quarta-feira, agosto 24, 2011

O momento de baixar os juros, por Delfim



Da Folha

ANTONIO DELFIM NETTO

Esta é a hora

Há uma nuvem escura sobre a economia mundial, anunciadora de possíveis dificuldades. Talvez a manifestação mais típica dessa ameaça seja a procura dos papéis do Tesouro das duas maiores economias de mercado.

Os EUA, com uma inflação anual da ordem de 3,6% ao ano e a Alemanha, com 2,4%, têm taxas de juros reais virtualmente nulas para papéis com menos de um ano.

Diante das incertezas que envolvem a economia mundial, há uma procura de abrigo nos papéis do Tesouro das duas economias. A despeito do ridículo exibicionismo da S&P, a demanda de papéis americanos tem aumentado com taxa de juro real cadente... Sinal ainda mais evidente da desesperada busca de segurança é o preço do ouro: US$ 1.873,9 por onça, em 19/8.

Se você não está confuso, é porque está desinformado!

São, no fundo, sinais de pânico no mundo em que prevalecem: 1º) a disfuncionalidade política dos EUA; 2º) as complicações da administração da Comunidade Europeia; 3º) o esgotamento das medidas tocadas por tecnocratas (as políticas fiscal e monetária) e 4º) mais importante, a evidente falta de estadistas.

O grave é que o problema se autoalimenta. A fuga para a segurança produz mais insegurança: destrói valor nas Bolsas (particularmente dos bancos "sob suspeita") e pode levar a outra interrupção do crédito interbancário, condição suficiente para ampliar a crise da economia real. O Brasil, como parte do mundo, também sentirá os efeitos da tempestade.

Nossa situação é melhor do que a da maioria dos países, mas ainda temos a maior taxa de juros real e a moeda mais sobrevalorizada do mundo!

Talvez tenhamos a chance de iniciar a solução desses problemas, ao reduzir substancialmente a taxa de juro real.

O movimento preliminar preparatório deve aproveitar a credibilidade do governo e estabelecer uma política fiscal de longo prazo, cuidadosa e crível: de crescimento de custeio abaixo do crescimento do PIB; regras claras para a redução da taxa do financiamento da dívida com LFT; colocação de papéis do Tesouro em reais no exterior; políticas de estímulo à poupança; aumento do superavit primário; atenção ao problema da aposentadoria do servidor público; desindexação ampla, geral e irrestrita; ajustamento da caderneta de poupança e medidas microeconômicas que reduzam o estresse do ajustamento do mercado de trabalho.

A curva de juros atual parece indicar que é hora de um programa fiscal bem conformado e amplo, acompanhado de políticas microeconômicas que retirem do Banco Central o peso das incertezas fiscais (vistas pelo mercado) e lhe deem musculatura e tranquilidade para, num prazo adequado, reduzir a taxa de juros real a qualquer coisa entre 2% e 3%.

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