), 17/07/2008.
[65] Ibid.
[66] Mais detalhes vide Moniz Bandeira, Luiz Alberto. Formação do Império Americano (Da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2ª ed., 2005, p. 571.
O objetivo deste blog é discutir um projeto de desenvolvimento nacional para o Brasil. Esse projeto não brotará naturalmente das forças de mercado e sim de um engajamento político que direcionará os recursos do país na criação de uma nação soberana, desenvolvida e com justiça social.
terça-feira, outubro 21, 2008
terça-feira, setembro 02, 2008
A mídia e o projeto de nação
Evaristo Almeida
No jornalismo brasileiro é notória a falta de um projeto de nação. Por interesses ideológicos e mercantis a mídia brasileira sempre se atrela aos interesses dos Estados Unidos e dos demais países centrais. Na cobertura de fatos internacionais como, por exemplo, a guerra na Geórgia, não há uma investigação isenta.
A impressão que passa é que os jornalistas brasileiros nem sabem nem onde se localiza esse país. Simplesmente reproduzem o que ditam as agências internacionais, de forma acrítica.
O mesmo ocorre na Colômbia, onde os direitos humanos são sistematicamente violados pelo governo de Álvaro Uribe. Mas a mídia brasileira só tem olhos críticos para Chávez da Venezuela. O presidente colombiano é o queridinho da mídia brasileira, mesmo com eliminação sistemática de sindicalistas e jornalistas nesse país. Focam as FARCs, mas “esquecem” dos grupos paramilitares.
A mídia brasileira quando fala da questão palestina é sempre com um viés pró Israel, mesmo quando esse país bombardeie cidades palestinas indefesas, ou metralhe mulheres desarmadas, como aconteceu não faz muito tempo.
Na verdade, no Brasil não há liberdade de imprensa. O que é publicado é a visão de mundo das famílias Marinho, Frias, Mesquita e outras que monopolizam os meios de comunicação.
O jornalista no Brasil é um operário que aluga o corpo da cabeça para cima para defender as teses dos donos dos meios de comunicação. Alguns fecham com a idéia de mundo dessas famílias, outros se subordinam para sobreviver como alguém que trabalha com parafusos e não idéias. O jornalista Raymundo Costa é daqueles que escrevem de acordo com o dono do jornal. A sua coluna no “Valor Econômico” de 02/09/08 deixa isso bem claro. Ele defende a idéia de que São Paulo é um latifúndio tucano e o artigo é feito sob encomenda para que Serra entre na campanha pela prefeitura paulistana. O articulista “esquece” que o PT já governou e governa muitas das maiores cidades do Estado. É o artigo sob “encomenda”.
Aliás, a cobertura da Folha de São Paulo (dos Frias) e do Estado de São Paulo (dos Mesquitas) é francamente favorável aos candidatos conservadores Alckmin e Kassab. Quando colocam uma foto da candidata Marta Suplicy, a impressão que passam é que escolhem a pior foto possível. E sempre trabalham o texto de forma desfavorável à candidata. Eles não dão a informação de maneira objetiva, fatual; mas distorcida, de forma a ajudar os candidatos conservadores e prejudicar a candidatura progressista.
Também o que esperar dessas famílias, que junto com a Marinho, ajudaram a organizar e apoiaram o golpe de Estado de 1964? O grupo Folha ainda cedeu as peruas da empresa para transportar presos políticos para serem torturados e muitas vezes, mortos.
Na década de 1990 esses grupos defenderam ardorosamente a privataria. Foram os arautos do neoliberalismo no Brasil. Muitos se locupletaram com esse apoio. Eles não podem ouvir falar de um projeto autônomo de nação. Quaisquer iniciativas dessa natureza convocam a Miriam Leitão, o Carlos Sardenberg e outros para combater essa idéia. Esses tentam passar a imagem de neutros, racionais, para enganar o leitor, ouvinte ou telespectador. Ninguém é neutro em canto nenhum. Eles são pagos para fazer o serviço que realizam.
Quando a Noruega usa o petróleo descoberto em suas águas para o bem-estar do seu povo, está certo. Agora, se o Brasil diz que vai fazer o mesmo o que dizem os “comentaristas”? Que não pode, não está certo, pois o petróleo é do “mercado”. Quem é o “mercado”, as multinacionais?
Os Estados Unidos puderam usar o ouro da Califórnia e o petróleo do Texas para se desenvolverem. No Brasil o ouro das Minas Gerais desenvolveu a Inglaterra. Agora cabe a essa geração defender o petróleo que está no pré-sal. Ele deve, a despeito de muitos jornalistas brasileiros, ser usado para o bem-estar de TODOS os brasileiros. Nada mais justo que os recursos obtidos de sua exploração sejam usados para desenvolver o país, acabando com o déficit social que existe na saúde, educação e habitação. Com ele podem ser melhorados os meios de transportes das metrópoles brasileiras e o meio ambiente.
Um projeto de nação precisa evitar o tipo de sabotagem que mídia brasileira faz contra o povo brasileiro. Não é à toa que em reportagem do ano de 2003, um espião estadunidense, fala textualmente na revista Carta Capital que os Estados Unidos pagam para muitos jornalistas brasileiros defenderem as suas teses. Afinal fica mais barato do que mandar os “marines”.
O Brasil precisa construir um projeto de nação soberana. Para isso precisa atentar para os inimigos que internamente defendem as posições do inimigo.
No jornalismo brasileiro é notória a falta de um projeto de nação. Por interesses ideológicos e mercantis a mídia brasileira sempre se atrela aos interesses dos Estados Unidos e dos demais países centrais. Na cobertura de fatos internacionais como, por exemplo, a guerra na Geórgia, não há uma investigação isenta.
A impressão que passa é que os jornalistas brasileiros nem sabem nem onde se localiza esse país. Simplesmente reproduzem o que ditam as agências internacionais, de forma acrítica.
O mesmo ocorre na Colômbia, onde os direitos humanos são sistematicamente violados pelo governo de Álvaro Uribe. Mas a mídia brasileira só tem olhos críticos para Chávez da Venezuela. O presidente colombiano é o queridinho da mídia brasileira, mesmo com eliminação sistemática de sindicalistas e jornalistas nesse país. Focam as FARCs, mas “esquecem” dos grupos paramilitares.
