quarta-feira, janeiro 06, 2016

Porque a mídia internacional e os EUA protegem a Arábia Saudita?


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Notícia de 5 de junho de 2015 da Agência EFE, publicada no Brasil pelo site R7(1) e pelo UOL, diz: “Israel e Arábia Saudita, dois países que não mantêm relações diplomáticas, se reuniram em segredo em cinco ocasiões para conversar sobre o Irã, um país que ambos acreditam representar uma ameaça regional e que está a ponto de fechar um acordo nuclear com a comunidade internacional, informou nesta sexta-feira o jornal israelense “Jerusalem Post”

Uma apuração jornalística mínima questionaria o fato de que Israel e Arábia Saudita “não mantêm relações diplomáticas”, pelo menos caracterizaria estas como “não oficiais”. Pois, se os dois países são os maiores aliados dos EUA na região, especialmente militarmente, muito tem em comum. No entanto, há uma diferença fundamental na exposição midiática ocidental entre os dois países.

Israel é retratado, pela mídia corporativa, como o paladino da justiça e a “única democracia do Oriente Médio”, abundam reportagens elogiosas sobre a “terra santa”. Por outro lado, a Arábia Saudita simplesmente não aparece na imprensa apesar dos seus inúmeros crimes, violações de direitos de minorias e todo tipo de agressão.

Não há questionamentos a violência do regime, uma monarquia absolutista teocrática, na qual não existem as tão propagadas liberdades pelas quais EUA e OTAN dizem proteger: não há liberdade religiosa, liberdade de expressão, liberdade de imprensa ou qualquer tipo de liberdade política, é proibido se criar partidos, sequer pleitear umas dessas liberdades é permitido. No entanto, a liberdade de mercado passa bem (outra prova que liberalismo econômico convive muito bem com governo autocrático, no melhor estilo Pinochet). Na Arábia Saudita, as mulheres são cidadãos de segunda classe, proibidas de dirigir carros mas também a própria vida, tendo que se submeter sempre a vontade de um homem, o pai ou irmão e depois o marido. Com frequência a repressão saudita, fruta de uma interpretação exclusivista do Islã, o salafismo, é deliberadamente confundida como todo ou com a maioria dos muçulmanos. O código civil saudita inclui chibatadas como punição para diversos delitos, nesse ano um anúncio para vaga de carrasco decapitador chamou a atenção do mundo, mas o caso foi tratado como algo exótico e inusitado pela mídia corporativa global, e não como mais um elemento de uma tirania sanguinária. (2)

Talvez a repressão interna e toda a violência do regime não sejam mesmo dignos de nota para os mercadores de notícia. A atuação externa deveria, uma vez que ela extrapola as fronteiras do reino, chamar a atenção e ser digna de contunde crítica. Somente nessa década de 2010 são muitas as ações da Casa de Saud, a família real que domina o país com mão de ferro, contra diferente povos:

– a dita “Primavera Árabe” encontra nos sauditas seu inverno. O ditador da Tunísia, Ben Ali, depois de ser enxotado pelo povo em 2011 não teve que responder pelos seus crimes, pois foi, e ainda é, abrigado pelo reino. Todos os pedidos de extradição feitos pelos tunisianos são negados.

– Em fevereiro do mesmo 2011, A monarquia absolutista do Bahrein, praticamente um protetorado saudita, reprimiu brutalmente as manifestações no país, utilizando armas, tanques e tropas da Arábia Saudita.

– O ditador do Egito, Hosni Mubarak, era um aliado de longa data dos sauditas, cujo não apoio do governo Obama a sua permanência foi sentido pelo reino. O golpe militar de julho de 2013 que depôs o presidente democraticamente eleito, Mosni, foi , e continua sendo, apoiado pela casa de Saud.

