quinta-feira, julho 26, 2007

Após acidente, Airbus reforça norma a pilotos

LEILA SUWWAN
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A Airbus enviou na terça-feira (24) para todas as empresas que operam seus aviões um comunicado de segurança baseado na análise preliminar da gravação de dados da caixa-preta do vôo 3054 da TAM em que pede a pilotos o "estrito cumprimento" de dois procedimentos de pouso para prevenir outros acidentes.

A empresa européia, contudo, não quis confirmar se isso é uma interpretação de que houve falha do piloto no acidente. Ela ressalta dois procedimentos de aterrissagem envolvendo os controles de potência das turbinas, mas não diz se um deles foi violado em Congonhas.

O comunicado chama AIT (Accident Information Telex), e é o primeiro documento oficial a partir da caixa-preta, cujos dados estão sendo analisados nos EUA.

O fator humano ainda não foi apurado no caso. Se confirmado, haverá forte ligação entre o caso e um acidente com outro A320 em Taipei (Taiwan) em 2004. O relatório revelou que houve acionamento incorreto dos manetes da turbina e também havia reversor inoperante.

"Não cabe à Airbus fazer qualquer comentário sobre o que os dados preliminares demonstram. Neste caso, isso cabe à comissão de investigação brasileira", disse Barbara Kracht, vice-presidente do setor de mídia da empresa.

Porém, lembra que é obrigação no setor manter as operadoras cientes de "informações e achados" das investigações e recomendar procedimentos como "medida de precaução".

No AIT, a Airbus informa que o "estrito cumprimento" das normas é recomendado "com base na análise do gravador de dados de vôo" do avião da TAM.

A primeira recomendação diz que os manetes (alavancas que controlam a potência das turbinas) devem estar na posição "idle" (espécie de ponto morto) na fase "flare" (quando o avião "plana" com o nariz para cima para reduzir a velocidade antes de tocar o solo). Esse é o procedimento normal necessário para tocar a pista.

A segunda recomendação remete à situação de pouso com um dos reversores inoperante, conforme as instruções originais para a aeronave.

O A320 acidentado em São Paulo estava com o reversor da turbina direita desligado. Nesse documento, já divulgado pela TAM, o procedimento é acionar o "idle" em ambos os manetes antes de tocar o solo e depois colocar os reversores (inclusive o inoperante) em máximo. Duas coisas são previstas no caso: um aviso na tela de "falha em reversor" na turbina no qual o equipamento está "pinado" (lacrado) e um comando do computador de bordo para deixar a turbina em "idle".

Ainda não está claro qual foi o procedimento adotado pelos pilotos do vôo 3054 com relação à operação dos manetes. Isso depende do cruzamento completo das informações dos dados de voz e do avião.

Taipei

No acidente do A320 da TransAsia Airlines em Taipei, a investigação encontrou falhas nesses procedimentos. O avião também estava com o reversor direito inoperante.

Relatório do caso diz que o piloto deixou o manete dessa turbina um pouco acima da posição "idle". Isso fez com que os freios aerodinâmicos não fossem acionados, e a frenagem automática não engatilhou.

Ao reverter para o manual, a turbina afetada ainda tinha potência e impediu a desaceleração. O Airbus saiu da pista, mas ninguém se feriu. Havia área de escape no aeroporto.

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