A mídia brasileira quando fala da questão palestina é sempre com um viés pró Israel, mesmo quando esse país bombardeie cidades palestinas indefesas, ou metralhe mulheres desarmadas, como aconteceu não faz muito tempo.
Na verdade, no Brasil não há liberdade de imprensa. O que é publicado é a visão de mundo das famílias Marinho, Frias, Mesquita e outras que monopolizam os meios de comunicação.
O jornalista no Brasil é um operário que aluga o corpo da cabeça para cima para defender as teses dos donos dos meios de comunicação. Alguns fecham com a idéia de mundo dessas famílias, outros se subordinam para sobreviver como alguém que trabalha com parafusos e não idéias. O jornalista Raymundo Costa é daqueles que escrevem de acordo com o dono do jornal. A sua coluna no “Valor Econômico” de 02/09/08 deixa isso bem claro. Ele defende a idéia de que São Paulo é um latifúndio tucano e o artigo é feito sob encomenda para que Serra entre na campanha pela prefeitura paulistana. O articulista “esquece” que o PT já governou e governa muitas das maiores cidades do Estado. É o artigo sob “encomenda”.
Aliás, a cobertura da Folha de São Paulo (dos Frias) e do Estado de São Paulo (dos Mesquitas) é francamente favorável aos candidatos conservadores Alckmin e Kassab. Quando colocam uma foto da candidata Marta Suplicy, a impressão que passam é que escolhem a pior foto possível. E sempre trabalham o texto de forma desfavorável à candidata. Eles não dão a informação de maneira objetiva, fatual; mas distorcida, de forma a ajudar os candidatos conservadores e prejudicar a candidatura progressista.
Também o que esperar dessas famílias, que junto com a Marinho, ajudaram a organizar e apoiaram o golpe de Estado de 1964? O grupo Folha ainda cedeu as peruas da empresa para transportar presos políticos para serem torturados e muitas vezes, mortos.
Na década de 1990 esses grupos defenderam ardorosamente a privataria. Foram os arautos do neoliberalismo no Brasil. Muitos se locupletaram com esse apoio. Eles não podem ouvir falar de um projeto autônomo de nação. Quaisquer iniciativas dessa natureza convocam a Miriam Leitão, o Carlos Sardenberg e outros para combater essa idéia. Esses tentam passar a imagem de neutros, racionais, para enganar o leitor, ouvinte ou telespectador. Ninguém é neutro em canto nenhum. Eles são pagos para fazer o serviço que realizam.
Quando a Noruega usa o petróleo descoberto em suas águas para o bem-estar do seu povo, está certo. Agora, se o Brasil diz que vai fazer o mesmo o que dizem os “comentaristas”? Que não pode, não está certo, pois o petróleo é do “mercado”. Quem é o “mercado”, as multinacionais?
Os Estados Unidos puderam usar o ouro da Califórnia e o petróleo do Texas para se desenvolverem. No Brasil o ouro das Minas Gerais desenvolveu a Inglaterra. Agora cabe a essa geração defender o petróleo que está no pré-sal. Ele deve, a despeito de muitos jornalistas brasileiros, ser usado para o bem-estar de TODOS os brasileiros. Nada mais justo que os recursos obtidos de sua exploração sejam usados para desenvolver o país, acabando com o déficit social que existe na saúde, educação e habitação. Com ele podem ser melhorados os meios de transportes das metrópoles brasileiras e o meio ambiente.
Um projeto de nação precisa evitar o tipo de sabotagem que mídia brasileira faz contra o povo brasileiro. Não é à toa que em reportagem do ano de 2003, um espião estadunidense, fala textualmente na revista Carta Capital que os Estados Unidos pagam para muitos jornalistas brasileiros defenderem as suas teses. Afinal fica mais barato do que mandar os “marines”.
O Brasil precisa construir um projeto de nação soberana. Para isso precisa atentar para os inimigos que internamente defendem as posições do inimigo.
Educação segundo a Revista Veja
Bia Pardi - Assessoria de Educação
Nada mais verdadeiro do que a definição: encomendada quanto ao levantamento de dados feito pela Revista Veja à CNT/Sensus (grifo nosso) apresentada na matéria de 20 de agosto de 2008, páginas 72 a 86, Especial Educação, sobre pesquisa realizada por aquela empresa que se encaixa “certinha” para os interesses do periódico em questionar, não a qualidade de ensino em nossas escolas mas, em utilizar os resultados na crítica do conteúdo, ministrado nas aulas, tanto das escolas particulares como nas públicas, acrescentando mais responsabilidade aos docentes pela crítica situação do ensino.
A pesquisa “mostra” em primeiro lugar a visão positiva de pais, professores, alunos em relação ao ensino em sua escola, à preparação dos professores e alunos para o futuro. A matéria se contrapõe a essa “cegueira” classificando como péssima a qualidade de nosso ensino. Essa, entretanto, não é a novidade. Já é de amplo domínio público as condições da educação e também os diferentes projetos, ações e concepções educacionais de diferentes governos em pauta no país. Provavelmente as respostas otimistas revelam muito mais o cansaço das críticas contínuas sobre os péssimos resultados de avaliações (que sempre sobram para os docentes) e do descaso com que a maioria dos governos trata esse fundamental serviço público, do que uma visão verdadeiramente real do problema.
O endereço e as intenções da Revista Veja, na realidade, se revelam na segunda parte tanto na pesquisa como nas “análises” que faz. Não à toa ao título EDUCAÇÂO acrescenta-se a palavra IDEOLOGIA. EDUCAÇÃO OU DOUTRINAÇÃO é esse o fulcro principal do assunto que Veja vai “trabalhar”. Com os resultados das três questões desse bloco da pesquisa (bem “direcionadas” por sinal) sobre a missão da escola, engajamento dos professores e identificação dos professores com personalidades aparece, aos nossos olhos, escolas criadas (melhor dizendo, inventadas) pela Veja: escolas esquerdizantes!!! É, realmente, surrealista. Com exemplos de aulas de duas escolas, uma de Goiânia e outra de Porto Alegre, ambas da rede particular, assistidos pela revista, Veja infere de maneira absurdamente rasteira que: “a doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado e particular”.