– Em 2013, um atentado destruiu a embaixada do Irã, em Beirute, no Líbano, matando mais de 40 pessoas e ferindo outras 500. Os autores continuam nebulosos, as motivações nem tanto.(3)

– Se são óbvias as relações entre o reino e Al Qaeda, da poderosa família Bin Laden, quanto tempo demorará para ficar evidente os laços entre os sauditas e ISIS? Possuem a mesma ideologia, wabbismo, a mesma interpretação sobre o islã e os mesmo inimigos. A prova mais cabal da mentira que é a “Guerra ao Terror” é a ligação entre os decapitadores que infestam a Síria e o Iraque como o decapitadores de Riad. (4)

– Quando uma revolta popular derrubou o ditador do Iêmem, a Arábia Saudita iniciou uma campanha militar contra o país mais pobre da região. Destruindo e matando a já combalida nação, em nome de mais um fantoche. Já são mais de dois mil mortos.

– Como se não bastasse toda a violência praticada na região, contra populações vizinhas, a Arábia Saudita resolveu atacar populações de todo o planeta ao abaixar artificialmente o preço do petróleo. Da Venezuela a Moscou, do Equador a Argélia, de Teerã a Angola todos sofrem com a ação saudita. Inclui-se aí o Brasil, em particular o Rio de Janeiro, onde a crise econômica foi severamente agravada pelo movimento saudita. A queda das ações da Petrobras passa pela baixa do preço do óleo, mas evidentemente isso é um dado menor para a mídia obcecada pelas denúncias de corrupção. Nota-se que os mais prejudicados são países que se opõe a hegemonia americana, no entanto até os EUA estão sendo afetados com a falência da sua ainda incipiente indústria de extração de xisto. (5)

Internamente repressão brutal contra as tão queridas liberdades, regionalmente uma fonte de desestabilização e no plano internacional uma guerra econômica que prejudica a vida de povos de diferentes países. Esse cenário deveria levar as várias análises criticas por parte de uma imprensa auto-intulada “livre” com relação ao país, evidentemente isso não ocorre, tais análises são reservadas a outras nações. Todo o cinismo dos analistas ocidentais, o comprometimento dos interesses da mídia corporativa é revelado pelo silêncio cúmplice com as práticas da tirania saudita.

O papel dos meios de comunicação na criação do imaginário é conhecido, especialmente sua capacidade de gerar sentimentos de rejeição e medo. A Guerra ao Terror é o exemplo cabal no nosso tempo. Se houvesse algum sentido, que não provocar pânico, a Arábia Saudita seria pauta principal de todos os jornais, todos os dias. No entanto, a narrativa oficial classifica, rotula, ataca, clamando por uma guerra contra o Irã. Comparando os dois países: no Irã há direitos para as mulheres (divórcio, por exemplo) liberdade religiosa (há cerca de dez mil judeus no Irã), sunitas vivem harmoniosamente com a maioria Xiita; o Irã não bombardeou nenhuma nação, nem interferiu na soberania alheia. Apesar de não realizar nenhum tipo de ação contra o ocidente, a República Islâmica sofre com as brutais as sanções impostas por uma guerra econômica a partir de Washington.

Embora nada indique que o Irã tenha a bomba atômica, seria muito justo, diante do estado beligerante do Ocidente e dos sauditas contra a nação. Cabe a pergunta: será que Riad, tão agressiva, não está sim desenvolvendo uma bomba atômica? Retomando a discreta reportagem do “encontro secreto entre Israel e Arábia Saudita”, sabe-se que Israel tem, não será esse o objetivo dos sauditas com a aproximação? Novamente, em um movimento muito suspeito de dois aliados dos EUA quem é tratado como vilão é… o Irã.

Pela vontade de gerar medo, o Irã não sai dos jornais; pelo desejo de se fazer a guerra, a Arábia Saudita não aparece neles.



http://noticias.r7.com/internacional/israel-e-arabia-saudita-se-reuniram-em-segredo-para-tratar-do-ira-05062015
http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,arabia-saudita-abre-oito-vagas-para-carrascos,1689768
http://english.al-akhbar.com/node/16845
http://www.911hardfacts.com/report_19.htm
http://www.cartacapital.com.br/internacional/o-petroleo-despenca-e-a-arabia-saudita-sorri-3244.html

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