sexta-feira, setembro 30, 2011

Horizonte do planejamento de aeroportos é 2041, afirma Dilma


Presidente discursou para empresários durante fórum em São Paulo. Segundo ela, aeroportos não são só para Copa, mas ‘para nós mesmos’.

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta (30), em São Paulo, em discurso para empresários no Exame Fórum 2011, da revista “Exame”, que o planejamento do governo para as concessões de aeroportos brasileiros tem como horizonte os anos de 2041 e 2031.

Segundo ela, o objetivo não é só assegurar aeroportos em condições de atender ao movimento que será gerado pela Copa do Mundo de 2014 e pelas Olimpíadas de 2016. “Não é sobretudo para isso que o governo federal e o setor privado têm que fazer aeroportos. Nós temos que fazer aeroportos para nós mesmos”, afirmou.

“Hoje, nós estamos fazendo em três aeroportos um planejamento para 2041. É no horizonte de 2041 que nós iremos fazer algumas das concessões dos aeroportos; outras até 2031″, declarou, sem entrar em detalhes quais seriam esses aeroportos.

Nesta sexta-feira (30), está prevista a divulgação da minuta dos editais de concessão dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos pela Secretaria de Aviação Civil.

Em um discurso de improviso, a presidente defendeu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a redução de custos para o investidor privado.

Afirmou também que o governo faz um esforço para obter os menores preços nas obras de infraestrutura e que a parceria entre os setores público e privado são um caminho para isso. “Nós precisamos buscar essa parceria público-privada porque é a forma de eficientizar e tornar mais baratoo custo dos investimentos”, disse.

Juros

Dilma disse ter a expectativa de que a taxa básica de juros da economia, a Selic, entre em um ciclo declinante em razão da “forma cautelosa” que o Banco Central, segundo ela, está operando.

“Nós esperamos iniciar um ciclo de redução da taxa básica. Obviamente isso só será possível dado as condições internas e externas [...]. Vai baixar, se for possível. Quanto mais a deflação ameaçar a economia mundial, produzindo queda dos preços, quanto mais a situação financeira ficar grave, desta vez nós vamos aproveitar uma parte, porque nós iremos levar as condições monetárias do nosso país a um nível que a conjuntura internacional permitir”, afirmou.

Crise internacional

Ela disse ter “a consciência” de que a crise internacional tem “forte poder de contágio”, mas, segundo afirmou, desta vez o Brasil está em “posição diferente” devido ao nível das reservas internacionais do país, “muito maiores que em 2008″.

“Sabemos que não somos uma ilha”, disse a presidente. Mas ressalvou que o governo tem os elementos para “construir as muralhas” que permitam que a economia brasileira seja menos atingida pela crise.

“A questão da crise e da oportunidade se coloca diante de nós. Vai haver redução grande da demanda por produtos. Nós sabemos que a instabilidade tem grande poder de contágio. Nós temos setor financeiro sólido e regulamentação adequada. Além isso, temos reservas muito maiores que em 2008. O Brasil está em situação muito diferente dos países desenvolvidos, que cada vez mais tem menos recursos fiscais. Mas não achamos que somos uma ilha isolada do mundo [...]. Nós estamos alertas.”

“Crise e oportunidade, na história internacional, sempre vieram casados - não oportunidade para aproveitar o sofrimento de ninguém, mas para construir e ocupar o lugar que nós merecemos”, completou.

Dilma ainda citou a perspectiva de um “vale-tudo” na economia mundial em relação ao que ela disse considerar um “descontrole” nos mercados financeiros de “vários países”.

“Nós não vamos temer o vale-tudo do processo de competição internacional nascido do fato de que os mercados financeiros estão completamente fora de controle em vários países e por isso espalha prejuízos e angústia para a maioria das nações”.

Reiterou que o país não defenderá a “proteção pela proteção”, citando a elevação de tributos sobre produtos importados, sobretudo a alta do IPI sobre automóveis, mas que quer “lutar pela competitividade” com investimentos internos e produção tecnológica. “Nós não vamos, para defender nossa competitividade, nem achatar salários, nem precarizar o mercado de trabalho ou manipular a taxa de câmbio”, disse.

Indústria naval

Ela defendeu a manutenção dos investimentos na indústria naval, que, segundo afirmou, “tinha desaparecido.

“Nós que temos essa bênção de possuir esse país rico, e termos encotnrado no pré-sal o nosso petróleo, nós temos que ter um compromisso com a garantia de que a nossa indústria se transformará em uma indústria naval com componente nacional significativo. [...] Nós puxamos a indústria naval pelos cabelos, porque ela tinha desaparecido”, afirmou.

Fonte: G1, Por Tai Nalon e Roney Domingos

Foto: Júlia Chequer/R7

Quem são os caloteiros?


Nos últimos oito anos, o montante de crédito concedido às pessoas físicas, com recursos livres, cresceu de forma expressiva, passando do equivalente a 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em janeiro de 2003 para 15,5% do PIB em julho de 2011.

Neste sentido, o Banco Central do Brasil (BC) realizou uma análise das características dos tomadores de empréstimos de quatro grandes bancos que, juntos, detinham 74% do mercado em julho de 2011. Entre as informações analisadas nos dados cadastrais, estão gênero, idade, estado de residência, tipo de ocupação e inadimplência.

Segundo o levantamento, em todas as regiões do Brasil clientes com a ocupação “profissional liberal” ocupam o desconfortável primeiro lugar na lista de inadimplentes. Na região Centro-Oeste, é onde há o pior indicador: 5,2% dos profissionais liberais estão com pagamentos de dívidas com atraso superior a 90 dias. Em seguida, estão as regiões Sudeste (5,1%), Sul (4,6%), Nordeste (4,5%) e, por último, os Estados do Norte (4,4%).

A segunda categoria com mais calotes é a dos empresários, cujas taxas de inadimplência oscilam entre a máxima de 4,3% no Centro-Oeste e a mínima de 3,7% no Sudeste. No restante do Brasil, a taxa de atrasos entre os empresários é de 4% no Nordeste e Norte e de 3,8% no Sul do Brasil.

Conforme a análise do BC, os empregados do setor privado são, proporcionalmente, mais caloteiros do que funcionários públicos. Em quatro das cinco regiões brasileiras, clientes que trabalham na iniciativa privada têm taxas de inadimplência maiores que os que estão no setor público. A única exceção é o Sul do Brasil, onde o quadro se inverte.

Na região Sudeste, enquanto a taxa de calote entre os devedores que trabalham no setor privado é de 3,3%, o porcentual entre os trabalhadores do serviço público é de 2,1%. No Nordeste, estão os servidores públicos que melhor pagam as dívidas no Brasil, com inadimplência de apenas 0,6%. Nessa mesma região, o indicador dos empregados privados está em 2,1%.

Entre os brasileiros que deixaram de trabalhar, os nordestinos são os melhores pagadores, com taxa de inadimplência de 0,8%. Os aposentados que estão no Centro-Oeste brasileiro, possuem uma taxa de 1,9% de inadimplência, e do Sudeste e Sul, ambos com índice de inadimplência de 2,3%.

Portanto, o BC desmistificou que pobre, aposentado, trabalhadores do serviço público e até mesmo sem emprego não pagam suas dívidas – e deu mais um argumento de que não vivemos uma bolha de crédito com riscos de inadimplência.

Paulo Daniel é Mestre em economia política pela PUC-SP, professor de economia e editor do Blog Além de economia.Publicado originalmente na CartaCapital

A CBN e o coronelismo eletrônico


De onde emana o poder político dos coronéis regionais? Em grande parte, do controle da mídia local. E esse poder deriva fundamentalmente da política de alianças com as redes nacionais de rádio e TV. Especialmente das Organizações Globo e da rede CBN.


Por Luis Nassif
Quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Não se discute o alto nível do radiojornalismo da CBN. Critica-se sua parcialidade. Mais que isso, os paradoxos entre seu discurso político e sua prática de alianças.

No discurso, seus analistas ignoram completamente as limitações do federalismo brasileiro, a política de alianças – que garante a governabilidade -, a necessidade de pragmatismo político. Dividem o Brasil entre o supostamente país moderno (dos quais ELES são porta-vozes) e o Brasil anacrônico, dos Sarneys e companhia. Aliás, é um contraponto salutar, para reduzir o poder de influência dos coronéis.

Mas hoje em dia a principal fonte de poder dos coronéis regionais é a rede Globo e a rede CBN de rádio.

De onde emana o poder político dos coronéis regionais? Em grande parte, do controle da mídia local. E esse poder deriva fundamentalmente da política de alianças com as redes nacionais de rádio e TV. Especialmente das Organizações Globo e da rede CBN.

No âmbito político, o chamado presidencialismo de coalisão é uma amarra fantástica: sem maioria, governos não governam. No caso das redes nacionais de comunicação, a definição dos sócios regionais é uma questão meramente econômica: seleciona-se o parceiro que dê melhor retorno econômico. Como a imprensa regional depende bastante das forças políticas locais, aceita-se o que tem de mais retrógrado por motivação financeira – não por governabilidade.

Ou seja, a Globo e seu braço CBN são polos centrais da força política de coronéis regionais. E, no âmbito nacional, praticam a crítica contra a força... dos coronéis regionais dos quais são associados.

É o que explica a Rede Globo ter como afiliados ACM, na Bahia, Sarney, no Maranhão, os Collor, em Alagoas – entre outros.

Volte-se, agora, ao caso CBN, especificamente a Manaus.

No momento, a CBN Manaus empreende uma campanha terrível contra uma cidadã, uma médica sem vinculações políticas – simpatizante de José Serra nas últimas eleições – que, nos confins do país, tenta exercer uma função cidadã denunciando os esbirros dos coronéis políticos locais.

Ela denunciou ações do prefeito de Manaus e passou a sofrer represálias terríveis, uma perseguição pessoal que afeta sua vida profissional e familiar – é mãe de uma recém-nascida. Indagada sobre a perseguição, a direção nacional da CBN respondeu que ela que se defendesse na Justiça. Mariza Tavares, bela jornalista, endossou a atuação de Ronaldo Tirandentes, representante do coronelismo eletrônico mais truculento e anacrônico.

A partir das pesquisas do nosso Stanley Burburinho, algumas informações sobre o braço da CBN Manaus, o empresário Ronaldo Tiradentes, com fortes ligações com o coronel local Amazonino Mendes.

Tiradentes já foi denunciado por compra do diploma de jornalista. O autor da denúncia é o jornalista Marcos Losekann no livro "O ronco da pororoca: histórias de um repórter na Amazônia". Detalhe: Losekann é correspondente da própria Globo em Londres (clique aqui). Tiradentes já admitiu publicamente a compra do diploma de segunda grau.

Mais: Tiradentes incumbiu a repórter Andréa Vieira da perseguição à médica Bianca Abidaner. A repórter foi nomeada Assessora Técnica da Prefeitura de Manaus pelo próprio Amazonino Mendes. No mesmo dia, Marcos Paz Tiradentes, irmão de Ronaldo, foi nomeado DAS-1 da Secretaria Municipal de LImpeza Pública, pelo mesmo Amazonino.

Aqui os dados sobre a assessora. Aqui o documento de sua nomeação para a assessoria da prefeitura. Aqui, a nomeação de Marcos Paz.

De que lado, afinal, está a CBN? Do suposto país moderno ou do que mais atrasado existe na política nacional?

Maria Inês: a UDN, os IPMs e o PiG(*). É o Golpe !


Do Conversa Afiada

Na foto, o PiG (*) de hoje. Não muda


O Conversa Afiada reproduz artigo de Maria Inês Nassif, na Carta Maior:

A UDN, os IPMs e a mídia brasileira

O “jornalismo de denúncia” que se tornou hegemônico na grande imprensa traz o componente de julgamento sumário dos IPMs pós-64 e o elemento propagandístico udenista do pré-64. Assume, ao mesmo tempo, as funções do julgamento e da condenação, partindo do princípio de que, se as instituições não funcionam, ele as substitui.

Maria Inês Nassif

Logo após o golpe militar de 1964, os “revolucionários”, inclusive os de ocasião, aproveitaram o momento de caça às bruxas para eliminar adversários. O primeiro ato institucional cuidava de tirar da arena política os que haviam cometido “crimes de opinião”, condenados no rito sumário de uma canetada, de acordo com os humores das autoridades de plantão.

Os Inquéritos Policiais Militares (IPMs) davam conta dos opositores que não podiam ser enquadrados na acusação de subversão: eram tribunais que, simultaneamente, investigavam e condenavam acusados de corrupção. Sem direito à defesa num caso e no outro, os políticos incômodos aos novos donos do poder saíam de cena, pelas listas de cassados publicadas pelo Diário Oficial, ao arbítrio dos militares, e pelos resultados de inquéritos aos quais não tinham acesso nem para saber por que estavam sendo cassados.

