domingo, janeiro 05, 2014

O bom combate de Robert Solow, por Rodrigo Medeiros



Rodrigo Medeiros
Em uma resenha crítica do novo livro de Alan Greenspan, ex-presidente do banco central norte-americano (Fed), o célebre economista Robert Solow, professor emérito do MIT e Prêmio Nobel de 1987, atacou o viés ideológico conservador de muitos formuladores de política econômica. O texto de Solow foi publicado na revista New Republic, em 16/12/2013. Vejamos brevemente alguns aspectos abordados.

Conforme apontou Solow: “The mere fact that Saving and Investment as measured are defined to be equal does not mean that the amount of investment the economy does is limited by the amount of saving that is available. Deficit reduction can be good policy, growth-promoting policy, when the economy is fully employed and needs to generate new capacity”. O setor privado doméstico deve desejar investir para que o balanço do setor governamental possa buscar o equilíbrio fiscal, sendo que o financiamento desses investimentos produtivos deve ocorrer em condições favoráveis de crédito para que os retornos esperados superem as expectativas dos esforços dos empreendedores.

Solow apresentou outros argumentos interessantes. O costumeiro apelo ao “longo prazo”, quando supostamente a economia estiver estável e funcionando em plena capacidade, não deveria ser utilizado para justificar preferências ideológicas conservadoras de curto prazo. A visão de que os mercados são capazes de se regular automaticamente e que, portanto, a sua desregulamentação é fundamental para a estabilidade do próprio sistema econômico porque os agentes são racionais, ainda que no longo prazo, mostrou-se catastrófica por diversas vezes.

As transferências sociais atacadas pelo pensamento conservador de Greenspan ecoam entre alguns setores no Brasil. Solow abordou essa questão a partir do conceito da propensão marginal a poupar e como ela é nociva ao sistema econômico. Transferências sociais, quando bem feitas pelos governos, representam o bom combate ao entesouramento dos mais abastados. A "ciência sombria" do século XIX não precisa permanecer como um fato inexorável no presente. Uma tributação progressiva mostra-se importante para a justiça social e o bom funcionamento da economia de um país que ambiciona o desenvolvimento social.

Sabemos muito bem que as transações externas podem afetar um país de diversas maneiras (desenvolvimento x subdesenvolvimento). Vivemos em um planeta que ainda não realiza transações econômicas com extraterrestres e, nesse sentido, o superávit nas transações correntes de um país deverá ser o déficit de outro(s). Não há qualquer garantia real para além das abstrações teóricas simplificadoras de que as vantagens comparativas se manifestem espontaneamente com harmonia entre as partes quando cresce o número de interações econômicas. Afinal, qual o projeto de nação do Brasil e o que pretendemos debater em 2014?

Aproveito o espaço para deixar três dicas de leitura:

AFONSO, José Roberto. Keynes, crise e política fiscal. São Paulo: Saraiva, 2012.

CHANG, Ha-Joon. 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo. São Paulo: Cultrix, 2013.

GOMORY, Ralph E.; BAUMOL, William J. Global trade and conflicting national interests. Cambridge (MA): The MIT Press, 2000.

Rodrigo Medeiros é professor do Ifes (Instituto Federal do Espírito Santo)

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