quinta-feira, março 07, 2013

Provocar câncer em alguém é fácil como tirar doce de criança

Pouco depois do anúncio oficial da morte de Hugo Chávez pelo presidente interino da Venezuela, Nicolás Maduro, este acusou publicamente os Estados Unidos de estarem por trás do câncer que acometeu o ex-presidente e, en passant, aproveitou para atribuir à potência os cânceres que, quase simultaneamente, atingiram vários outros presidentes sul-americanos.

Esse boato encampado pelo provável novo presidente que os venezuelanos elegerão em semanas, porém, não é novo. Há cerca de dois anos, especulou-se largamente sobre a estranha “coincidência” de cinco líderes sul-americanos que não se alinham a Washington terem contraído câncer quase simultaneamente.

Detalhando: Dilma Rousseff, Lula, o ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, a presidente argentina, Cristina Kirchner, e o próprio Chávez contraíram câncer quase todos ao mesmo tempo.

Não foi a primeira vez que os Estados Unidos foram acusados de cometer assassinatos políticos sem uso de violência, apelando para a tecnologia. O ex-presidente brasileiro Jango Goulart ou o líder palestino Yasser Arafat foram alguns entre tantos outros que se acredita que tenham sido assassinados pelos norte-americanos dessa forma.

Nesse aspecto, o leitor Carlos Alberto Rocha deixou comentário que, no mínimo, leva à reflexão:

“(…) O assassinato de Arafat foi abafado e contou com a ajuda da tradição muçulmana, que não procede a autópsia dos seus mortos. Mas a disposição de sua viúva Suha e uma criteriosa investigação da TV Al-Jazeera levaram à descoberta do assassinato e a um pedido formal da Autoridade Nacional Palestina para que um comitê patrocinado pela ONU proceda o desdobramento da investigação feita por médicos suíços, que já levou à exumação do corpo do líder palestino.

Após nove meses, um trabalho meticuloso dos especialistas suíços e exame de roupas e objetos que Arafat usou nos dias que antecederam sua morte – roupa, escova de dente e até seu icônico kefiyeh que não tirava da cabeça – revelaram uma quantidade anormal de polonium, um elemento radioativo raro ao qual poucos países têm acesso, ou seja, apenas os do restrito clube atômico (…)”

Os títeres dos EUA na imprensa e os admiradores da potência hegemônica na sociedade civil tratam de ridicularizar a suspeita. Sobre o câncer que acometeu um homem forte e sadio como Chávez, que jamais adoecera gravemente em mais de cinquenta anos de vida, apegam-se a excessos retóricos e generalizações para desmoralizar a teoria.

Nesse aspecto, os casos de Lula e Dilma são emblemáticos. Ela contraiu câncer antes de se tornar presidente e Lula teve a doença justamente na parte do corpo que ele mais forçou ao longo da vida de líder sindical e político, a garganta, sendo sua voz rouca indicativa de que pode até ter nascido com algum problema nela que se agravou pelo esforço repetitivo. Além disso, Lula e Dilma são moderados e mantiveram e mantêm relações civilizadas com os EUA.

Todavia, se isolarmos os casos em que os EUA teriam interesse real em exterminar os que supostamente quem exterminou foi o câncer, não há como descartar uma hipótese como essa.

Em primeiro lugar, alguém seria tão cínico a ponto de afirmar que os americanos não exterminariam um líder político que os confrontasse? Só pode ser uma piada.

Alguém se lembra do soldado americano Bradley Manning, que entregou documentos secretos ao WikiLeaks, sobretudo o vídeo que ficou conhecido como “Collateral Murder” [Assassinato Colateral], em que se veem militares americanos num helicóptero assassinando civis desarmados, dos quais dois eram jornalistas da Agência Reuters, e ferindo duas crianças?

Chávez, não vamos nos esquecer, é o líder político que foi à tribuna da Assembleia Geral da ONU e, ali mesmo, declarou que o então presidente dos Estados Unidos, que acabara de precedê-lo, havia deixado, no local, cheiro de enxofre por ser a encarnação do diabo. E que vinha contrariando todos os interesses geopolíticos ianques, sobretudo no Oriente Médio.

Razões para matar Chávez não faltavam aos EUA. Se tivesse a tecnologia para instilar câncer em adversários, matando-os sem poder ser acusado de tê-lo feito, a potência certamente não hesitaria em usá-la.

Bem, se assim é então vou contar um segredinho a você, leitor: a tecnologia para causar câncer já existe, até porque não é tecnologia, mas um efeito físico advindo do contato humano com substâncias chamadas de cancerígenas.

Trocando em miúdos: basta bombardear o alvo por curto período com doses de intensidade controlada de radiação para ter quase certeza de que essa pessoa contrairá câncer. E o que é mais espantoso é que, aqui, não se faz revelação alguma, pois esse fato é conhecido por qualquer um.

Na mesma viagem aos Estados Unidos em que Chávez insultou o ex-presidente George Bush filho, por exemplo, equipamento colocado num quarto de hotel poderia bombardear o alvo por algumas horas com doses controladas de radiação e o efeito fatalmente poderia ser o câncer.

Dizer que uma potência que leva o homem ao espaço e que desenvolveu os drones, que lhe permitem matar populações inteiras à distância, não teria a tecnologia para induzir câncer em alguém, é piada. Tecnologia há. Motivação, no caso de Chávez, havia – e muita. Se isso de fato ocorreu, porém, é outra história.

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