A bandeira da anticorrupção tomada pelos militares do braço civil da revolução, a velha UDN, que havia comovido as classes médias, foi consumada pelos IPMs. A presteza da exclusão de “políticos corruptos” [aqui entre aspas porque os processos não foram públicos e eles não tiveram direito à defesa] do cenário por esse mecanismo era um forte apelo às classes que apoiaram o golpe, ideologicamente impregnadas pelo discurso udenista anticorrupção que prevaleceu na oposição a João Goulart, antes dele a Juscelino Kubitschek, antes de ambos a Getúlio Vargas, na falta de uma proposta efetiva que permitisse a essa parcela da elite conquistar o poder pelo voto.

Era, no entanto, uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que satisfazia os anseios de moralização da política da classe média e das elites (o número de punições e a exposição pública dos supostos meliantes conta muito mais para o público conservador do que a justeza da condenação), era um instrumento de reacomodação das forças políticas civis que se dispunham a dar apoio ao poder militar. A delação – tanto política como moral – foi usada para redefinir a geografia do mando local, os grupos preferencialmente perfilados ao novo governo.

O fiscal de quarteirão não era um parceiro a ser desprezado pelo novo regime: foi uma peça importante na reacomodação de forças políticas e deu número, volume amplificado, às supostas apurações de denúncias de corrupção. Quanto maior o número de cassações por desvio de dinheiro público que saíssem no Diário Oficial, mais a imagem de moralização era imprimida ao poder militar, independentemente da culpa efetiva dos punidos. Os inocentes jamais tiveram chances de provar a sua inocência. Mesmo devolvidos à vida pública após 10 anos de cassação (essa era a punição), carregaram por toda a vida a pecha de “cassado por corrupção”.

Existiam os casos de políticos notoriamente corruptos, é lógico, mas após 10 anos de cassação eles voltaram à arena eleitoral dispostos a convencer os seus eleitores de que eles haviam sido injustiçados. Tinham mais capacidade para isso do que os punidos injustamente, até porque eram chefes de grupos políticos locais e nesses lugares a política de compadrio se misturava e se aproveitava da corrupção para manter votos em regiões de baixa escolaridade e muita fome.

É tênue a linha que separa o julgamento sumário – pelo Estado ou por instituições que assumem para si o papel de guardiães plenipotenciários da justiça e da verdade – da injustiça. O “jornalismo de denúncia” que se tornou hegemônico na grande imprensa traz o componente de julgamento sumário dos IPMs pós-64 e o elemento propagandístico udenista do pré-64. Assume, ao mesmo tempo, as funções do julgamento e da condenação, partindo do princípio de que, se as instituições não funcionam, ele as substitui. Da mesma forma que o IPM, a punição é a exposição pública. E, assim como os Estados de regimes autoritários, o direito de defesa é suprimido, apesar da formalidade de “ouvir o outro lado”?.

Este é um lado complicado da análise da mídia tradicional porque traz junto o componente moral. Antes de assumir o papel de polícia e juiz ao mesmo tempo, consolidou-se como porta-voz da moral udenista. Hoje, as duas coisas vêm juntas: o discurso de que a política é irremediavelmente corrupta e a posição de que, sem poder na política institucional, já que está na oposição, a mídia pode revestir-se de um poder paralelo e assumir funções punitivas. A discussão é delicada porque, não raro, quem se indispõe contra esse tipo de poder paralelo da imprensa é acusado de conivente com a corrupção, mesmo que a maioria das pessoas que ouve o argumento reconheça que o julgamento da mídia tradicional é ilegítimo, falho e tem um lado, isto é, não é imparcial.

O marketing da moralidade vende muito jornal e revista na classe média, mesmo quando os erros do julgamento sumário pelas páginas da imprensa sejam muitos e evidentes. O udenismo também tem o lado da propaganda política, de desqualificação do processo democrático – não está em questão o fato de que existem políticos corruptos, mas a ideia de que a política é, em si, corrupta.

Diante desse histórico da imprensa brasileira, a notícia da tal Folhaleaks é particulamente preocupante. Em vez de Wikileaks – uma organização não governamental que lida com informações vazadas de governos e as submete ao escrutínio da apuração de veículos para divulgação – é Folhaleaks: um canal aberto a denúncias anônimas, que podem envolver os mais diversos e obscuros interesses por parte de quem denuncia. O risco é que essa forma de captação da informação reinstitua a política da denúncia do fiscal de quarteirão, mas desta vez executada não pelo Estado, mas como demonstração do poder de fazer e desfazer reputações que se autodelegou a mídia.


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

quinta-feira, setembro 29, 2011

PT: sucesso eleitoral e transformações


Historiador discute sucesso eleitoral e transformações ideológicas do PT
Por Renato Godoy de Toledo, do Brasil de Fato

Livro traz a história do partido e debate mudanças internas na estrutura da legenda que pavimentaram as eleições de Lula e Dilma

O historiador Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP), registra em estilo ensaístico a história do Partido dos Trabalhadores. Ele é o primeiro intelectual brasileiro a se deparar com o desafio de contar a história da maior agremiação de esquerda do Brasil.

Em História do PT (Ateliê Editorial, 320 pág.), o autor aponta que o partido tem uma trajetória de sucesso eleitoral em comparação com partidos de esquerda europeus, que demoraram mais de 40 anos para chegar ao governo. No entanto, esse êxito eleitoral não foi alcançado sem profundas mudanças na estrutura partidária e no posicionamento ideológico da legenda. A composição do partido, aliás, organizado em tendências, é uma das novidades que o partido trouxe para a política brasileira e para a esquerda mundial.

Tal como o formato estatutário diferente, também é peculiar a origem dos militantes que compuseram o partido naquele momento em que o regime militar demonstrava sinais de esgotamento. Secco aponta seis principais grupos que formaram o partido: o Novo Sindicalismo, forjado nas greves do ABC; os movimentos sociais organizados junto à Igreja Católica; políticos já estabelecidos no MDB que viriam a aderir à legenda; intelectuais de esquerda; organizações trotskistas diversas; e, por fim, militantes oriundos da luta armada contra a ditadura.

Essa configuração de um modelo plural é fundamental, para Secco, na análise dos rumos que o partido trilhou. Confira abaixo entrevista com o historiador:

Brasil de Fato – A configuração atual do PT pode ser compreendida pela vitória da realpolitik implementada pelo Novo Sindicalismo sobre agrupamentos trotskistas e os intelectuais (que aos poucos até deixaram a legenda)?
Lincoln Secco – Alguns intelectuais e militantes históricos, mais “ideológicos”, deixaram o PT. Mas, curiosamente, muitos o fizeram por causa de uma exigência ética. Eu não afirmaria que o Novo Sindicalismo derrotou as correntes marxistas simplesmente. Houve o que os italianos chamavam de transformismo. Vários quadros das correntes pragmáticas vieram do marxismo e assumiram ministérios e governos estaduais enquanto a maioria das lideranças sindicais se apagou no passado ou se contentou com cargos de segundo escalão no governo Lula. Como explico no livro, muitos trabalhadores manuais deixaram de ascender por causa de sua origem social, embora tal explicação nos incomode. Lula, na verdade, é uma das exceções. Afinal, até onde foram os líderes metalúrgicos do ABC? O pragmatismo do sindicato pode ter vencido, mas ao custo de largar os sindicalistas pelo caminho e encontrar porta-vozes mais aceitáveis em intelectuais e sindicalistas de classe média.

Como se deu esse processo de “aggiornamento total” do partido que, em sua opinião, ocorreu em 2002? De que maneira este processo foi fundamental para o PT deixar de ser uma mera possibilidade para tornar-se uma alternativa concreta para governar o país?

Desde a derrota do Lula em 1989, começou uma operação delicada: por um lado, a moderação do discurso, as alianças e o programa. Mas isso tinha forte oposição interna no PT. A partir de 1995, começou uma centralização maior da vida interna. Eu acredito que algumas correntes foram se distanciando do PT já antes de 2002, porque se tornou difícil para a esquerda partidária sobreviver desde que o partido implantou o PED (Processo de Eleições Diretas). O PT trouxe para dentro de si um mecanismo eleitoral em que os mandatos dotados de mais recursos passaram a arregimentar eleitores na base. Por outro lado, um partido mais unificado se tornou confiável para chegar ao poder e era disso que Lula precisava. Mudanças no partido foram fundamentais para conduzir Lula à presidência

Você aponta que o PT, desde os primórdios, apresentava uma dependência, sobretudo financeira, dos poucos mandatos que tinha. Na sua opinião, quando – se de fato houve isso – o partido passou a se organizar mais em torno de mandatos do que de tendências?
Os parlamentares mais votados logo tentavam se impor. Tanto é assim que em 1993 a Direção Nacional tentou disciplinar os mandatos de deputados federais. Mas há um momento em que o PT se torna um partido de mandatos, embora as tendências continuem existindo. Esse processo acontece ao longo dos anos 1990. O caso de São Paulo é interessante. Na capital, a corrente majoritária rachou em vários pedaços. Cada um dominado por um “capa preta”, como se diz no jargão. Veja que na cidade de São Paulo a CNB (Construindo um Novo Brasil) não é majoritária hoje.

Desde o mote “partido sem patrão”, nos primórdios da legenda, o PT veio notabilizando-se mais, a partir dos anos 1990, por mandatos que combatiam exemplarmente a corrupção e prefeituras com “o modo petista de governar”. Em 2005, há a crise, que acarreta no que você chama de “fim de parte do simbolismo do partido”. Hoje, o que o diferencia dos demais?
Sem dúvida nenhuma, a sua história. O PT está totalmente integrado à ordem, mas por muito tempo ainda será um partido diferente. Olhe a composição social das bancadas do PT e dos demais partidos. O PT tem mais sindicalistas, mais gente de origem nas classes baixas. Olhe para o mapa eleitoral do Brasil em 2006 e 2010 e, se preferir, analise o mapa eleitoral da cidade de São Paulo desde 1988.

O PT nunca teve um único princípio como seu motivo de existência. Ele é simplesmente o partido que tem o apoio da classe trabalhadora, o que não significa dizer que sua política represente os interesses últimos dela. Aí é uma outra discussão, de natureza programática.

O direito a conformar tendências, presente já na fundação do partido, é apontado como uma das principais novidades da legenda e da esquerda mundial. Com o status de maior partido do Brasil, a configuração de um partido de tendências internas passou a ser apenas simbólica? Um exemplo atual disso seria a articulação que Lula (teoricamente membro do campo Construindo um Novo Brasil) faz para emplacar Fernando Haddad (do grupo Mensagem ao Partido) como candidato a prefeito de São Paulo…
As tendências continuam por aí. Mas hoje o PT é dominado por “campos”, em que a relação entre militantes é menos disciplinada, menos orgânica. Na verdade, o campo é uma frente de tendências. Mas é cedo para analisar o exemplo que você cita. Lula impôs o nome da Dilma porque os quadros dirigentes históricos do PT foram destruídos pelo escândalo do mensalão. Recentemente, ele tentou impor um presidente para o PT em substituição ao José Eduardo Dutra. Mas o PT preferiu Rui Falcão. Em São Paulo, pode ser que haja prévias, o que Lula nunca quis.

O cientista político André Singer afirma que a preferência da população pelo PT, conquistada ao longo dos anos, não foi revertida em apoio às causas de esquerda. E também aponta que cabe ao PT, como agremiação de esquerda, politizar a chamada nova classe média, que apresenta posições conservadoras. O senhor partilha dessa opinião?
A ampliação de uma nova classe trabalhadora remediada não se fez necessariamente acompanhar de valores políticos de esquerda. Eu concordo com isso. O governo Lula promoveu a integração de milhões de pessoas ao mercado de consumo. Além disso, a integração ao mercado de trabalho se deu em empregos de baixo salário e alta rotatividade. É inegável que o governo petista não representou uma mudança qualitativa no Estado Brasileiro, mas também é verdade que deu um salto quantitativo no atendimento às carências da população.

Como organizar uma base social não integrada à produção? Como criar formas organizadas para o lulismo? Tudo isso é difícil. Mas cabe lembrar que a relação do povo com Lula não é passiva. Os mais pobres conduziram Lula e não o contrário. Lula simplesmente lhes devolveu o apoio com conquistas sociais limitadas pelo horizonte da conciliação de classes porque no Brasil ninguém quer um confronto. É a nossa história desde a independência política, que foi uma negociação. Mas a história continua e pode chegar o momento em que o lulismo será um leito muito estreito para acomodar interesses tão contraditórios.