É tudo o que precisa para desenvolver sua teoria anti-comunista agora travestida de acusação do atraso que representaria o “ensino esquerdista”, qualquer coisa que isso signifique. Nada mais anacrônico, reacionário e preconceituoso, à semelhança de tudo que a revista publica. Como não consegue elaborar críticas mais substantivas sobre as condições do ensino, pois corre o risco de acusar seus pares políticos, Veja agora inventa, diríamos o impossível! Pior do que isso, percorre em toda a matéria uma concepção de educação arcaica, ultrapassada não só pela crítica da pedagogia da esquerda, que assinalou o caráter ideológico da pedagogia tradicional, mas até pelos pensadores conservadores, por exemplo, da chamada Escola Nova que pretendeu questionar o ensino tradicional. É o que faz quando defende o ensino tecnicista (os alunos devem conhecer a matéria) em oposição ao ensino humanista (ensinar para a cidadania) como pudessem estar separados o conhecimento e a ação dos sujeitos na sociedade.
E onde estava Veja quando o governo da ditadura militar cassou o ensino de Filosofia e Sociologia, e impôs a doutrinação das disciplinas Organização Política e Social do Brasil e Educação Moral e Cívica? (de direita vale?).
O mais grave em toda a reportagem é o (des) tratamento dado ao professor Paulo Freire, intelectual de primeira grandeza, de reconhecimento internacional, cujas teorias pedagógicas foram adotadas por milhares de educadores em todo o mundo, com absoluto sucesso, e que Veja procura desqualificá-lo como educador, de acordo com a prática de seus jornalistas. Grave também é a forma grotesca como trata pensadores universais como Karl Max. Na realidade, é a própria revista que está desqualificada como interlocutora de qualquer debate, com atitudes como essa.
Deixamos de comentar as “análises” sobre as falhas na cartilha (sic) ou apostila por entendermos que, por ignorância ou má fé, Veja interpreta verdades contra mentiras, o que são concepções divergentes sobre economia, geografia e história e, logicamente, a verdade estaria de seu lado. Embora saibamos que as cartilhas, as apostilas e os livros didáticos, não raras vezes, apresentam erros de conhecimento e isso exigiria outro debate, se, e somente se, a revista fosse realmente séria.
Nada mais verdadeiro do que a definição: encomendada quanto ao levantamento de dados feito pela Revista Veja à CNT/Sensus (grifo nosso) apresentada na matéria de 20 de agosto de 2008, páginas 72 a 86, Especial Educação, sobre pesquisa realizada por aquela empresa que se encaixa “certinha” para os interesses do periódico em questionar, não a qualidade de ensino em nossas escolas mas, em utilizar os resultados na crítica do conteúdo, ministrado nas aulas, tanto das escolas particulares como nas públicas, acrescentando mais responsabilidade aos docentes pela crítica situação do ensino.
A pesquisa “mostra” em primeiro lugar a visão positiva de pais, professores, alunos em relação ao ensino em sua escola, à preparação dos professores e alunos para o futuro. A matéria se contrapõe a essa “cegueira” classificando como péssima a qualidade de nosso ensino. Essa, entretanto, não é a novidade. Já é de amplo domínio público as condições da educação e também os diferentes projetos, ações e concepções educacionais de diferentes governos em pauta no país. Provavelmente as respostas otimistas revelam muito mais o cansaço das críticas contínuas sobre os péssimos resultados de avaliações (que sempre sobram para os docentes) e do descaso com que a maioria dos governos trata esse fundamental serviço público, do que uma visão verdadeiramente real do problema.
O endereço e as intenções da Revista Veja, na realidade, se revelam na segunda parte tanto na pesquisa como nas “análises” que faz. Não à toa ao título EDUCAÇÂO acrescenta-se a palavra IDEOLOGIA. EDUCAÇÃO OU DOUTRINAÇÃO é esse o fulcro principal do assunto que Veja vai “trabalhar”. Com os resultados das três questões desse bloco da pesquisa (bem “direcionadas” por sinal) sobre a missão da escola, engajamento dos professores e identificação dos professores com personalidades aparece, aos nossos olhos, escolas criadas (melhor dizendo, inventadas) pela Veja: escolas esquerdizantes!!! É, realmente, surrealista. Com exemplos de aulas de duas escolas, uma de Goiânia e outra de Porto Alegre, ambas da rede particular, assistidos pela revista, Veja infere de maneira absurdamente rasteira que: “a doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado e particular”.
É tudo o que precisa para desenvolver sua teoria anti-comunista agora travestida de acusação do atraso que representaria o “ensino esquerdista”, qualquer coisa que isso signifique. Nada mais anacrônico, reacionário e preconceituoso, à semelhança de tudo que a revista publica. Como não consegue elaborar críticas mais substantivas sobre as condições do ensino, pois corre o risco de acusar seus pares políticos, Veja agora inventa, diríamos o impossível! Pior do que isso, percorre em toda a matéria uma concepção de educação arcaica, ultrapassada não só pela crítica da pedagogia da esquerda, que assinalou o caráter ideológico da pedagogia tradicional, mas até pelos pensadores conservadores, por exemplo, da chamada Escola Nova que pretendeu questionar o ensino tradicional. É o que faz quando defende o ensino tecnicista (os alunos devem conhecer a matéria) em oposição ao ensino humanista (ensinar para a cidadania) como pudessem estar separados o conhecimento e a ação dos sujeitos na sociedade.
E onde estava Veja quando o governo da ditadura militar cassou o ensino de Filosofia e Sociologia, e impôs a doutrinação das disciplinas Organização Política e Social do Brasil e Educação Moral e Cívica? (de direita vale?).
