sábado, outubro 22, 2011

Os novos impérios mercantis


Discute-se muito, quando se fala em mercado global, as barreiras protecionistas e, o que é extremamente necessário, o equilíbrio cambial entre as moedas dos diversos países.

Mas pouco, quase nada mesmo, se fala sobre o controle do comércio mundial de commodities – metais, petróleo e produtos agrícolas – que representa a metade de todas as trocas comerciais existentes no planeta. No caso brasileiro, em valor, elas chegam a significar 70% de nossa pauta de exportação.

Hoje, a agência Reuters publica (em inglês, aqui), uma matéria intitulada “O Clube do Trilhão de Dólares” mostrando que um grupo muito restrito de empresas controla mais da metade de todo o comércio destas mercadorias.

“Eles formam um grupo exclusivo, muito pouco regulado e são muitas vezes baseadas em paraísos fiscais como a Suíça. Juntos, eles valem mais de um trilhão de dólares em receitas anuais e controlam mais de metade das commodities negociadas livremente no mundo. Os cinco primeiros somam US$ 629 bilhões em receitas no ano passado, logo abaixo das cinco maiores bancos e mais do que as vendas combinadas dos principais players em tecnologia ou telecomunicações. Muitos acumulam posições especulativas no valor de bilhões em matérias-primas, ou acumulam commodities nos armazéns e superpetroleiros durante os períodos de pequena oferta”.

Cargill, Bunge,Koch Industries, Noble, ADM,Gunvor, Vitol, nomes – exceto os dois primeiros – praticamente desconhecidos entre nós, exercem um imenso poder sobre as trocas internacionais. Somados aos fundos de commodities, pode-se dizer que a oligopolização deste segmento é total.



Com suas conexões e conhecimentos – mercados de commodities são em sua maioria livres de restrições ao “insider trading” – casas de comércio tornaram-se donas do poder, especialmente no rápido desenvolvimento da Ásia, América Latina e África. Eles fazem parte da cadeia alimentar, mas também ajudam a moldá-la, e as recompensas pessoais podem ser enormes. “A percentagem de pagamentos de lucros para as casas commodities pode ser o dobro do que bancos de Wall Street pagar”, diz George Stein, de Nova York Talent Commodity, um empresa de seleção de executivos”.

Corporações mercantis poderosas não são novidade, desde a Companhia das Índias ou da Liga Hanseática. Nem a fonte dos seus lucros é tão diferente assim: segundo a Reuters, “Brasil, China, Índia e outras economias em rápido crescimento têm turbinado, com o boom das commodities globais, os lucros das negociações maiores casas comerciais do mundo”.



Quanto são? Difícil saber com exatidão, porque é um mundo fechado, onde os contratos são disputados por todos os meios, inclusive os que não devem vir a público. A Cargill tinha problemas com a regulação antitruste dos EUA já nos anos 30, a Vitol fechou acordos com os rebeldes líbios muito antes de qualquer sinal de queda de Kadhafi, tanto quanto subornou ministros de Saddam Hussein e a Bunge e ADM, segundo telegramas do Wikileaks, citados pela Reuters, firmaram um acordo para desestabilizar o Governo da Ucrânia.



Os métodos, como se vê, não mudaram tanto quanto se pensa com a tal “modernidade”.



Por: Fernando Brito

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