O papel da militância, inicialmente primordial para a formação do partido, foi perdendo espaço. A quais fatores você atribui essa constatação?
O PT não é mais um partido de militantes voluntários como era antes por várias razões que eu discuto no meu livro. Mas compare qualquer partido de esquerda hoje com o PT! O PT coloca em movimento milhares de filiados. O último processo preparatório de encontros de macrorregiões do estado de São Paulo mobilizou 10 mil militantes. E os delegados eleitos contrariaram a direção estadual no encontro realizado em Sumaré (SP). Claro que isso não é mais comum. O que eu quero dizer é que o problema não está só no PT, embora nele seja mais visível porque é um partido de massas. A pergunta que deve orientar a esquerda é: quem quer militar num partido hoje? Será que as mudanças oriundas da Terceira Revolução Industrial, que afetaram o cotidiano, não transformaram também a militância? Eu não tenho a resposta. Mas, ao mesmo tempo, as ruas e praças estão cheias na Espanha, Grécia e no Chile. E onde estão os partidos revolucionários?

quarta-feira, setembro 28, 2011

QUEM AMA PROTEGE


Carlos Lessa

Quero felicitar a senhora presidente da República por ter lançado em discussão a reinstalação da Contribuição Provisória sobre as Movimentações Financeiras (CPMF). A Constituição de 1988, ao criar o conceito de orçamento de seguridade social, manteve a base salários e a ampliou, potencialmente, com contribuições a serem instituídas sobre lucros e faturamento das empresas. O orçamento de seguridade englobaria os gastos previdenciários, de saúde e de assistência social, mas, de forma cruel, foi descaracterizada essa proposta dos constituintes.

As contribuições sociais, criadas como formas de tributação do governo federal, foram desviadas para a caixa única e o superávit primário a serviço dos pagamentos de juros. A área de saúde - pressionada pelo crescimento demográfico, pela elevação da idade média de vida e pela ansiedade popular por melhoria da qualidade dos serviços preventivos de saúde - foi beneficiada pela CPMF. Entretanto, o buraco negro dos juros atraiu para o caixa único e superávit primário os novos recursos tributários criados pela CPMF. O desvio da finalidade social foi a justificativa formal para a extinção da contribuição.

Quero confirmar as palavras da presidente. A CPMF tributa, com custo administrativo baixo, todas as transações financeiras e, ao fazê-lo, explicita todos os que realizam essas transações. Assim sendo, põe a nu laranjas, laranjinhas e laranjais, ou seja, identifica especuladores com transações financeiras. Houve um erro social em tributar a movimentação do salário; deveriam ser isentas as primeiras transações financeiras com os salários. Nesse caso, uma "CMF" seria extremamente justa, pois quem faz transações financeiras frequentes e crescentes são os grupos de média e alta renda; quem vive disso são os especuladores nacionais e estrangeiros viciados em juros e ganhos na arbitragem de papéis financeiros.

Lamentavelmente, a presidente teve que recuar. O povão não apoiou a CPMF porque está escaldado pelo desvio sistemático dos recursos, que deveriam alimentar as políticas sociais, para o pagamento de juros e vazamentos de corrupção.
No momento, a presidência da República está submetida ao bombardeio de forças conservadoras - ideologicamente contrárias à industrialização e sustentadoras dos interesses de importadores de veículos - que a acusam de reinstalar o protecionismo industrial. A mídia denuncia o protecionismo brasileiro como um "pecado"(?!), mas esquece que todas as atuais potências do mundo praticaram protecionismo.

Os EUA, maior potência mundial, foram intensamente protecionistas de sua industrialização, e ainda hoje praticam, de forma mais evidente, a proteção de sua produção agrícola e "subsidiam" o avanço científico e tecnológico derivado do maior orçamento militar do planeta, indo da ruptura diplomática à guerra aberta para proteger seus interesses. A China, como potência emergente, pratica, de forma disfarçada, um protecionismo ultraeficiente. As grandes nações europeias e o Japão também praticaram protecionismo durante décadas de suas histórias industriais e protegem de forma explícita suas atividades agrícolas. O discurso contra o protecionismo é o discurso das nações industrializadas e dominantes.

O Brasil cresceu sua economia sem parar, entre 1930 e 1980. Éramos basicamente um cafezal e construímos um sistema industrial bastante sofisticado. Após, com a década perdida, seguida dos anos FHC e Lula, tivemos um crescimento industrial medíocre - e setores e cadeias produtivas foram destruídos. Entre 2002 e 2010, foi medíocre o crescimento da indústria de transformação, comparado à evolução da agropecuária e da mineração. O professor Reinaldo Gonçalves chama a atenção para o processo de "desindustrialização", mediante a substituição negativa de produção interna por importações. É dramática a opção brasileira de ser um "celeiro do mundo" sendo um país onde ampla fração da população passa fome. É dramática a migração de força de trabalho brasileira para o exterior, agora estancada pela crise mundial.

É uma salada o conceito de Bric. Pode servir apenas para massagear o nosso "ego" com uma retórica inconsistente de sucesso. Além da extensão territorial e da população, temos características radicalmente distintas da Rússia, da Índia e da China. Nosso minério de ferro serve para os chineses deslocarem, com seu aço, o produto brasileiro do Mercosul. É terrível, em longo prazo, a situação social da Índia. A Rússia sobrevive com petróleo e gás, e tenta integrar-se à Europa faminta de energia. Nós temos o melhor balanço energético do mundo e um enorme potencial hidrelétrico e petrolífero, porém não sabemos utilizá-lo estrategicamente; não temos um modelo de desenvolvimento.

O pátio das montadoras acumula quase 400 mil veículos. É o maior número, desde 2008. As vendas de importados cresceram 28,6% em agosto, em relação ao ano passado, contra a queda de 0,7% de veículos novos produzidos no Brasil. A maioria provém da Argentina e do México (o Brasil isenta esses veículos da tarifa de 35%; o Fiat 500 oriundo do México custa bem menos que o importado da Polônia). O complexo metal-mecânico é, hoje, uma caricatura do sonho industrializante de Juscelino Kubitschek, que queria a indústria de autopeças e componentes. A medida da Presidência determina um mínimo de 65% de componentes produzidos no Brasil, ainda que abrindo mão da exigência de empresas sob controle de capital nacional. Sugeriria um compromisso progressivo até 90%, pois, sendo uma pretensão da Presidência o desenvolvimento científico e tecnológico, convém alertar que o motor e os componentes mais sofisticados (com informática agregada) serão importados.
O modesto e tímido passo para reservar o mercado brasileiro para a mão de obra nacional está sendo demonizado. Espero que a presidência não recue: mantenha (e amplie) o protecionismo para o conjunto de outras atividades industriais brasileiras ameaçadas.

(Valor - Carlos Lessa professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ)

Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva


Discurso de Luiz Inácio Lula da Silva - Doutor Honoris Causa – Sciences Po - Paris, França - 27 de setembro de 2011

Minhas amigas e meus amigos,


É uma grande honra, para mim, receber o título de Doutor Honoris Causa do Instituto de Ciências Políticas de Paris. Honra que se torna ainda maior por eu ser o primeiro latino-americano a recebê-lo.


Estou profundamente grato à direção da Sciences Po e a todos os seus professores, funcionários e alunos por me conferirem uma láurea tão prestigiosa.


Esta casa, a um só tempo humanística e científica, é reconhecida e admirada no mundo todo por seus elevados propósitos e pela excelência do seu corpo docente e discente.


É uma instituição que representa de modo exemplar o compromisso da França com a liberdade intelectual, a dignidade da política e o aperfeiçoamento permanente da democracia.


Representa essa França consciente de suas conquistas materiais e espirituais, ciosa de seus valores civilizatórios, mas nem por isso menos aberta a povos e mentalidades diferentes, à compreensão do outro.


Essa França insubmissa e libertária que, durante séculos, inspirou – e continua, de alguma forma, inspirando – a trajetória de muitos países, entre eles o Brasil.


Essa França que, desde o século 18 até os dias atuais, é tão relevante para o Brasil, seja no terreno das ideias políticas e sociais, seja na esfera da educação e da cultura, seja no que se refere às parcerias produtivas e tecnológicas.


Minhas amigas e meus amigos,


Mais do que um reconhecimento pessoal, acredito que este título de Doutor Honoris Causa é uma homenagem ao povo brasileiro que nos últimos anos vem realizando, de modo pacífico e democrático, uma verdadeira revolução econômica e social, dando um enorme salto histórico rumo à prosperidade e à justiça. Depois de prolongada estagnação, o Brasil voltou a crescer de modo vigoroso e continuado, gerando empregos, distribuindo renda e promovendo inclusão social.


Deixamos para trás um passado de frustrações e ceticismo. Os brasileiros e as brasileiras voltaram a acreditar em si mesmos e na sua capacidade de resolver problemas e superar obstáculos, por mais difíceis que sejam.


Graças a um novo projeto de desenvolvimento nacional, com forte envolvimento da sociedade e intensa participação popular, conseguimos tirar 28 milhões de pessoas da miséria e levamos 39 milhões de pessoas para a classe média, no maior processo de mobilidade social da nossa história.


Em oito anos e meio foram criados 16 milhões de novos empregos formais. O salário mínimo teve um aumento real de 62%, e todas as categorias de trabalhadores fizeram acordos salariais com ganhos acima da inflação.


Além disso, implantamos vários programas de transferência direta de renda, dos quais se destaca o Bolsa Família, que é o principal instrumento do Fome Zero e, no final do ano passado, beneficiava 52 milhões de pessoas.


Dessa forma, a desigualdade entre os brasileiros atingiu o menor patamar em 50 anos. Nos últimos dez anos, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou 10%, enquanto a dos 50% brasileiros mais pobres teve um ganho real de 68%.


O consumo se ampliou em todas as classes, mas no segmento popular cresceu sete vezes.


Os pobres passaram a ser tratados como cidadãos. Governamos para todos os brasileiros e não apenas para um terço da população, como habitualmente acontecia.


Acreditamos firmemente que o desenvolvimento econômico precisa estar a serviço da redução das desigualdades sociais, sem paternalismo, promovendo a inclusão das pessoas mais pobres à plena cidadania.


Acreditamos, igualmente, que isso pode, deve e será feito sem que se descuide do equilíbrio macroeconômico, combatendo com firmeza a inflação.


Minhas amigas e meus amigos,


Ao mesmo tempo em que resgatávamos grande parte de nossa dívida social, trabalhamos para modernizar o país, preparando-o para os desafios produtivos e tecnológicos do século 21.


Investimos fortemente em educação, pesquisa e desenvolvimento. Orgulho-me de ter criado 14 novas universidades federais e 126 extensões universitárias, democratizando e interiorizando o acesso ao ensino público.


Também lançamos o Reuni, um programa para fortalecer o ensino público universitário, com a valorização dos docentes.


Ele contribuiu para que dobrássemos o número de matrículas nas instituições federais.


Mas não ficamos restritos a isso e instituímos o Prouni, um sistema inovador de bolsas de estudo em universidades particulares. Com ele, garantimos que 912 mil jovens de baixa renda pudessem cursar o ensino superior.


E a oportunidade não foi desperdiçada: os jovens com bolsas do Prouni têm-se destacado em todas as áreas, liderando em muitos casos os exames nacionais de avaliação feitos pelo Ministério da Educação. Ou seja, bastou uma chance e a juventude brasileira deu firme resposta ao mito elitista segundo o qual a qualidade é incompatível com a ampliação das oportunidades.


Também me orgulho muito de termos inaugurado 214 novas escolas técnicas federais, que criaram possibilidades inéditas de formação profissional para a juventude.


A boa qualidade do ensino na rede de escolas técnicas federais também abre as portas para as universidades, mesmo para quem trabalha durante o dia inteiro, porque durante o meu governo aumentamos o número de vagas nos cursos universitários noturnos.


Esses jovens têm que continuar sonhando, têm que lutar para conquistar o doutoramento, para trabalhar nos diversos centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico que existem no Brasil.


Deixamos de considerar a educação como um gasto para tratá-la como investimento que muda a vida das pessoas e do país. Por isso, em meus dois mandatos, triplicamos o orçamento do Ministério da Educação, que saltou de 17 bilhões de reais para 65 bilhões de reais em 2010.


Essas mudanças eram imprescindíveis, pois a garantia de acesso à educação de qualidade, da pré-escola aos cursos de pós-graduação, é um dos principais instrumentos para promover a igualdade social, combater a pobreza e assegurar um desenvolvimento econômico, científico e tecnológico sustentável em longo prazo.


A educação foi colocada como prioridade estratégica para o país. O investimento público direto em educação passou de 3,9% do Produto Interno Bruto em 2000 para 5% em 2009. E, agora, a presidenta Dilma Rousseff assumiu o compromisso de ampliar o investimento em educação progressivamente até atingir 7% do Produto Interno Bruto.


Minhas amigas e meus amigos,


O Brasil já tem muito a mostrar no segmento de pesquisa e desenvolvimento. A Lei da Inovação, aprovada em dezembro de 2004, incentivou as universidades a compartilhar seus projetos de pesquisa e desenvolvimento com as empresas públicas e privadas, para alavancar a inovação tecnológica no ambiente produtivo.


O número de cientistas envolvidos em pesquisa e desenvolvimento passou de 126 mil em 2000 para 211 mil em 2008. E o número de patentes depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) cresceu de 21 mil em 2000 para 280 mil em 2009.