O mais grave em toda a reportagem é o (des) tratamento dado ao professor Paulo Freire, intelectual de primeira grandeza, de reconhecimento internacional, cujas teorias pedagógicas foram adotadas por milhares de educadores em todo o mundo, com absoluto sucesso, e que Veja procura desqualificá-lo como educador, de acordo com a prática de seus jornalistas. Grave também é a forma grotesca como trata pensadores universais como Karl Max. Na realidade, é a própria revista que está desqualificada como interlocutora de qualquer debate, com atitudes como essa.
Deixamos de comentar as “análises” sobre as falhas na cartilha (sic) ou apostila por entendermos que, por ignorância ou má fé, Veja interpreta verdades contra mentiras, o que são concepções divergentes sobre economia, geografia e história e, logicamente, a verdade estaria de seu lado. Embora saibamos que as cartilhas, as apostilas e os livros didáticos, não raras vezes, apresentam erros de conhecimento e isso exigiria outro debate, se, e somente se, a revista fosse realmente séria.
A revista Veja e a educação como mercadoria
Rui Falcão
Os meios de comunicação em geral têm dado uma contribuição relevante ao debate sobre o processo de melhoria da qualidade do ensino. Ao apontar falhas e mazelas no sistema de ensino e mostrar o que resultou de positivo nas mudanças que têm sido introduzidas nos últimos tempos, eles participam, de algum modo, do mutirão nacional que empolga a todos.
À onda de boas notícias parece à primeira vista ter-se juntado também a revista Veja, que dedica uma matéria de capa ao tema (edição de 20/08/2008), a pretexto de chamar atenção para os “primeiros sinais de inflexão para cima na curva da qualidade”. Na verdade, o objetivo da matéria é denunciar, com base em pesquisa realizada pela CNT/Sensus, “a mediocridade que se perpetua”, mediocridade que a revista vai identificar na orientação pedagógica atual, de que estaria imbuída a maioria dos professores, e em alguns textos de livros didáticos, de reconhecida inadequação.
A matéria de Veja não mereceria nossa atenção não fosse o fato de que ela não se inscreve na linha de melhoria da qualidade que tem orientado os analistas da educação. A revista Veja não pretende melhorar o que está aí. Muito longe disso, o que pretende é demolir em seus fundamentos o sistema de educação brasileiro, ao agredir frontalmente o conceito de educação pública, nos termos em que esta é concebida na Constituição Federal, assim como nos inúmeros documentos da UNESCO, sem falar das várias declarações sobre direitos humanos firmadas ao longo das décadas pelo conjunto das nações. Veja vai ainda mais longe: investe contra o conceito de educação que acompanha a história humana desde os primórdios civilizatórios até aos mais recentes documentos da ONU, a saber, a educação como capacitação para a vida em sociedade.
De forma oportunista, a matéria não investe diretamente contra os resultados educacionais obtidos no governo Lula, amplamente aprovados pelos pais. Ela visa, na empreitada de sua desqualificação, a fulminar o conceito de educação como tal, ou seja, educação como construção da cidadania e como escola da democracia — conceitos que se constituem em fundamento de todos os sistemas defendidos pelos grandes pensadores da Educação – de Platão a Rousseau, de John Dewey a Pestalozzi, de Rudolf Steiner a Paulo Freire.Inspirada na proposta educacional do economista Milton Friedman - cujas idéias estão na base do pensamento neoliberal e do projeto tucano de educação para o Brasil, assim como praticado no governo FHC — a revista Veja, desta vez, parece ter conseguido superar-se a si mesma no desserviço que tem prestado aos leitores brasileiros, ao se alinhar à mais tosca, individualista e perniciosa proposta de organização da sociedade, se é que à “educação para o mercado” corresponde algo dotado dos atributos da “educação”, “organização” ou “sociedade”.Em lugar de escola para a construção da cidadania, Veja propõe a educação como mercadoria, que exigiria como ambiente para a realização das transações apenas o mercado, a única ‘disciplina social” reconhecida. Nada além disso. Somente o mercado seria capaz de assegurar a liberdade, para o desempenho individual e profissional dos indivíduos, além de se apresentar como única medida da eficiência e garantia da eficácia.
Nenhuma referência à sociedade, instituição desprovida de sentido, no dizer de Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha e prócer do oportunismo neoliberal. A referência à sociedade, como princípio e diretriz do ensino, segundo sugere a matéria de Veja presta-se apenas a desviar a atenção dos alunos do essencial (que seria o acúmulo quantitativo de conhecimento e a submissão à ordem instituída), doutriná-los com ideologias retrógradas e tornar a escola dependente do Estado, instituição inimiga da liberdade individual.Por isso, o Estado precisa ser reduzido à impotência, como condição para que possam florescer — em lugar das virtudes cívicas, inúteis e prejudiciais ao curriculum produtivista — as virtudes mercantis de compradores e vendedores. Assim, a revista Veja sonha com alunos desprovidos da mais leve nesga de consciência social, dispostos a aprender somente português e matemática, deixando-se aos cuidados dos proprietários da revista — e, por extensão, dos demais proprietários dos meios de produção em geral — a questão de dispor sobre o que fazer deles. O aluno como objeto, ou como produto, eis o ideal de Veja para a educação. Ou, como mostrava o diálogo entre pai e filho numa charge de jornal: O pai pergunta: “Filho, o que você vai ser quando crescer?” O filho responde: “O que a televisão quiser”.A revista Veja ignora que, divorciada da referência à sociedade, a escola deixaria de existir, ao sucumbir sob os efeitos devastadores do mercado, que tem como única referência a vitória sobre o concorrente numa disputa encarniçada, desprovida de qualquer consideração moral. Nisso, a publicação peca por falta de originalidade. Joseph Townsend, um político inglês do século dezoito, ao argumentar contra a Lei dos Pobres, apontava como exemplo a ser seguido pela sociedade humana (que identificava com o mercado) o “equilíbrio natural” resultante da luta pela sobrevivência entre espécies animais. Por “equilíbrio natural”, Townsend entendia o espetáculo de carnificina universal oferecido por hienas contra zebras, cães contra ovelhas, chacais contra antílopes e cascavéis contra ratos e assim por diante.