terça-feira, agosto 21, 2012

Suécia admite extraditar Assange. E agora?

PAULO MOREIRA LEITE Se você ainda acredita que Julian Assange só quer escapar da denúncia de crime sexual quando alega que o governo sueco pode extraditá-lo para os Estados Unidos, saiba que as autoridades de Escolmo acabam de admitir que são capazes de fazer isso mesmo. Numa demonstração de que as cogitações sobre uma possível extradição já ultrapassaram as etapas preliminares, uma alta funcionária do governo sueco acaba de admitir que seu governo teria pelo menos uma m condição para aceitar o pedido de extradição: que Julian Assange não corra o risco de ser condenado à morte por revelar segredos de Estado. “Nunca entregaremos uma pessoa que estiver ameaçada de pena de morte,” afirmou Cecília Riddselius, vice-diretora de assuntos penais e cooperação internacional do Ministério da Justiça sueca. Muito humanitário. Brady Manning, o militar acusado de ser a fonte dos 500 000 documentos do Departamento de Estado divulgados pelo WikiLeaks, e que se encontra preso há 800 dias, não corre o risco de um processo de pena de morte. Acusado, formalmente, em fevereiro de 2012, a pena que pode enfrentar é de prisão perpétua. O essencial é que as alegações de Julian Assange se confirmam. Caso se apresente para responder a denúncia de crime sexual, corre o risco de ser extraditado pela acusação de espionagem. E aí eu me pergunto como ficam nossos paladinos da liberdade de imprensa, agora que ela não envolve revelações comprometedoras sobre governos adversários, mas sobre os amigos de Washington. Onde estão as entidades internacionais, as associações, os repórteres sem fronteira? Você não está ficando surdo com tanto silêncio? Eu estou. Qual a diferença essencial entre essas revelações e os papéis do Pentágono? Ou sobre o escândalo Watergate? A única diferença é que são revelações mais relevantes, mais amplas e, o que é um ponto a favor do WikiLeaks, foram liberdadas em bloco, na íntegra, sem passar por um filtro prévio, seletivo, tão comum nesses casos. É claro que se pode acusar Rafael Correa, presidente do Equador, de aproveitar a perseguição a Assange para fazer um lance de marketing, oferecendo-lhe asilo em seu país. Vamos combinar que é do jogo. Eu prefiro o marketing conduz a coisa certa do que a truculência de quem ameaça fazer a coisa errada. É o caso do governo britânico do conservador James Cameron, que cultivou o propósito de invadir a embaixada do Equador. No plano das realidades concretas, não é difícil concluir quem se mostrou mais civilizado, concorda?

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