Além disso, o governo federal destinou 41 bilhões de reais ao setor de pesquisa e inovação no período de 2007 a 2010, através do Programa de Aceleração do Crescimento.


Minhas amigas e meus amigos,


Uma das preocupações do meu governo – e que continua a ser um firme compromisso da presidenta Dilma – foi garantir que o crescimento econômico e os investimentos estruturantes fossem sustentáveis do ponto de vista ambiental.


Nos últimos anos, o Brasil superou a falsa contradição que opunha o desenvolvimento à sustentabilidade ambiental. Nesse período, a taxa de desmatamento caiu 75%.


Em nosso governo, fixamos como meta reduzir as emissões de CO2 entre 36% e 39% até 2020. Esse compromisso foi incorporado à Política Nacional de Mudanças Climáticas, apresentada em Copenhague, em dezembro de 2009, e posteriormente transformada em lei pelo Congresso Nacional.


O Brasil é uma referência no enfrentamento dos desafios ambientais do século 21, pois é responsável por 74% das unidades de conservação criadas no mundo desde 2003. Também alcançamos recentemente o menor nível de desmatamento dos últimos 22 anos.


Minhas amigas e meus amigos, os avanços que conquistamos nos últimos anos foram possíveis porque praticamos intensamente a democracia. Não nos limitamos a respeitá-la – o que é um dever –, mas levamos suas possibilidades ao limite, promovendo um amplo processo de participação social na definição das políticas públicas.


Estabelecemos uma nova relação do Estado com a sociedade, na qual todos os setores sociais foram ouvidos, mobilizados, e puderam discutir não somente com o governo, mas também entre eles próprios. Multiplicaram-se os canais de interlocução da sociedade com o Estado, o que contribuiu de modo decisivo para que crescimento econômico e desenvolvimento social caminhassem juntos.


Para tanto, realizamos 74 conferências nacionais entre 2003 e 2010, precedidas por reuniões em níveis municipal e estadual, que contaram com a presença de cerca de 5 milhões de pessoas.


Discutimos e aprofundamos nessas conferências temas importantes: do meio ambiente à segurança pública; dos transportes à diversidade sexual; dos direitos dos indígenas às políticas de telecomunicações; da igualdade racial à política nacional de saúde, dentre muitos outros.


Conselhos de políticas públicas, com ampla representação popular, foram criados junto a todos os ministérios.


Em outras palavras, apostamos decididamente na política. Porque sempre acreditamos na força da política como promotora da emancipação individual e coletiva.


A participação política é o melhor antídoto contra a alienação e as tentações autoritárias.


Eu próprio sou produto da política. A luta sindical me deu a convicção de que era necessário incorporar os trabalhadores às decisões políticas.


Foi por isso que, em 1980, criamos o Partido dos Trabalhadores, que em menos de 20 anos tornou-se o maior partido de esquerda da América Latina e chegou à Presidência da República. Também construímos a maior a central sindical da América Latina, a Confederação Única dos Trabalhadores.


Tenho a plena convicção de que os problemas da sociedade só podem ser resolvidos com mais democracia e mais envolvimento da sociedade no exercício do poder.


Minhas amigas e meus amigos,


O Brasil não está sozinho nessa trajetória virtuosa, que reuniu democracia, desenvolvimento econômico e justiça social.


A esperança progressista do mundo, hoje, navega no vento que sopra do Sul.


A América do Sul não é mais o estuário dos problemas do mundo, e sim a mais promissora fronteira da luta pela justiça social em nosso tempo.


Sem os países em desenvolvimento, não será possível abrir um novo ciclo de expansão que combine crescimento, combate à fome e à pobreza, redução das desigualdades sociais e preservação ambiental.


No momento em que se está constituindo um mundo multipolar, a América do Sul afirma a sua presença no plano internacional, renovando a confiança em si e na capacidade de seus povos de construir um destino comum de democracia e crescimento econômico com inclusão social.


Vivemos numa região de paz. Não há ódio religioso entre nós. Os governantes de todos os nossos países foram eleitos em pleitos democráticos e com ampla participação popular. A democracia é o nosso idioma comum.


Minhas amigas e meus amigos,


Avançamos muito no Brasil nos últimos anos. Ampliamos a inclusão social e a democracia se fortalece cada vez mais. Elegemos, pela primeira vez na nossa história, uma mulher para a Presidência da República.


Fizemos muito, mas ainda há muito por ser feito. E o governo da presidenta Dilma Rousseff assume esta responsabilidade.


Lançou o programa Brasil sem Miséria para erradicar totalmente a extrema pobreza.


Fortaleceu a área da educação, ao ampliar o programa e ensino técnico e aumentar o número de bolsas de estudos no exterior.


O lançamento de uma nova política industrial, com o programa Brasil Maior, fortalecerá a inovação e a competitividade.


Por último, quero enfatizar que o conhecimento e a informação são cada vez mais importantes para o aprimoramento espiritual da Humanidade e também para viabilizar o progresso econômico e o bem-estar dos povos.


O governante que não enxerga isso, não está preparado para governar uma Nação. Governante que não sonha não transmite esperança. Agradeço novamente à Science Po por ter sido agraciado o título de Doutor Honoris Causa e estou honrado por fazer parte do seleto grupo de pessoas que mereceram esta honra.


Muito obrigado.

COMENTÁRIO E & P

me sinto agraciado com esse prêmio e orgulhoso de ser brasileiro. Estamos construindo um novo Brasil, uma nova elite está renascendo para trilhar o país no caminho do desenvolvimento social e econômico. Agora só falta o Nobel da paz para o Lula. Apesar de que esse prêmio é mais difícil do que o Nobel, pois só 16 pessoas o conquistaram em 140 anos.

GLOBO DERROTA LULA



Raul Longo


Todo mundo sabe que a primeira vitória da Globo sobre Lula se deu em 1989, quando a emissora elegeu “O Caçador de Marajás”. Então a Globo ganhou e o Brasil perdeu, tal qual se confirmou 2 anos depois.


Dr. Roberto Marinho explicou à uma reportagem da BBC que ele elegeu Fernando Collor de Melo quando quis e o tirou quando quis. Qualquer semelhança com os grandes chefes da Máfia e outras entidades do crime organizado internacional, não é mera coincidência. Apenas questão de estilo.


E mantendo seu estilo e padrão – o então consagrado Padrão Global – em 1994 a Globo mais uma vez derrotou Lula, conquistando a Presidência da República através de outro Fernando. O Henrique Cardoso. Daquela vez o Brasil parou a inflação.


Inflação que a própria Globo criou em seus governos anteriores quando, através dos militares, construiu a maior hidroelétrica do mundo para as multinacionais não terem problemas de fornecimento de energia, paga pelo brasileiro através da escalada das tarifas da prestação do serviço. Depois de Itaipú, a Ponte Rio Niterói e a Transamazônica as mais portentosas obras das 2 décadas de ditadura e uns quantos mortos, desaparecidos e mutilados pelas torturas.


Seria ingratidão não lembrar que teve também uns km de Metrô no Rio e em São Paulo que ainda é considerada como a mais desassistida por este serviço entre as grandes capitais do mundo. Pois com essas e algumas outras, os governos da Globo durante e pós ditadura militar promoveram uma das maiores inflações do planeta.


Mas é como no dizer do Dr. Roberto: o que a Globo põe a Globo tira. Ou para. E parou a inflação para derrotar Lula pela segunda vez.


Parou a inflação e o país todo. Só não parou o índice de desemprego. Esse não parava de subir.


Mas as máquinas pararam, os salários pararam, a infraestrutura parou. Parou tudo!


Só que, então, o que importava é que a inflação parasse e assim a Globo pode derrotar Lula pela 3ª vez, novamente com o mesmo Fernando, o Henrique Cardoso.


No 1º Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil perdeu. No 2ª Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil parou. E no 3º Fernando com que a Globo ganhou do Lula, o Brasil parou e perdeu ao mesmo tempo.


A praga é dos Fernandos ou da Globo?


Mas é preciso retocar, porque parar, na verdade a partir de 98 o país não parou. Para parar precisaria estar em movimento. Como já vinha quase parando em anteriores governos da Globo e estancou de vez no 2º Fernando, não é que parou. Apenas continuou parado.


Agora, perder perdeu muito! Nunca, em nenhum dos tantos governos da Globo, desde lá o início da ditadura militar, o Brasil perdeu tanto! E olha que nos governos da Globo, o Brasil foi das nações que mais perdeu pros especuladores internacionais em todo o planeta. Mas na fase FHC da governança da Globo, o país perdeu até as calças!


E não é força de expressão, não! Pra fazer ideia é só lembrar que o chanceler (o mais alto representante de uma nação junto às demais) Celso Lafer teve de se submeter à revista no aeroporto internacional de Nova Iorque e o mandaram tirar os sapatos. E tirou!


Meu! Quando um chanceler de um país tem de tirar sapato para pisar num aeroporto tão internacional quanto o de Nova Iorque, cidade sede da Organização das Nações Unidas; é porque o país está mais sem dono do que fiofó-de-bêbado! Depois dessa não tinha mais o que o Brasil perder.


Pra quem não tem mais o que perder, só resta ganhar, não é mesmo? Pois foi só então, em 2002, que Lula ganhou da Globo. E aí o Brasil ganhou o resgate da dignidade e da imagem internacional.


Começou a ganhar no dia em que o novo Chanceler, o Celso Amorim, bateu o pé e não tirou o sapato. Os americanos ficaram muito brabos e pra se vingar criaram mil empecilhos para todos os brasileiros que passavam por aquele país. Aí não teve dúvida, criou-se empecilho para os cidadãos norte-americanos em nossos aeroportos também. E desde então o Brasil começou a ganhar respeito no mundo.


A Globo não gostou nada disso! Reclamou, esbravejou, rugiu, runhiu e reuniu a cambada toda e se não vai por bem vai por mal. Tentou derrotar Lula a 4ª vez, com o impeachment pelo mensalão do Roberto Jefferson.


Lula peitou, foram pro braço de ferro. De um lado os Marinho e todas as demais famiglias reunidas num esforço de execução e extermínio (racial, segundo Jorge Bornhausen) de fazer inveja a qualquer alcapone. Do outro, um pernambucano, ex-pau de arara, ex engraxate, ex torneiro mecânico, ex líder sindical e, enfim, Presidente do Brasil inteiro.


Pois não é que o cabeça-chata ganhou? Ganhou gente! A Globo pôs general, pôs sócio em transmissão de imagens de TV, pôs playboy, pôs poliglota; e não conseguiu tirar o Lula, perdendo pela segunda vez!


Mas como essa foi uma derrota extra, não oficial, nem vamos contar. Faz de conta que não teve! Até porque o próprio Roberto Jefferson já confessou pro STF que aquela história de mensalão era tudo mentirinha. E já que o impeachment não deu certo, não tem mais sentido ficar discutindo mentira que o próprio mentiroso desmentiu. Vamos ser humanos, compreensivos e nada de tripudiar sobre a Globo.


Inclusive porque até ali, à mentira do mensalão, o Brasil também já tinha ganho um monte com o pagamento da dívida externa. Aliás, só o Brasil não, também os netos de todos os brasileiros que, segundo diziam, já nasceriam devendo. Muita gente não queria nem ter filho para evitar ser avô de caloteiro internacional. Hoje, com a derrota da Globo pro Lula, desse risco já não se corre mais.


No entanto, nem por isso o padrão Global mudou e continuou no mesmo estilo, só que ainda assim em 2006 a Globo perdeu pro Lula outra vez.


E o Brasil ganhou aumento de salário, de oportunidades de emprego, vagas em universidades, abertura política, plena liberdade real de expressão, diminuição de injustiça e de miséria. Virou país importante de economia forte. Saiu dos índices das calamidades e descalabros sociais e entrou no meio das lideranças regionais, hemisféricas e até globais.


Se há aí algum exagero, não é meu, mas sim do Conselho de Davos, na Suíça, que é dos mais, se não o mais conceituado do mundo capitalista. Pois foram eles que deram ao Lula o título de Estadista Global.


Nunca houve disso, nem nunca vi nada igual. Presidente do Brasil quando era chamado no exterior era pra prestar contas de dívidas. Todos os presidentes dos governos da Globo que viajaram para o exterior ou iam pra tomar empréstimo ou pra pedir prorrogação de pagamento. De repente o mundo se bota contra a Globo e chama o Lula pra Doutor honoris disso, Estadista daquilo, Líder de não sei o quê.


Claro que isso foi irritando, dando nervoso, deixando o Merval Pereira, o Arnaldo Jabor, as Meninas do Jô, a Miriam Leitão, o Sardemberg, o hipotético Ali Kamel e muitos outros da Globo e demais famiglias numa situação de péssimo hálito. Principalmente depois da 4ª derrota para Lula, ou melhor: 3ª, se tirar a do mensalão desmentido pelo mentiroso, embora ainda mantido pela Globo e demais mentirosos que nem sendo desmentidos trocam de calças. Fiéis escoteiros, continuam preferindo as curtas.


