terça-feira, outubro 24, 2006

Deu no blog do Zé

Uma nação em jogoNo Valor, de hoje, um artigo oportuno dos economistas Alexandre Barbosa e Ricardo Amorim --ambos do Instituto de Economia da Unicamp-- discute a questão crucial que deve orientar o voto nesta reta final da campanha: "Eleições: O que está em jogo?" Com epígrafe de Celso Furtado, o texto filtra os ruídos do palanque para restabelecer as vinculações históricas dos dois projetos em disputa no país. Dizem os economistas da Unicamp: "Eleição não é uma desavença conjuntural. Por trás dela, há um sonho: o de sermos uma nação". Qual nação? Eis o ponto. Uma nação industrialmente forte, justa e desenvolvida, como preconiza o presidente Lula e a frente democrática e progressista que o apoia, pressupõe corrigir a opção conservadora das elites. Desde 1964, elas escolheram um caminho de desenvolvimento avesso à repartição da riqueza com a sociedade. Para torná-lo viável politicamente, era preciso fragilizar o sistema econômico local e, por tabela, as forças sociais a ele associadas. A versão globalizada dessa escolha remete ao governo Collor e ao Plano Real, de FHC. Em nome de controlar a inflação, ambos impuseram um aumento de subserviência e vulnerabilidade do sistema econômico brasileiro aos mercados globais. Comprometeram nossa indústria, as contas externas, o emprego formal urbano e da classe média. Ademais, desmontaram o arsenal público que dava ao Estado a capacidade de regular e induzir o desenvolvimento. Por isso a sua lógica é a da privatização. Ainda que esse batismo irrite os tucanos. "O incrível", dizem os economistas, " é ver que após dez anos de abertura, desregulamentações, privatizações e mais sete de elevado superávit primário, a economia brasileira não cresceu. O desemprego continua elevado, a renda do trabalho perdeu participação no PIB e o Estado não recuperou sua capacidade de investimento. Porém, a elite brasileira continua exigindo mais das mesmas reformas..." No âmbito do Plano Real foram redefinidas as bases da aliança conservadora, agora cimentada na migração maciça de capitais da produção para o regime de engorda rentista. Substitui-se assim a lucratividade advinda da hiperinflação pela lucratividade sugada de uma dívida pública colossal. Tão ou mais nefasta que a inflação para o desenvolvimento e a sociedade. Para sustentar o novo padrão lucrativo, os tucanos alienaram o patrimônio público nacional. Ainda assim a dívida não parou de crescer. Dizem os economistas da Unicamp: "hoje, um verdadeiro projeto nacional deverá atuar em três frentes complementares: recuperação do papel do Estado, dinamização do mercado interno --com redução da desigualdade-- e fortalecimento da nossa competitividade internacional". O primeiro mandato do Presidente Lula registrou inúmeros avanços nessa direção, reconhecidos pelos autores. Um exemplo é o resgate do BNDES como ferramenta pública de desenvolvimento. Agora, porém, o passo seguinte da História depende da capacidade de Lula para aglutinar setores organizados da sociedade e da produção que dêem sustentação política a um novo salto de desenvolvimento soberano. "É a única opção que nos resta, a ser construída antes e depois das urnas", advertem os economistas da Unicamp. Sobre o outro projeto, representado pelo candidato tucano, eles são categóricos: "Trata-se de um filme conhecido... se reprisado, não terá o verniz elegante do sociólogo, assemelhando-se mais àquele dirigido pelos tecnocratas do nosso passado ditatorial".

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