É dizer que o ideal de educação pelo mercado preconizado por Veja faz-nos recuar para aquém do Humanismo Renascentista ou do Iluminismo, atirando-nos a todos numa nova idade das trevas, da qual se tenham abolido — em nome do individualismo autista do “homo oeconomicus”, — as regras da convivência humana, tão penosamente construídas ao longo de milênios. Lança-nos a todos num estado de primitivismo que não é próprio sequer dos animais. Como afirma o grande educador norte-americano John Dewey, “mesmo os cães e os cavalos têm o seu comportamento modificado em contato com seres humanos”. Por que, então, não fazer da educação um instrumento de mudança social? – sugere Dewey.É nesse contexto que precisa ser compreendida a investida contra Paulo Freire, educador de renome internacional, reduzido por Veja ao “autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”. Veja desrespeita a inteligência do leitor, ao fazer questão de ignorar que Paulo Freire, ao lado de Josué de Castro e de Milton Santos encontra-se entre os brasileiros acadêmicos mais conhecidos no exterior. O sistema de busca do Google registra 1,65 milhão de ocorrências de Paulo Freire, número somente comparável, entre os grandes nomes de educação no Ocidente, a John Dewey, com 1,63 milhão; Pestalozzi, com 1,75 milhão; e Rudolf Steiner, com 2,52 milhões.Na Wikipédia, Paulo Freire recebe o mesmo tratamento. É considerado “um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial”, segundo informa a versão em espanhol da enciclopédia eletrônica; ou como “um dos mais influentes pensadores da educação do século vinte”, segundo a versão em inglês. Aí pode ler-se que a Pedagogia Crítica de Paulo Freire inspirou a criação de dois institutos de educação na América do Norte: um no departamento de Educação na Universidade da Califórnia, um dos mais prestigiados no ranking da revista US News & World Report, e outro na Universidade McGill no Canadá. O verbete Paulo Freire ocorre no Wikipédia nas versões francesa, italiana, inglesa e espanhola entre outras, destacando-se a extensão de sua ocorrência na versão alemã, que lhe reserva um artigo de 21.400 caracteres, o dobro destinado ao cientista e político norte-americano Benjamin Franklin.
A Paulo Freire atribui-se o mérito – universalmente reconhecido pelos vários prêmios internacionais que recebeu, entre os quais o de Educação para a Paz, da UNESCO — de avançar no pensamento educacional, ao promover uma síntese das idéias de seus predecessores, como John Dewey. Para todos eles, o aluno está longe de ser um recipiente passivo no qual os professores depositam o seu estoque de conhecimento. Os alunos são os sujeitos ativos da educação – e o que deles se espera é que comecem por fazer as perguntas, que certamente lhes ocorrem da experiência de sua imersão no ambiente familiar e social. As respostas serão procuradas num exercício de imersão social semelhante, exercício praticado pela humanidade desde que se constitui em sociedade organizada, responsável pelas conquistas da cultura e civilização.Isso significa dizer que a pedagogia de Paulo Freire – ou de Dewey, a quem Veja covardemente não ousa desqualificar – define a educação como o lugar onde indivíduo e sociedade se constroem, capacitando-se mutuamente para a mudança social, nos termos também definidos no “Relatório da UNESCO sobre Educação para o Século XXI” (1996), onde se assinala que a educação não somente deve promover as competências básicas tradicionais, mas também proporcionar os elementos necessários para se exercer plenamente a cidadania, contribuir para uma cultura de paz e para a transformação da sociedade, para o que se propõem quatro pilares para a aprendizagem: “aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos”.
A escola não pode reduzir-se a um adestramento para a conversão do aluno em mercadoria. O desenvolvimento humano não é sinônimo de mercado nem de crescimento econômico. O mercado ou o crescimento, por si só, não promovem a equidade nem reduzem a pobreza.
Desenvolvimento implica eqüidade como resultado do exercício dos direitos sociais — e a promoção da eqüidade é uma tarefa pública, por excelência. Não é possível promover a equidade sem a democracia — e a democracia, longe de ser apenas um método de eleger os governantes, é o modo de se construir e exercitar a vida em comum, em proveito recíproco, a despeito das diferenças. Por isso, como dizia Paulo Freire, “estudar não é um ato de consumir idéias”. A democracia exige cidadãos capazes de criá-las e recriá-las.
Rui Falcão é deputado estadual do PT-SP
Os meios de comunicação em geral têm dado uma contribuição relevante ao debate sobre o processo de melhoria da qualidade do ensino. Ao apontar falhas e mazelas no sistema de ensino e mostrar o que resultou de positivo nas mudanças que têm sido introduzidas nos últimos tempos, eles participam, de algum modo, do mutirão nacional que empolga a todos.
À onda de boas notícias parece à primeira vista ter-se juntado também a revista Veja, que dedica uma matéria de capa ao tema (edição de 20/08/2008), a pretexto de chamar atenção para os “primeiros sinais de inflexão para cima na curva da qualidade”. Na verdade, o objetivo da matéria é denunciar, com base em pesquisa realizada pela CNT/Sensus, “a mediocridade que se perpetua”, mediocridade que a revista vai identificar na orientação pedagógica atual, de que estaria imbuída a maioria dos professores, e em alguns textos de livros didáticos, de reconhecida inadequação.
A matéria de Veja não mereceria nossa atenção não fosse o fato de que ela não se inscreve na linha de melhoria da qualidade que tem orientado os analistas da educação. A revista Veja não pretende melhorar o que está aí. Muito longe disso, o que pretende é demolir em seus fundamentos o sistema de educação brasileiro, ao agredir frontalmente o conceito de educação pública, nos termos em que esta é concebida na Constituição Federal, assim como nos inúmeros documentos da UNESCO, sem falar das várias declarações sobre direitos humanos firmadas ao longo das décadas pelo conjunto das nações. Veja vai ainda mais longe: investe contra o conceito de educação que acompanha a história humana desde os primórdios civilizatórios até aos mais recentes documentos da ONU, a saber, a educação como capacitação para a vida em sociedade.