Mesmo sempre alertas e com bolinha-de-papel e tudo, continuaram perdendo pro Lula em 2010 e o Brasil ganhou a Dilma Rousseff.


Pois hoje tomou. Quem assistiu o Jornal Nacional viu que hoje a Globo tomou uma atitude inequívoca! Enfrentou Lula e ganhou mais uma vez.


Ninguém mais consegue dormir sossegado e a expectativa é de que os Marinho tomem alguma atitude.


Pois tomaram. E bem no dia em que o Lula recebeu uma das mais importantes e raras honrarias do mundo. Pra ter ideia, essa honraria é concedida à mais de um século, mas só 15 personalidades internacionais a mereceram antes do Lula.


Então vejam que não é pouca coisa, não! Mas a Globo peitou, foi lá e deu uma nota rápida dizendo que Lula é o primeiro latino americano a receber o título de Doutor Honoris Causa da Sciences Po de Paris. E pronto! Matou o assunto.


Matou o assunto e já chamou pro grande prêmio que a Globo recebeu pela ocupação do Complexo do Alemão. A chamada criou a expectativa pro próximo bloco e o próximo bloco, inteiro, do noticiário da Globo, foi sobre qual notícia?


A Globo!


Sim! A Globo foi a grande notícia da Globo! Discorreu sobre todos seus prêmios como melhor TV do mundo das TVs, mas no centro da questão de tamanha relevância, a maior obra da Globo nos últimos tempos: a ocupação do Complexo do Alemão.


Quem até hoje pensava que aquela ocupação foi obra do governo do estado do Rio de Janeiro, ou de ação conjunta entre Exército e Polícia com apoio da população do Complexo, hoje viu que não é nada disso. Foi a Globo! A Globo quem ocupou o Complexo do Alemão para vingar a morte de seu primeiro combatente caído nessa guerra. Para vingar o Tim Lopes, a Globo foi lá e fez o que fez e isso de UPP não quer dizer nada, porque o certo mesmo é OG – Organizações Globo.


Agora, se você é um desses que não suporta ver a Globo sair vitoriosa e está mais preocupado com coisas supérfluas, premiozinhos de obá-obá pra promover jogadas de marketing, merchandising, show bussines, coisa e loisa; então deixo aí os agradecimentos do Presidente ao título de Doutro Honoris Causa da tal Sciences Po.

COMENTÁRIO E & P
Foi ridículo a pergunta da jornalista da Globo porque FHC não ganhou o prêmio. Traduzindo a resposta do diretor da escola francesa é porque ele não o mereceu.Aliás, esses jornalistas alugam o corpo do pescoço para cima e fazem papel de bobos no mundo. Acho que o diretor da escola deve ter pensado "de onde saiu esse bando de idiotas"? sobre os jornalistas brasileiros escalados para cobrir o prêmio. O Brasil tem sido muito condescendente com esse tipo de preconceito social. Fica aqui meu repúdio contra esses que são pagos para defender a ideologia uma visão de mundo conservadora e reacionária. O prêmio do Lula engrandece o povo brasileiro. Também fiquei muito agradecido ao jornalista argentino do Página 12 que ficou enojado da atitude covarde dos jornalistas brasileiros na França! Quanto a Globo é a porcaria que conhecemos desde 1964. Lamentável usar uma concessão pública, as ondas eletromagnéticas pertencem a todos nós, para desinformar o povo brasileiro.

terça-feira, setembro 27, 2011

A guinada na política econômica

Amir Khair

política financista que atrelou o País a níveis de crescimento aquém do potencial que possui. O fantasma da inflação sempre preponderou como ameaça a qualquer tentativa de acelerar o crescimento econômico. Isso chegou ao fim. A decisão do governo poderá demonstrar que é possível crescer e controlar a inflação.

O empurrão decisivo para essa guinada na política econômica foi dado pela recidiva da crise internacional, que já afeta todas as economias, reduzindo as perspectivas de crescimento, gerando pânicos nas bolsas e apreensão quanto ao seu desdobramento.

O FMI divulgou dia 20, no seu Panorama da Economia Mundial, a redução de 4,5% para 4,0% para a estimativa de crescimento da economia mundial neste ano, devido às crises nos Estados Unidos e na União Europeia. Estima que as economias avançadas cresçam apenas 1,6% e a mundial não terá desempenho pior em 2011 graças aos mercados emergentes, cuja atividade deve crescer 6,4%.

No caso do Brasil o fundo reduziu a previsão de crescimento de 4,1% neste ano para 3,8%. Esse nível está descolado do grupo dos países emergentes e abaixo do crescimento mundial, o que confirma o acerto da decisão do governo em ativar a economia. A recidiva da crise reforça a necessidade de pisar no acelerador para escapar da recessão. É bom lembrar que, apesar de todas as ações de estímulo feitas pelo governo, a crise de 2008 derrubou a economia em 0,6%.

A decisão do Banco Central (BC) de iniciar o processo de redução da Selic conjugado com a garantia de cumprimento de metas fiscais marca o salutar início desse processo, que acabou de receber o apoio do FMI neste Panorama.

Segundo a avaliação do fundo, a inflação brasileira deve chegar a 6,3% em dezembro, a média para 2012 é 5,2% e as pressões continuarão cedendo até o fim do ano.

É um desafio extraordinário para o governo efetuar essa inflexão na política econômica. Está fazendo o que não foi feito em governos anteriores e, terá que enfrentar a reação do mercado financeiro acostumado ao ganho fácil nos juros dos títulos do governo bombados pela Selic nas nuvens e nas taxas de juros de agiota cobradas aos consumidores e empresas que não conseguem acessar as fontes do BNDES.

Felizmente as análises que atribuem à Selic o controle da inflação não resistiram aos fatos. A inflação deve ser controlada por um conjunto mais amplo de políticas, que passam por questões fiscais, cambiais e taxas de juros aos tomadores de empréstimos, que constituem o que se pode classificar como taxa de juros da economia e que não guarda relação alguma com a Selic.

Ao enfrentar o processo de redução da Selic o País sairá ganhando em várias frentes. Em primeiro lugar na questão da sua imagem internacional ao deixar a vexaminosa posição de longa data de líder da mais alta taxa básica de juros.

Na esfera fiscal irá aliviar o peso da conta de juros, que consome 6% do PIB, e o custo de carregamento das reservas internacionais que, pelos dados do balanço do BC só neste primeiro semestre, atingiu R$ 46,2 bilhões! Neste ano poderá ultrapassar R$ 100 bilhões, que supera todo o esforço do governo federal em alcançar o superávit (exclusive juros) de R$ 91,8 bilhões.

Na questão cambial o País deixará de ser o preferido da especulação externa, em ambiente de elevada liquidez internacional e de juros negativos nas economias desenvolvidas. Essa especulação tem o efeito de uma bomba de sucção, que retira recursos do governo e da sociedade para fora do País.

O tripé: superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação (leia-se Selic), tão louvado nas avaliações conservadoras, cede lugar a uma nova versão: equilíbrio fiscal (que incorpora juros), câmbio administrado, para enfrentar a guerra cambial, e meta de inflação apoiada em políticas integradas de governo. Constitui um avanço sobre a política paralisante da ameaça permanente da inflação.

Ao dar esse passo decisivo o governo está sendo duramente criticado pelo mercado financeiro, que procura desacreditar o objetivo de alcançar as metas fiscais deste e dos próximos anos, de não conseguir controlar a inflação, de subserviência política do BC ao governo, etc.

Na minha avaliação, o governo tem todas as condições de conquistar excelente resultado fiscal, caso mantenha a economia em crescimento, que será facilitada com o novo salário mínimo. Terá maior arrecadação (devido à atividade econômica e menor inadimplência), redução nas despesas com juros e no custo de carregamento das reservas internacionais.

Não é de estranhar, no entanto, a reação do mercado financeiro. Apostou suas fichas na tese do crescimento da inflação no País, o que faria com que o BC não reduziria a Selic, para conter a demanda.

Essa análise peca, pois a Selic não controla a demanda. O que pode influenciá-la são as taxas de juros bancárias, que estão descoladas da Selic. Essas são dependentes das medidas macroprudenciais como ficou provado a partir da implementação delas ao final de 2010, seguindo decisão do Conselho Monetário Nacional.

Vale destacar sobre taxas de juros, o que ocorre na China. Lá a taxa básica de juros equivalente à Selic é de 3% e a cobrada pelos bancos ao consumo de 6%. Quando é alterada a taxa básica, repercute na taxa ao consumidor, pois a relação entre elas é próxima. Assim, a taxa básica tem eficácia no controle da demanda. Na quase totalidade dos países, que praticam taxa de juros civilizada, é isso que ocorre. Aqui a relação chega a ser de 17 (!) vezes com o cheque especial em 188%.

A análise do mercado financeiro peca, também, ao desconsiderar que a queda da Selic influi significativamente sobre a decisão das empresas em investir, o que eleva a oferta de bens e serviços para atender a demanda, principal antídoto contra a inflação futura. A recente sondagem feita às empresas revela a disposição em investir face às perspectivas de queda da Selic.

Em síntese, a Selic não influi sobre a demanda e desestimula a oferta. Em vez de atenuar a inflação a agrava.

Apesar disso, ainda existem análises que, usando o falso argumento do controle da inflação, querem que a Selic permaneça elevada. A inflação pode até permanecer em patamar acima da meta de 4,5% durante algum tempo dependendo do impacto interno da crise no câmbio e na demanda internacional por alimentos e commodities, mas a Selic não interfere nisso.

Ao que tudo indica o governo joga uma cartada perigosa ao rumar contra a crise, mas não tem como recuar. Se persistir tem a chance de reduzir a força do rentismo no País e criar os espaços fiscais necessários ao financiamento das suas atividades, como a da expansão necessária das despesas com a saúde, educação e distribuição de renda, bem como para sustentar investimentos necessários à Copa, Olimpíadas e à precária infraestrutura do País.

Há, sem dúvida, uma guinada na política econômica, que tem tudo para fortalecer o governo e diferenciá-lo dos que o antecederam. Vamos aguardar.

Amir Khair é Mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor

Publicado no Estadão em 14 de agosto de 2011

Os especialistas e o câmbio


A anguzada, como dizia meu avô, da última semana no mercado cambial teve aspectos cômicos. Alguns "especialistas" recusaram-se a ouvir o dr. Tombini sobre a possibilidade de movimentos cambiais insuspeitados. Continuaram a defender, como paradigma para medir as "distorções" de nossa pobre e ignorante política cambial, a absoluta liberdade do movimento de capitais e o sagrado regime de flutuação imaculada e desinibida da taxa de câmbio.

Tudo de acordo com o Mundo 2, do platonismo semiacadêmico no qual habitam. De repente, trombaram com o Mundo 1, da cruel realidade aristotélica. Foram surpreendidos numa desconfortável posição "vendida" no mercado altamente volátil antecipado pelo dr. Tombini.

Para safar-se, precisam de tempo (o que impõe custos) e de liquidez (que se tornara escassa pela ação do IOF). Clamaram, então, por uma imediata e eficaz intervenção do Banco Central no mercado. Ela está sendo feita (como, aliás, é obrigação do Banco Central), mas agora, obviamente, não se trata de uma "distorção"...

Operadores são pegos em desconfortável posição "vendida"
O ponto mais interessante é que tais operadores atribuem suas dificuldades não à arriscada busca de lucro num mercado absolutamente imprevisível, mas às medidas que, "em legítima defesa", o governo tem posto em prática apenas para confortar parte da indústria nacional, à qual ele mesmo tem negado, há décadas, as condições isonômicas para competir. Para encerrar esse assunto, nada como lembrar o velho Nietzsche: "A grande vantagem da falta de memória é que podemos gozar muitas vezes, sempre pela primeira vez, as mesmas boas coisas".

Talvez esse seja o momento de reconhecer a validade da hipótese básica que orienta a nossa política econômica (fiscal, monetária e cambial): o mundo caminha para alguns anos de alta volatilidade e baixo crescimento. Não apenas porque os Bancos Centrais não sabem bem o que fazer, mas porque há uma "conjugação desfavorável" dos astros! A reedição da operação "twist" pelo Fed, depois do seu reconhecido fracasso, em passado não muito distante, é uma prova disso.

De um lado, temos nos EUA uma disfuncionalidade política que nunca foi tão evidente e que não será resolvida antes das eleições de 2012. É pouco provável que o último apelo de Obama ("Living Within Our Means and Investing on the Future: The President´s Plan for Economic Growth and Deficit Reduction"), que inclui o "The American Jobs Act", seja aprovado no Congresso pelos republicanos.

Se aprovado, talvez não venha a tempo para reduzir, antes da eleição, o dramático desemprego e subemprego; dar conforto aos 16% da população sem assistência à saúde; melhorar a renda das residências americanas (no menor nível desde 1996) e compensar mais de US$ 6 trilhões de redução de ativos que elas sofreram desde 2007.

