sexta-feira, janeiro 25, 2008

A FOLHA DE SÃO PAULO E A CIÊNCIA

O editorial da Folha de São Paulo, de 20 de janeiro me demonstra como as coisas mudaram na área de jornalismo nos últimos anos.

Nos tempos em que eu exercia a profissão, o editorial abordava os assuntos mais candentes e polêmicos. De maior interesse.

Uma das funções do editorial era a de dar ao leitor uma prévia, uma promessa de que encontraria conteúdos de relevância nas demais matérias.

A capa chamava a atenção, conquistava a aquisição. E o editorial complementava, provocava a leitura.

As coisas mudaram... Mas quem sou para afirmar se para melhor ou pior? Apenas analiso, depois do editorial, o que, alguém talvez tenha encontrado de interessante nesse editorial do jornal de ainda maior circulação entre os paulistanos.

Criacionismo, não, editorial da “Folha de SP”

Graves e complexos problemas não faltam à ministra Marina Silva, em suas atividades na pasta do Meio Ambiente. Como se estes não bastassem, sua participação no 3º Simpósio sobre Criacionismo e Mídia, promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, veio a colocá-la em dificuldades de outro tipo, diante das quais o cargo que ocupa no Estado brasileiro recomenda cautela que não soube observar.

Em palestra intitulada "Meio Ambiente e Cristianismo", Marina Silva valeu-se de sua formação evangélica para transpor em chave religiosa o tema da preservação dos recursos do planeta.

Nada que inspirasse maiores reparos, portanto -assim como não se discute o direito de um ministro professar, pessoalmente, qualquer tipo de crença ou descrença religiosa.

Os adeptos do criacionismo, entretanto, não se contentam com pouco -e depois da conferência a ministra foi instada, em entrevista, a dar sua opinião sobre o ensino das teorias antidarwinistas. Num estilo próximo ao dos neoconservadores americanos, considerou que "as duas visões" devem ser oferecidas aos alunos, para que "decidam" por si mesmos.

Sob uma aparência de equanimidade, a tese faz parte de uma investida anticientífica que, com firmeza, cumpre repudiar. Pode-se, é claro, sustentar que a fé pessoal é compatível com o espírito científico; que religião e ciência não se opõem.

Talvez não se oponham, mas certamente não se misturam. E é isto o que o criacionismo tenta fazer, sem base comprovada, e com um aparato de falácias que um estudante médio, no Brasil ou em qualquer parte do mundo, não tem condições de identificar.

Que a religião fique onde está, e não se faça de ciência: eis uma exigência, afinal modesta, mas inegociável, da modernidade.
(Folha de SP, 20/1)


Cá pra nós, que azar o da Folha, não?

Os caras torcendo para que a Ministra do governo que não interessa aos interesses econômicos defendidos pela Folha, declare que apenas se deva ensinar pela tese do criacionismo -- como era feito em muitas escolas na época da ditadura militar que interessava aos interesses da Folha (e por isso mesmo nunca reclamaram contra) -- e a chata da Ministra do governo que não interessa aos interesses da Folha, vai lá e sugere que se faça como se faz nos país mais livres, cultos, e avançados: oferecer aos alunos as duas visões, para que decidam por si mesmos.

Assim se faz na França, na Alemanha, no Japão, na Itália, na Suécia, Suíça e, após a ditadura do PCzão Soviético, até na Rússia.

Mas como o governo de quem a Marina Silva é ministra não interessa aos interesses da Folha de São Paulo, teve de acabar se revelando tão intolerante e anti-democrática quanto aqueles a quem ela chama de "neoconservadores americanos".

E chama errado. Chama errado porque os conservadores americanos não são "neos" coisíssima alguma. São aqueles mesmos conservadores que a Folha de São Paulo sempre defendeu. Aqueles mesmos que apoiaram as ditaduras do cone-sul que impunham a teoria do criacionismo em muitas das escolas de Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, mas recebiam elogios da Folha de São Paulo por defenderem os interesses que interessam aos que ela representa.

Mas já que a Folha fez esse nó para dar alguma significância a uma declaração que, em qualquer país democrático, seria considerada o mínimo a se esperar de uma autoridade pública, por certo terá noticiado também que ainda há poucos semanas a Ministra Marina Silva foi apontada pela ONU como uma das 50 personalidades mundiais que oferecem esperança à continuidade da vida no planeta.

Isso de fato interessa à ciência, conforme notou uma das mais importantes publicações inglesas, em matéria que escolheu as 3 mais destacadas dessas 50 personalidades, para ilustrar a capa da edição. Uma das três, exatamente a Ministra Marina Silva.

Agora, se a Folha não deu a devida importância a esse fato, e só publica desimportâncias num contorcionismo para arrumar onde criticar o governo, por lógica e alguma ciência podemos tirar certas conclusões:

1- A Folha de São Paulo não tem jornalistas competentes para criticar o que por ventura seja criticável no governo que não interessa aos seus interesses, elaborando comentários que possam ser, de fato, interessantes ao leitor que não quer jogar dinheiro fora pra ler desimportâncias.

2- Se não isso e os jornalistas da Folha de São Paulo são competentes, o que ocorre é que não há nada de fato criticável no governo que não interessa aos interesses da Folha de São Paulo.

3- Considerando que a Folha de São Paulo sempre apoiou os governos que defendiam interesses contrários aos do país e de seu povo; todo governo que a Folha de São Paulo não apoie ou critique será um governo que interesse aos interesses, de fato, dos eventuais leitores da Folha, ainda que não tenham conseguido tomar ciência para perceberem os fatos que só são noticiados pela imprensa internacional

4- Se a Folha sempre defendeu os governos que governaram contra os interesses do país e de sua população, os interesses da Folha de São Paulo não são os mesmos de seus leitores (isso explicaria a enorme queda de leitores que tirou o diário da liderança em vendas, já há dois ou três anos consecutivos?).

5- Ou a gente perde tempo e joga dinheiro fora com os interesses da Folha que não nos interessam em nada, ou a gente aprende inglês, francês, espanhol, italiano ou alemão para poder ler alguma coisa interessante sobre nosso país, inclusive sobre a preservação da Amazônia e muitas áreas florestais que muito interessam ao futuro do mundo, seja qual for a teoria de sua criação que se acredite: evolucionismo ou criacionismo.

Mas aos interesses da Folha e dos a quem ela representa e sempre representou, é claro que isso de preservação nunca interessou mesmo.


Raul Longo
Pouso da Poesia
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Ponta do Sambaqui, 2886
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COMENTÁRIO E&P

A Folha apoiou o golpe de estado de 1964 e pior, não contente com fim da democracia no país, cedeu os carros da empresa para que a ditadura pudesse prender, torturar e matar presos políticos brasileiros. Por causa da opção da Folha, da Globo e do Estadão milhares de brasileiros foram presos, torturados e mortos. Atualmente, a folha faz parte da executiva do Partido da Imprensa Golpista. O gene golpista está no DNA da imprensa brasileira. A Folha se transformou num diário oficioso dos tucanos, especialmente do Serra.Não é à toa que o jornal perdeu credibilidade e presta um desserviço ao país. ,

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