De forma oportunista, a matéria não investe diretamente contra os resultados educacionais obtidos no governo Lula, amplamente aprovados pelos pais. Ela visa, na empreitada de sua desqualificação, a fulminar o conceito de educação como tal, ou seja, educação como construção da cidadania e como escola da democracia — conceitos que se constituem em fundamento de todos os sistemas defendidos pelos grandes pensadores da Educação – de Platão a Rousseau, de John Dewey a Pestalozzi, de Rudolf Steiner a Paulo Freire.Inspirada na proposta educacional do economista Milton Friedman - cujas idéias estão na base do pensamento neoliberal e do projeto tucano de educação para o Brasil, assim como praticado no governo FHC — a revista Veja, desta vez, parece ter conseguido superar-se a si mesma no desserviço que tem prestado aos leitores brasileiros, ao se alinhar à mais tosca, individualista e perniciosa proposta de organização da sociedade, se é que à “educação para o mercado” corresponde algo dotado dos atributos da “educação”, “organização” ou “sociedade”.Em lugar de escola para a construção da cidadania, Veja propõe a educação como mercadoria, que exigiria como ambiente para a realização das transações apenas o mercado, a única ‘disciplina social” reconhecida. Nada além disso. Somente o mercado seria capaz de assegurar a liberdade, para o desempenho individual e profissional dos indivíduos, além de se apresentar como única medida da eficiência e garantia da eficácia.
Nenhuma referência à sociedade, instituição desprovida de sentido, no dizer de Margaret Thatcher, ex-primeira ministra da Grã-Bretanha e prócer do oportunismo neoliberal. A referência à sociedade, como princípio e diretriz do ensino, segundo sugere a matéria de Veja presta-se apenas a desviar a atenção dos alunos do essencial (que seria o acúmulo quantitativo de conhecimento e a submissão à ordem instituída), doutriná-los com ideologias retrógradas e tornar a escola dependente do Estado, instituição inimiga da liberdade individual.Por isso, o Estado precisa ser reduzido à impotência, como condição para que possam florescer — em lugar das virtudes cívicas, inúteis e prejudiciais ao curriculum produtivista — as virtudes mercantis de compradores e vendedores. Assim, a revista Veja sonha com alunos desprovidos da mais leve nesga de consciência social, dispostos a aprender somente português e matemática, deixando-se aos cuidados dos proprietários da revista — e, por extensão, dos demais proprietários dos meios de produção em geral — a questão de dispor sobre o que fazer deles. O aluno como objeto, ou como produto, eis o ideal de Veja para a educação. Ou, como mostrava o diálogo entre pai e filho numa charge de jornal: O pai pergunta: “Filho, o que você vai ser quando crescer?” O filho responde: “O que a televisão quiser”.A revista Veja ignora que, divorciada da referência à sociedade, a escola deixaria de existir, ao sucumbir sob os efeitos devastadores do mercado, que tem como única referência a vitória sobre o concorrente numa disputa encarniçada, desprovida de qualquer consideração moral. Nisso, a publicação peca por falta de originalidade. Joseph Townsend, um político inglês do século dezoito, ao argumentar contra a Lei dos Pobres, apontava como exemplo a ser seguido pela sociedade humana (que identificava com o mercado) o “equilíbrio natural” resultante da luta pela sobrevivência entre espécies animais. Por “equilíbrio natural”, Townsend entendia o espetáculo de carnificina universal oferecido por hienas contra zebras, cães contra ovelhas, chacais contra antílopes e cascavéis contra ratos e assim por diante.É dizer que o ideal de educação pelo mercado preconizado por Veja faz-nos recuar para aquém do Humanismo Renascentista ou do Iluminismo, atirando-nos a todos numa nova idade das trevas, da qual se tenham abolido — em nome do individualismo autista do “homo oeconomicus”, — as regras da convivência humana, tão penosamente construídas ao longo de milênios. Lança-nos a todos num estado de primitivismo que não é próprio sequer dos animais. Como afirma o grande educador norte-americano John Dewey, “mesmo os cães e os cavalos têm o seu comportamento modificado em contato com seres humanos”. Por que, então, não fazer da educação um instrumento de mudança social? – sugere Dewey.É nesse contexto que precisa ser compreendida a investida contra Paulo Freire, educador de renome internacional, reduzido por Veja ao “autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de alfabetização”. Veja desrespeita a inteligência do leitor, ao fazer questão de ignorar que Paulo Freire, ao lado de Josué de Castro e de Milton Santos encontra-se entre os brasileiros acadêmicos mais conhecidos no exterior. O sistema de busca do Google registra 1,65 milhão de ocorrências de Paulo Freire, número somente comparável, entre os grandes nomes de educação no Ocidente, a John Dewey, com 1,63 milhão; Pestalozzi, com 1,75 milhão; e Rudolf Steiner, com 2,52 milhões.Na Wikipédia, Paulo Freire recebe o mesmo tratamento. É considerado “um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial”, segundo informa a versão em espanhol da enciclopédia eletrônica; ou como “um dos mais influentes pensadores da educação do século vinte”, segundo a versão em inglês. Aí pode ler-se que a Pedagogia Crítica de Paulo Freire inspirou a criação de dois institutos de educação na América do Norte: um no departamento de Educação na Universidade da Califórnia, um dos mais prestigiados no ranking da revista US News & World Report, e outro na Universidade McGill no Canadá. O verbete Paulo Freire ocorre no Wikipédia nas versões francesa, italiana, inglesa e espanhola entre outras, destacando-se a extensão de sua ocorrência na versão alemã, que lhe reserva um artigo de 21.400 caracteres, o dobro destinado ao cientista e político norte-americano Benjamin Franklin.