Por último, mas não menos complicado: 47% dos cidadãos são hoje dependentes, de uma forma ou de outra, de alguma ajuda do governo, o nível mais alto registrado na história dos EUA. Não podemos esquecer que Obama sequer conseguiu nomear os dois membros faltantes do Fed.

Por outro lado, temos enormes dificuldades na Comunidade Econômica Europeia onde, também, o Banco Central não revela que sabe muito mais do que o Fed. A situação não melhorará enquanto não se completar a substituição de Jean-Claude Trichet pelo novo escolhido, o competente, experiente e pragmático Mario Draghi.

Ele assume sob a suspeita dos puristas monetários do Bundesbank, que têm abandonado, oportunistamente, a direção do Banco Central Europeu, depois das sucessivas derrotas de Angela Merkel a cada eleição regional. Draghi deve dizer a que veio, porque na opinião de economistas alemães, "para os italianos, a inflação é uma forma de viver, como o molho de tomate no espaguete"...

Provavelmente Merkel vai perder as eleições. O vencedor vai ter que ensinar aos seus economistas que "a política domina a economia". O país que mais vai perder, política e economicamente, no curto prazo, com a eventual destruição da moeda única, o euro, é justamente a Alemanha. Basta pensar quem estaria hoje na posição do franco suíço, se o deutschemark ainda existisse. E o que seria da prosperidade da Alemanha, se as suas exportações não tivessem se beneficiado da disciplina germânica que "desvalorizou" o deutschemark dentro do euro, aumentando a produtividade da mão de obra, ao mesmo tempo em que, de acordo com os sindicatos, controlava o aumento dos salários. Em outras palavras, a civilizada política alemã de trocar a "estabilidade" no emprego pela "moderação" salarial foi induzida pelo euro.

Com a visível escassez de estadistas que se abate sobre o mundo desenvolvido, o tempo da recuperação é absolutamente incerto. Não se trata apenas de um problema econômico, que os economistas talvez soubessem resolver, mas de um problema político, que os economistas, mesmo que soubessem o que fazer, não poderiam fazê-lo. Falta-lhes a legitimidade do poder. Trata-se de uma questão de liderança capaz de devolver à sociedade a confiança e a esperança, sem as quais não se vê solução razoável antes das próximas eleições nos EUA e na Eurolândia. Esperamos vê-las depois...

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Escreve às terças-feiras

E-mail contatodelfimnetto@terra.com.br

Esclavistas contra Lula



Por Martín Granovsky

Pueden pronunciar sians po. Es, más o menos, la fonética de sciences politiques. Con decir Sciences Po basta para aludir al encastre perfecto de dos estructuras, la Fundación Nacional de Ciencias Políticas de Francia y el Instituto de Estudios Políticos de París.

No es difícil pronunciar Sians Po. Lo difícil es entender, a esta altura del siglo XXI, cómo las ideas esclavócratas siguen permeando a gente de las elites sudamericanas.

Hoy a la tarde, Richard Descoings, director de Sciences Po, le entregará por primera vez el doctorado Honoris Causa a un latinoamericano: el ex presidente de Brasil, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Hablará Descoings y hablará Lula, claro.

Para explicar bien su iniciativa, el director convocó a una reunión en su oficina de la calle Saint Guillaume, muy cerca de la iglesia de Saint Germain des Pres, en un contrafrente desde el que podían verse los castaños con hojas amarillentas. Meterse en la cocina siempre es interesante. Si uno pasa por París para participar como ponente de dos actividades académicas, una sobre la situación política argentina y otra sobre las relaciones entre la Argentina y Brasil, no está mal que se meta en la cocina de Sciences Po.

Le pareció lo mismo a la historiadora Diana Quattrocchi Woisson, que dirige en París el Observatorio sobre la Argentina Contemporánea, es directiva del Instituto de las Américas y fue quien tuvo la idea de organizar las dos actividades académicas sobre la Argentina y Brasil de las que también participó el economista e historiador Mario Rapoport, uno de los fundadores del Plan Fénix hace 10 años.

Naturalmente, para escuchar a Descoings habían sido citados varios colegas brasileños. El profesor Descoings quiso ser amable y didáctico. Sciences Po tiene una cátedra de Mercosur, los estudiantes brasileños acuden cada vez más a Francia, Lula no salió de la elite tradicional de Brasil, pero llegó al máximo nivel de responsabilidad y aplicó planes de alta eficiencia social.

Uno de los colegas preguntó si estaba bien premiar a quien se jacta de no haber leído nunca un libro. El profesor mantuvo su calma y lo miró asombrado. Quizá sepa que esa jactancia de Lula no consta en actas, aunque es cierto que no tiene título universitario. Tan cierto es que cuando asumió la presidencia, el 1º de enero de 2003, levantó el diploma que les dan en Brasil a los presidentes y dijo: “Lástima que mi mamá se murió. Ella siempre quiso que yo tuviera un diploma y nunca imaginó que el primero sería el de presidente de la república”. Y lloró.

“¿Por qué premian a un presidente que toleró la corrupción?”, fue la siguiente pregunta.

El profesor sonrió y dijo: “Mire, Sciences Po no es la Iglesia Católica. No entra en análisis morales, ni saca conclusiones apresuradas. Deja para el balance histórico ese asunto y otros muy importantes, como la electrificación de favelas en todo Brasil y las políticas sociales”. Y agregó, tomando Le Monde: “¿Qué país puede medir moralmente hoy a otro? Si no queremos hablar de estos días, recordemos cómo un alto funcionario de otro país debió renunciar por haber plagiado una tesis de doctorado a un estudiante”. Hablaba de Karl-Theodor zu Guttenberg, ministro de Defensa de Alemania hasta que se supo del plagio.

Más aún: “No excusamos, ni juzgamos. Simplemente no damos lecciones de moral a otros países”.

Otro colega preguntó si estaba bien premiar a quien una vez llamó “hermano” a Muamar Khadafi.

Con las debidas disculpas, que fueron expresadas al profesor y a los colegas, la impaciencia argentina llevó a preguntar dónde había comprado Khadafi sus armas y qué país refinaba su petróleo, además de comprarlo. El profesor debe haber agradecido que la pregunta no citara, con nombre y apellido, a Francia e Italia.

Descoings aprovechó para destacar en Lula “al hombre de acción que modificó el curso de las cosas”, y dijo que la concepción de Sciences Po no es el ser humano como “los unos o los otros” sino como “los unos y los otros”. Marcó mucho el et, “y” en francés.

Diana Quattrocchi, como latinoamericana que estudió y se doctoró en París tras salir de una cárcel de la dictadura argentina gracias a la presión de Amnistía Internacional, dijo que estaba orgullosa de que Sciences Po le diera el Honoris Causa a un presidente de la región y preguntó por los motivos geopolíticos.

“El mundo se pregunta todo”, dijo Descoings. “Y tenemos que escuchar a todos. El mundo no sabe siquiera si Europa existirá el año que viene.”

En Siences Po, Descoings introdujo estímulos para que puedan ingresar estudiantes que, se supone, corren con desventaja para aprobar el examen. Lo que se llama discriminación positiva o acción afirmativa y se parece, por ejemplo, a la obligación argentina de que un tercio de las candidaturas legislativas deban ser ocupadas por mujeres.

Otro colega brasileño preguntó, con ironía, si el Honoris Causa a Lula formaba parte de la política de acción afirmativa de Sciences Po.

Descoings lo observó con atención antes de contestar. “Las elites no son sólo escolares o sociales”, dijo. “Los que evalúan quiénes son mejores son los otros, no los que son iguales a uno. Si no, estaríamos frente a un caso de elitismo social. Lula es un tornero que llegó a la presidencia, pero según tengo entendido no dio un ingreso sino que fue votado por millones de brasileños en elecciones democráticas.”

Como Cristina Fernández de Kirchner y Dilma Rousseff en la Asamblea General de Naciones Unidas, Lula viene insistiendo en que la reforma del Fondo Monetario Internacional y del Banco Mundial está atrasada. Dice que esos organismos, así como funcionan, “no sirven para nada”. El grupo Brics (Brasil, Rusia, India, China, Sudáfrica) ofreció ayuda a Europa. China sola tiene el nivel de reservas más alto del mundo. En un artículo publicado en El País, de Madrid, los ex primeros ministros Felipe González y Gordon Brown pidieron mayor autonomía para el FMI. Quieren que sea el auditor independiente de los países del G-20, que integran los más ricos y también, por Sudamérica, la Argentina y Brasil. O sea, quieren lo contrario de lo que piensan los Brics.

En medio de esa discusión llegará Lula a Francia. Conviene hacerle saber que, antes de recibir el doctorado Honoris Causa de Sciences Po, debe pedir disculpas a los elitistas de su país. Un obrero metalúrgico no puede ser presidente. Si por alguna casualidad llegó a Planalto, ahora debería guardar recato. En Brasil, la casa grande de las haciendas estaba reservada a los propietarios de tierras y esclavos. Así que Lula, ahora, silencio por favor. Los de la casa grande se enojan.

martin.granovsky@gmail.com

Um título contra as castas

Do Tijolaço

Amanhã, Lula recebe o 16º título de Doutor Honoris Causa do prestigiado Instituto de Estudos Políticos de Paris, conhecido como Sciences-po. Não é toda hora que se dá ali um título destes, tanto que a instituição, fundada em 1872, leva quase dez anos, em média, para conceder um deles.

E a pergunta que todo mundo quer fazer foi feita pela correspondente de O Globo, Deborah Berlink:

Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?

O presidente da instituição, Richard Descoings, com a necessária diplomacia, dá a resposta:

“O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.(…)

O professor Descoings talvez não saiba, mas somos ainda mais uma sociedade de castas. E foi preciso que se rompesse essa tradição de castas para que o Brasil mudasse. Mesmo aqueles que vieram da esquerda, como Fernando Henrique, ao serem aceitos nos salões, passaram a portar-se e a pensarem como essa subnobreza colonial que não pensa o Brasil como um país.

A entrega do título será transmitida ao vivo no site da Sciences Po às 12h30 daqui, amanhã. Vai ser um momento de afirmação, muito mais que de Lula, do Brasil. Porque, quando não somos um país de castas, somos um país imenso.

COMENTÁRIO E & P

Dá nojo dessa sub-elite brasileira. Ela não difere muito da sub-elite do Egito que se locupletou com Hosny Mubarack sob uma ditadura impiedosa orientada pelos Estados Unidos. O Willian Waack chegou a defender no Jornal da Globo a permanência do Mubarack no poder, dizendo que "ruim com ele, pior sem ele".Faltou o Willian Waack combinar com os egípcios que tiraram o ditador do governo e o prenderam. A sub-elite brasileira não é civilizada. Não tem um projeto de nação, de povo. Para eles o Brasil pode ser uma sub-nação, com um sub-povo mergulhado na miséria, analfabetismo, desemprego e desilução. A imprensa brasileira é parte dessa sub-elite, com todos os seus preconceitos. Para se trabalhar na mídia é preciso ter os mesmos princípios da sub-elite, preconceito social, racial, subordinação aos Estados Unidos, ideologia demotucana, defesa de juros altos, para se locupletarem com a dívida interna entre outras pragas. Me lembram Malthus, um pastor inglês que escreveu sobre economia e uma das leis de Malthus é não ajudar os pobres, para que eles não se reproduzam, se o pobres estiverem morando num lugar insalubre, não fazer nada, pois a alta mortalidade desses locais impediria a superpopulação. A sub-elite brasileira é malthusiana! As teses que os economistas que a representam defendem tem o mesmo efeito que as de Matlhus, menos investimento público, menos crescimento, juro alto, aumento do desemprego, nada de bolsa família, que chamam de bolsa vagabundagem, aposentadoria somente depois dos 100 anos, nenhuma proteção trabalhista, entre outras ideias medievais. Só falta defenderem a volta da inquisição. Quanto aos jornalistas brasileiros, estes alugam o corpo do pescoço para cima.

segunda-feira, setembro 26, 2011

Brasil está protegido de uma crise cambial, diz Delfim Netto


Por Francine De Lorenzo | Valor

SÃO PAULO – A brusca oscilação do dólar nos últimos dias não assustou o ex-ministro da Fazenda, Antonio Delfim Netto, que não vê o risco de o Brasil sofrer uma nova crise cambial. “Estamos razoavelmente protegidos, não só pelas reservas internacionais, mas porque o mercado tende a se acomodar. O câmbio produz desequilibrio primeiro e equilibrio depois. Uma crise é muito pouco provável”, afirmou ao participar nesta segunda-feira do 8º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Para Delfim, o Banco Central (BC) está desempenhando seu papel, que segundo ele, é o de prover liquidez ao mercado. “O governo adquiriu um instrumento e vai usá-lo quando achar necessário, com implicações importantes para a segurança do mercado”, comentou, referindo-se à retomada das operações de swap cambial, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro. Desde 2009 que o Banco Central não utilizava esse recurso para conter a valorização da moeda americana, que na semana passada chegou a ultrapassar R$ 1,90, o maior patamar em mais de um ano.

