segunda-feira, julho 11, 2011

Paul Krugman: Lula é o cara, já Obama...


Sergio Saraiva

Blog do Sergio Saraiva

Autor: Paul Krugman
Paul Krugman é autor de um grande livro, "A consciência de um liberal". Nos capítulos iniciais ele analisa a situação do EEUU pouco antes da crise de 2008.

Sua leitura é muito interessante, pois, fala da conseqüência da tomada do poder, a partir dos anos 70, pelo Partido Republicano e pela plutocracia conservadora americana, os neo-cons. A conseqüência é o empobrecimento da população em geral e a concentração da riqueza em estratos muito pequenos da sociedade americana através do uso da ação política criando previlégio para os mais ricos. Ou seja, um aumento da desigualdade que teria eliminado na prática todos os ganhos de 30 anos de New Deal.

Falava do EEUU, mas parecia-me que falava do Brasil pré-Lula, mais especificamente, dos anos FHC.

Nos capítulos seguintes Paul Krugman recorda como o New Deal, iniciado com Franklin Delano Roosevelt e mantido até o fim do governo Nixon/Ford, construiu uma sociedade igualitária e próspera. Mais exatamente, próspera porque igualitária.

Falava de Roossevelt e dos EEUU entre os anos 30 e 70, mas pareceia-me que falava do Brasil dos anos Lula. E principalmente, mostrava-me que era necessário manter se essa política por pelo menos 30 anos para se construir um grande país.

A derrocada do igualitarismo americano a partir do governo Reagan e a crise atual mostram, no entanto, algo que já sabemos de muito: o preço da liberdade é a eterna vigilânia.

Isso é importante ser lembrado neste instante do governo Dilma, quando a plutocracia brasileira, apoiada pela imprensa conservadora, incentiva Dilma para que ela faça a transição, enquanto, seguindo as idéias de Paul Krugman, ela deveria avançar com o continuismo.

O artigo abaixo é uma crítica, creio que muito doída, ao governo Obama, exatamente por ele não tomar as medidas que Lula tomou em 2009/2010. Serve, porém, de um poderoso aviso, quase premonitório, do que deve ser o governo Dilma, se queremos realmente ter esse governo como mais dos muitos passos que teremos de dar para criar não apenas um país rico, mas rico para todos.



PAUL KRUGMAN

O que Obama quer

Presidente empregou três das falácias econômicas preferidas da direita em só duas frases de seu discurso sobre a base do Orçamento

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1107201105.htm

Sejamos francos. Está ficando cada vez mais difícil confiar nas motivações do presidente Barack Obama na luta em torno do Orçamento, em vista do desvio à direita que seu discurso econômico vem fazendo.
Se você apenas ouvisse os discursos dele, poderia concluir que ele compartilha o diagnóstico republicano sobre o que está errado em nossa economia e o que deveria ser feito para resolvê-lo. Talvez essa não seja uma impressão equivocada.
Um exemplo desse desvio à direita se deu no discurso em que Obama disse o seguinte sobre a base econômica do Orçamento: "O governo precisa começar a viver com os recursos dos quais dispõe, assim como fazem as famílias. Precisamos cortar gastos com os quais não podemos arcar, para colocar a economia sobre uma base mais estável e proporcionar a nossas empresas a confiança de que precisam para crescer e gerar empregos".
São três das falácias econômicas favoritas da direita em apenas duas sentenças. Não, o governo não deve traçar seu Orçamento como fazem as famílias; pelo contrário, tentar equilibrar o Orçamento em tempos de dificuldades econômicas constitui uma receita para aprofundar o declínio. Cortes nos gastos, neste momento, não "colocariam a economia sobre uma base mais estável". Eles reduziriam o crescimento e elevariam o desemprego. E as empresas não estão se contendo porque lhes falte confiança nas políticas do governo, mas porque não têm fregueses suficientes, problema que seria agravado, e não aliviado, por cortes de gastos no curto prazo.
As pessoas têm me perguntado por que os assessores econômicos do presidente não estão lhe dizendo para não acreditar na afirmação, popular entre a direita, mas avassaladoramente refutada pelas evidências, de que reduzir gastos diante de uma economia deprimida vá gerar empregos de maneira mágica. Minha resposta é: "Que assessores econômicos?". Quase todos os economistas destacados da gestão Obama ou já a deixaram ou a estão deixando. E não foram substituídos.
Quem está definindo as posições econômicas da administração? Parte do que temos ouvido está vindo, presume-se, da equipe política.
De qualquer maneira, não acredito que tudo isso se deva a cálculos políticos. Assistindo a Obama, é difícil não ter a impressão de que ele está procurando conselhos de pessoas que creem que o deficit, e não o desemprego, é o problema mais premente que a América enfrenta atualmente e acreditam que a parte maior da redução do deficit deveria vir de cortes nos gastos.
Nem os republicanos sugeriam cortes na Previdência Social; isso é algo que, aparentemente, Obama quer como um fim em si.
E isso levanta a grande pergunta: se um acordo em relação à dívida for fechado de fato, e se ele refletir de modo avassalador as prioridades e a ideologia conservadoras, deveriam os democratas no Congresso votar em favor dele?
O pessoal de Obama vai argumentar que seus correligionários deveriam confiar nele. Mas é difícil entender por que um presidente que vem se dando a muito trabalho para ecoar a retórica republicana e endossar visões conservadoras falsas deve merecer essa confiança.

PAUL KRUGMAN é economista, vencedor do Prêmio Nobel (2008). Sua coluna do 'New York Times' passa a ser publicada no caderno Mundo às segundas.

Tradução de CLARA ALLAIN

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