A Paulo Freire atribui-se o mérito – universalmente reconhecido pelos vários prêmios internacionais que recebeu, entre os quais o de Educação para a Paz, da UNESCO — de avançar no pensamento educacional, ao promover uma síntese das idéias de seus predecessores, como John Dewey. Para todos eles, o aluno está longe de ser um recipiente passivo no qual os professores depositam o seu estoque de conhecimento. Os alunos são os sujeitos ativos da educação – e o que deles se espera é que comecem por fazer as perguntas, que certamente lhes ocorrem da experiência de sua imersão no ambiente familiar e social. As respostas serão procuradas num exercício de imersão social semelhante, exercício praticado pela humanidade desde que se constitui em sociedade organizada, responsável pelas conquistas da cultura e civilização.Isso significa dizer que a pedagogia de Paulo Freire – ou de Dewey, a quem Veja covardemente não ousa desqualificar – define a educação como o lugar onde indivíduo e sociedade se constroem, capacitando-se mutuamente para a mudança social, nos termos também definidos no “Relatório da UNESCO sobre Educação para o Século XXI” (1996), onde se assinala que a educação não somente deve promover as competências básicas tradicionais, mas também proporcionar os elementos necessários para se exercer plenamente a cidadania, contribuir para uma cultura de paz e para a transformação da sociedade, para o que se propõem quatro pilares para a aprendizagem: “aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos”.
A escola não pode reduzir-se a um adestramento para a conversão do aluno em mercadoria. O desenvolvimento humano não é sinônimo de mercado nem de crescimento econômico. O mercado ou o crescimento, por si só, não promovem a equidade nem reduzem a pobreza.
Desenvolvimento implica eqüidade como resultado do exercício dos direitos sociais — e a promoção da eqüidade é uma tarefa pública, por excelência. Não é possível promover a equidade sem a democracia — e a democracia, longe de ser apenas um método de eleger os governantes, é o modo de se construir e exercitar a vida em comum, em proveito recíproco, a despeito das diferenças. Por isso, como dizia Paulo Freire, “estudar não é um ato de consumir idéias”. A democracia exige cidadãos capazes de criá-las e recriá-las.
Rui Falcão é deputado estadual do PT-SP
quarta-feira, agosto 13, 2008
Dilma: novas reservas de petróleo vão fortalecer indústria e políticas sociais
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou nesta quarta-feira (13) que o Brasil utilizará as riquezas conquistadas a partir da exploração da chamada camada pré-sal para ampliar o nível de industrialização do País e reforçar políticas sociais, como as de educação.
Segundo a ministra, que participou do sorteio de municípios que terão obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) fiscalizadas, o Brasil não sofrerá a "maldição do petróleo", tese segundo a qual as nações com alto potencial exploratório engessam o crescimento industrial e não conseguem se desenvolver internamente.
"A chamada, muitas vezes dita na literatura internacional, maldição do petróleo, em que os países que têm petróleo, geralmente, são países com pouca industrialização, nem isso nos afetará. O Brasil será sem dúvida um País capaz de transformar essa riqueza (do pré-sal) em um grande benefício para a sua população", disse a ministra.
"Nós não somos um país qualquer. Nós temos uma indústria diversificada, todo um processo em andamento de industrialização da economia brasileira, que pode vir a permitir que o Brasil seja também um grande país na área da indústria naval, dos equipamentos e da produção de bens e materiais, que serão utilizados pela própria indústria petroleira e também pela indústria química e petroquímica", completou.
Ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, com a eventual alteração da Lei do Petróleo, o País poderia destinar uma parte desse dinheiro para resolver definitivamente o problema da educação.
A ministra Dilma evitou comentar se os estudos que o grupo interministerial do governo sobre alterações na Lei do Petróleo reforçam a tese de uma nova estatal para o setor, exclusivamente para administrar a exploração na camada pré-sal.
"A diretriz estratégica fundamental é a de que esse imenso recurso transforma o Brasil de país importador de petróleo, no máximo auto-suficiente, num país que seguramente pode vir a ser um dos países exportadores de petróleo e com um posicionamento diferenciado no mundo", defendeu.
"De fato o pré-sal é um recurso tão importante para o futuro da nossa geração, mas sobretudo das próximas gerações do País, que ele é um recurso do conjunto da população brasileira. Isso define fundamentalmente o princípio que vai nortear o governo no seu uso", explicou a ministra.
Considerações sobre as tarifas de pedágio no Estado de São Paulo
Ass. Transportes - Liderança do PT
1 – Os preços dos pedágios no Estado de São Paulo subirão 11,52% no próximo dia 1º de julho de 2008. Esse índice supera em dobro a maioria dos indicadores usados no Brasil, como IPCA, que foi de 5,04%, IPC-FIPE, 4,51% e INPC, que ajusta os salários, que variou 5,9%.
2 – Isso porque o indexador adotado nos contratos desde 1998 foi o IGP-M. Esse indexador geralmente é utilizado quando os itens em questão acompanham a variação cambial. Os custos das concessionárias são em reais e não se justifica a adoção desse indexador. Este deveria ser o IPCA, como os das concessões recentemente realizadas pelo governo federal, que reflete melhor a variação de preços no Brasil. Como os contratos estão em IGPM, de forma inadequada, as tarifas de pedágio do Estado de São Paulo, que são as mais caras do Brasil, subirão o dobro da inflação oficial.
3 - No período de 1998, ano em que tem início as concessões de rodovias em São Paulo, até o ano de 2007, o IGPM e as tarifas de pedágio subiram 199%. Enquanto isso o IPCA, que é o índice oficial para apurar a inflação brasileira, subiu 95% e o INPC, indexador usado para recomposição salarial teve variação de 98%. O gráfico para "download" no final da página reflete o descolamento dos IGPM em relação aos demais índices de preços.
4 – Dessa forma, há transferência de renda dos usuários das rodovias para as concessionárias, cujos lucros subiram de forma exponencial nos últimos anos. Também tornam mais caros os produtos consumidos pela população, pois a maioria das mercadorias é transportada por via rodoviária e tem seus preços aumentados quando os pedágios sobem.
5 – Com o aumento de 11,52%, o pedágio na Imigrantes e Anchieta, subirá de R$ 15,40 para R$ 17,00. Numa viagem de ida e volta de automóvel de São Paulo para São José do Rio Preto, passará de R$ 102,20 para R$ 114,00. Um caminhão que entra na categoria 6 da tabela de pedágio, no mesmo percurso, transportando alimentos e mercadorias, pagará R$ 613,20 de pedágio. Isso encarece o preço do frete e dos bens de consumo para a população. O pedágio das marginais da Castello Branco passará de R$ 5,60 para R$ 6,30, ou seja, o pedágio mais caro do mundo ficará ainda pior, pois essa marginal possui apenas 10,9 quilômetros de extensão.