Questionado sobre a hipótese de o BC ter demorado para agir, Delfim indicou que a decisão da autoridade monetária foi ajustada. “O BC esperou um sinal amarelo para agir”, comentou. “Enquanto a taxa de juros interna não for igual à externa, não vamos resolver o problema do câmbio. Não foram as medidas de controle de capital que fizeram essas mudanças no câmbio. Essa valorização do dólar não tem nada a ver conosco. Tem a ver com o cenário externo. Todas as moedas, com exceção do iene, se desvalorizaram”, complementou.

De acordo com o ex-ministro, o panorama internacional atual é delicado, com os Estados Unidos e a Europa enfrentando grandes desafios para estimular a economia. “O banco central americano está mostrando que não sabemos nada de política macroeconomica”, ressaltou, acrescentando que na Europa a questão é ainda mais complicada, já que será muito difícil promover os ajustes necessários.

“O diagnóstico do Tombini [Alexandre Tombini, presidente do Banco Central] foi o mais correto. Estou convencido de que ele está mais afinado com a realidade monetária do mundo e os instrumentos financeiros disponíveis para operar do que todos os economistas”, disse.

(Francine De Lorenzo | Valor)

Uma semana de setembro



por Mauro Santayana


É quase certo que a semana que se encerrou ontem, sábado, tenha sido decisiva para a História deste século que se iniciou há dez anos, com os fatos misteriosos de Nova Iorque. A ONU, que não tem sido mais do que um auditório, espécie de ágora mundial, mas sem o poder político de que dispunham as praças de Atenas, ouviu quatro discursos importantes. Dois deles em nome da paz, do futuro, da lucidez e dois outros que ecoaram como serôdios. Dilma e Abbas, em nome dos que não aceitam mais essa divisão geopolítica do mundo; Netanyahu e Obama, constrangidos portavozes de um tempo moralmente morto. A assembléia geral estava separada em dois lados definidos, ainda que assimétricos.

A presidente do Brasil falava em nome das novas realidades, como a da emancipação das mulheres – pela primeira vez, na crônica das Nações Unidas, uma voz feminina abriu os debates anuais – e a impetuosa emersão de povos milenarmente oprimidos como agentes ativos da História. Mahmoud Abbas, embora em nome de uma pequena nação representou todos os povos oprimidos ao longo dos tempos. Por mais lhe neguem esse direito, a Palestina é tão antiga que entre suas fronteiras históricas nasceu um homem conhecido como Cristo.

O holocausto judaico, cometido pelos nazistas, e que nos horroriza até hoje, durou poucos anos; o do povo palestino, espoliado de direitos com a ocupação paulatina de suas terras, iniciada com o sionismo no fim do século 19, dura há pelo menos 63 anos, desde a criação, ex-abrupto, do Estado de Israel, em 1948. Recorde-se que a criação de um “lar nacional” para os judeus estava condicionada à sobrevivência, em segurança, do povo palestino em um estado independente. A voz de Dilma, mais comedida, posto que representando nação de quase 200 milhões de pessoas no exercício de sua soberania política, teve a mesma transcendência histórica do apelo dramático de Abbas. A cambaleante comunidade internacional era chamada à sensatez política e à consciência ética. É duvidoso que ela corresponda a essa responsabilidade. Do outro lado, no discurso dissimulado e ameaçador de Netanyahu e na lengalenga constrangida de Obama, ouviram-se os rugidos dos mísseis tomawaks e o remoto estrondo que destruiu as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, em 1945. Enquanto Netanyahu balbuciava, sem nenhuma coerência, as expressões de paz, seus soldados matavam um manifestante palestino na Cisjordânia ocupada.

Os dois arrogantes senhores não falaram em nome dos homens; bradaram em nome das armas e dos grandes banqueiros sem pátria que, desde os Rotschild, mantêm a força contra a razão naquela região do mundo. Como muitos historiadores já apontaram, os judeus ricos, sob a liderança da poderosa família de financistas, decidiram acompanhar o ex-pangermanista Theodor Herzl, na idéia de criar um estado hebraico, a fim de se livrar da presença constrangedora dos judeus pobres na Inglaterra e na Europa Ocidental.

Na origem da sua independência, os Estados Unidos ouviram a constatação sensata de Tom Payne, de que contrariava o senso comum a dependência de um continente, como a América do Norte, a uma ilha, como a Grã Bretanha. O governo norte-americano é hoje refém de um estado diminuto, como Israel, representado em Washington pelos poderosos lobistas, capazes de influir sobre o Capitólio e a Casa Branca, contra as razões históricas da grande nação.

Ao apoiar, vigorosamente, o imediato reconhecimento, pelas Nações Unidas, da soberania do Estado Palestino, Dilma não falou apenas em nome dos países emergentes, solidários com o povo acossado e agredido, cujas terras e águas são repartidas entre os invasores; falou em nome de princípios imemoriais do humanismo. Ela pôde dar autenticidade ao seu discurso com uma biografia singular, a de uma jovem que, na resistência contra um regime criado e nutrido ideologicamente pelos norte-americanos, foi prisioneira e torturada.

A presidente disse ao mundo que estamos, os brasileiros, trabalhando para que o Estado cumpra a sua razão de ser, ao reduzir as desigualdades sociais e ampliar o mercado interno, a fim de desenvolver, com justiça, a economia nacional. Embora com a prudência da linguagem, exigida pelas circunstâncias solenes do encontro, o que Dilma disse aos grandes do mundo é que eles, no comando de seus estados, não agem em nome dos cidadãos que os elegeram, mas das grandes corporações econômicas e financeiras multinacionais, controladas por algumas dezenas de famílias do hemisfério norte. O resultado dessa distorção são as crises recorrentes do capitalismo contemporâneo, com o desemprego, o empobrecimento crescente das nações, a insegurança coletiva e o desespero dos mais pobres. E os mais pobres não se encontram hoje apenas nos países do antigo Terceiro Mundo, mas nas maiores e orgulhosas nações. As ruas de Londres e de Nova Iorque, de Nova Delhi e de São Paulo são caudais da mesma miséria. Daí a necessidade de que se mude o projeto de vida em nosso Planeta. Para isso é preciso que as novas nações participem efetivamente da construção do futuro do homem.

Outro ponto axial de seu discurso foi o da necessária e urgente reforma das Organização das Nações Unidas, para que ela se restaure na credibilidade junto aos povos. Seu sistema decisório, construído na fase crucial da reacomodação do mundo, depois da tragédia da 2ª. Guerra Mundial, correspondeu a uma constelação circunstancial do poder, em que as maiores potências, possuidoras da bomba do juízo final, assumiam a responsabilidade de garantir hipotética paz, mediante o Conselho de Segurança. Contestado esse superpoder mundial pela consciência moral dos povos, desde o seu início, há quase duas décadas que se discute a sua ampliação democrática, mas sem qualquer conclusão efetiva. Dilma expressou a urgência de que isso ocorra, a fim de que o organismo possa ter a força da legitimidade política.

A paz, como a guerra, era, durante a Guerra Fria, um negócio a dois, e que só aos dois beneficiava. Sua disputa se fazia na periferia do sistema, a partir do conflito na Coréia, que inaugurou o sistema da divisão entre norte e sul, que se repetiria no Vietnã e em outros países.

Mais uma vez, no pacto Wojtyla-Reagan, a Igreja se somava ao dinheiro, para a aparente vitória do capitalismo, com a queda do muro de Berlim. Isso trouxe aos vitoriosos a ilusão de que a História chegara a seu fim, com a definitiva submissão dos pobres aos nascidos para mandar e usufruir de todos os benefícios da civilização. Como registramos, naqueles anos de Fernando Henrique, quando ele nos fez ajoelhar diante de Washington, os novos mestres do mundo se esqueceram de combinar com os adversários, como recomendou um filósofo mais atilado, o mestre Garrincha. A globalização, planejada para consolidar o condomínio dos países centrais, sob a hegemonia ianque, mediante a recolonização imperial, trouxe o efeito contrário, promoveu a unidade política dos países atingidos, e se voltou contra seus criadores. Isso explica a emersão dos Brics.

Foi em nome do futuro, das novas e poderosas forças humanas que se organizam, que a presidente falou em Nova Iorque.

domingo, setembro 25, 2011

Aumente o Som - Credence Clearwater Revival

Aumente o som - Credence

Opus Dei quer “faxina verde-amarela”


Por Altamiro Borges, em seu blog

A indignação contra o desvio de recursos públicos é justa e necessária. Afinal, é dinheiro do povo extraviado para servir a corruptos e corruptores. Mas é preciso ficar esperto diante dos espertalhões, que usam causas nobres para fins ilícitos. É sempre bom lembrar que o golpe militar de 1964 teve como mote o “combate à corrupção e ao comunismo”. Pura manobra para enganar os ingênuos!


> Nas recentes “marchas contra a corrupção”, políticos e partidos que não tem qualquer moral para falar em ética fizeram escarcéu sobre o tema. O senador tucano Álvaro Dias, o neto-demo de ACM, a juventude do PSDB e a mídia demotucana foram os maiores incentivadores dos protestos “espontâneos”. Agora, é o Opus Dei, uma seita de fascistóide, de extrema-direita, que dá seu apoio às “marchas”.

“Mudar a cara do Brasil”

Em artigo publicado no jornal Estadão, o jornalista Carlos Alberto Di Franco, um dos fundadores e chefões do Opus Dei no país, defende a urgência de uma “faxina verde-amarela”. Ele se diz encantado com os protestos do Dia da Independência. “Assistiu-se ao primeiro lance de um movimento de cidadania que tem tudo para mudar a cara do Brasil”. O Opus Dei apoiou o golpe de 1964 com o mesmo objetivo.

Nas entrelinhas, Di Franco não esconde que seu objetivo é fustigar as forças de esquerda e o governo Dilma. “O movimento cobrou a punição dos envolvidos no mensalão do PT, aquele que o ex-presidente Lula diz que nunca existiu... A passeata ocorreu uma semana após o congresso nacional do PT deixar claro que não apóia nenhum tipo de faxina anticorrupção no governo”, mentiu.

Massa de manobra da direita

No artigo, ele lamenta a derrota da investida golpista de 2006, que pregou o impeachment de Lula. “O mensalão do PT parecia que podia terminar em punição. Acabou em pizza. Infelizmente”. Mas o líder do Opus Dei diz que, agora, está otimista com as marchas. Elas contam, entre outros, com o apoio de “meus colegas da mídia, depositários da esperança de uma sociedade traída por suas autoridades”. E concluí: “Vislumbro nas passeatas da faxina verde-amarela o reencontro do Brasil com a dignidade e esperança”.

O artigo-panfleto de Di Franco deve servir de alerta aos que ficam indignados contra a corrupção – não para arrefecer esta justa demanda, mas sim para que não sejam massa de manobra da direita. Esta mesma direita que se mascara de moralista para servir aos interesses dos poderosos – dos sonegadores, dos exploradores de trabalho escravo, dos rentistas, do capital.

Para conhecer melhor o Opus Dei e Carlos Alberto Di Franco, sugiro as seguintes leituras:

- Alckmin e a conspiração do Opus Dei

- Padre Marcelo S.A. e o Opus Dei

- Casoy e Gandra: CCC e Opus Dei unidosQuem são os "éticos" do Opus Dei

O Opus Dei (do latim, Obra de Deus) foi fundado em outubro de 1928, na Espanha, pelo padre Josemaría Escrivá. O jovem sacerdote de 26 anos diz ter recebido a “iluminação divina” durante a sua clausura num mosteiro de Madri. Preocupado com o avanço das esquerdas no país, este excêntrico religioso, visto pelos amigos de batina como um “fanático e doente mental”, decidiu montar uma organização ultra-secreta para interferir nos rumos da Espanha. Segundo as suas palavras, ela seria “uma injeção intravenosa na corrente sanguínea da sociedade”, infiltrando-se em todos os poros de poder. Deveria reunir bispos e padres, mas, principalmente, membros laicos, que não usassem hábitos monásticos ou qualquer tipo de identificação.


Reconhecida oficialmente pelo Vaticano em 1947, esta seita logo se tornou um contraponto ao avanço das idéias progressistas na Igreja. Em 1962, o papa João 23 convocou o Concílio Vaticano II, que marca uma viragem na postura da Igreja, aproximando-a dos anseios populares. No seu fanatismo, Escrivá não acatou a mudança. Criticou o fim da missa rezada em latim, com os padres de costas para os fiéis, e a abolição do Index Librorum Prohibitorum, dogma obscurantista do século 16 que listava livros “perigosos” e proibia sua leitura pelos fiéis. “Este concílio, minhas filhas, é o concílio do diabo”, garantiu Escrivá para alguns seguidores, segundo relato do jornalista Emílio Corbiere no livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”.

