sábado, outubro 12, 2013

Rede de bancos controla a economia mundial, revela pesquisadora


Por Redação, com Carta Maior - de Londres



Um pequeno número de empresas controla o mundo

No final de 2011, um estudo da Escola Politécnica Federal de Zurique sacudiu o debate sobre a concentração do poder em nível mundial. A base de dados do estudo chegava até 2007, ou seja, até a fronteira da grande crise que sobreveio com a queda do Lehman Brothers, e quantificava pela primeira vez a ideia generalizada de que um punhado de empresas dominava a economia mundial.

A investigação de Stefania Vitali, James B, Glattfeldes e Stefano Battiston, The network of global corporate control (A rede do controle corporativo global), não se baseava em teorias econômicas ou políticas, mas sim no desenho de sistemas e demonstrava que 1318 empresas transnacionais possuíam direta ou indiretamente ações de sociedades que representavam 60% das receitas mundiais. Mostrava ainda que o núcleo duro desse grupo era formado por 147 empresas que concentravam 40% das receitas corporativas mundiais. Hoje, Stefania Vitali está pesquisando o que ocorreu de 2008 até nossos dias e maneja como hipótese provisória que essa concentração se intensificou ainda mais. Em entrevista à agência brasileira de notícias Carta Maior, Vitali fala de seu estudo e de seu impacto econômico e político.

– Como avalia que evoluiu esta rede de 147 companhias?

– Estas redes costumam ser estáveis, ou seja, não apresentam mudanças drásticas de um ano para o outro. Mas como desta vez temos a crise de 2008, calculamos que haverá mudanças. Sabemos já que vários bancos foram nacionalizados ou desapareceram ou enfrentam sérios problemas. Também calculamos que haverá uma maior presença da Ásia. Minha hipótese é que a concentração se aprofundará, mas até que não tenhamos os dados concretos não podemos corroborar tal ideia. Há uma coisa que está clara, porém. Os dois principais resultados de nosso trabalho anterior serão mantidos. O primeiro se refere ao nível de conectividade que há entre as grandes empresas e o segundo é o nível de concentração. Ou seja, as empresas estão muito mais conectadas do que se pode imaginar. Em particular, encontramos um centro, muito pequeno, composto por 1400 empresas que estão conectadas direta ou indiretamente.

A outra face disso é a concentração. Descobrimos que 80% das ações dessa rede interconectada estavam em mãos de 0,6% dos acionistas. Assim, chegamos ao núcleo duro desta concentração e interatividade quando vimos que 147 empresas controlavam 40% do valor das multinacionais. De modo que, quanto mais nos aproximamos do centro da estrutura, mais aumenta a concentração.

– Uma das críticas feitas ao seu estudo foi que as empresas financeiras estavam excessivamente representadas. Isso se deve ao que se passou a chamar de financeirização da economia, ou seja, que o setor financeiro tem uma importância cada vez maior na economia mundial, o que relegou a produção a um segundo plano na geração de lucros?

– Os resultados sempre dependem dos dados. Nós dependemos do que nos forneceu Orbis que tem uma base de dados de cerca de 37 milhões de empresas e investidores de todo o mundo. Com base nesta fonte, fizemos uma primeira depuração e ficamos com umas 43 mil transnacionais vinculadas por participações acionárias. É possível que seja mais fácil recolher dados sobre as instituições financeiras e que isso tenham aumentado o seu peso. Também é possível que estas instituições tenham muita mais conectividade. As empresas do setor da manufatura costumam conectar-se mais com suas subsidiárias em uma estrutura piramidal enquanto que o setor financeiro tem uma estrutura muito mais complexa.

– Que consequências têm na economia mundial este nível de concentração e conectividade?

– Não investigamos isso diretamente, é algo que estamos fazendo agora, mas temos algumas hipóteses. Primeiro que isso gera um grande risco adicional de instabilidade no conjunto do sistema porque quando as empresas se diversificam muito aumentando enormemente sua interconectividade, é benéfico para as empresas, mas ao mesmo tempo as expõe a um impacto negativo sistêmico. Neste sentido, a crise de 2008 pode ser o resultado deste alto nível de conectividade. A segunda consequência é uma redução da competição no mercado.

Se empresas que pertencem ao mesmo setor do mercado estão em mãos de um mesmo grupo de acionistas, elas não têm nenhum interesse em competir. Ao invés disso, têm uma tendência de se colocar em acordo para fixar preços ou lucros.

– Outra das críticas feitas ao estudo é que ele confundia a propriedade e o controle de uma empresa. Segundo seus críticos, defensores do capitalismo, os donos das ações eram em muitos casos fundos de pensão que administravam a aposentadoria da população. Ou seja, o dono, segundo essa crítica, era o cidadão comum que coloca suas poupanças em mãos de fundos financeiros administradores…

– Nós nunca falamos de controle, mas sim de controle potencial. Sempre se distingue entre o acionista e o que tem direito a tomar decisões nas reuniões de direção de uma empresa. Pode ter ações, mas não ter direito de voto nas decisões das empresas. Usamos três modelos distintos para unir a propriedade das ações e o controle concreto da conduta de uma companhia. Um modelo estabelece que aquele que detém mais de 20% do controle do pacote acionário de uma empresa tem um controle de 100%. Cabe dizer que, dada a amplitude da nossa base de dados – cerca de 37 milhões de empresas – não pudemos fazer uma análise específica de cada caso, mas a base de dados com a qual trabalhamos confirmava este vínculo entre propriedade e controle.

– Com empresas tão fortes, qual o impacto disso sobre os governos e a democracia?

– Quando há empresas tão grandes elas podem criar blocos de ação. Se não há uma regulação forte, é muito difícil proteger a democracia. No mínimo temos um problema de regulação.

– Mas quando falamos da conectividade destas empresas, temos companhias do setor financeiro vinculadas ao setor industrial e também ao controle midiático. Quando há uma incidência direta sobre o setor midiático, o perigo é maior, algo sobre o que uma italiana como você deve ter muita experiência.

– (…risos…) O perigo é real. É necessário ter regras que eliminem a possibilidade desse tipo de conectividade. Com o governo de Mario Monti se introduziram certas regras para reduzir essa interconectividade, por exemplo, para que uma pessoa tenha limites a respeito de quantas diretorias pode fazer parte porque, se está em diferentes setores estratégicos, pode terminar distorcendo a economia para adequá-la aos seus próprios interesses. O mercado busca o lucro.

Esse é o seu interesse. De modo que o Estado é o único fator que pode exercer um contraponto. Muitas vezes, um Estado não pode fazer isso sozinho. É necessária uma ação combinada como a que podem exercer os estados da União Europeia. Isso é importante porque as multinacionais têm o poder para colonizar estados, em particular nos países mais pobres. Estão buscando seu próprio benefício, não o benefício social, coletivo.

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