6 – É o choque de gestão tucano, comandado pelo então governador Geraldo Alckmin, que implantou os pedágios mais caros do Brasil e um dos mais caros do mundo. Ele não se preocupou com a modicidade tarifária, com a proteção do usuário que usa as rodovias e dos consumidores, cujos produtos transitam por essas rodovias. Quem sai ganhando são as concessionárias com lucros astronômicos.
7 – No ano de 2006 o governo prorrogou os contratos alegando reequilíbrio econômico-financeiro. Aumentou em alguns casos mais 10 anos de contrato leonino que só beneficia as concessionárias.
8 – O governo federal adotou um modelo que beneficiará os usuários das rodovias, pois quando estiver implantado o pedágio na Rodovia Fernão Dias, com 562 quilômetros até Belo Horizonte, o custo total será de R$ 7,97, na Régis Bittencourt, ligando São Paulo a Curitiba, R$ 8,18, para rodar 401,6 quilômetros. A comparação da atitude responsável do governo federal contrasta com a dos tucanos que defendem os pedágios mais caros do Brasil.
9 – É preciso que o governo Serra reveja esses contratos como foi prometido na campanha eleitoral de 2006. É preciso restabelecer o reequilíbrio econômico-financeiro, que beneficie os usuários das rodovias, conforme estabelece a Lei 8.666/93, em que a revisão de preços pode também beneficiar o poder público. Não havia previsão de que o indexador IGPM (como se constata, muito acima do esperado) subisse tanto acima do IPCA.
10 – O choque de gestão tucano só beneficia as empresas e prejudica os usuários de rodovias e a população como um todo, que paga mais caro pelos produtos que transitam nas rodovias paulistas.
Evaristo Almeida
Assessoria de Transportes da Liderança do PT
Do sítio: www.ptalesp.org.br
1 – Os preços dos pedágios no Estado de São Paulo subirão 11,52% no próximo dia 1º de julho de 2008. Esse índice supera em dobro a maioria dos indicadores usados no Brasil, como IPCA, que foi de 5,04%, IPC-FIPE, 4,51% e INPC, que ajusta os salários, que variou 5,9%.
2 – Isso porque o indexador adotado nos contratos desde 1998 foi o IGP-M. Esse indexador geralmente é utilizado quando os itens em questão acompanham a variação cambial. Os custos das concessionárias são em reais e não se justifica a adoção desse indexador. Este deveria ser o IPCA, como os das concessões recentemente realizadas pelo governo federal, que reflete melhor a variação de preços no Brasil. Como os contratos estão em IGPM, de forma inadequada, as tarifas de pedágio do Estado de São Paulo, que são as mais caras do Brasil, subirão o dobro da inflação oficial.
3 - No período de 1998, ano em que tem início as concessões de rodovias em São Paulo, até o ano de 2007, o IGPM e as tarifas de pedágio subiram 199%. Enquanto isso o IPCA, que é o índice oficial para apurar a inflação brasileira, subiu 95% e o INPC, indexador usado para recomposição salarial teve variação de 98%. O gráfico para "download" no final da página reflete o descolamento dos IGPM em relação aos demais índices de preços.
4 – Dessa forma, há transferência de renda dos usuários das rodovias para as concessionárias, cujos lucros subiram de forma exponencial nos últimos anos. Também tornam mais caros os produtos consumidos pela população, pois a maioria das mercadorias é transportada por via rodoviária e tem seus preços aumentados quando os pedágios sobem.
5 – Com o aumento de 11,52%, o pedágio na Imigrantes e Anchieta, subirá de R$ 15,40 para R$ 17,00. Numa viagem de ida e volta de automóvel de São Paulo para São José do Rio Preto, passará de R$ 102,20 para R$ 114,00. Um caminhão que entra na categoria 6 da tabela de pedágio, no mesmo percurso, transportando alimentos e mercadorias, pagará R$ 613,20 de pedágio. Isso encarece o preço do frete e dos bens de consumo para a população. O pedágio das marginais da Castello Branco passará de R$ 5,60 para R$ 6,30, ou seja, o pedágio mais caro do mundo ficará ainda pior, pois essa marginal possui apenas 10,9 quilômetros de extensão.
6 – É o choque de gestão tucano, comandado pelo então governador Geraldo Alckmin, que implantou os pedágios mais caros do Brasil e um dos mais caros do mundo. Ele não se preocupou com a modicidade tarifária, com a proteção do usuário que usa as rodovias e dos consumidores, cujos produtos transitam por essas rodovias. Quem sai ganhando são as concessionárias com lucros astronômicos.
7 – No ano de 2006 o governo prorrogou os contratos alegando reequilíbrio econômico-financeiro. Aumentou em alguns casos mais 10 anos de contrato leonino que só beneficia as concessionárias.
8 – O governo federal adotou um modelo que beneficiará os usuários das rodovias, pois quando estiver implantado o pedágio na Rodovia Fernão Dias, com 562 quilômetros até Belo Horizonte, o custo total será de R$ 7,97, na Régis Bittencourt, ligando São Paulo a Curitiba, R$ 8,18, para rodar 401,6 quilômetros. A comparação da atitude responsável do governo federal contrasta com a dos tucanos que defendem os pedágios mais caros do Brasil.
9 – É preciso que o governo Serra reveja esses contratos como foi prometido na campanha eleitoral de 2006. É preciso restabelecer o reequilíbrio econômico-financeiro, que beneficie os usuários das rodovias, conforme estabelece a Lei 8.666/93, em que a revisão de preços pode também beneficiar o poder público. Não havia previsão de que o indexador IGPM (como se constata, muito acima do esperado) subisse tanto acima do IPCA.
10 – O choque de gestão tucano só beneficia as empresas e prejudica os usuários de rodovias e a população como um todo, que paga mais caro pelos produtos que transitam nas rodovias paulistas.
Evaristo Almeida
Assessoria de Transportes da Liderança do PT
Do sítio: www.ptalesp.org.br
Assinar:
Postagens (Atom)