O poder no Vaticano

Josemaría Escrivá faleceu em 1975. Mas o Opus Dei se manteve e adquiriu maior projeção com a guinada direitista do Vaticano a partir da nomeação do papa polonês João Paulo II. Para o teólogo espanhol Juan Acosta, “a relação entre Karol Wojtyla e o Opus Dei atingiu o seu êxito nos anos 80-90, com a irresistível ascensão da Obra à cúpula do Vaticano, a partir de onde interveio ativamente no processo de reestruturação da Igreja Católica sob o protagonismo do papa e a orientação do cardeal alemão Ratzinger”. Em 1982, a seita foi declarada “prelazia pessoal” – a única existente até hoje –, o que no Direito Canônico significa que ela só presta contas ao papa, que só obedece ao prelado (cargo vitalício hoje ocupado por dom Javier Echevarría) e que seus adeptos não se submetem aos bispos e dioceses, gozando de total autonomia.

O ápice do Opus Dei ocorreu em outubro de 2002, quando o seu fundador foi canonizado pelo papa numa cerimônia que reuniu 350 mil simpatizantes na Praça São Pedro, no Vaticano. A meteórica canonização de Josemaría Escrivá, que durou apenas dez anos, quando geralmente este processo demora décadas e até séculos, gerou fortes críticas de diferentes setores católicos. Muitos advertiram que o Opus Dei estava se tornando uma “igreja dentro da Igreja”. Lembraram um alerta do líder jesuíta Vladimir Ledochowshy que, num memorando ao papa, denunciou a seita pelo “desejo secreto de dominar o mundo”. Apesar da reação, o papa João Paulo II e seu principal teólogo, Joseph Ratzinger, ex-chefe da repressora Congregação para Doutrina da Fé e atual papa Bento 16, não vacilaram em dar maiores poderes ao Opus Dei.

Vários estudos garantem que esta relação privilegiada decorreu de razões políticas e econômicas. No livro “O mundo secreto do Opus Dei”, o jornalista canadense Robert Hutchinson afirma que esta organização acumula uma fortuna de 400 bilhões de dólares e que financiou o sindicato Solidariedade, na Polônia, que teve papel central na débâcle do bloco soviético nos anos 90. O complô explicaria a sólida amizade com o papa, que era polonês e um visceral anticomunista. Já Henrique Magalhães, numa excelente pesquisa na revista A Nova Democracia, confirma o anticomunismo de Wojtyla e relata que “fontes da Igreja Católica atribuem o poder da Obra a quitação da dívida do Banco Ambrosiano, fraudulentamente falido em 1982”.

O vínculo com os fascistas

Além do rigoroso fundamentalismo religioso, o Opus Dei sempre se alinhou aos setores mais direitistas e fascistas. Durante a Guerra Civil Espanhola, deflagrada em 1936, Escrivá deu ostensivo apoio ao general golpista Francisco Franco contra o governo republicano legitimamente eleito. Temendo represálias, ele se asilou na embaixada de Honduras, depois se internou num manicômio, “fingindo-se de louco”, antes de fugir para a França. Só retornou à Espanha após a vitória dos golpistas. Desde então, firmou sólidos laços com o ditador sanguinário Francisco Franco. “O Opus Dei praticamente se fundiu ao Estado espanhol, ao qual forneceu inúmeros ministros e dirigentes de órgãos governamentais”, afirma Henrique Magalhães.

Há também fortes indícios de que Josemaría Escrivá nutria simpatias por Adolf Hitler e pelo nazismo. De forma simulada, advogava as idéias racistas e defendia a violência. Na máxima 367 do livro Caminho, ele afirma que seus fiéis “são belos e inteligentes” e devem olhar aos demais como “inferiores e animais”. Na máxima 643, ensina que a meta “é ocupar cargos e ser um movimento de domínio mundial”. Na máxima 311, ele escancara: “A guerra tem uma finalidade sobrenatural... Mas temos, ao final, de amá-la, como o religioso deve amar suas disciplinas”. Em 1992, um ex-membro do Opus Dei revelou o que este havia lhe dito: “Hitler foi maltratado pela opinião pública. Jamais teria matado 6 milhões de judeus. No máximo, foram 4 milhões”. Outra numerária, Diane DiNicola, garantiu: “Escrivá, com toda certeza, era fascista”.

Escrivá até tentou negar estas relações. Mas, no seu processo de ascensão no Vaticano, ele contou com a ajuda de notórios nazistas. Como descreve a jornalista Maria Amaral, num artigo à revista Caros Amigos, “ao se mudar para Roma, ele estimulou ainda mais as acusações de ser simpático aos regimes autoritários, já que as suas primeiras vitórias no sentido de estabelecer o Opus Dei com estrutura eclesiástica capaz de abrigar leigos e ordenar sacerdotes se deram durante o pontificado do papa Pio XII, por meio do cardeal Eugenio Pacelli, responsável por controverso acordo da Igreja com Hitler”. Outro texto, assinado por um grupo de católicas peruanas, garante que a seita “recrutou adeptos para a organização fascista ‘Jovem Europa’, dirigida por militantes nazistas e com vínculos com o fascismo italiano e espanhol”.

Pouco antes de morrer, Josemaría Escrivá realizou uma “peregrinação” pela América Latina. Ele sempre considerou o continente fundamental para sua seita e para os negócios espanhóis. Na região, o Opus Dei apoiou abertamente várias ditaduras. No Chile, participou do regime terrorista de Augusto Pinochet. O principal ideólogo do ditador, Jaime Guzmá, era membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Na Argentina, numerários foram nomeados ministros da ditadura. No Peru, a seita deu sustentação ao corrupto e autoritário Alberto Fujimori. No México, ajudou a eleger como presidente seu antigo aliado, Miguel de La Madri, que extinguiu a secular separação entre o Estado e a Igreja Católica.

Infiltração na mídia

Para semear as suas idéias religiosas e políticas de forma camuflada, Escrivá logo percebeu a importância estratégica dos meios de comunicação. Ele mesmo gostava de dizer que “temos de embrulhar o mundo em papel-jornal”. Para isso, contou com a ajuda da ditadura franquista para a construção da Universidade de Navarra, que possuí um orçamento anual de 240 milhões de euros. Jornalistas do mundo inteiro são formados nos cursos de pós-graduação desta instituição.

O Opus Dei exerce hoje forte influência sobre a mídia. Um relatório confidencial entregue ao Vaticano em 1979 pelo sucessor de Escrivá revelou que a influência da seita se estendia por “479 universidades e escolas secundárias, 604 revistas ou jornais, 52 estações de rádio ou televisões, 38 agências de publicidade e 12 produtores e distribuidoras de filmes”.

Na América Latina, a seita controla o jornal El Observador (Uruguai) e tem peso nos jornais El Mercúrio (Chile), La Nación (Argentina) e O Estado de S.Paulo. Segundo várias denúncias, ela dirige a Sociedade Interamericana de Imprensa, braço da direita na mídia hemisférica. No Brasil, a Universidade de Navarra é comandada por Carlos Alberto di Franco, numerário e articulista do Estadão, responsável pela lavagem cerebral semanal de Geraldo Alckmin nas famosas “palestras do Morumbi”.


Segundo a revista Época, seu “programa de capacitação de editores já formou mais de 200 cargos de chefia dos principais jornais do país”. O mesmo artigo confirma que “o jornalista Carlos Alberto Di Franco circula com desenvoltura nas esferas de poder, especialmente na imprensa e no círculo íntimo do governador Geraldo Alckmin”.

O veterano jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, há muito denuncia a sinistra relação do Opus Dei com a mídia nacional. Num artigo intitulado “Estranha conversão da Folha”, critica seu “visível crescimento na imprensa brasileira. A Folha de S.Paulo parecia resistir à dominação, mas capitulou”. No mesmo artigo, garante que a seita “já tomou conta da Associação Nacional de Jornais (ANJ)”, que reúne os principais monopólios da mídia do país. Para ele, a seita não visa a “salvação das almas desgarradas. É um projeto de poder, de dominação dos meios de comunicação. E um projeto desta natureza não é nem poderia ser democrático. A conversão da Folha é uma opção estratégica, política e ideológica”.

A “santa máfia”

Durante seus longos anos de atuação nos bastidores do poder, o Opus Dei constituiu uma enorme fortuna, usada para bancar seus projetos reacionários – inclusive seus planos eleitorais. Os recursos foram obtidos com a ajuda de ditadores e o uso de máquinas públicas. “O Opus Dei se infiltrou e parasitou no aparato burocrático do Estado espanhol, ocupando postos-chaves. Constituiu um império econômico graças aos favores nas largas décadas da ditadura franquista, onde vários gabinetes ministeriáveis foram ocupados integralmente por seus membros, que ditaram leis para favorecer os interesses da seita e se envolveram em vários casos de corrupção, malversação e práticas imorais”, acusa um documento de um católico do Peru.

A seita também acumulou riquezas através da doação obrigatória de heranças dos numerários e do dizimo dos supernumerários e simpatizantes infiltrados em governos e corporações empresariais. Com a ofensiva neoliberal dos anos 90, a privatização das estatais virou outra fonte de receitas. Poderosas multinacionais espanholas beneficiadas por este processo, como os bancos Santander e Bilbao Biscaia, a Telefônica e a empresa de petróleo Repsol, têm no seu corpo gerencial adeptos do Opus.

Para católicos mais críticos, que rotulam a seita de “santa máfia”, esta fortuna também deriva de negócios ilícitos. Conforme denuncia Henrique Magalhães, “além da dimensão religiosa e política, o Opus Dei tem uma terceira face: da sociedade secreta de cunho mafioso. Em seus estatutos secretos, redigidos em 1950 e expostos em 1986, a Obra determina que ‘os membros numerários e supernumerários saibam que devem observar sempre um prudente silêncio sobre os nomes dos outros associados e que não deverão revelar nunca a ninguém que eles próprios pertencem ao Opus Dei’. Inimiga jurada da Maçonaria, ela copia sua estrutura fechada, o que frequentemente serve para encobrir atos criminosos”.

O jornalista Emílio Corbiere cita os casos de fraude e remessa ilegal de divisas das empresas espanholas Matesa e Rumasa, em 1969, que financiaram a Universidade de Navarra. Há também a suspeita do uso de bancos espanhóis na lavagem de dinheiro do narcotráfico e da máfia russa. O Opus Dei esteve envolvido na falência fraudulenta do banco Comercial (pertencente ao jornal El Observador) e do Crédito Provincial (Argentina). Neste país, os responsáveis pela privatização da petrolífera YPF e das Aerolineas Argentinas, compradas por grupos espanhóis, foram denunciados por escândalos de corrupção, mas foram absolvidos pela Suprema Corte, dirigida por Antonio Boggiano, outro membro da Opus Dei. No ano retrasado, outro numerário do Opus Dei, o banqueiro Gianmario Roveraro, esteve envolvido na quebra da Parlamat.

“A Internacional Conservadora”

O escritor estadunidense Dan Brown, autor do best seller “O Código da Vinci”, não vacila em acusar esta seita de ser um partido de fanáticos religiosos com ramificações pelo mundo. O Opus Dei teria cerca de 80 milhões de fiéis, muitos deles em cargos-chaves em governos, na mídia e em multinacionais. Henrique Magalhães garante que a “Obra é vanguarda das tendências mais conservadoras da Igreja Católica”.

Num livro feito sob encomenda pelo Opus Dei, o vaticanista John Allen confessa este poderio. Ele admite que a seita possui um patrimônio de US$ 2,8 bilhões – incluindo uma luxuosa sede de US$ 60 milhões em Manhattan – e que esta fortuna serve para manter as suas instituições de fachada, como a Heights School, em Washington, onde estudam os filhos dos congressistas do Partido Republicano de George W.Bush.

Numa reportagem que tenta limpar a barra do Opus Dei, a própria revista Superinteressante, da suspeita Editora Abril, reconhece o enorme influência política desta seita. E conclui: “No Brasil, um dos políticos mais ligados à Obra é o candidato a presidente Geraldo Alckmin, que em seus tempos de governador de São Paulo costumava assistir a palestras sobre doutrina cristã ministradas por numerários e a se confessar com um padre do Opus Dei. Alckmin, porém, nega fazer parte da ordem”. Como se observa, o candidato segue à risca um dos principais ensinamentos do fascista Josemaría Escrivá: “Acostuma-se a dizer não”.

Os tentáculos no Brasil

No Brasil, o Opus Dei fincou a sua primeira raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral na revista Caros Amigos.

Ainda segundo seu relato, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando seus aliados na direita universitária... Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra Martins e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.

Crescimento na ditadura

Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do governador Geraldo Alckmin. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Tinha quadros em posições importantes, mas sem atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.

Seu crescimento dependeu da benção dos generais golpistas e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Confrontado com esta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.http://altamiroborges.blogspot.com